editorial
eduardo fernandes [http://fraudeorg.terra.com.br]
SPAM AUTO-AJUDA
Falaí, sangue. Certo? O Alexandre Inagaki cometeu o despautério de me convidar para editar este Spam. Esperei até receber as colaborações para sentir que caminho deveria seguir. Deixei-me levar pelo acaso. Como diriam alguns budistas, aceitei "o incomensurável".
E qual foi o resultado? 99% dos textos tratavam dos seguintes temas:
1
- amores perdidos e frustrações;
2 - amores perdidos e frustrações;
3 - amores perdidos e frustrações.
Nas entrelinhas, notavam-se sentimentos como: autocomiseração, tristeza, tédio, baixa auto-estima etc. Tudo mesclado à velha característica de citar letras de músicas, filmes hollywoodianos, tecnologia, seriados de tv, entre outros itens do que se convencionou chamar de cultura pop.
Passei três dias internado em uma clínica de recuperação de viciados em filmes de Julia Roberts, tomando soro e comendo papinha transgênica da Nestlé. Até que me bateu a seguinte iluminação: é preciso achar saídas.
Ok, respeitemos a nossas dores. Mas sofrimento por si só não é arte, muito menos reflexão. É preciso algo mais. Não é possível que tantas pessoas fiquem gravitando em torno de um mesmo círculo vicioso. Será que não há nada mais para pensar, escrever e viver?
Será que montamos fanzines, estudamos e gastamos pilhas de dinheiro para, no fim, nos tornarmos frustrados (e frustrantes), obsessivos, chorões e doentes? Gente que é capaz de entrar num processo de autodestruição só porque um telefone não toca?
Por isso, este Spam não poderia ter outro nome além de Auto-ajuda. É uma tentativa de mudar de assunto, de tirar o foco da frustração e centrar-se na reação.
Todos sabemos que não há uma felicidade imaculada e que a vida não tem happy end. Mas podemos subvertê-la, rir da sua cara (ao mesmo tempo em que aceitamos ser alvo de piada às vezes), criar felicidades biodegradáveis a cada segundo, agindo com coragem e, principalmente, leveza.
Assim, se você gosta de se prender à própria dor porque acha isso poético ou elevado, volte mais tarde. Há beleza, elevação e poesia em outros sentimentos. Não vamos confundir sensibilidade com senilidade. Aqui se acredita em Oswald de Andrade (rimou):
Amor
Humor
Esta é uma edição cheia de notas, comentários e dicas. Não traz muitos textos e variedade de autores. Democracia nunca foi a minha especialidade. O destaque vai para o texto de Pedro Vitiello, que será incluído no programa dos cursinhos a partir do próximo ano. Pode usar na Fuvest que eu garanto.
a
estória do mundo segundo brooke shields
pedro vitiello
[[email protected]
Capítulo 3: Grécia e Roma
GRÉCIA: Os Gregos já foram um povo menos idiota, e não construíram pirâmides no deserto, até porque não moravam num deserto. Se insistissem em fazer pirâmides no deserto, sem ter um disponível, iam se dar mal e não seriam considerados o berço do nascimento humano. Diz a lenda que o primeiro filósofo foi Tales de Mileto, que era um comerciante de oliva e azeitonas, que em longas horas de ócio pensava sobre o mundo.
Nasceu na cidade de Atenas, inimiga de Esparta (e todos sabem a fama dos espartanos), a brilhante figura de FÓCRATES, o SODÃO (ou algo assim). Ele foi o primeiro filósofo a se preocupar com a moral e com o ser justo e bom. Em 2.500 anos ainda não tivemos grandes progressos, mas isso não tira o mérito do rapaz.
Depois veio Platão, que acreditava que as idéias eram inatas ao sujeito. Tinha a língua presa, Platão, e era gago, tornando-se incompreensível, originando assim a expressão "está falando grego". Como todo mundo dormia em seus discursos e tinham vergonha de dizer isso, elogiavam para não ficar chato. De sua mania em dar como presentes seus discursos por escrito veio a expressão "presente de grego".
Aristóteles, que falava de lógica, foi seu discípulo e grandes obras escreveu. Aristóteles porém era um pouco distraído, e muitas de suas obras se perderam.
Dentre as contribuições gregas para a humanidade, podemos citar o desenvolvimento de indústrias de pratos (negócio fértil por lá), filmes do cachorrinho Benji, estátuas desmembradas, Zorba (a cueca grega), inspiração de desenhos para os lucros dos Estúdios Disney, e, é claro, o berço do pensamento formal cristão, mas isso não é tão legal.
As Olimpíadas, também surgidas na Grécia antiga, eram um momento de grande festa, principalmente porque não havia Galvão Bueno para narrar os Jogos. Nelas competiam jovens para provarem se eram cidadãos de ouro, prata ou bronze, recebendo prêmios nestes valores. Os melhores mesmo dos eram os de Dólar.
Das poucas canções que sobreviveram ao tempo restou o trecho do belo hino dos militaristas espartanos (e todos sabem a fama dos militares):
Olha
que espada mais linda
Mais cheia de Grécia,
É aço que vem, que vem lá da Pérsia,
Fazendo a cabeça da galera dançar...
Os Gregos tiveram na Macedônia o gênio militar de Alexandre, que conquistou o mundo antigo e criou no Egito a cidade de Alexandria. Nada como a modéstia. Os gregos foram atacados pelos romanos e dançaram, se vingando através da criação do churrasquinho grego, muitos milênios depois, vitimando milhares de italianos residentes no bairro do Bexiga, em São Paulo.
ROMA: Diz a lenda que Roma surgiu quando Rômulo, irmão de Remo, matou seu irmão e batizou a cidade assim em sua homenagem. Isso é que é amor fraternal. Os romanos inventaram a orgia (palmas para os romanos). Vem das orgias a origem da expressão "em Roma, coma os romanos".
As orgias romanas era coisas bem legais para ir caso, é claro, você estivesse a fim de fortes emoções e tivesse cuequinha de aço à mão. Ao chegar em uma orgia, guardadores de bigas (no bom sentido) o aguardavam na entrada (no bom sentido) do local. Uma vez lá, você era conduzido a aconchegantes aposentos (no bom sentido), levados pelas mãos (no bom sentido) para se banhar (no bom sentido), vislumbrando depois mulheres maravilhosas, anões besuntados e cabritas... Depois, começava a putaria (no melhor sentido), mas se algum anão chegasse perto ia ver só. Depois de comer... comer! E comer era jantar como um porco. E depois, vomitar o que havia comido para comer mais e mais, e depois vomitar de novo... Humm... Ok, ok, esqueçam as orgias romanas.
O circo romano era legal, pena que as pessoas de dentro do picadeiro não gostavam muito... Havia gladiadores, leões, cristãos (por pouco tempo), corrida de bigas (no bom sentido) e figurantes do Ben Hur.
O exército romano era djóia também, e eles levavam seus valores em qualquer lugar que fossem. Se você estava na Galícia, eles levavam todos os seus valores de lá. Se fosse na Fenícia também, e te deixavam na miséria.
dicas
para deixar de ser um perdedor
diretamente da "sabedoria popular" (algum
lugar entre Mauá, SP, e Pelotas, RS)
bons
amigos
alexandre inagaki [http://inagaki.blogger.com.br]
Mas olha só: talvez o amor não passe de um erro de programação. Um bug atravancando o perfeito funcionamento do sistema. Um vírus no código-fonte da Matrix. Uma maldição que surgiu com a intenção única de inspirar cornos a escreverem músicas sertanejas, e de fazer minhocas treparem fulminantemente no drive-in do meu cérebro, numa putaria incessante que me atormenta 25 horas por dia. Leila, eu juro pra você: um dia vou espirrar e minhoquinhas sairão voando de minhas orelhas. Não ri não, eu tô falando uma verdade trágica: esses bichos promíscuos estão me deixando mais pirado ainda, enchendo minha cabeça com a imagem onipresente daquela vagabunda incapaz de retribuir todo o amor que eu poderia dar a ela. Vou parecer alienado, e talvez eu seja mesmo, mas a verdade é essa: amores desperdiçados são a grande tragédia da humanidade. Se Franco, Pinochet, Suharto e todos esses babacas tivessem uma mulher legal, talvez não ficassem tanto tempo pensando em merdas totalitárias. Caralho, tô ficando mesmo bêbado. Ops, desculpe aí. Falo palavrões pra caralho.
Tem vezes que dá vontade de dizer pra aquela menina: porra, será que você não vê que eu não sou só ombro, que eu tenho boca, mãos, língua, pau? Porque estou farto de ouvir as desventuras amorosas daquela vadia com Danilos, Gérsons, Alans, Rodrigos e todo um bando de putos batizados com esses nomes típicos de classe média metida a burguesa, uns mauricinhos prestáveis pra trepar, mas que roncariam estrepitosamente se fossem obrigados a ouvir um quinto das lamúrias e confidências que a desgraçada me faz. Isso é que dá virar confidente. Se eu quisesse realmente comê-la, jamais poderia deixar que nós nos tornássemos amigos. Com certeza ela só consegue me ver como um terapeuta assexuado, um ombro-travesseiro, jamais como um macho. Caralho. Se ela soubesse que por detrás desta fachada inofensiva se esconde um gigolô pós-graduado em usos alternativos de chantily e algemas. Jura que você pagaria pra ver isso? Engraçadinha. A verdade é que você só conhece uma pessoa entre quatro paredes, despida, literalmente e simbolicamente, de todas as máscaras que a gente usa no dia-a-dia.
Mas ainda bem que tenho você pra me agüentar. Ouvir meus desabafos é como pagar pecados em vida, quando você morrer vai direto pro céu. Onde mais eu acharia uma amiga como você, que presta atenção em tudo o que eu digo? Ou isso, ou você arqueia as sobrancelhas como ninguém. Brincadeira. Às vezes me pergunto o que leva você a aturar minhas rabujices. Você deveria ser terapeuta. E não adianta me dizer que você só faz essas coisas por minha causa. Você é uma santa, a Madre Teresa dos chatos bêbados como eu. Um dia ainda ganho na Sena e encontro uma mulher tão linda e inteligente como você. Um clique? Ué, não entendi. Burro? Sim, mas qual é a novidade? Não, não. Pode deixar, eu pego um táxi. Ok. Garçom, a conta.
amores que deram certo na literatura
Intermezzo
Ora,
a fornicação é deleitável...
São Tomás de Aquino.
De Malo, art. 9, ad 7, q III
Dinorá a todo cérebro
ou seja
A estranha mulher do Copacabana Palace
ou seja
A ex-peitudinha do Hotel Fracaroli
ou seja
O mais belo amor de Cascanova.
-
Como são finas as tuas meias!
- Malha 2360.
- São duráveis?
- Duram três, quatro horas...
O mar lá fora urra querendo entrar em Guanabara.
-
Não. Lindas são as minhas calças. Olha, ninguém tem este recortezinho...
Mas como estás mudo... sem espírito...
- Comovido porque te conquistei...
- Não. Não é uma conquista...
- Que é então?
- Uma revanche...
- De que?
- Da vida.
O telefone estraçalha o silêncio.
- Alô! Quem é? O tintureiro? Faça subi-lo! Espere! Não faça não! Recebo-o amanhã às três e meia...
Lá
fora o mar.
O mar sem par. Serafim amanhece. Ela o envolve, o laça. É uma mãozinha que
tem cara, cabelos de recém nascido à la garçonne.
-
Te esmigalharei como um pequenino inseto...
- Levada!
Bocas que se beijam como nos melhores folhetins do Planeta Marte, que se lambem como nos melhores canis.
Imagina-te, Clódia, encontrei uma mulher inimaginável, belíssima. Ela é de Caicó. Jamais pensei que uma caicoense pudesse ter tais atributos. É tudo tão longe, não é? E a gente nem sabe direito onde é Caicó. E se existe. Pois existe e muito! A mulher é inteira existente. Existe em maravilha da cabeça aos pés. Não te preocupes, mas balancei um bocado. É alta, loira e letrada! Conhece literatura de cabo a rabo. O marido, o professor Gutemberg, viajou anteontem para um lugarzinho perto daqui chamado Muiabé. Não deu outra. Já sabes. Mas a mulher tem tamanhas qualidades que fiquei tímido, lasso, brocha e despeitado. E ontem, odiento, mandei-lhe o primeiro poema aí de cima. Pois imagina-te, hoje me respondeu com o aí de baixo. Estou mal. Prostrado. Manda-me algumas palavrinhas. Caicó, meu Deus! Vou comprar hoje mesmo um mapa desse Brasil bandalho. Que surpresas! Que país! Que grelos insolentes e cultivados tão de repente! Eu fedo, Clodinha? Manda-me carícias e um fio do teu pentelho. Ela se chama Líria.
uma história pastelão, mas real
carlos jazzmo
[direto da lista e-zine]
O problema com a diversidade cultural é a coexistência de costumes e a cumplicidade na neurose. Vai morar com um paquistanês pra ver se é moleza. Os caras são verdadeiros ascetas e consideram tudo supérfluo. Você não consegue nem sentar de pernas abertas e fumar um cigarro em paz. Mas enfim, o fato é que São Paulo é um caldeirão de neuroses.
Quinta-feira, coisa de três da manhã, saem Jazzmo, Clarah Averbuck, Fábio Sooner e Maverick (Guilherme, esse menino) de um show do Zé Maria - grande banda, de Vitória - no Orbital, rumo a uma rústica e simpática pizzaria na mesma Rua Augusta. Rua que, aliás, àquela hora, estava realmente augusta da paz.
Seguimos então trocando gracejos e converso com Sooner sobre como amigos precisam de amigos para resolverem seus problemas amororos. A fofura paira no ar e é como se fôssemos todos brothers de infância.
Certo. Mas aí chegamos à porta da casa e começamos a nos esgueirar por um corredor de tijolos aparentes. O gerente nos manda sentar em à grande mesa, daquelas típicas de cantinas italianas ou ainda de grandes famílias italianas e me sinto absolutamente em São Paulo. Tudo que quero agora é uma grande família italiana.
E o papo sobre amigos e amor continua rolando, enquanto registro os elementos do local. Paredes de tijolos, pizzas diversas, movimentação de clientes, pimenta, alho, balcão, corredor, mesa, bandejas, mulher debruçada sobre comida com os peitos de fora, orégano... Ouch! Registro rapidamente a menina e lanço um rápido "poorrrra!" para Sooner e sigo falando.
Oquei. Sentamos então na mesma mesa que aquele povo - lá na ponta da grande mesa, e já percebo um malandro com sotaque do Bexiga me dizendo algo como "E vocês ainda vão sentar aí, né?!", com seu ar de indignação. Respondo candidamente que o gerente nos havia mandado sentar especificamente ali, mas a coisa só faz crescer o clima belicoso e desnecessário da situação.
Clarah observa tudo atônita, maquiada demais para perder tempo com neuróticos, e Maverick só pensa na pizza e Sooner, bem, Sooner está em outro planeta com seu casaco de couro negro, gato, metal, Marlon Brando dos cabelos prata.
Mas aí respondo assim e o neurótico do lado esquerdo, lá na ponta, continua: "tu é folgado, hein, mano!", já num tom de quem está decidido a fazer alguma besteira. Eu, coitado, mignon e pacifista, respondo apenas "hein???" e tento acabar com a discussão. Mas a coisa só cresce.
Cada vez que eu digo, em face da violência verbal, algo como "que foi que eu fiz, bicho???", os monstros do meu pesadelo só crescem e começam a se levantar. Dois caras, duas meninas. Uma delas é a dos peitos de fora. A outra me grita insistente: "você sabe o que você fez para acontecer isso!"
O agressor-primeiro veste camiseta branca e calças pretas e também grita. Sua acompanhante é uma morena forte e gostosinha do vestido cereja de tafetá. Do outro lado, agora crescendo na cena, está a menina dos peitos, de tafetá prateado e um decote escandalosamente divertido, e seu acompanhante - ah, se não - é forte como um touro, moreno, de camisa de seda roxa e cordão dourado no peito.
Man, o cara de roxo ali se levanta gritando e a menina do outro lado começa a berrar num sotaque estranho algo como "não mexe com meu irmão, porra!!!!", enquanto o outro cara brada coisas ininteligíveis e Clarah vira o homem da situação toda, já que eu levo as mãos ao peito, temendo a morte, e Maverick, esse menino, está estático e Sooner vem para trás de mim, impossibilitando um confronto dois-a-dois por ali.
Clarah começa a gritar com os malucões que, sem argumentos para odiá-la, fazem-se representar pela guria do topless, que lança então a máxima: " VAI TOMAR NO CU COM ESSE CABELO!", direto para suas madeixas cor-de-rosa, e preciso gritar "Claraaaaah!" para que ela não piore a situação. Afinal, era o meu rabo que estava em questão por ali.
Mas então é neguinho pulando por todo lado, os caras parecem babuínos do cu encarnado, e um tem a ótima idéia de buscar um pedação de pizza na mesa e arremessar contra nós. Woooooow! Just singing in the rain! Clarah leva uma cebola no meio da testa, recebo uma verdadeira enxurrada de catupiry e, nem sei como, consigo tirar um pedaço de massa detrás da orelha. É realmente fascinante o trajeto daquela guloseima pela casa, atravessando o salão e se espatifando por toda parte.
Quase rio, como quando tomei meu primeiro banho de chuva, mas prefiro ficar sério. Afinal, ainda não sei até onde vai a fúria dos homens.
Oquei, mas então uma das meninas pula na frente dos caras, enquanto eles vêm nos quebrar, e grita; "Pára, Rafael!!!!!". Rafael não pára. Então ela se vira para o gigante roxo e lança "Pááááára, Aboud!!!!!". Caaaara, basta ela dizer "Aboud" para meu cu apertar como uma chave inglesa. Aboud não pára, pragueja em árabe uma meia dúzia de "al'almandrissal'shnitovaray" e já imagino o cara abrindo a camisa, puxando uma cordinha do peito, me abraçando forte e explodindo a porra toda. Cara, me tira daqui!
Oquei, mas aí estamos nessa, nos limpando e rezando para que começasse a chover sapo, quando um monstro negro, de sobretudo e cara de anjo salta por cima do guerrilheiro beduíno como um gato, no exato momento em que o cara vai me mandar a mão no meio da cara, e saaaaaalva - eu disse saaaalva - nossas vidas. A performance do segurança durante o ataque é irrepreensível.
Que perfeição, que precisão.... O cara então doma totalmente as tropas árabes e pergunto seu nome, já que esse será - está decidido - o nome de meu filho. De Paula. guardem esse nome: De Paula.
De Paula controla tudo, ameaça jogar uma cadeira no árabe, e Samira (a irmã de Aboud) é a primeira a capitular. Depois é Rafael e a menina peitos-de-fora. Aboud sai sob empurrões, para então, segundo nos é dito minutos mais tarde, arrumar mais briga na padaria da esquina.
d i á l o g o s i n e s q u e c í v e i s
O ano era 1995 e eu me apaixonei por uma mulher que cagava e andava para mim. Se é que se pode chamar aquilo de mulher. De qualquer modo eu me apaixonei perdidamente e me tornei um imbecil descerebrado, que é o que um homem se torna quando cai nesse tipo de armadilha. A vida de imbecil descerebrado durou alguns meses, talvez tivesse durado mais se a estúpida não tivesse errado a mão nas técnicas de controle da mente. São técnicas complexas que exigem equilíbrio - um tapa, um sopro, um tapa, um sopro, um tapa, um sopro. Nunca dois tapas. Nem dois sopros.
Eu poderia ser um zumbi por anos e anos se lidado apropriadamente, mas a imbecil preferiu ficar me tratando que nem um cachorro constantemente. Obviamente um belo dia eu enchi o saco daquela merda. Não, mentira. Eu fui enchendo o saco daquela merda lentamente. Não houve um dia em que eu acordei e disse "eu estou de saco cheio" (em latim, ego sum bagus plenus). Foi todo um processo no qual ela foi me fodendo cada vez mais e cada vez mais eu enxergava que eu estava saindo no prejuízo.
Um dia, almoçando com ela, ela começou a me criticar por um motivo x. Este motivo x levou a um motivo y, que levou a um motivo z, que levou a um motivo x', que levou a um motivo y' que por sua vez levou a um motivo z'. Tudo virou motivo para me criticar. Em quinze minutos, tudo sobre mim era errado ou inapropriado. Meu corpo, meu sorriso, meu cheiro, minha voz, minha mãe, meu pai, meu irmão, minha casa, minha história, minha vida, em quinze minutos não sobrou nada. E eu lá, impassível, ouvindo tudo. Rock solid like a fucking marine. Macho pra caralho. Estava até começando a aceitar as críticas. Pensando "é, talvez ela tenha razão".
De repente, do meu copo (coca diet com gelo e limão) cai uma gota de água condensada. A água pinga sobre uma joaninha que estava andando pela mesa. Ela começa a encher o saco por causa da porra da joaninha, secando-a com os dedos, delicadamente. Enquanto ela cuidava da joaninha, formei um simples paralelo em minha mente. Eu, aqui, entidade consciente e senciente, mamífero superior, macho da espécie homo sapiens capaz das mais incríveis humilhações por essa piranha. Ela me tratando como se eu fosse um celenterado da pior espécie e dedicando cuidados e mimos a uma porra de uma joaninha.
Não tive dúvidas - assim que ela acabou de mimar a joaninha peguei o cinzeiro e lentamente, mas bem lentamente mesmo, esmaguei a joaninha na mesa. Devagar, curtindo os pequenos estalos do seu exoesqueleto se rompendo sob a pressão do vidro do cinzeiro.
Ela me olhou horrorizada. Eu fiz uma cara de foda-se.
Perdoe-me pai, porque pequei.
"Disco
Voador/Venha me pegar/ Me leve para outro lugar".
Poesia concreta e letra da nova música composta por Eriberto Leão, namorado
da Tiazinha.
"Ao
modelo babaca do comedor corresponde o modelo babaca da comida".
Fernando Bonassi, teorizando na Folha de S. Paulo.
"Seu
animal é cidadão?"
Mais um dos títulos surreais da Revista da Folha.
f
a l a q u e e u t e e s
c u t o
A gente responde aos leitores, mas não garante
a educação.
c
r é d i t o s f i n a i s