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041
04 de dezembro de 2001
curitiba são paulo são josé dos campos são carlos
goiânia
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n e s t a e d i ç ã o:
gato bíblico matemática poética perdão
sensual epitáfios preferidos andré, este casadoiro
tratado da burrice eu vi a paz pecados ruivos
caixa de besouro
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Fiz um
pacto com um amigo: durante dezembro, obrigar-nos-emos a ver toda espécie
de porcaria que está passando no cinema. Começamos bem, com Legalmente
Loira, e temos pela frente nada menos que um Harry Potter, Capitão
Corelli e Animal, com o Rob Schneider. É uma maratona e tanto.
Antes que se pense bobagem, é bom explicar que não se trata de masoquismo
gratuito. Acontece que eu, por uma dessas oportunidades da vida, ganhei, certa
vez, um cartão que dá direito a dois ingressos gratuitos para assistir qualquer
filme que está em exibição. E o prazo de validade do cartão está chegando
ao fim. Temos pouco menos de um mês. Estabelecemos, então, uma média de três
filmes por semana para analisar como Hollywood consegue se superar na produção
das mais fétidas merdas cinematográficas.
Mas, ora essa, não é novidade que a maior parte das coisas em exibição no
cinema sejam desprezíveis. O que eu lamento é como a "média" do
que se exibe caiu. Já não consigo pensar em três grandes filmes que assisti
esse ano. E olha que nem me considero chato para curtir filmes. Assisto mais
o cinema americano (por motivos óbvios) do que o europeu.
No caso de se viver em Curitiba há, ainda, o problema dos exibidores. Ainda
que a maior rede de cinemas tenha sido extremamente gentil comigo me oferecendo
o cartão para ver filmes de graça (o que me poupa de um ódio ainda maior a
se ver coisas como Hannibal), a maioria do que se exibe é totalmente
circuitão. Mesmo quando um outsider faz sucesso, demora a vir pra cá, com
raras exceções.
Isso, infelizmente, estraga o humor de um sujeito apaixonado pelo cinema como
eu. Bons filmes - bons mesmo - estão raríssimos de se encontrar por aí. E
acho que o problema é com o cinema, mesmo. Porque não vejo semelhança na literatura
ou na música, ambientes em que é possível encontrar um número muito interessante
de bons novos autores.
Mas o que mais me preocupa é a falta de referências que o espectador acaba
tendo ao se deparar apenas com porcarias como as que estão em exibição. Na
falta de um exemplo, passa-se a achar que Gladiador é coisa grande.
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PARA GEORGE
George Harrison se foi. Deixou uma legião de fãs e pelo menos uma das mais
belas canções que a humanidade jamais ouviu, Something.
Não valem muito a pena os milhares de rituais de homenagem ao músico; flores
no jardim; estátuas erguidas. Ele se foi para nunca mais voltar. O resto é
fanfarronice.
Mas fica a memória. E nela se perpetua o gênio, o mestre e o poeta. George
pode não ter sido o mais emblemático dos músicos, mas certamente sua partida
tira da vida um pouco do ínfimo que ela nos dá de alegria.
Descansa em paz, George.
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a turba e o gato
marco
aurélio brasil [email protected]
"Mas o fruto do espírito é: ... a benignidade..."
Gálatas 5:22
O gato piscou duas vezes antes de decidir dar aquele salto. Caiu sobre o muro
e sem ligar para a algazarra que vinha do outro lado, passou algum tempo lambendo
suas patas, deliciado com o sol que batia.
Desceu do muro pelo outro lado e fez nova parada para novas lambeções. Quando
deu por si, já estava nas mãos do menino.
- Peguei! Peguei! - gritou o moleque sardento com uniforme azul e branco e
uma ovação de entusiasmo dos colegas acompanhou seu brado de triunfo.
Para o gato era tudo muito nonsense. Quem poderia querer correr daquele jeito
numa hora da tarde como aquela, onde o silêncio da cidade e aquele solzinho
benfazejo só faziam convidar à prostração, ao estado de imobilidade absoluta?
Agora ali estava ele. Sendo rodopiado pelo rabo como se fosse um iô-iô. Sendo
jogado pra cima como se fosse um saco. Eles haviam feito um círculo ao seu
redor, para que não fugisse. Assustado, quando caía no chão ele andava atordoado
buscando desesperadamente uma brecha. De repente um chute por trás o fazia
ver estrelas. Novo puxão pelo rabo. Mais um salto nas alturas.
Filipe estava na roda de bobinho quando Marlom exclamou "olha o gato
ali, perto do muro!" e, como tudo mundo, correu até o bicho, deixando
a bola esquecida no meio do pátio. Como todo mundo, ele vibrou quando Marlom
gritou "peguei, peguei!" Mas daí pra diante ele não conseguiu acompanhar
mais todo mundo. Ficou um pouco de fora da roda. É que subia um negócio ruim
pela sua garganta.
Tocou a campainha.
- O recreio acabou! gritou um Que vamos fazer com ele? outro perguntou Que
tal botar num saco e jogar no lixo? alguém sugeriu Ou pendurar na árvore e
depois da aula pegar ele de novo? foi a idéia da outro.
- Não. (Marlom:) Vamos jogar ele no laguinho. e uma exclamação de excitação
acompanhou aquelas sábias palavras.
A turba atravessou o pátio atropelando algumas meninas, que já se aprumavam
na fila. O negócio ruim ficou maior na garganta de Filipe. Antes que Marlom
consumasse sua brilhante idéia, ele se adiantou e falou com voz firme:
- Assim não!
Marlom interrompeu o movimento de lançamento no meio. À sua frente, o profundo
e escuro laguinho parecia esperar placidamente, de molhados braços abertos.
Os meninos acharam que Filipe conhecia uma técnica melhor de atirar gatos
em laguinhos, então Marlom entregou o bichano em suas mãos. Era justo. Filipe
fora o único que não se divertira lá atrás.
Ele o pegou não pelo rabo, mas pelas costelas, com cuidado. Permaneceu um
curto mas intenso instante com ele assim, entre as mãos. Sentiu o coraçãozinho
acelerado do bicho batendo. Viu seus olhos assustados. Então, sem olhar os
colegas, num rápido movimento, virou-se de costas e atirou o gato por cima
do muro.
Pela sua cabeça passava a pergunta: "será que era muito alto pra ele?"
e a resposta: "acho que não, nesse ponto do muro tem o morrinho do quintal
da Zuza..."
Ele sentiu que não tinha mais a coisa ruim na garganta. Mas em seguida percebeu
que agora tinha uma coisa ruim nas costas, onde recebeu a pancada que o atirou
no chão.
Do lado de lá, o gato olhava com arregaladíssimos olhos para aquele muro.
Chacoalhou a cabeça, piscou duas vezes e seguiu seu rumo.
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Diferencio em silêncio
Covardemente covariante
Preso na raiz quadrada
Triste, seno hiperbólico,
Piso em falso na integral
E diagonalizo
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pardon!
sara fazib [email protected]
Umas taças de Moët et Chandon,
pro inferno a politess
— diz a boca lambuzada.
Entre os dedos da dama escorre
o sumo da manga espada.
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p e r g u n t a r n ã o
o f e n d e
"Qual
será o seu epitáfio?"
fred leal [email protected]
Meu epitáfio, se eu
for enterrado (prefiro ser cremado), deverá ser:
"Aqui jaz Fred Leal
1982 - 20XX
www.fredleal.com
(este site não será mais atualizado)"
gabriel pancera [email protected]
"Até mais ver!"
társis schwald [email protected]
"Melhor ter um fim miserável do que uma miséria infindável!"
eduardo makoto [email protected]
"Antes que vc comece... não tenho dente de ouro seu filho da puta! Deixe-me
em paz!!!!"
flaviane lopes [email protected]
"Não nasci amarrada. Saltei, pulei e me dissolvi"
edney soares de souza [email protected]
"Clique aqui para me enviar uma mensagem no além: [email protected] ;)"
naira marcatto [email protected]
"Aqui jaz aquela que gozou da vida com sexo, drogas e rock'n'roll: faça
o mesmo e junte-se a ela! (Ou você vai preferir chegar lá sem ter aproveitado
nada, pô!)"
paula pimenta [email protected]
O epitáfio não importa, mas no enterro vai ter que tocar aquela musiquinha
"Já está chegando a hora de ir, venho aqui me despedir e dizer, que em
qualquer lugar por onde eu andar, vou lembrar de você, só me resta agora dizer
adeus e depois o meu caminho seguir, o meu coração aqui vou deixar, não ligue
se acaso eu chorar, mas agora, adeus"... É pra todo mundo chorar mesmo.
noah mera [email protected]
"Ao menos ele se divertiu."
luiz andrioli [email protected]
"Enfim dentro de um buraco apertadinho"
joão verde [email protected]
"Veio-se, viu-se e foi-se."
pergunta da próxima semana:
"Quem seriam as dez pessoas que você colocaria
na Casa dos Artistas?"
Escreva: [email protected].
As respostas mais cínicas, originais e autodepreciativas serão publicadas
na próxima edição.
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como
casar com andré martins
indigo girl [email protected]
Estava no mundo há catorze anos, e o mundo, ou minha mãe, queria saber para
que eu servia. Encontrei o bilhete de convocação sobre minha escrivaninha.
Teste Vocacional. Trazia o dia, horário e endereço. Num post-it, uma observação:
"Já está pago. A psicóloga é minha amiga. Custou caro. Responda direito".
Muito cedo meu irmão deu sinais de propensão à engenharia. Seu quarto era
um amontoado de coisas que ele desmontou ao longo dos anos. Garantiu seu futuro
numa copa do mundo, quando programou o vídeo cassete para gravar jogos no
horário exato em que eles começavam, mesmo não tendo ninguém em casa. Esse
tinha emprego garantido. Minha irmã mais nova, afortunada pelo rendimento
do comércio de rifas, comprou seu primeiro walk-man aos nove anos de idade.
Aos doze tinha um negócio próprio, fabricava uma pulseirinha de barbante que
virou a coqueluche da escola.
Eu era criativa. Era o máximo que podia se dizer a meu respeito, e que iria
me casar com André Martins.
André Martins precisava de uma mulher de sucesso, pois ele teria um futuro
glorioso pela frente. Estava escrito nas notas do seu boletim escolar. E esta
mulher, por mais que algumas colegas achassem impossível, era eu. No dia do
teste vocacional vesti uma calça jeans sem furos e fui ao local do encontro.
Psicólogas nunca me passaram confiança, e esta, por ser amiga da minha mãe,
muito menos. Forjaria as respostas se fosse necessário. Eu sairia dali como
advogada. Com um pouco de sorte, juíza. Disputava com Débora Andrade e Silvana
Brandão, que também tremulavam por André Martins. Não me preocupava muito
com Silvana, que exibia tendências artísticas, mas Débora podia se revelar
uma médica, engenheira, ou coisa do tipo.
Depois do teste a classe nunca mais foi a mesma. Revelada a verdade sobre
cada um, nos dividimos por vocação. André Martins caiu na turma dos médicos,
não que ele viesse a ser médico, de fato. Ele seria dentista, o que me decepcionou,
mas não mudou em nada meus planos. É uma profissão decente, essa de dentista.
Além do mais, o que importa é o amor. Débora seria agrônoma, mas por falta
de companheiros similares, juntou-se à turma dos cientistas. Esta associação
lhe rendeu um prestígio que uma mera agrônoma jamais alcançaria. Agora Débora
levava uma vantagem considerável.
Com Silvana eu não me preocupava mais. Caiu fora da concorrência no minuto
em que a psicóloga anunciou que ela seria professora de educação artística.
Os professores, independente da disciplina, eram desmerecidos como categoria.
Abaixo deles vinha o trio dos indefinidos, que ganhou "alternativas profissionais",
e mesmo assim, só depois de uma segunda rodada de testes. Neste gueto havia
um padre, um ator de teatro, e eu, como publicitária.
Nunca esquecerei o olhar de decepção de André Martins, quase lamentando o
meu destino.. Ele não podia assumir compromisso com uma pessoa que tivesse
sua subsistência baseada em idéias criativas. Eu compreendi seu ponto de vista
e não insisti. Não tive como argumentar. Tampouco acreditei que fosse possível
viver dignamente criando slogans. Soava-me como uma grande picaretagem.
O ator de teatro e o padre se revelaram bons amigos. Ao nosso trio, no segundo
semestre, juntou-se uma bailarina, que até então se unira aos professores
por falta de opção. Terminamos o ano unidos como uma trupe circense. Nunca
levamos aquelas profissões a sério. O padre arrumou uma namorada. A bailarina
começou a usar óculos, o ator de teatro se revelou o melhor jogador de futebol
da escola, e eu comecei um diário. Temia estar mesmo fadada a viver de idéias,
e neste caso, era melhor colocá-las no papel o quanto antes.
Dezessete anos depois...
Recentemente soube que André Martins já não possui cabelos. Apenas um chumaço
que ele amarra num rabinho frágil. Isto bastou. Não quis saber o que veio
a ser do resto dele, profissionalmente.
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n
a v e g a r i m p r e c i s o
Logopeia.
http://www.ignoremode.org/logopeia
Estou legislando em causa própria, é verdade, mas quero aproveitar o ensejo
para convidar todos a visitar o weblog coletivo em que aparecem Alexandre
Inagaki, Suzi Hong, Ian Black, Kazi, Luciana Naomi, sweethell, e, eventualmente,
Ricardo Sabbag. Obrigado pela atenção dispensada e boa viagem.
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sobre
a burrice
daniela abade [email protected]
A ignorância apareceu de uma forma clara na minha frente. Minto, não foi a
ignorância: foi a burrice - ignorante é quem não tem acesso às informações,
burro é que tem esse acesso e prefere se manter ignorante.
Pois então, a burrice apareceu de uma forma clara na minha frente.
Minha primeira reação foi informar. Mostrar outros pontos de vista, dizer
que o mundo não se resume a um retângulo com um abismo no final. Ingenuidade
a minha: a burrice não aceita informações. Nunca. Tentei arrumar outra saída
e a única que me pareceu possível na hora foi ignorar a burrice (irônico,
não?). Não queria ver, não queria ler, não queria saber, não queria ouvir
nada que viesse dela. Admito que me senti aliviada. Estava numa posição distante
e confortável.
Mas o que eu não sabia é que a burrice era insistente. Em pouco tempo ela
voltou a me cutucar. A entrar nos círculos que eu freqüentava. A mostrar sua
cara feia e mal-acabada. A levantar a sua voz para dizer nada. Tudo isso para
simplesmente reafirmar sua existência.
Fiz força para continuar ignorando, mas eu tenho o mal-hábito de não conseguir
me mostrar ignorante. Foi aí que apareceu a raiva. E não foi na minha frente.
Foi dentro de mim. Com uma força que eu nunca imaginava que ela pudesse ter.
Com uma força que eu não pude de maneira alguma controlar.
Bati, pisei e humilhei a burrice. E ela não morria. Nem ao menos se
retraia. Tirei sangue. Cuspi. Gritei. Chutei. Ela caia e parecia se levantar
cada vez com mais força. Cada vez maior. Minha raiva também aumentava e, cega,
acabei usando todas as minhas armas para não ouvir mais aquela voz.
Ela não se abateu. Ela nunca iria deixar de existir.
Foi então que chorei. Não pela derrota. Não pela decepção. Foi por ter percebido
que ela conseguiu exatamente o que queria de mim - que naquele momento eu
fui o que ela sempre quis que eu fosse. Burra.
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m e n i n o s e u v i
parada
da paz - parque do ibirapuera, são paulo - 25/11/2001
esdras passos [email protected]
Os beijos eu não dei, pelo menos não na parada. Mas, coisas estranhas a gente
vive na vida, não?
Paz, com certeza tinha, mas de jeito nenhum era uma paz parada, ao contrário
era uma paz muito da agitada. Também com esta música eletrônica e hipnótica...
difícil era ficar parado.
O tempo que fiquei não foi suficiente para distinguir as músicas. Sabia que
não era a mesma pela grito da garotada toda vez que vinha um pequeno intervalo
antes de começar aquele batuque alucinado de novo. Fiquei até curioso para
entender como que era possível as pessoas cantarem juntas com a música. Pois
é, em alguns intervalos daquela interminável música, podia se ouvir um coro
ininteligível.
As tribos estavam todas lá. Sim, há diferenças sutis. Uns eram skatistas,outros
de tecno, trance, hip hop, cybermanos, clubers, punks, drum´s bass, sei lá.
Eu sou fã de MPB, entendem a minha dificuldade?
Todos com menos de 20. Exceto as barbies, estas querendo ter muito menos dos
30 (bonzinho eu) que tinham.
As meninas tinham roupas de boneca (quem se lembra das bonecas de papel, que
a gente (ops) nossas irmãs, primas, amiguinhas, vestiam com a aquelas roupinhas
destacáveis)? Eram muitas fitinhas, marias-chiquinhas, sainhas de uniforme
de escola, meias 3/4, sapatinhos anabela.
Os meninos eram mais esquisitos. Cabelos espetados, tal qual a estátua da
liberdade e com gargantilhas de contas de plástico multicoloridas. Eles eram
a própria liberdade. Até saias usavam. Quase todos magricelos e sem camisas.
Bom de ver, mesmo assim. Principalmente pela alegria de pularem/dançarem sem
parar.
Esta é a parte mais legal. Eram indefinidos. Há 20 anos, seriam todos gays,
pela aparência provocativa e andrógina. Hoje, tanto faz se estão de baton
e muitos brincos, tanto podem estar beijando uma garota como um garoto, na
maior naturalidade. Vi um futuro promissor, nesta hora eu achei muito apropriado
o nome do evento, era mesmo uma "parada da paz", considerando-se
o sentido do troglodita alexandre frota.
A música, quando se está perto das caixas, era insurdecedora. Um pouco mais
de tempo ouvindo, descubro que a batida não é muito diferente do som do Sylvester,
aquela bicha do tempo da discoteca (you make me feel).
Não pude ficar mais tempo, já até estava ficando mais à vontade com uma tribo
de cybermanos, claro que eu era um tiozinho no meio da garotada, mas eram
eles que iriam me iniciar naquele mundo tão louco.
Só vi o começo do inusitado show de axé-tronic da Daniela Mercury, logo depois
do pronunciamento da prefeita.
Fui consertar meus ouvidos num concerto na Sala São Paulo. Não que entendesse
mais, mas, para quem me conhece mais, ao menos pude semi-dormir sossegado
ouvindo um coral cantando.
No ano que vem terá mais. E, mesmo com todas as críticas possíveis, quanto
ao apelo marketeiro da parada, a gente precisa ver, presenciar, sentir. O
mundo está mudando e aqueles jovens me fazem acreditar que teremos mais tolerância
no futuro. Serei eu um romântico irrecuperável?
Paz e amor.
nota
da direção: viu
mostra performática, teatro infantil, filme cubano, reunião da amway, passarinho
verde? mande seu relato para [email protected].
>>>
p
e c a d o s
mariana
fazzini [email protected]
Era uma paixão daquelas avassaladoras, arrebatadoras, de querer cortar os
pulsos com a corda no pescoço... pra garantir... Que não tinha hora, nem lugar,
nem sentimento que contesse, as trocas de olhares significativas que fazia
querer mais, amar mais, sofrer mais, odiar muito... A negação dos defeitos
e a partilha de uma sensação de não ter mais nada nesta vida que ainda tenha
que acontecer porque você sabe que só se ama assim uma vez... Até que um dia
o instinto de sobrevivência foi maior e a insuportável separação se tornou
a única saída. A dor foi dando lugar à uma frustração tamanha só comparável
às noites frias e à cama vazia, com a marca daquele corpo tão conhecido ainda
nos lençóis...
E a vida passou, e o sofrimento se transformou em consolo amparado de lembranças
e uma nova condição de amor surgiu, acalmando, acalentando. Amuderecer no
amor é uma porra...
Mas um dia, de mãos dadas com o novo amor, o encontro adiado por tantos anos
finalmente se deu. E foi tanta sacanagem da vida que eu tive a coragem necessária
de olhar naqueles lindos olhos tão azuis, procurando um sinal de fumaça daquele
amor que nunca morreu, o que me fez tremer toda, marcando vários pontos na
escala Richter. O atual equivocado amor percebeu, o cumprimento que seguiu
à apresentação foi uma série de grunhidos e uma pressa de ir embora me arrastando
pra longe daqueles olhos...que me seguiram sem piscar enquanto eu controlava
a vontade de voltar para olhar de novo naquela íris perturbadora...
Não comi, não durmi, não pisquei nem respirei mais naquele dia... O ex-novo
amor já nem sabia mais como chamar minha atenção... Só conseguia era pensar
naquele amor doido, naquelas coxas que me enlaçavam, naquele corpo quente
que me envolvia, naquela voz que me deixava louca, o sorriso de menino, as
brigas que sempre acabavam no chão, na terra, no asfalto, na água, no fogo...
Será que eu ainda estava lá, como ele ainda estava em mim? E aquela sensação
de ainda ser dele, destruindo a minha convicção de que estava bem melhor longe...
A ironia é justamente o conflito entre o melhor e o inevitável... Que lugar
comum fudido!!
A cama ficou pequena, o sono não vinha, o futuro ex-amor profundamente adormecido
e a minha pele queimando... Levantei, desci as escadas da casa, a chave do
carro, o maço de cigarro, a garrafa de cerveja, a noite sem lua...Tudo passava
como nada na minha frente, eu completamente sonâmbula tentando aliviar o pensamento
enquanto agia. A porta aberta devagar pra não fazer barulho, o carro empurrado
até o fim da rua... hoje nem me lembro como fiz, só sei que aconteceu...
Rodei muito pela cidade antes de ir parar em frente a sua casa. Como num sonho,
pisquei várias vezes pra ver se sumia aquela miragem... E abri e fechei a
porta do maldito carro, que nem era meu, umas quinhentas vezes antes de me
decidir sair... Fumei um maço de cigarro e voltei de novo pro carro... saí
de novo... demorei uns quinze minutos pra trancar a porta pela décima vez...
Droga!!! Atravessei o quintal, devagar, testando o chão...não podia e nem
devia estar ali... O dia já ia nascer, o carro largado na rua, e se ele estiver
com alguém, o que pode ter acontecido com o meu bom senso, isso não pode estar
acontecendo, eu só posso estar louca...
Bati na porta. Abriu na hora, como se estivesse me esperando... Não disse
nada, eu também não... Me puxou pra dentro, aqueles olhos me queimando, me
roubando o ar, me trazendo de volta de onde nunca saí... nunca foi tão bom,
nem tão perfeito, completo, a única vez em que não discordamos de nada...
Não trocamos nenhuma palavra... nem neste dia e nem nunca mais... Eu saí de
lá completamente desnorteada, peguei o carro ainda tremendo, voltei pra casa...
O desconhecido que encontrei me perguntou aonde fui e só pude dizer, estava
sem sono...
Perdoe-me Pai, porque pequei... mas não seja muito gentil porque ainda não
me arrependi... a culpa nunca veio...
e na minha trilha sonora ainda tem "I've got you under my skin"...
e lindos olhos azuis...
p.s.: caro leitor, você também pode se redimir de seus
pecados. Escreva para [email protected] relatando
as lembranças mais sórdidas de seu passado imundo (não se esqueça de incluir
os detalhes mais picantes). Spam Zine & rtfm
por um mundo melhor: redenção digital ao seu alcance.
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From Goiânia:
Era tarde da noite do dia 30 de novembro quando o telefone yellow-pequi gritou.
Isso era ruim. A última vez que ele havia tocado foi quando Paul teve um acidente
de carro em New York, dias antes de um boeing cair no bairro do Queens.
Sir Xis, na Central BeatleEverything, me avisara naquela ocasião que Paul
estava bem e, caso eu visse ou lesse alguma notícia que não fosse aquela -
shit press -, que eu não me aborrecesse, pois ele nada tinha sofrido, além
de um leve susto, e me mandava um abraço e ...um soco no nariz. Velho Paul.
Sir Xis estava chorando e eu senti que tinha chegado a hora de ouvir aquela
terrível notícia. Notícia que nos últimos dias parecia um bicho de geléia
tentando se segurar numa estalactite, mas que escorregaria e se esborracharia
inevitavelmente.
George fora embora.
Imediatamente corri até a minha beatlebox, onde estavam as duzentas e oitenta
e sete fitas cassete gravadas pelos meus amigos John, Paul, George e Ringo,
desde a nossa separação em 1969.
As de Lennon, datadas até 2.005, eu já havia escutado - nosso trato foi o
de que a cada um que morresse as fitas tinham que ser ouvidas imediatamente
- e as de George, que eram em número bem menor, tinham a last date em 25 de
fevereiro de 2.003 (quando ele completaria 60 anos).
Sua voz, com apenas 26 anos, ecoou pelo quarto naquele indefectível: "Hello,
big Charles", carregado no "erre" como um bom inglês, e não
tive como, ali mesmo, não interromper sua voz formidável e deixar o choro
me arrebentar.
Baby George se fora mesmo, man? Porra!
E não tive como ouvir mais nada até hoje, 03 de dezembro.
Nesses praticamente três dias após a sua partida nada mais faço além de olhar
no espelho e tentar achar as partes de John - como estás, velho? - e agora
de George...
Meu Deus! Paul! Ringo! O que está acontecendo com a nossa face?
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f a l a q u e e u
t e e s c u t o
quando
você estiver sozinho no meio da madrugada e não tiver a quem recorrer, lembre-se
de [email protected].
A melhor equipe de parapsicólogos e embromadores de plantão. Servimos bem
para servir sempre.
"Parabens (a quem fez!) pelo site!
Esta' excelente! Deve ter dado uma trabalheira...
Abracao"
Julio Daio Borges
sabbag responde: prezadíssimo Julio, todas as honras
do novo sítio do Spam Zine devem ser creditadas a Suzi Hong, responsável por
todo o webdesign e organização, e Nicole Lima, que tratou as imagens de nossos
editores e colaboradores. Ah, nunca é demais repetir: novo site do Spam Zine
você confere em: http://www.spamzine.net.
O quê? http://www.spamzine.net. Não
entendi. http://www.spamzine.net. Mais
uma vez! http://www.spamzine.net.
"Enfim , eu escrevo poesias , se pode-se assim dizer , e meu amigo gostou
bastante , o q me fez pensar q estava boa... Pois então , mando-a prA VCS
. SE Ñ FOR PUBLICADA , TUDo BEM , PELO ,mENOSD ALGUÉM VAI TER LIDO , e isso
já vai ter sido suficiente ,eu espero .(desculpem-me se estiver , na mensagem
, muitos erros ortográficos , é que estou num dias daqueles em que vc enche
a cara pra er seesquece o tédio . É isso mesmo, vcs estão presenciando
um momento de desespero de uma intediada lesada por um cancer mortal de denominação
tédio)"
Heleine Fernandes
sabbag responde: uau, Heleine, sua carta foi, sem dúvida,
das mais interessantes que nossa redação já recebeu. Estamos avaliando seu
poema para tentar entender se ele é neo-concreto ou coisa assim. A mensagem
saiu como veio, mas o fala que eu te escuto é isso mesmo. O leitor faz seu
testemunho e nossa equipe tira o mau-olhado do seu corpo. Brincadeiras à parte,
nós a encorajamos a escrever mais vezes. Estamos aí para o que der e vier.
c r é d i t o s f i n a i s
while my guitar gently weeps
Ricardo
Sabbag [[email protected]]
Alexandre Inagaki [[email protected]]
Orlando Tosetto Junior [[email protected]]
give
me love (peace on earth)
(arlã() [[email protected]]
Daniela Abade [[email protected]]
Esdras Passos [[email protected]]
Indigo Girl [[email protected]]
Marcel Novaes [[email protected]]
Marco Aurelio Brasil [[email protected]]
Mariana Fazzini [[email protected]]
Sara Fazib [[email protected]]
when we
was fab
p. s.
sabbag: triste foi que o George morreu bem no dia do
meu aniversário.
landão & rick manreza: carro é pra andar, loira
é pra foder.
sabbag: quem se sentir ofendido com o aforismo acima
deve remeter suas reclamações para: [email protected].
Afinal, pra quem tá se afundando, jacaré é tronco.