[S p a m  Z i n e]
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    : 12 de agosto de 2001
    : são paulo, curitiba, florianópolis, jundiaí, são leopoldo, natal
 
::: e d i t o r i a l
::: Suzi Hong <[email protected]>
 
MEDO
 
Depois do fastio pós-coito causado pela edição XXX - especial FODA do Spam Zine, seres estranhos incumbiram esta pessoa que vos escreve de comandar a presente edição. Como deprimida confessa, não posso negar que sofri por antecipação (desde sexta-feira) com a idéia. Sabem como é, todo deprimido é inseguro por natureza e tem MEDO, muito medo da idéia de que as coisas possam sair errado.
 
Mas como estou passando pela fase "up" da montanha russa bipolar em que vivo, resolvi rezar fervorosamente, porque ajoelhada eu já estava.
 
E assim... cá estou. O trabalho de editar este Spam me fez pensar em um monte de coisas aparentemente desconexas do tal medo que senti no início. Pensei que deveriam existir mais pessoas que se arriscassem a rabiscar palavras belas, confissões ácidas, descrições poéticas e histórias divertidas e criativas como os textos da galera "high class" que participa da edição de hoje. Ao ler vários textos, tive vontade de ser realmente abduzida por ET's, uma vez constatado o fato que foi muita pretensão minha aceitar a tarefa de selecionar, revisar e editar textos de pessoas tão mais talentosas do que eu (todo deprimido, além de inseguro, fica meio chato e repetitivo quando não tem muito o que falar).
 
Agora não dá mais pra voltar no tempo. Certas coisas são irreversíveis.
 
O EDITORIAL PROPRIAMENTE DITO
 
O que dói mais: porrada de amor ou solidão? O que nos torna mais leves: letras despejadas em confissões estampadas na tela fria e inerte de um computador, ou uma declaração de amor ou ódio lançada ao ar em voz sua irreconhecível?
 
Não sei quanto a vocês, mas ando perdendo a noção do que é dor, alívio, paz, segurança, colo, ódio e briga no meio do excesso da falta de tempo. Dormir, acordar, trabalhar consomem mais tempo do que deveriam.
 
Thanks God, today's sunday (everybody is like sunday). E posso tirar o atraso e exaurir toda minha energia com pensamentos mais abstratos e absurdos, recapturar os raros insights que tive quase sem perceber enquanto dirigia pela Radial Leste e me lembrar do meu PAI...
 
... De como ele era quando eu era criança, do dia em que ele me disse que eu era o filho homem que gostaria de ter, de quando apanhei porque ele me pegou fumando (Marlboro) escondida no banheiro e de seu arrependimento precoce. Meu pai sempre quis fazer o tipo durão, pai milico da "Noviça Rebelde", baeh... Mas seu hobbie por cozinhar iguarias gostosas pra gente provar, sua insistëncia em me levar à feira livre, sua expressão de "I'm so sorry" quando peguei sarampo e foi diagnosticada minha depressão denunciam o homem doce e de gestos reprimidos que ele é. Não me lembro de ter lhe dito que o amava. Assim que acabar este editorial (?), vou corrigir a falha. Sempre deve haver um início, alguém que dê a partida no carro e engate a primeira marcha. O velho senhor Hong está meio cansado para dirigir, eu acho.
 
FEATURING TODAY
 
Agora entendo um pouco do tal prazer que o Inagaki vivia falando quando eu lhe indagava como era editar o Spam Zine.
 
É sim como fazer um amor gostosinho (do ponto de vista feminino, of course): dá um frio na barriga no começo, dói um pouquinho em um suspiro fraco, para depois de deitar de um jeito, de outro e de outro, mudar da sala pro quarto, do quarto pra cozinha, yes, sentir um cansaço gostoso por saber que fez-se e deu-se o melhor para o desfecho feliz daquele momento único e imediatamente incapturável por nossas mãos.
 
Podem acreditar que fui feliz de ter em minhas mãos as palavras doadas por todo o elenco desta edição.
 
Please, enjoy them before they melt in your hands.
 
 
::: Contribuição ao Texto Primaveril da Cecilia Giannetti
::: Fernanda Luft <[email protected]>

So no one told you life was gonna be this way...

Eu já escrevi muito sobre amor, sofrimento, saudade, abandonos, saudade, finais tristes, saudade, saudade e mais saudade. Porque isso tudo é natural do ser humano. Quando eu li o texto da Cecilia, sobre os empecilhos e obstaculos que os casais superam antes de estarem junto, eu achei muito certo, fez muito sentido na minha cabecinha confusa e drogada.

Mas outra coisa que eu me pergunto é: como um ser humano consegue amar o outro, e mais, chegar a querer passar a vida inteira com a outra mesma pessoa. Eu pergunto isso porque a gente não é confiável, e eu me incluo aí nesse meio também (como boa aquariana que eu sou, enjôo rápido das pessoas).

Eu vejo as pessoas que nem aquela escultura do Salvador Dali (que eu não lembro nome agora); um caracol, que por fora é duro, insensivel, mas por dentro é mole e sensível. Então, de que forma as coisas passam pela nossa casca grossa e atingem o nosso interior?

Eu não sei explicar isso, mas eu vejo que as pessoas são mentirosas, enganadoras, irresponsáveis, desonestas. Algumas pessoas vão te iludir e te fazer acreditar em certas coisas pra depois puxar o teu tapete, e tu vais dar com a cara no chão (mas quem sabe lá esteja a solução, já que as idéias estão no chão??).

Outras pessoas vão te abandonar quando tu mais precisares delas, e tu começas a achar que o teu telefone está com problema já que não toca e quando tu liga os outros não atendem. E decide mudar de provedor porque acha que os teus e-mails não estão indo e também não tem nenhum chegando.

Alguns vão deixar de falar contigo por causa das roupas que tu veste, outros porque acham que tu bebes demais e ainda tem aqueles que não querem mais a tua companhia porque de brinde vem a fumaça do Marlboro. E aquele cara de olhos verdes que falou que ia te procurar nunca mais apareceu, e ainda falou pros amigos que nunca mais quer te ver.

...your job is a joke, you're broke, you love life's D.O.A...

Vão ter aqueles dias ainda que a única coisa que vai te fazer sair da cama é o fato de que vais poder fumar unzinho em paz. Mas ainda tem o teu trabalho e o olhar daquelas pessoas que acham que tu não mereces ou não precisa estar lá. O que elas sabem da vida pra achar isso? Provavelmente o que todos nós sabemos, e que não ajuda muito. E um dos chefes vem querer tentar dizer que a vida é e deve ser bela e bem aproveitada.

O que que tá adiantando pagar o terapeuta toda semana e a academia todo mês se tais resolvendo os teus problemas afetivos comendo que nem uma doida? Comida não é substituto de amor não, e o teu psicólogo não tem todas as respostas do mundo pra te dar.

Só que apesar de tudo isso ainda tem aquelas pequenas coisas que te mostram que a vida é pelo menos divertida. Mas hoje nem elas estão fazendo sentido.

...your mother warned you there'd be days like these, but she didn't tell you when the world has brought you down to your knees...
 
[NOTA DA EDITORA: O "Texto Primaveril (ui)", de Cecilia Giannetti, no qual a autora se inspirou, foi publicado na edição 025 do Spam Zine. Solicitações de segundas vias, please escrevam para [email protected], que estaremos prontos para lhe atender]
 
 
::: R á p i d a s   R a s t e i r a s
 
"O discurso verbal adquire existência autônoma da narração diegética e instaura a enunciação irredutível, de acordo com o conceito de cinema paramétrico-estrutural".
(CARLOS ADRIANO, "explicando" o filme "Cinema Falado", de Caetano Veloso, na CULT deste mês. Mais uma pérola dos denominados "críticos", enviada por nosso colaborador Orlando Tosetto Junior)
 
"Eu, por exemplo, quis ter uma bicicleta quando menino e não tive. Vou morrer com essa frustração. Mas Deus, ao invés da bicicleta, me deu a Presidência da República".
(JOSÉ SARNEY, em entrevista a IstoÉ Gente, confidenciando uma de suas grandes frustrações que ele levará ao túmulo! Eu pessoalmente acho que Deus devia ter dado ao nobre político e "escritor" a tal bicicleta, para poupar o próprio Sarney e milhões de pessoas de certos momentos desgrádeveis. E eis mais uma prova de que o Paizão lá de cima comete uns erros aqui e ali)
 
 
::: Godzilla Blues - A Estória do Mundo Segundo Brooke Shields
::: Pedro Vitiello <
[email protected]>

Não é raro nos perguntarmos sobre a origem de determinadas coisas. Queremos sempre saber de onde veio ou para onde vai, o que está fazendo aqui e cadê os seus "adecumentos". Assim, nada mais certo que mantermos um registro sobre os fatos e eventos que ocorreram em um período, geralmente puxando a sardinha para o nosso lado. Shakespeare já disse que a vida é algo cheio de som e fúria, significando nada, e um engraçadinho já completou que, além disso, "... é também dirigida pelo Sylvester Stallone". Seja como for, a história tem grande importância para a humanidade, pois conhecendo a história, os erros não se repetem. Claro que a popularidade do Maluf e a releição do FHC estão aí para nos contradizer, mas teoricamente a coisa funciona. Sendo assim, nada mais importante que um registro sério e correto de nosso passado.

O Spam Zine, consciente de sua função social, publica a partir de agora sua breve história do mundo, de forma que, com uma simples consulta, o jovem de possa deixar de estudar para a prova de amanhã e repetir a série por ter sido vagabundo e acreditado na gente. Se quiser encardenar os capítulos, venderemos uma pasta com tres versões ao final da coleção: a) com a cara do Ricardo Sabbag fazendo beicinho atrás de um vidro, b) com a do Inagaki todo vestido de branco em uma tempestade de neve e enfrentando um urso polar, ou c) uma minha usando cuecas de bolinha e chinelos do Garfield, por apenas 20 'real', Quem não pagar receberá as três, impiedosamente.

Capítulo 1: A Pré-Estória (é ESTÓRIA e não HISTÓRIA, mesmo, viu?)

Cientistas de rigor e seriedade fazem estudos, medem a idade por carbono e examinam múmias na neve (junto com a múmia de um urso polar) para avaliar como foram os primeiros passos da humanidade. Como a gente não é sério e embolsou a verba, vamos fazer umas pequenas aproximações para justificar os investimentos que o Guilherme Fontes andou fazendo.

Pois bem, alguns dizem que o homem descende de primatas, o que segundo "Planet of Apes Magazine" é um absurdo. Na realidade, somos golfinhos que não deram certo e que nunca aprenderam a curtir a vida de verdade, o que explicaria por que nós paulistas somos farofeiros e por que aqueles seriados péssimos, FLIPPER e Homem do Fundo do Mar faziam sucesso até o início da década de oitenta, numa espécie de arquétipo marinho.

De qualquer forma, saímos do mar, sem entender muito bem o que raios tínhamos ido fazer lá em primeiro lugar, e subimos nas árvores. Como não havia gilete descartável naquela época e depilação à cera quente dependia do fogo (ainda não descoberto), ficava fácil parecermos macacos.
Uma outra teoria diz que a humanidade começou em Portugal, o que explicaria não só os pêlos, como também as canetas encontradas proximas de onde eram orelhas em algumas escavações.

A vida era muito difícil, cheia de perigos como leões ameaçando roubar todo o fruto de sua caça, como uma espécie de imposto de renda natureba, mamutes atravancando o trânsito e dinossauros perseguindo todo mundo.

Os dinossauros, como todos sabem, eram um perigo tremendo para os homens das cavernas. Eles eram tão perigosos que, apesar de extintos (ou "instintos" segundo a especialista em pensamento primitivo Luciana Chimenez), continuavam perigosos. Outro perigo da época eram os vulcões em atividade, que sempre explodiam com os vales, como todos os filmes de hollywood, ainda bem, nos ensinam tão bem. Segundo os mesmos filmes, os dinossauros eram de massinha ou lagartos atuais fantasiados.

O Tacape era a moeda corrente. Em um restaurante, por exemplo, uma coxa de tiranossauro valia um tacape; asas de pterodátilos na manteiga, dois tacapes; sopa de tromba de mamute, 3 tacapes; acertar a garçonete com o tacape 4 vezes e levá-la semi-nua e desmaiadinha para sua aconchegante caverna... não tinha preço.

O Rock começou nesta época, mas como faltavam bons letristas e as gravadoras estavam com um prazo de uns milhõesinhos de anos para entrega dos cd's, a coisa desandou. O barulho do rock era causado por alguns desabamentos de rocha e pedra, mas as pessoas saíam menos machucadas do que quando vão em shows com a polícia comparecendo.

Era comum as pessoas sentarem-se à volta de fogueiras para contar e ouvir estórias. Era uma espécie de ancestral das novelas e muito pouca coisa mudou, com a diferença de que, pelo menos na época, os argumentos eram um pouco mais elaborados e originais.

A descoberta da roda revolucionou a sociedade de então, pois permitia idas aos shopping centers, esmerilhar com as gatinhas e claro, quando sobrava um tempinho, carregar mais alimentos, madeira, etc.

O fogo também foi uma invenção quente da época. Fazia o maior sucesso e agitava os embalos. Gerou a primeira piada (a piadinha do Tchu, que não sera contada aqui), mas em compensação, iluminava as cavernas à noite, mostrando a cara dos nossos tatara-tatara-tatara-avôs para as nossas tatara-tatara-tatara-avós, o que quase nos levou à extinção (ou "instinção", para vocês sabem quem), porque, convenhamos, eles eram feios de doer.

Os primeiros animais foram domesticados e foram colocados para nos governar. A agricultura surgiu quando um ancestral cuspiu um caroço de laranja na terra úmida e percebeu que ali nascia, tempos depois, uma planta. Isso prova que meus hábitos de etiqueta em reuniões e festas de 15 anos não podem ser tão errados assim.

O homem fixou-se na terra e progrediu bastante. Aprendeu a usar seu cérebro para imaginar armadilhas e estratégias; suas mãos hábeis para construir lanças e armas; e, claro, pernas para sair correndo quando tudo aquilo desse errado. Além disso, ia usando de seus eficazes instintos (ou "extintos" para a mãe de filho de roqueiro do ano) para não se meter em roubadas muito grandes, como saraus de poesias neolíticas.

É verdade que o homem primitivo era um pouco marginal, sempre pintando aquelas pichações em cavernas, um horror (espero que as apaguem um dia), mas acabou desenvolvendo, com o tempo a escrita. É aí que saímos da pré-estória para a estória, propriamente dita!
 
Aguardem o Capítulo 2: As Primeiras Civilizações.
 
 
::: D i á l o g o s   I n e s q u e c í v e i s
 
– ... E sua vida como anda, minha filha?
– Cheia de aventuras sexuais, motéis, bares, boemia, curtições... Enfim... uma vida excitante.
– Excitantíssima!! ... Para uma filho HOMEM!
 
(de uma tira da Rê Bordosa, em que ela conversa com seu pai, publicada em "Rê Bordosa - vida e obra da porraloca", e também uma forma singela de eu homenagear todos felizardos papais que hoje comemoram o seu dia).
 
O Gato apenas sorriu ao avistar Alice. Ela achou que ele parecia afável. Mas como tinha garras muito compridas e dentes bem graúdos, sentiu que devia tratá-lo com respeito.
– Gatinho Cheshire – começou a dizer timidamente, sem ter certeza se ele gostaria de ser tratado assim: mas ele apenas abriu um pouco mais o sorriso. "Ótimo, parece que ele gostou", pensou ela, e prosseguiu:
– Podia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui?
– Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
– Não me importa muito onde... – disse Alice.
– Nesse caso não importa por onde você vá – disse o Gato.
– ...contanto que eu chegue a algum lugar – acrescentou Alice como explicação.
– É claro que isso acontecerá – disse o Gato – desde que você ande durante algum tempo.
Depois do Gato Cheshire ter-se esvanecido por duas vezes, Alice acrescentou: – Gostaria que você não aparecesse ou sumisse tão de repente. Deixa qualquer um tonto.
 – Está bem – concordou o Gato. – E dessa vez desapareceu bem devagar, começando com a ponta da cauda e terminando com o sorriso, que ainda ficou suspenso no ar algum tempo depois que o corpo tinha desaparecido.
 

"Está aí" – pensou Alice – "Já vi muitos gatos sem sorriso. Mas sorriso sem gato! É a coisa mais curiosa que já vi na minha vida".

(trechos do Capítulo 6 - Porco e pimenta - de Aventuras de Alice no país das maravilhas, enviado por nosso editor Alexandre Inagaki que ainda sonha com desaniversários.)
 
 
::: Aline e Seus Conceitos In Dubio
::: Aline de Mello <[email protected]>

Vai dizer, é o maior sarro quando você diz pra alguém 'olha lá pra cima, à direita!!', e a pessoa olha lá pra cima, à esquerda. Essas pequenas confusões que a gente faz (direita é a que tu escreve, esquerda é a do relógio, embora há controvérsias) realmente tornam diálogos normais e sem expectativas de risos em momentos engraçados memoráveis.

Exemplos: levei muito tempo pra sacar a diferença (ninguém me ensinou, aprendi à custa de risos de terceiros) entre "mania" e "hobby". Aí me perguntavam uma coisa que eu tinha mania de fazer, e eu dizia: ai, eu tenho mania de nadar. E quando perguntavam o hobby, eu dizia que meu hobby era morder a tampa da caneta. Ah, fala sério!!! Até eu daria risada da minha cara.

Outra tri legal, das aulas de ciências com a profe Ângela, lá pela quarta série: ela ensinou que a água era "insípida, incolora e inodora". Todos sabiam que incolora significava que não tinha cor, mas era aquela confusão pra lembrar que inodora tinha a ver com o cheiro (ninguém conhecia a palavra odor, não, tá!!), e insípida tinha a ver com o gosto. Então, decoramos a seqüência famosa "insípida, incolora e inodora", e fomos, bem felizes e sabidos, fazer a prova. Claro que as características da água caíram, né, e era de completar: a água não tem cheiro, logo, ela é ___________ (ai, quarta série, gente, dá um descontinho, vai...). A água não tem cor, logo, ela é __________, a água não tem sabor, logo, ela é __________. Siiiiiiiiim, a danadinha da profê Ângela inverteu o "insípida" e o "inodora", e 88% da turma não percebeu a sacanagem (inclusive eu, podem ter certeza) e errou a questão! Bom, fiquem tranqüilos, hoje eu sei direitinho. :)

Aí ontem minha irmã estava fazendo as malas pra ir viajar, e gritou: linêeeee, tu viu minha escova de dente por aí? E eu: qual é a cor dela? Minha irmã - transparente. Eu e meu pai nos olhamos e demos risada dizendo "claaaaaaro, transparente, não tem como achar mesmo". Pessoal, evidentemente falamos isso brincando, como se transparente fosse o mesmo que invisível. Mas, sim, eu tive problemas com esses conceitos também. Engraçado foi quando perdi um brinco na piscina do clube, aos sete anos, e saí correndo e gritando  "mãaaaaaae, perdi meu brinco invisível!!!!!"

Barbaridade... depois dessas, melhor nem contar como era minha vida antes de
eu aprender a ver as horas...
 
 
::: Jogo baixo
::: Ricardo Nishizaki <[email protected]>
 
Ando olhando para baixo. Pro chão. Não me pergunte por quê. Não quero saber da sua opinião, não me venha dizer pra levantar a cabeça essas coisas!!! Tenho raiva de quem tenta me analisar de forma rasa e superficial. Mesmo porque a minha pele esconde muito mais do que vísceras molhadas de sangue e fluídos corporais. E dentro de minha cabeça não existem só miolos. 
 
O que importa é que sempre que caminho para algum lugar, percebi que ando olhando para baixo. Isso não é muito bom, afinal ajuda a diminuir ainda mais a minha pequena estatura. Mas pobre de nós, pequenos na altura e no afeto! Olhemos para baixo e fiquemos ainda menores.
 
Odeio baixinhos altivos, que andam de peito estufado e pescoço erguido. Não passam de minúsculos playmobils que tentam se passar pelo Ken da Barbie. Certo, o que podemos fazer se não nascemos compridos? Não ando com sapatos de salto, não penteio o cabelo pra cima - aliás, esses topetinhos de hoje são uma das coisas mais bregas que inventaram ultimamente - e não vou tentar parecer alto. E nem quero me sentir alto! Sou baixo, baixo, baixo, pintor de rodapé, salva-vidas de aquário!
 
Quem liga pra isso? Fico na ponta dos pés pra me segurar no metrô. Nessas horas, admito, sou obrigado a ficar ereto, esticado, mas é por necessidade. Talvez até por isso eu tenha desenvolvido uma técnica de surf no metrô inigualável. De terno e pasta, ninguém consegue aguentar mais os sacolejões do metrô do que eu! Aliás, olhando pra baixo, pois a cabeça fica mais próxima do centro de gravidade e ajuda no equilíbrio!
 
Chega de discriminação. Eu sou um baixinho assumido, que pensa baixo, que sonha baixo e que nunca vai trepar com a Gisele Bündchen! Até por uma questão de prática, não é? Porque, apesar de ser baixinho, eu sou carinhoso e adoro beijar enquanto meto. Pois é, com mulheres como ela, impossível! Ou beijo ou meto. Ou então meto beijando o umbigo, o que chega a ser ridículo.
 
E vou andar olhando pra baixo sempre, a partir de agora. Não quero saber de convenções sociais e de qualquer coisa nesse sentido! Foda-se! As pessoas acham que o céu é o limite? Pra mim o subsolo é o limite! Elas querem subir na carreira? Pois eu quero baixar na carreira!! Coisas boas estão ligadas à palavra "baixo"! Eu "baixo" música da internet, eu gosto de "baixo" e bateria, mais do que guitarra, o futebol brasileiro é famoso pelas "embaixadinhas", quando faz sol em São Paulo todo mundo vai à "baixada"...
 
Mas só pra não deixar isso no ar... sim, estou deprê. Algum problema, porra?
 
 
::: livros e namoros baratos
::: Marlus Augusto <[email protected]>
 
É engraçado como é o começo. Principalmente quando duas pessoas se conheceram por acaso, se interessaram quase que de imediato e começaram a ficar junto. Tem sempre aquele esforço pra disfarçar nossos defeitos e realçar as qualidades ao máximo, até o último momento. Até que você e ela começam a perceber aqueles defeitinhos escondidos, ocultos. A preocupação de manter o bom andamento da carruagem é constante, coisa que pode muito bem ser comparada a um escritor mal inspirado editando, ou tentando editar, seu livro.

Seus melhores contos são os primeiros que vêem à mente, claro. Mas a compilação de bons momentos, e que na opinião do autor são interessantes para seus leitores, não é tão grande assim. Palavras de amor e carinho são ditas e escritas a todo instante, assim como alguém que está lendo o livro comenta pra si mesmo “esse livro é ótimo,estou adorando”, mas que na verdade só o faz na tentativa de adquirir um algo mais; afinal, a gente nunca tem nada a perder. As mordidas carinhosas que ela me dava e que quase me faziam chorar de dor, estão por toda a parte do corpo. Onde eu toco, sinto a dor de um dia ter acreditado que o investimento valeria a pena.

Rasguei metade das páginas daquele livro.
 
 
::: N a v e g a r   I m p r e c i s o
 
Burburinho - pensamentos despenteados para dias de vendaval
http://www.burburinho.com

"Göethe escreveu certa vez que se os macacos chegassem a sentir tédio poderiam tornar-se gente. Tim Burton, diretor do novo Planeta dos Macacos, manteve seus símios bem longe do tédio, mas também se esquivou de qualquer profundidade maior no enredo. A macacada está lá só para nos divertir" - este é o texto de abertura do site Burburinho de ontem, escrito por Nemo Nox, que colaborou com um ótimo texto na edição 020 do Spam Zine (quem quiser uma cópia desta edição, envie um e-mail para [email protected]).
 
O Burburinho, lançado esta semana na web, une os temas de uma revista de cultura com o tom pessoal de um weblog, oferecendo seu conteúdo tanto no site como através de email. Os internautas que se inscreverem para receber o boletim gratuito todas as semanas concorrerão também a prêmios (livros, cds, jogos, etc). Entre os assuntos tratados estarão cinema, quadrinhos, livros, música, jogos de computador, televisão, fotografia, internet, e vários outros. O Burburinho conta também com atrações paralelas como uma enquete semanal e abre espaço para a participação dos leitores numa seção de cartas.
 
O Spam Zine recomenda a visita!!
 
Superzine
http://www.superzine.com.br
 
Para quem já conhece o Falaê, só um comunicado; já para os demais, acessem djá <http://falae.com.br> e tenham boas surpresas. Entre elas, o suplemento Superzine, que agora ganhou um lugar exclusivim ao sol e está de site novo, cara nova e, of course, conteúdo tinindo de novo. Sob o comando de Augusto Sales e seu companheiro de crime (nosso também), Alexandre Inagaki, o Superzine deste mês traz uma bela compilação de weblogs e promete em breve publicar uma coletânea dos melhores momentos de zines e publicações alternativas. In the mean time, deliciem-se com os trechos dos weblogs já selecionados.
 
 
::: A GAIVOTA DO CANAL 3
::: Orlando Tosetto Junior <[email protected]>

Tem uma gaivota que mora no Canal 3, aqui em Santos, na avenida Washington Luís. Todos os dias de manhã, quando chego para trabalhar, ela está lá, de pé num cano verde, com seu bico preto apontando para a frente e ligeiramente para baixo, com aquele ar meditabundo das aves.
 
Ela é a minha primeira gaivota. Ela não sabe disso. Ninguém pode ter muita certeza do que é que as gaivotas sabem, afinal, além de voar majestosamente e comer peixes. Mas sei que ela não sabe que é a minha primeira gaivota vista de perto, com detalhes ao alcance da minha miopia.Olho para ela um pouco como se a namorasse. E penso com tristeza que, mesmo encarapitada num cano no meio de um canal, ela ainda está mais perto de mim do que algumas namoradas jamais estiveram.
 
Não é uma gaivota perfeita. O pé direito dela tem problemas: é menor que o esquerdo, parece menos eficiente. Quando ela voa, é essa perna a última que recolhe; quando pousa, é essa a última perna que apóia. Não sei se ela sente dor, mas, pensando bem, isso já é abusar da estupidez das gaivotas. É claro que sente dor, se dor houver. E depois, uma gaivota que eu namoro jamais será tão estúpida. Sou um Riquet Topetudo: dou inteligência àqueles de quem me enamoro*.
 
Na primeira vez que a vi, ela planava sobre o canal. Achei o que geralmente achamos quando vemos pela primeira vez uma das muitas mulheres da nossa vida: que era um acaso. Que ela não morava ali, que estava de passagem, que era um pequeno e inusitado encanto sobre a água suja e salgada do canal. Fazia um sol tímido e esbranquiçado; eu vinha, senão alegre, pelo menos longe de triste. E era tarde. Ela passou devagar e reta sob a pequena ponte que eu atravessava, e um minuto depois eu já me perguntava: "mas quem é essa gaivota?".
 
Antes que me condenem, eu preciso dizer que sei que o mundo não se resume à gaivota; que ela não é o Raimundo drummondiano, nem é uma solução; que há problemas de montão, que há o apagão, a crise, a bomba, os corações partidos, a seleção. Quero deixar claro, ó mundo, que não te esqueci.
 
Agora, a gaivota é tão impossivelmente branca! Me distraio do mundo quando a vejo. Que é que eu posso fazer? Vou com o olho atrás dela, como se fosse uma bela bunda ou um sorriso luminoso por cima de uma calçada.
 
Não sei qual vai ser o nosso futuro. Ela certamente exige pouco. Mas não me será fiel. Eu, pelo meu lado, não caibo no seu ninho. E, tímido, covarde e burro, não vejo maneira nem idioma para me declarar. Torço as mãos acompanhando seu vôo, um pouco como um velho que se apaixonasse por uma adolescente. Sou, para ela, todo olhos, e nada mais.
 
Pensando bem, esse affair não é mais nem menos desesperado que nenhum dos amores que já tive. É até bem igual, com o desfecho já à vista: separados. Ela no céu, ou em pé e serena no seu cano; eu, desajeitado sobre duas pernas, Ícaro recolhido e medroso na falsa segurança do chão sob meus pés.

* O príncipe Riquet nasceu feio como a imagem da morte, mas com dois dons: o da inteligência, e o de tornar inteligente a mulher a quem amasse. Num reino vizinho, nasceu uma princesa lindíssima, com outros dois dons: o da suprema estupidez, e o de tornar lindo o homem a quem amasse. Ficou fácil de adivinhar o desfecho.
 
[COMENTÁRIO DA EDITORA: Monsieur Orlandô, não canso de repetir que eu sou sua fãããããã.]
 
 
::: A doença dos números do SUS
::: Samuel Ramos <[email protected]>

Na última semana tive o desprazer de ter perdido um ente querido: meu avô. Era homem de fibra. Fora tropeiro no tempo em que ainda existia tropeiro e campo para tropeirar, modo de vida que lhe garantiu certo vigor mesmo aos 82 anos. Porém, mesmo depois de ter suportado em vida toda sorte de intempéries, não suportou duas semanas de internação no SUS. A quem possa se comover com a história, me adianto: nem tem muito o que falar nessas horas, talvez o "pra morrer basta estar vivo".

Embora estude em universidade particular e tenha emprego, não sou de uma família de muitas posses. E como o quadro de saúde do avô não apresentava grandes preocupações, nada mais sensato que optar pelo sistema gratuito de saúde. O diagnóstico inicial apontava problemas nos rins. O laudo médico pós-morte apontou pneumonia.

Soube depois, através de uma amiga, médica, que o quadro de pneumonia é causa comum de mortes em hospitais. Segundo ela, grosso modo, contribui para isso e a insuficiência respiratória o fato de o paciente permanecer dias na posição horizontal. Ficar muito tempo deitado poderia possibilitar, de algum modo, um certo acúmulo de 'água' no pulmão do assistido. Ainda de acordo com dados da minha amiga, que julgo conhecedora de seu ofício, a solução seria simples: um fisioterapeuta deveria pôr o paciente em pé, fazer alguma atividadezinha física, claro, onde isso fosse possível.

Mas minha amiga entende de medicina, não de administração. E na saúde pública essas partes são dicotômicas e, pior ainda, geralmente apontam o lado oposto. Sem falar que soluções simples não ganham eleição e nem são bonitas de se mostrar na tevê na hora da campanha eleitoral. Nesse quesito o faraônico ainda é bem mais aprazível.

Mas o governo, atento ao brilhantismo administrativo, faz sua parte investindo em equipamentos modernos. Problema é que poucos sabem operar. E tem o contexto social dos funcionários do SUS. Gente mal-remunerada, alguns grandes pessoas, de muita boa vontade, outros com pouca instrução. Mas chama a atenção o considerável número de pessoas que parecem chupar limão azedo a maior parte do dia, tratam o paciente já esperando a hora de livrar-se dele.

Aí um monte de gente mostra um monte de números e de estatísticas para provar que alguma coisa não está certa. Já para quem perde uma pessoa querida os números nem importam tanto. E a única certeza que fica nessas horas nem é tão numérica assim, parte do princípio de que para depender do sistema público de saúde, o cara tem que estar doente mesmo.
 
 
::: F a l a   q u e   E u   t e   E s c u t o
::: O Spam Zine não sofre de fastio pós-coito, não dorme no ponto, não dá ponto sem nó. Conte-nos sobre suas crises existencias, sexuais, neurastênicas, envime as perguntas que não lhe deixam dormir. E claro que mimos de todos os gêneros serão sempre muito bem-vindos. Basta enviar tudim para [email protected].
 
"Companheiros e brasileiras.
Esta edição especial FODA realmente estava do caralho (ops!). Povinho inspirado, heim??!!"
Áureo
 
OS EDITORES: Áureo, meu querido, espero que a edição XXX do Spam Zine, tenha inspirado você e mais leitores a soltarem as amarras, perderem o pudor e entrado na dança do amor gostosim, sem culpa e com muita imaginação. Obrigadíssima pelo elogio tão apropriado à edição, ao qual faço coro para mandar um parabéns ao inscitador da edição pecaminasa, Ricardo Sabbag. Beijo na testa, S.H.
 
"Gostaria de fazer uma pertinente pergunta ao nosso professor Orlando Tosetto Junior , a respeito de sua "De vaginabilus explicationem": Afinal, meu caro, que diria sua vasta experiência? A expressão "comer alguém" não deveria ser feminina? Afinal, se analisarmos morfologicamente o ato de comer, eu diria que quem come é a mulher. Por sinal, cadê meu namorado? Me deu uma fome!!!"
Rachel Gusmão
 
OS EDITORES: Rachel, eu e nosso professor Orlando Tosetto Junior concordamos plenamente com a sua colocação: quem come é a mulher, sim senhora!!! Gostaria ainda de acrescentar que eu, pessoalmente, acho a "vaginabilabus" um órgão com ar bem animadinho se bem tratada, ainda mais quando chamada por apelidos carinhosos, hihihi. Bitocas e cuidado com a gula! (hihi), S.H.
 
 
::: C r é d i t o s   F i n a i s

Fear and love (Morcheeba):
Suzi Hong <[email protected]>
Ricardo Sabbag <[email protected]>
Alexandre Inagaki <[email protected]>
 
Palavras ao Vento (Cássia Eller):
Fernanda Luft <[email protected]>
Pedro Vitiello <[email protected]>
Aline de Mello <[email protected]>
Orlando Tosetto Junior <[email protected]>

I Want to Hold Your Hand (The Beatles):
Ricardo Nishizaki <[email protected]>
Marlus Augusto <[email protected]>
Samuel Ramos <[email protected]>
Eduardo Mylonas da Silva <[email protected]>
 
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::: P. S.
 
1) Há tempos eu uso uma frase que: se não for publicada eu nunca mais falo porque realmente não existe nenhuma outra pessoa idiota o suficiente para gostar dela como eu; se for publicada é porque eu falei a frase para as pessoas erradas. A frase é a seguinte: "Calor é psicológico. É como o frio, só que mais quente". (Mylonas da Silva)
 
2) A despeito de toda a polêmica em torno da importância e qualidade das obras literárias de Jorge Amado ou até mesmo sobre o questionamento acerca de suas posições políticas, o escritor é para mim muito querido só pelo fato de ter criado a Dora, de "Capitães de Areia" e ter sido um dos melhores escritores populares brasileiros. Ou vai me dizer que Paulo Coelho escreve melhor? (Hong)