036
28 de outubro de 2001
são paulo são leopoldo rio de janeiro joão pessoa
goiânia itararé jundiaí belém curitiba londrina
>>>
n
e s t a e d i ç ã o:
fama
infame - momento tijolão - cinco respostas - pecado v: avareza - dormir
no metrô - música árabe - free jazz - estória do mundo - gumes
do amor - odeio van gogh - de bois e formigas
>>>
Hoje à noite veremos
mais alguns anônimos serem catapultados à fama em "No Limite 3".
Darão autógrafos nas ruas, silenciarão restaurantes, serão convidados para
posar nus. E o que os diferenciará do restante dos mortais, senão o fato
de comerem olhos de cabra ou outros quitutes similares na frente das câmeras?
Nada, a não ser o fato de que se tornarão FAMOSOS.
Não deveria haver
alguma espécie de mérito para uma pessoa que recebe os holofotes de todos?
Compor como Lennon, escrever como Cortázar, pintar como Picasso, correr
como Lewis ou liderar como Gandhi? Necas de pitibiriba. Na escancarada democracia
da fama, há espaço para qualquer pessoa, seja ela garota-propaganda de cerveja,
estagiária boqueteira ou seqüestrador de animador de auditório. As fronteiras
entre fama e infâmia, mais tênues do que nunca, tornam mais presente do
que nunca a frase pronunciada em um filme de Woody Allen sobre o tema: "Você
conhece uma sociedade pelas celebridades que ela cria".
"Caras"
é a revista do nosso tempo. Um dia, quando futuros antropólogos e sociólogos
quiserem saber como era a sociedade no começo deste milênio, bastará a eles
folhear exemplares amarelados de reportagens como "Marcos Mion e Babi
assumem romance na Ilha de Caras". Não tardará a vir o tempo em que
casamentos de personalidades serão exibidos em boletins extraordinários,
com direito a helicóptero do Gugu gerando imagens comentadas por Sonia Abraão
e Leão Lobo ("o vestido de noiva de Carla Perez foi desenhado por Ronaldo
Ésper, uma loucuuuuuura").
Nesse mesmo dia,
os Quatro Cavaleiros do Apocalipse descerão à Terra semeando a fome e
a destruição. José Luiz Datena comandará a transmissão com imagens
da CNN.
>>>
O melhor e-zine de
todos os tempos da última semana apresenta: a volta dos que não foram. Esta
edição apresenta textos de diversos colaboradores que andavam tão sumidos
quanto Locomia, Arakén o Show Man, Lolita Rodrigues, Vanilla Ice, Januário
de Oliveira, Barros de Alencar ou Narjara Turetta. Aos assinantes que ainda
não leram nenhum texto de AL-Chaer, Aline de Mello, Mateus Potumati, Nicole
Lima ou Luiz Fernando Padilha, minha recomendação: arranjem, de qualquer
maneira, os Spam Zines anteriores. E como quem fica parado é poste, esta
edição apresenta a estréia de duas novas seções, Perguntar Não Ofende e
Meninos Eu Vi. Que clamam pela participação de leitores Gelol, que sabem:
não basta ler, tem que participar.
Falando em e-zines,
esta edição começa com a participação do cúmplice de crime Samuel Ramos.
Irresponsável, junto com Marcos Beck Bohn (a.k.a. m2b) pelo Tijolão (http://www.tijolao.cjb.net),
fanzine eletrônico que desce macio e reanima. Fechado provisoriamente para
balanço, o Tijolão promete retornar em breve. Enquanto isso, fiquem com
a amostra grátis que vem a seguir, e visitem http://www.acessobah.cjb.net,
página com os textos mais recentes de Samuel e m2b.
>>>
A partida de xadrez
ia animada naquelas horas. A julgar pelo físico dos enxadristas, principalmente
o abdômen em fora de pêra, não fazia muito haviam largado a canastra. O interesse
pelos jogos veio naquele inverno, junto com a química, a física e as aulas
de aviação. À época, haviam ganho um tabuleiro do governo. Depois do tabuleiro,
vieram as peças, algumas roupas, armas e dois ou três CD's do Travis e o primeiro
CD dos Strokes:
- Mas que merda essa
música! O ocidente está perdido!
- Um tanto!
Passaram muitos invernos
e o governo não financiava mais o enxadrismo. Na nota oficial algumas explicações,
que sempre terminavam com “whatever” e “perhaps”, dificultaram a compreensão.
Quando se falou “os enxadristas não são mais nossos amigos” não se sabe ao
certo. Desde então a vigília e o preconceito misturado com arrogância em torno
das peças não permitiram que elas se movessem. Dizem que até facilitaram.
Num final de verão,
as peças se moveram de tal sorte que as torres caíram. Anos antes o diálogo
já soava premonitório, como ficou comprovado pelo Profeta Cajado (ui! ui!
ui!).
“Vivo duro, por
isso meu nome é Cajado. Daí que eu tava sonhando com os números da sena, bem
na hora que alguma coisa caiu. Olhei para o meu cajado tava intacto. Ufa,
que susto. A merda foi que com o barulho não consegui anotar todos os números
da loteria”
(apud Profeta Cajado
in “Eu odeio Roberto Carlos”)
Porém uma ligação telefônica
que não caiu (?) da empresa que faz um zum-zum-zum, fez um zum-zum-zum na
hora que os técnicos gravavam tudo:
- É tua vez zum zum
zum.
- Xeque mate zum zum zum?
- Bem capaz! Derruba as torres se tu for galo, zum zum zum.
Na tevê o zum zum zum
foi substituído pelo cabum.
A partir daí vocês
já sabem.
O que vai acontecer?
Fiquei de perguntar para o Profeta Cajado, mas como ele continua duro (ainda
não sonhou com os números da sena) me recuso a chegar perto dele. Houve quem
chegasse perto do Cajado. Uns fodidos, outros nem tanto.
Porém em tempos de
guerra, qualquer buraco é trincheira. Esses que chegam perto das guerras dos
presidentes, em verdade vos digo, estão todos fodidos. E do jeito que a coisa
vai, todo o resto também.
ele se anunciou
com voz de sirene
dei passagem
mal sabia que a emergência
era eu
Atlantic City, 1996.
Ou 1995? Não sei. Você já foi em Atlantic City? Aceite meu conselho e não
vá. É uma merda.
Pois bem - Eu estava
no Taj Mahal, gastando um dinheiro nas slot machines. Até o momento eu tinha
perdido uns 20 dólares. Isso porque tinha no máximo 20 minutos que eu estava
no cassino. Não preciso dizer que eu estava puto. Era uma quarta-feira,
e eu acabara de descobrir, pela quantidade de velhos nos cassinos que quarta-feira
era Senior Citizen Day, onde os velhinhos tinham descontos especiais
e o caralho. Eu tinha acabado de chegar na cidade e estava afim de vazar.
Mas meu ônibus só voltava em 6 horas. Ao jogar minha última ficha e levar
ferro mais uma vez na mão de uma máquina estúpida e barulhenta, uma velha
na máquina ao lado se levanta. Ela estava com dois potes de moedas, foi
embora com um, deixou o outro para trás. Olhei para o pote, lotado de tokens,
devia ter uns 10, 12 dólares ali.
Fiquei parado com
o pote na mão pensando se iria devolvê-lo para a velhinha ou não.
Minha dúvida durou
dez segundos. Não fui. Mudei de máquina e continuei jogando. Segundos depois
a velhinha apareceu, procurou pelo seu pote e foi embora, desconsolada.
Eu gastei aqueles
dez, doze dólares em quinze minutos e fui comer um cachorro quente.
Perdoe-me, pai, porque
pequei.
p.s.:
caro leitor, você também pode se redimir de seus pecados. Escreva para
[email protected] relatando as
lembranças mais sórdidas de seu passado imundo (não se esqueça de incluir
os detalhes mais picantes). Spam Zine & rtfm
por um mundo melhor: redenção digital ao seu alcance.
p
e r g u n t a r n ã o o f e n d e
o que você
faria na última hora de sua vida?
Fumaria
um cigarrinho, tomaria uma garrafa de Los Vascos Cabernet Sauvigon,
mandaria todos os meus ex-chefes tomarem no cu, transaria com meu namorado
na suíte triplex do motel mais caro da cidade, e, se desse tempo, cantaria
o cd Lóki inteirinho em cima daquelas caminhonetes com alto-falantes, tipo
trio-elétrico, no meio da Praça da Sé.
Faria alguns
atos terroristas. Beijaria todas as garotas que me dessem vontade. De preferência,
com todos meus amigos do lado.
Mandaria
um monte de gente ir tomar bem no cu, coisa que eu deveria fazer com muita
gente, e talvez uma hora apenas não bastasse. Também sairia na
rua cantando bem alto todas as músicas que eu gosto, com meu chapéu verde
de vaqueiro australiano, tomando coca-cola e com o cabelo cheio de gel e
bem espetado.
Sexo.
iria até a casa do
filho da puta que está atazanando minha vida com aquele problema do carro,
arrebentava ele e assassinava ele a golpes da faca mais cega que eu encontrasse.
antes dele morrer, arrancava os cabelos dele com cera quente e arrancava
os dentes com alicate de manicure. beberia uma garrafa inteira de amarula.
depois, com o tempo que sobrasse, encontraria o amor da minha vida na rua,
e beijaria na boca, beijaria, beijaria, até dar o último suspiro. e iria
chorar um pouco também, e rir, se desse tempo.
pergunta
da próxima semana:
"Se
você tivesse uma banda, qual seria o nome e o estilo musical?"
Escreva: [email protected].
As respostas mais inusitadas, pungentes e/ou embaraçosas serão
publicadas na próxima edição.
na órbita
do teu olho
eu transgrido
as leis
da gravidade
singelo
concerto em sol menor
Eu dormia quando bati meu carro no poste da garagem.
Eu chovia quando
o ônibus intermunicipal amassou toda a lateral direita do meu carro, arrancando-lhe
o espelho retrovisor e me arrancando acessos de raiva histérica e muitos
palavrões.
Eu bebia na casa
de amigos quando bateram no pára-choques traseiro do meu carro estacionado
na rua.
O pobre coitado,
antes de começar a criar ferrugem, mofo, gnomos e alienígenas, está agora
no conserto desde segunda-feira. Não sei quando o verei ainda, novo, piscando
os faróis para mim.
Estou a pé e transporte
público no meio da multidão de São Paulo. Anônima e desajeitada na hora
de me equilibrar no metrô lotado e epiléptico, parecendo uma senhora gorda
e esclerosada na hora de descer no ponto de ônibus, com meus reais 45 kg
e surreais 26 anos.
Sinto-me perdida
porque não sei mais os itinerários de quase todas as principais linhas de
ônibus como sabia quando era estagiária de Direito; não sei mais dormir
no metrô em pé, como quando demorava quase uma hora e meia para chegar às
sete da manhã no colégio onde estudava. Esbarro nas pessoas, tropeço em
buracos do chão. Só tenho o samba no pé do acelerador, freio e da embreagem.
Só toco Debussy com as mãos no volante e os dedos postos sobre a marcha.
Sou uma passista
patética, uma pianista decadente nas ruas de São Paulo. Há de existir um regente para
guiar meus passos, batuques e cadências.
Não estou chateada
com minha falta de jeito. Não me importo se minha esvoaçada mente sem direção
e meus itinerários todos toscos são apenas conseqüências merecidas da vida
pequeno-burguesa percorrida dentro de um bólido vermelho, cuja falta não
sinto tanto assim.
Importa-me agora
que existem pessoas que ainda falam boa tarde ao motorista de ônibus. Pessoas
que me ajudam a levantar do chão depois de tropeçar no buraco. Homens cansados
a caminho do trabalho que se oferecem a segurar minha pasta cheia de papéis.
Mulheres despenteadas que perguntam onde comprei minha bolsa e aproveitam
para conversar sobre o tempo, o antraz, o marido (ah, os homens...) e sorriem
num consolo dizendo que sou jovem e tenho a vida inteira pela frente, para
ser sofrida, amada, sonhada. “Quantas guerras terei que vencer por um pouco
de paz? E amanhã se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão, vou
saber que valeu delirar e morrer de paixão. E assim, seja lá como for vai
ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível
chão”.
São rostos desconhecidos,
cansados, alguns alienados, mas todos guardam uma essência em comum que
não sei se tenho. São, sim, “flores que brotam do impossível chão”, inesperadas,
abençoadas. Será que essas pessoas também chovem ouvindo o barulho da cidade
lá fora que procuro tanto negar e lavar de mim? Não... acho que agradecem
o orvalho que lhes cobrem todas as manhãs.
O “sonho impossível”
tem beijo no fim da estrada. Meu carro tem conserto. Também o mundo, ainda
que inóspito. Basta afinar alguns pianos, trocar as cordas de certos violinos
e as baquetas quebradas por novas feitas de cedro, saudar o maestro
com o olhar compenetrado e a alma pronta para ser devota ao concerto em
Sol menor que a poucos iluminam, ainda que o auditório esteja repleto de
cadeiras vazias.
Eu... bom, eu. Acho
que não tenho conserto, porque rebelde que sou, quero me abster de um concerto
triste que me tiram lágrimas abortadas. Quando o teatro estiver com a lotação
esgotada, então, por favor, guardem um assento para que eu possa apreciar
um mundo regido com maestria, paixão e notas acolhedoras, aquelas únicas
e raras capazes de nos levar, em ônibus, metrôs e caminhadas, à tal
essência comum às pessoas que brotam do impossível.
enquanto a brisa
dedilha seus cabelos
e a maresia
lhe assovia em flautas
meus desejos
no oriente de meu peito
uma percussão
descompassa seu ventre
para as nossas
mil e uma danças
m
e n i n o s e u v i
free
jazz festival - rio de janeiro - 25/10/2001
luiz fernando
padilha [email protected]
A noite começou com
a apresentação de um tal de Grandaddy, com um som bem gostosinho, que, segundo
um amigo meu, é uma mistura de Electronic e Pavement. Embora eu não
tenha entendido porra nenhuma dessa definição, posso lhes dizer que é uma
banda passível de se comprar o CD. Bem interessante. Um pequeno detalhe
para uma das músicas que, pelo número de aplausos a mais por parte da platéia,
leva-me a crer que foi o grande "hit" da banda. Curiosamente,
esta faixa é bem chatinha, num estilo meio medieval, como se fosse "música
pra jogador de RPG". Escroto, mas o resto do repertório foi legal.
Sigur Rós. BANDINHA
DE MERDA! Os caras ficam fazendo um som lento, contemplativo, com poucos
acordes, e tentando imitar o canto das baleias. O vocalista parecia uma
versão aidética do (babaca do) Billy Corgan e sempre fazia uma cara de que
estava cagando. Se depois de Sugarcubes, a Islândia só conseguiu fazer coisas
como o Sigur Rós, acho que deve ser um país muito chato. O som deles me
lembrou aquele episódio de "Friends" em que o Ross sismou que
era músico e foi tocar atordoar os freqüentadores do "Central Perk"
com seu teclado, como se já não bastasse o Voz/Violão/Smelly Cat da Phoebe.
Melhor dizer que
Sigur Rós é o jeito ERRADO de querer inovar. Não é uma banda para tocar
para multidões, mas sim para tocar pra dentro do cu deles mesmos.
Agora o jeito CERTO:
Belle & Sebastian. Antes desse show tive uma grande preocupação, graças
a traumas dos shows do David Bowie e do Smashing Pumpkins, de que os caras
do B&S fossem "palcopatas". Besteira, pois além de super simpáticos,
a banda fez um show do caralho. Naturalmente eles não tocaram todas as minhas
favoritas, mas como é humanamente impossível fazer um show de cinco horas,
fiquei muito feliz por ter ouvido músicas como "The Model", "Me
and The Major", "The Boy With the Arab Strab", "I Fought
in a War" e outras dos LP's e EP's.
A banda é magnífica
e levou o show com o pé nas costas, mesmo sem sua vocalista Isobel Campbell,
que abandonou a turnê com medo de avião por causa do terrorismo. Não só
é uma banda de primeira, como também souberam conquistar o público brasileiro,
tocando "Baby" e "Minha Menina", dos Mutantes, causando
espasmos na platéia.
Não posso lhes dizer
qual foi o melhor show de 2001. B&S e R.E.M. foram páreos duros, mas
posso lhes dizer que saí satisfeito. Só não saí melhor porque a banda não
deu bis, mais pela falta de insistência do público que pela própria banda.
Uma pena. Acho que rolou o que chamo de "Síndrome da Agenda Social",
onde 30% do público estava "deslocado" (um número maior que o
normal), mais entediados fazendo pose que curtindo o show.
Pensei que isso só
rolaria no palco "Club", onde rola aquele Jazz moderno de branco,
assistido por caras movidos a charutos e garrafas de uísque, que segundo
meu amigo Gustavo, provavelmente devem chegar em casa e se masturbar olhando
pra própria imagem no espelho. Pois é... temos aqui no Rio uma versão "young"
disso.
Fernanda Abreu é
uma escrota. Morte a ela. O jeito forçado dela de falar nos anúncios
é irritante. Samuel Rosa do Skank é outro.
p.s.:
viu mostra do Rodin, filme do Valerio Zurlini, peça do Hirsch, show
do Tiririca, passarinho verde? Escreva para [email protected]
e deixe seu testemunho ocular da História.
Com açúcar furtado
E um belo litro de vodka na mão
O poeta desesperado
Grita: - Meu reino por um limão!
n
a v e g a r i m p r e c i s o
digestivo
cultural
Esta revista eletrônica
é garantia de deliciosa digestão intelectual, capitaneada pelo chef,
redator, editor e webdesigner Julio Daio Borges. Literatura, cinema, gastronomia,
teatro e fait divers destrinchados por colunistas do quilate de Fabio Danesi
Rossi e Paulo Salles. Devore-a, com gosto de "quero mais".
ler é preciso
O Que Rola é um site
cultural de Goiânia, terra dos nossos intrépidos colaboradores AL-Chaer
e Carlos Edu (carlãO), que, com linguagem descontraída, fornecem dicas
literárias aos internautas de plantão. Como eles bem definem: "leia
por prazer; o prazer sempre vicia".
a
estória do mundo segundo brooke shields
capítulo
5: renascença
Houve a partir do fim da Idade Média uma revolução nos costumes europeus.
Eles não tomavam banho ainda (em Portugal, isso é sério, chegou a ser considerado
heresia uma época), mas pelo menos começaram a usar talheres nas refeições.
Isso aconteceu porque os burgueses começaram a se mostrar mais e mais ricos
e ascenderam socialmente. Como forma de se diferenciar dos "novos ricos"
a etiqueta passou a ser utilizada em larga escala pela nobreza. Assim, a
diferença entre um burguês e um nobre em uma reunião social era que o aristocrata
era elegante e levantava o dedinho para tomar champagne, e o burguês era
um bronco que arrotava, se limpava na manga e tinha muito mais grana, fazendo
os burgueses geralmente mais simpáticos aos olhos da corte.
Os modos da idade média foram, pouco à pouco, caindo no vazio e no esquecimento.
Os cavaleiros foram os que mais sofreram. Não adiantava neguinho dizer que
tinha visto um dirigivel da Goodyear, por exemplo, ou ir no Gugu dizer que
queria voltar a lutar justas no Corinthians, que necas de alguém dar bola.
Cresce nesta época o protestantismo, que enaltece o trabalho e o lucro como
direitos divinos. Apesar de priorizar a quem trabalhava e tinha lucros justos,
muitos burgueses se identificaram com as linhas protestantes e se converteram
ao mesmo.
Houveram mulheres que faziam verdadeiras fortunas com a chamada "vida
fácil", onde levavam envergonhados e culpados pais de família burgueses
a quartos suspeitos e, quando eles relatavam seus lucros indecentes, elas
davam um longo abraço e diziam que "tudo bem eles serem ricos".
Eram serviços mais procurados do que o das "damas da noite" *.
Uma pouca vergonha! (A piadinha é do Douglas Adams, mas não resisti usar.
Plágio também é cultura).
Nem tudo no velho continente cheirava a podridão, e nem tampouco neste periodo
a burguesia fede (principalmente porque os franceses se aperfeiçoaram na
ilustre arte de fazer perfumes). Os assim auto-proclamados "iluminados"
vieram com força total. Eram pensadores que viam trevas no modo de pensar
das Idade Média (também conhecida como Idade "mais ou menos").
Eles achavam que explorar a população no campo era ruim, razão pela qual
propunham explorar a população nas cidades.
Descartes, por exemplo, quando sua namorada ficava negando fogo, criou sua
famosa frase "Prenso, logo insisto". Os iluministas também tinham
este nome pelas fogueiras que a igreja catolica e a protestante faziam deles
quando eles propunham pensar coisas revolucionárias, tipo o planeta girar
em torno do Sol, a terra ser redonda ou o Papa ser quadrado.
Um outro movimento muito importante foi o das ancas índias peladonas nas
novas terras, na era das grandes navegações. Haviam estupros e assassinatos,
mas apenas como forma de demonstrar carinho aos nativos. Os europeus, que
eram e são um povo muito simpático e cristão, usava da Palavra para
domesticar os incautos. A Palavra era "Atirem!" e assim a civilização
européia se expandia pelo mundo. Europeu é tão bonzinho...!
As chamadas "especiarias" vinham do oriente e eram revendidas
com um lucro de uns 1000% aproximadamente (e olha que eles nem comercializavam
o Windows já configurado).
Devagar e sempre, os costumes foram sofrendo mudanças drásticas. A população
em vez ignorante, ia ficando "ignoranti", em vez de ficar na miséria
passaram a "ter ausência de capital de giro", ao invés de sofrerem
torturas em calabouços fétidos sofriam "reorientações" em calabouços
fétidos; e, ao invés de estar na pindaiba, estavam na "merd" mesmo.
De tanto tomar no brioco, a população francesa se revoltou e carcou o rei
e os nobres, dando início a alterações políticas e, principalmente, novas
praticas sexuais.
No proximo capitulo de nossa saga pela estória do mundo:
- "Napoleão tinha algo mole, e não era seu coração"!
r á p i d a s r a s t e i r a
s
"Jornalistas
viraram motoboys de aspas".
(EUGÊNIO BUCCI, colunista
do JB e da Folha, durante sua aula de Ética no Jornalismo, comentando a
atuação de profissionais que recolhem declarações de personalidades com
o único propósito de preencher janelas de reportagens.)
"Desculpe perguntar,
mas... por que você não morreu?"
(LUCIANA GIMENEZ strikes again, desta vez perguntando a um entrevistado
que afirmara ter sido infectado por antrax. Já vi que ela será a MUSA desta
seção.)
Quando você está se
sentindo só, o último dos últimos, o mais infeliz da turma, e até “um beijo
de novela te faz chorar”, nada como uma dosagem certa de amor.
O amor é um remédio! Indicado para vítimas de solidão aguda, insuficiência
carinhosa, depressão ou carência crônica, o amor é um santo remédio. Pode
vir em pílulas (namoro de fim de semana, paixão de ocasião, emails diários
de quem está longe, telefonemas na madrugada), pode vir em injeção (uma paixonite
da noite pro dia, um estalo e uma nova maneira de olhar pra melhor amiga por
ela chorar ouvindo “Killing Me Softly”, um telefonema da ex que você não esqueceu
pedindo pra voltar). A medicação do amor pode ser em superdosagem: aqueles
que não se largam um minuto, ou numa posologia um pouco mais amena: a cada
doze horas, a cada entardecer... Cada comprimido de amor revestido contém
lágrimas (10 mg), surpresas (de 20 a 40 mg), saudades (100 mg), raiva (1 mg),
medo (50 mg), desejo (80 mg), e outros excipientes diversos. O amor é um remédio
e, como tal, provoca reações adversas: efeitos colaterais como perda de peso,
angústia, ciúme, desconfiança e tesão não devem ser comunicados ao seu médico,
e sim à sua melhor amiga. Podem ocorrer, ainda, reações de hipersensibilidade,
vertigem e descoloração superficial dos dentes. O amor é um remédio, e não
deve ser usado com prazo de validade vencido. O amor pode ser a salvação.
Amar faz bem.
Quando você está se sentindo feliz, a criatura mais amada de todas, o namorado
mais realizado do mundo, e recebe um telefonema numa quinta-feira, às duas
e meia da manhã, que diz “eu gosto de uma outra pessoa”, o amor é uma ameaça.
O amor é uma doença: pode viciar, matar lentamente ou causar danos emocionais
irreversíveis. Por amor, desmaia-se, vomita-se, perde-se cabelo. Por amor,
as pernas tremem, as mãos suam, o estômago dói. Esta doença provoca lágrimas,
provoca desespero, provoca procura, provoca dor, provoca histeria, provoca
piodermite. Não há vacina ou prevenção contra esta moléstia. Ela pode
te deixar em estado de coma-me. Vítimas desta enfermidade podem ter sua pele
embranquecida, seu sorriso amarelado, seus olhos avermelhados e seu coração
partido. Nos casos mais simples, o amor pode deixar o paciente de cama, molhando
o travesseiro e o ursinho Teddy. Nos diagnósticos mais drásticos, o amor pode
deixar o paciente fazer escândalo e se lavar em lágrimas em lugares públicos
que toquem “Pra Terminar”, da Ana Carolina. O amor é uma doença que
pode atingir homens e mulheres de todas as idades e, em alguns diagnósticos,
não tem cura. O amor pode ser a perdição. Amar faz mal.
Ah, o amor... Enquanto “remédio”, corre-se o risco de medicar-se inadequadamente,
e isso pode torná-lo prejudicial à sua saúde. Enquanto "doença”, corre-se
o risco de ser traído, atacar uma geladeira e cair em depressão, e isso também
pode torná-lo lesivo. Bem, independente de como ele está agindo na sua vida,
se um medicamento ou uma enfermidade, a verdade é uma só, neném: científica
e pessoalmente comprovado, o amor é um perigo.
Eu odeio Van Gogh.
Odeio girassóis dourados sobre fundo azul
E os anjos que decidem viver entre os homens
como peixes ao contrário
Odeio Van Gogh e odeio Win Wenders
E Almodóvar Gaudí Garcia Lorca
As cores deste e de outros mundos
A vida condenada ao branco ou preto de todo dia
O café com leite
sem whisky
sem canela
adoçado com edulcorantes artificiais
os dias
as noites
Os que estão aqui
em outro lugar
E desenham estrelas em papel de seda
mas não abrem a janela
comem morangos pálidos
Diet Chocolate
bebem água fria em copos cor de violeta
e fingem que é
Liqueur Flambé.
f
a l a q u e e u t e e
s c u t o
tente, experimente, faça um spam zine diferente: [email protected].
"Oi
povo! Tenho 34, casada há apenas dois (viu como curti a vida?), mas não fui
tolinha a ponto de cair na conversa de ter filhos. Moro na Alemanha, faço
extensão universitária em Jornalismo e tenho um marido fofíssimo. A quem interessar
possa, brasileiro. Nao sou dessas que casam com gringo pra subir na vida.
Adoro bater papo, trocar emails, discutir desde engenharia genética até aqueles
modelitos de botas que nós amamos. No meio disso, tem web-design, idiomas,
internet, história medieval, livros, viajar, passear, consumir, filmes, música
e muito bom humor. Enfim, completando a frase do título, procuro garotas com
quem bater papo, fazer amizade e manter meu português em dia!!"
Fifi - [email protected]
inagaki responde:
olá Fifi, não dá pra garantir que não exista nenhum serial
killer, fã de Chuck Norris ou maria-chuteira entre os assinantes
do Spam. Mas posso lhe assegurar, com certeza, que você encontrará muitos
interlocutores interessantes em nosso público. Eu até escreveria alguma frase
em alemão para você, mas meu vocabulário se restringe a volkswagen, kraftwerk
e schumacher. Pelo visto, não tenho vocação para filósofo... Grande beijo,
e escreva sempre!
"- Essa garota
não entende nada... A paixão faz os moços, hindus e suas vacas,
sagradas.
Ele, após ler o texto da Renata Parpolov".
Luciana
Teixeira
rennie rebate:
eu escrevo um texto sobre relacionamentos e o cara me vem com essa poesia
de jornaleiro? blah. sabe por que novelas são tão cultuadas e vendem
tantos anunciantes e têm tanto público? é o máximo de anestésico e o mínimo
de realidade. aí, quando aparece uma novela do marrocos com uma cultura completamente
diferente da nossa, todo mundo acha o máximo FUGIR DA PRÓPRIA REALIDADE PRA
SE ESCONDER NUMA CULTURA EXÓTICA. oooh... vai viver a própria cultura, ô filhote.
uma cultura onde os relacionamentos ainda tentam acontecer sem a intervenção
dos pais. e além do mais, se vaca não fosse sagrada hindu não passava
fome. VIVA A PICANHA NO ALHO. VIVA UM BELO COPO DE LEITE DE MANHÃ, DE TARDE,
DE NOITE E DE MADRUGADA. E QUE AS MULHERES VACAS PAREM DE ATORMENTAR NOSSOS
HOMENS LEGAIS.
c
r é d i t o s f i n a i s
caras (editores)
chiques &
famosos (staff)
quem acontece
(convidados especiais)
>>>
Spam
Zine - fanzine por e-mail
>>>
p.
s.
nicole:
a nicole desaprendeu a escrever
prisão de ventre mental que nada! é falta de ficar acordada, tenho sentido
um sooooono, alguém aí já experimentou dormir oito horas por dia? eita que
o troço vicia!
ei ei ei
cadê minhas floreeeeeeeeeeeeeees?
:o)
beijo
ni
mateus:
tipo, esses dias, numa churrascaria, pensei: puxa, a gente cria bois pra
comer, e eles não têm noção disso, ou pelo menos se têm não demonstram.
daí eu lancei pra
galera a questão: será que o mundo humano inteiro também não é uma imensa
fazenda de um outro bicho, e a gente nem sabe disso? (pois a morte é uma
coisa totalmente absurda, o maior absurdo da vida. ok, o segundo maior.
o amor ganha).
claro que perguntei
isso já pensando numa resposta daquelas chavões, tipo "ah, na real
a gente é tudo peça de reposição da grande máquina capitalista", uma
coisa meio Matrix + Clubedaluta + Belezàmericana assim.
mas eis que o Jean,
baixista da minha banda, com aquele sotacão pé-vermeio dele me sai com essa:
"mas é claro, cê não sabia, véio? quem manda na gente são as formigas!
elas ficam aí o tempo todo, só cuidando, têm uma tecnologia fudida e tal,
mas a gente nem se dá conta".
e, caras, isso é
tão plausível quanto Deus e Diabo, ou quanto qualquer outra coisa do gênero.
sei lá, digam vocês agora.