[S p a m  Z i n e]
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    : 29 de julho de 2001
    : são paulo, curitiba, recife, belo horizonte, rio de janeiro, londrina
 
::: e d i t o r i a l
::: Alexandre Inagaki <
[email protected]>
 
Todos os dias do ano alguém faz aniversário. Logo, todo dia deveria ser dia de festa. Certos estavam os personagens de Lewis Carroll, que comemoravam um desaniversário. Afinal de contas, por que comemorar apenas um dia do ano, renegando os outros 364?
 
Sexta passada, fiz um upgrade de idade: completei 28 primaveras. Catzo, quase balzaquiano! Alguns amigos sugeriram comemoração em um bingo, outros, em uma quadra de bocha. Respondi: não é que estou ficando velho, é uma simples questão de acumulação de know how através dos anos. Eufemismos à parte, o fato é que nunca fui muito fã de aniversários. Sei lá, perderam a graça, da mesma maneira que não vejo mais graça no Natal.
 
Existe ainda a questão do tempo, que sempre encarei como meu inimigo. Provavelmente, porque sou inapelavelmente incompetente em administrá-lo: nunca dá tempo pra fazer nada. Vivo sempre apressado e atrasado em fazer as coisas, como aquele coelhinho branco que Alice encontra depois de dormir ao ler um livro. Muitas vezes, dando um rewind no filme da minha vida, me assusto em perceber como a vida passa rapidamente, e como meus programas preferidos no rádio se tornaram aqueles de flashbacks. Preciso dar uma desacelerada, despertar o Caymmi que há dentro de mim. Chega do ritmo maluco de motoboys costurando no trânsito, sites repletos de informações voláteis, refeições engolidas com gosto de indigestão.
 
Bobagem encarar o tempo como vilão - está longe de poder ser personificado como a Rainha de Copas, pedindo a todo custo para que cortem-me a cabeça. Houve tempos em que eu queria envelhecer logo, a fim de poder ver os filmes da Sessão Coruja, beijar na boca a menina mais bonita da classe, e coisas do tipo. Mas o fato é que estou quase chegando à metade da minha vida. Quase como Humpty Dumpty, aquele ovo gigante que, sentado em cima de um muro, vislumbra o mundo no meio do caminho entre a certidão de nascimento e o atestado de óbito. O que fiz, o que farei, o que almejo para a minha vida?
 
Aniversários, na verdade, assemelham-se mais a revéillons: são ocasiões apropriadas para se refletir a respeito da vida. É, nada como uma boa desculpa para beber champanhe, e lembrar que todo dia é dia de recomeçar. Philip Larkin, um de meus escritores preferidos, escreveu em seu poema As Árvores: "ano passado morreu, parecem dizer/ comece de novo, de novo, de novo".
 
Que assim seja.
 
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Novidades hoje e sempre. O Spam desta semana tem o prazer de anunciar a estréia de três novos colaboradores. O primeiro é Mario AV: ilustrador, editor de arte, fotógrafo e responsável por The Strange Mind of Mario AV, que chega com uma história bem paulistana e ao mesmo tempo universal (seguindo as lições de mestre Tolstói). Em seguida, apresentamos Thais Fonseca, a.k.a. Talita Veneno, moça cheia de histórias para contar (a primeira reúne o singelo casal Romualdo e Jeucilene). Last, but not the least, Verônica Toste: estudante de direito, websurfer de primeira e uma das cabeças responsáveis pelo blog Adedanha. E um retorno mais do que desejado: Marcela Nuala Marques, minha querida amiga de Recife, e muito das vagais, já que aparece muito esporadicamente no Spam. Por favor assinantes, escrevam a ela cobrando para que volte sempre.
 
E ATENÇÃO: semana que vem, não percam o Spam Zine XXX - Edição Especial FODA (Tire as Crianças da Frente do Computador). Ricardo Sabbag, o co-editor desaparecido, depois de bebemorar todas na formatura do Dedé, estará de volta em grande estilo, capitaneando a edição sex shop erótica pornô profana excitante gozada. Siro Darlan não perde por esperar. Colaborações devassas serão recebidas com todo o prazer: [email protected].
 
Um último recado: a compilação com as cenas mais bizarras do cinema brasileiro, realizada pelo pessoal do Falaê!, já está no ar. Longas de Neville de Almeida, Hugo Carvana e Ivan Cardoso e todas aquelas adaptações embrafilmísticas das peças de Nélson Rodrigues estão contemplados nesta coletânea, que celebra a maravilhosa arte de falar palavrão como só os filmes nacionais conseguem perpetuar, porra! Cliquem djá: http://www.falae.com.br/memoria/cinema_nacional.htm.
 
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Ladies and gentlemen, we're floating in space.
 

::: Tolices (mas eu imagino)
::: Marcela Marques <[email protected]>
 
Pra mim, era só mais um horário de almoço no shopping antes de enfrentar outras 5 horas cheias/estressantes/intermináveis de trabalho. Apenas um paliativo: o fato de ser sexta-feira, o dia nacional do ufa...! e do êba!!, e que por acaso era também o último dia de aula nas escolas antes das férias de julho. O shopping fervilhava de adolescentes lindos, eletrizados e desconcertantes de tanta espontaneidade.

Eu fumava um cigarro. Na mesa ao meu lado, sozinha, uma menina loirinha, magrinha, de uns quinze anos, em quem na verdade eu nem havia reparado até aterrissar ao lado dela a miniatura de deus grego mais linda que já vi, um garoto da mesma idade da loirinha, com um sorriso perfeito, roupas perfeitas e um corte de cabelo perfeitamente igual ao último do Brad Pitt. Ele falou oi pra ela. Ela respondeu oi, e pareceu se encolher pra dentro de si mesma um considerável bocado. Cadê a galera, ele perguntou, não chegou ninguém, miou a loirinha, sem fôlego nenhum. O quê, ele disse, e ela repetiu um pouquinho mais alto, ainda não chegou ninguém. Ah, ele respondeu. E eu prestando atenção, tentando esconder meus olhos por trás da fumaça do cigarro.

O menino olhou em volta, considerando a situação, que até pra mim era óbvia: a nerd versus o deusinho, a Sissy Spacek versus o John Travolta em Carrie, Lady Nuala de Faerie sem glamour versus Lorde Morpheus em todo o esplendor de sua longa capa flamejante. Numa situação embaraçosa para ele, inacreditável para ela, inédita para ambos. Quantas palavras eles já haviam trocado antes disso? Quantas vezes antes ele mal havia tomado conhecimento da existência dela? E quantas ela já devia ter escrito o nome dele em sua agenda, nas margens dos cadernos, em meio a florzinhas, corações e carinhas sorridentes? Era muito óbvio, bastava olhar para as mãos dela tremendo. Sorri engolindo fumaça, enviando mentalmente ondas de coragem e sangue-frio a ela (“OK. Take a deeeeeeeeep breath.”, como em alguma comédia romântica que eu já esqueci).

O menino finalmente percebeu que seria no mínimo indelicado não sentar. E foi o que fez, acendendo o seu próprio cigarro em seguida (muletas para todas as idades). A loirinha olhava as mãos por trás dos óculos – coitada, nem conseguia olhar pra ele, e eu vi que suas mãos, em cima da mochila na mesa, continuavam a tremer. E aí, ele falou, e ela sorriu. Que vai fazer nas férias, ele falou, e ela encolhendo os ombros, nada. Estava mesmo difícil a conversa, mas ele conseguiu ir levando com relativa desenvoltura. Faz parte dos atributos de deusinhos, achar assunto pra conversar com garotas. Foram decididamente os cinco minutos culminantes na vida da loirinha de óculos, era o que eu via nela. Ele contou uma historinha engraçada, ela riu, ele falou mal do professor, ela concordou indignada, e eu o tempo todo pensando, vai garota, chama ele pra dar uma volta, pede o telefone, elogia o corte de cabelo, faz alguma coisa!

Que esperança a minha. Já li livros e vi filmes o suficiente para saber que não era assim que, na maioria das vezes, a coisa acontecia. E o que minha imaginação mais realista que pessimista previa acabou acontecendo: chegou o resto da “galera”, e sendo membro dela, lógico, aquele indefectível equipamento ladrão de cena das meninas tímidas-de-óculos-mas-bonitinhas: a-super-gata-mais-cobiçada-da-escola, que, natural e previsivelmente, jogou-se no garoto, forçando a nossa heroína de óculos de volta para dentro dela mesma, quase numa implosão. Imediatamente me veio à cabeça um velho/novo/repaginado-em-acústico clássico pop da mais maravilhosa banda dos 80's, o Ira!: “vivo sonhando/imaginando você/imagino pegadas/e as vou seguindo/é tolice, eu sei/você não sente os meus passos...”. Vida de merda essa. De forma ainda mais inevitável, também integrava a “galera” a amiga-gordinha-da-menina-de-óculos, que imediatamente grudou nela.
 
Iam ao cinema. O filme era Pearl Harbor (pronúncia impecável do deusinho, “pââârrrll rárrborr”). Dali pra frente eu já sabia como tudo ia acontecer, a escolha dos lugares dentro do cinema, os garotos zoando, o casal teen perfeito trocando o seu primeiro beijo, a loirinha chorando no ombro da amiga, sem saber se por causa do filme ou do beijo anterior testemunhado, a despedida de todos e a loirinha indo pra casa, triste, tendo feito o seu primeiro e último programa com a “'galera” das férias. Eu sabia que ia ser assim, pela lógica burra do mundo deve ter sido assim.

Fiquei meio triste também.

Mas à noite, eu quase adormecida nos braços do meu próprio deusinho particular, completamente tomada de amor, senti que uma coisinha desobediente dentro de mim começou a me cutucar, falando baixinho. Pode não ter sido assim, ela dizia. Ele pode ter descoberto, naqueles 10 minutos em que ficaram conversando sozinhos, como ela era linda por trás dos óculos, e como ela ria pra ele com ela toda, como o sorriso dela era absoluto. Ele pode então ter resolvido sentar ao lado dela no cinema, e na hora em que Ben Affleck reaparece após ter sido dado como morto e descobre que Josh Hartnett está com a namorada dele, quando a loirinha começou a chorar, ele pode ter segurado a sua mão. Ele pode ter se oferecido pra deixar ela em casa depois do filme, e aí ficaram conversando embaixo do prédio sobre coisas de que nem ele, nem ela nunca haviam falado antes com ninguém. E talvez, na hora de ir embora, depois de ter anotado o telefone dela, ele tenha se despedido com um beijo na boca. De língua, não, ia ser demais pra ela, mas um daqueles selinhos que significam “a gente ainda vai beijar muitas vezes”. Talvez ele tenha perguntado, “posso te ligar amanhã?”, e talvez ela tenha dito sim.

E talvez ele tenha ligado mesmo. Talvez em agosto, quando as aulas recomeçarem, haja essa grande nova fofoca sobre o casal mais improvável da escola. Talvez as injustiças e clichês ridículos do mundo possam ser derrotados às vezes, talvez haja, sim, um lugar ao sol para meninas tímidas e casais improváveis.

Fui dormir ainda um pouquinho mais feliz.

É tolice, eu sei, mas eu imagino.
 
 
::: D i á l o g o s   I n e s q u e c í v e i s
 
Vai Ser Clichê Assim Lá em Hollywood
Mariana Fazzini <[email protected]
 
Os diálogos abaixo pertencem ao clássico Rambo III, e aparecem em um momento crítico do filme, quando o nosso rombudo e robusto amigo, acompanhado por um árabe das arábias e um anão vestido de criança, tenta salvar seu Comandante e professor de etiqueta e bons costumes das garras do General Xis, e acaba causando aquela balbúrdia com seu arco, flechas explosivas e sua faca bowie. Pois entre safanões e mortes ímpares, nosso herói não consegue salvar seu amado mentor, mas sai fazendo o maior estrago, prometendo retorno. Segue-se então o diálogo entre o desmilingüido e subnutrido Comandante, e o irado e temerário General Xis. Este irrompe cela adentro, sacudindo o pobrezinho do comandantezinho que já tá pra lá de Saddam Hussein em dia de bombardeio americano:
 
General: Esta confusão é culpa do seu soldado não é? Mas como pode ver, suas tentativas foram em vão! Nós colocamos ele para correr....HAHAHAHAHA (risada de vilão mesmo!!)
 
Comandante: Ele vai voltar, você não conhece o RAMBO!! (olhar desafiador)
 
General: COMO??? Você está louco? Esta base é impenetrável, nós somos um exército treinado e ele é só um homem!! Quem ele pensa que é? DEUS?!!! (gritando descontroladamente, o homem está xiliqüento já!)
 
Comandante: Não... (enfaticamente) DEUS tem misericórdia e ele... não tem nenhuma... (suspense, câmera focalizada nos olhares dos homens, silêncio mortal...)
 
AAAAAHHHHHHH, eu nunca vou esquecer este diálogo... Com certeza as palavras não são exatamente essas, tentei lembrar delas o mais exato possível... Mas juro que a frase final é beeeeeemmmm assim...
 
 
::: Bebê: Manual de Instruções
::: Pedro Vitiello <[email protected]>
 
Olá, você que adquiriu um bebê nos modelos xx ou xy. É com prazer que lhe enviamos seu manual para pais de recém-nascidos, explicando, tintim por tintim como cuidar de seu rebento.

A primeira coisa a saber é que dá trabalho. Um nenem é uma coisa relativamente fácil de fazer, a não ser que você seja eunuco ou apresentador de programa de auditório aos domingos. Nesses casos precisa de um macho ou fêmea reprodutora, o que sai bem caro.

Em todo caso, o "pãozinho" demora 40 semanas, em média, para sair do forno, vulgo útero, e quando sai ele ainda não sabe coisas como fazer a própria comida, usar o banheiro baixando a tampa ou lavar cuecas, igual a todo homem solteiro. A principal diferença é que o bebê não pode contratar uma diarista e o telefone de brinquedo dele não faz chamadas (nem a cobrar) para a pizzaria.

Assim, cabe a você, papai ou mamãe, aprender algumas normas básicas sobre o pequeno reizinho ou rainha da casa. E sim, isso inclui aprender a trocar as fraldas.

Bom, de início, o bebezinho não precisa de muita coisa, fora um berço, alguns brinquedinhos bonitinhos, duzias de fraldas, talco, telefone de 5 pediatras, dois psiquiatras (para os pais), uma babá, um monte de exames, cd de musiquinhas para dormir, comida esterilizada, roupa esterilizada, pratos esterilizados, enfermeira, gorrinhos, carrinhos, ursinhos (sem pêlos por causa de alergia, isso é sério), paredes coloridas com bichinhos, pilhas de revistas para pais e sobre decoração de quarto, outra duzia de fraldas, termômetro, aquecedor, banheirinha, patinhos de plástico, interruptor com luz regulável, cadeira para a mãe amamentar, enfim, beeemmm pouca coisa (a lista completa segue em anexo).

Além disso, o bebê precisa, sobretudo, de calma. Isso inclui afastar aquela sua tia histérica que morde bebezinhos indefesos, seus pais, os pais de sua esposa, os vizinhos, os amigos barulhentos e, em alguns casos de psicose puerperal, sua esposa.

O recém-nascido dorme muito, o que é impressionante, pois paradoxalmente os pais não dormem lhufas. O pai ou mãe de um recém-nascido é fácil de identificar. É aquele casal babão, de olheiras, geralmente carregando um monte de sacolas no shopping, além, claro, de um carrinho de bebê recheado com duas bochechas e muita roupinha de cor clara. Geralmente estão acompanhados de um dos avós. Avós são pessoas que já foram pais e souberam mais ou menos como educar os filhos, mas que agora liberou geral e mimam o rebento até não poderem mais. Para identificar um avô ou uma avó em um shopping é fácil: são aquelas pessoas já grisalhas carregando o bebê no colo sentado no próprio braço, de frente, para o mundo inteiro poder olhar a criança.

Outra atividade importante dos pais é trocar as fraldas. As mães podem tirar a fralda suja, pegar uma limpa e colocar sob o bebê. Daí é fácil. Basta calcular o angulo de inclinação das pontas opostas, unindo-as com as pontas sobrepostas (tal qual o triângulo isóceles) atentando à curvatura de normalidade da porcentagem de esparadrapo utilizado. O esparadrapo deve ser sempre ser utilizado a partir da quantidade (em centímetros quadrados) da angulação glútea do bebê, que pode ser obtido a partir da raiz cúbica do volume suposto de folga desejável (ver tabela dois, em anexo) para a relação bum-bum-fralda. Depois, é só repetir a operação. Tudo muito simples, como perceberam (e depois dizem que as mulheres não sacam nada de matemática).

Já os homens pegam a fralda, entopem ela de esparadrapo e ficam sorrindo bobo pro filho falando que ele parece uma mumiazinha bonitinha.

A alimentação, após a dentição, é composta por fibras, proteínas, vitaminas e pernas de mesa.

A idade para começar a falar alguma coisa é, geralmente, por volta de um ano. A idade de mandar ele fechar a matraca é na puberdade.

O bebê primeiro engatinha para depois andar. Bebês não pedem carro do pai emprestado. Se seu filho faz isso, está na hora de retirá-lo do maternal e despedir a babá.

Enfim, é fácil ser pai e mãe. O dificil é ser pai e mãe com fraldas impressionantemente sujas, às 3 da matina.

Por Pedro Vitiello, pai, a partir de 27 de novembro próximo, do Bernardo.

 
::: S o n h o   d a   S e m a n a
::: Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
 
Terapia de Grupo
Paula Pimenta <[email protected]>
 
Chego ao consultório da minha terapeuta, pontual como sempre. Ela me manda entrar e qual a minha surpresa ao constatar que minhas duas primas também estão lá, prontas para participar da minha hora de análise semanal... Meio a contragosto, me sento. "- O que aconteceu com a cadeira desse consultório, para mim isso é uma cadeira de dentista..." Deitada na "cadeira de tortura", olho para a minha psicóloga, indago com o olhar se já podemos começar e ela me comunica que quem vai me analisar hoje é diretor da minha peça teatral. Parte de um novo método de tratamento. Continuo achando tudo muito estranho.

Mesmo dormindo, meu lado reservado se manifesta. "-Vamos então começar logo com isso". Olho para o lado e minha mãe e avó também estão assistindo minha consulta. Definitivamente isso não vai funcionar. Levanto e vou ao banheiro tentar fugir. Me olho no espelho. Dou um sorriso cúmplice. Onde estão meus dentes inferiores? Fecho a boca depressa. Olho para o chão e lá estão eles. Todos juntos. Colados uns aos outros. Apanho rápido e volto correndo para o consultório. Mostro para minha mãe os dentes. Espero que ela, como de costume, resolva também esse problema. Chego a agradecer por ela estar ali, no lugar certo como sempre. Ela me olha com desdém e pede para eu deixar isso para depois, guardar os dentes na bolsa e parar de causar tumulto, afinal, todo mundo está olhando...
 

::: Trem
::: Mario AV <[email protected]>
 
O trem espanhol abriu as escassas e largas portas e já estava lotado. Vinha cheio da estação terminal, a anterior, Jurubatuba, estou em Socorro, e isso era estranho. Mas é assim mesmo, pensei; fim de semana, noite, racionamento de luz, os trens são movidos a luz.
 
O vento oeste trazia o profundo cheiro de merda humana da fossa aberta de 100 metros de largura ao lado, chamada de rio Pinheiros, mas que tecnicamente naquele trecho é para chamar-se rio Grande, mas decerto ninguém nesta estação sabia disso. O odor do rio me empurrou para dentro do trem, socado junto com o resto da multidão.
 
E dentro, outro cheiro. Parte de Socorro o trem espanhol, um trem absolutamente inadequado, sem ventilação nenhuma, balaústres na orientação errada, e aquele cheiro. Não saberia definir exatamente se cheiro de roupa mal lavada ou mal seca, de resto de comida, de sabonete fraco; não é de suor, não é de falta de asseio, mesmo levando em conta que era inverno; é o complexo, indefinível cheiro de uma sala de estar apinhada de uma humilde casa de fundos da periferia; um monte de gente compartilhando do mesmo penetrante fedor de gente que eu bem conheço desde que, quando ainda criança, ajudava meu pai com sua Kombi nas entregas a domicílio de máquinas de costura cidade afora, isso na época em que não tinha engarrafamento. A gente entrava sem necessidade de cerimônia na casa de todos, pobres e ricos; mas, sem sacanagem, posto que éramos pobres também, esse cheiro sempre existiu em casas de pobres e por vezes também nas dos ricos. A tediosa rotina, tudo saído do mesmo molde: casas com metros quadrados faltando e filhos sobrando; sempre uma TV ligada e solitária fazendo ruído e cor de fundo, papel de parede animado; feijão no fogo sssshh ssh ssh sssshh ssh ssh sssshh ssh ssh e sofás-camas e bonecos de pelúcia estropiados e pedaços de bonecas e o piso de concreto com pintura vermelha e armários de fórmica - tudo igualmente impregnado daquele cheiro pegajoso, possivelmente recendendo a restos de comida na roupa, não saberia definir exatamente.
 
O trem espanhol partiu com um desagradável tranco e mais nenhum sinal de que estava em movimento; flutuava no espaço com sua suspensão incongruentemente boa. O cheiro do rio certamente não era melhor que o do vagão, mas quando eu quis olhar para fora pela janela da porta, o moleque obstruindo a vista à minha frente cheirava exatamente a merda, muito pior que o rio; cheiro de bunda mal-limpa e suada de criança, suprema afronta. Desisti de ver pela vidraça o arrojo arquitetônico inacabado da estação Santo Amaro, elegantemente suspensa de um só pilar bem sobre o meio do rio, um futuro espetáculo para os apreciadores dos aromas finos. E não podia ver nem isso nem mais nada para fora, porque noite caindo, o vidro fumê, nenhuma luz lá fora, tudo conspirando. Sem paisagem. Pensando melhor, sem paisagem de dia também.
 
Eu tinha uma alternativa: ficar olhando as caras das pessoas. Todas elas aparentadas em estado de humor, todas com cara de saco absolutamente cheio, saco cheio do fim de semana acabando, passado com a família pentelha, com a última cagada do governo. E de fato muitos discutiam problemas políticos, problemas de pobreza, problemas da vida cotidiana; a mesma conversa vindo de todas as direções ao mesmo tempo.
 
E o trem era absolutamente inadequado, pois além de tudo era extremamente leeeeeeeeento; totalmente errado colocá-lo para circular em uma linha urbana com as estações tão próximas uma da outra, com aquela curva de aceleração idiota que o fazia brecar a meio caminho antes de alcançar 60 quilômetros por hora; e era totalmente errado, aqui ou na Espanha, que ele não tivesse nenhuma ventilação.
 
Chegando ao Morumbi, até então o sistema de som enchia o pesado ar com um Muzak do qual só dava para identificar um tipo de trompete anódino, e de repente uma voz anunciou que aquele trem ficaria parado naquela estação e retornaria enquanto outro seguiria viagem a partir da plataforma vizinha; e todo mundo praguejando e suspirando alto, o trem parando e o falatório muito mais alto do que antes, muito mais gente falando que nas linhas tradicionais do Metrô, para começar, e minha vontade era pegar os fones, não para ouvir música, mas para amortecer o som reverberando altíssimo naquele caixote apertado de metal. Mas agora não dava tempo: hora de descer.
 
O outro trem chegou exibindo vidros quebrados a intervalos regulares, e embora quebrados eles não se fragmentavam; os milhares de fragmentos bonitos, cintilantes, permaneciam colados pela película à prova de balas; e é lógico que o governo não trocaria vidros quebrados a menos que eles se despedaçassem completamente no caminho, e não enquanto prosseguissem cumprindo a missão de isolar completamente o fedor de dentro do fedor de fora.
 
Abrindo-se as portas, eu estava à frente da massa e, no entanto, havia pessoas dentro querendo descer também, e não poucas. Mas o pessoal de fora não queria saber. Para minha surpresa na condição de usuário regular do Metrô e não da CPTM, o povo na plataforma empurrou os que queriam sair de volta para dentro, com a brutalidade de uma aríete e a inteligência de uma manada em estouro. Que se foda a etiqueta e os inocentes que precisam desembarcar! Vamos entrar de qualquer jeito! Não um novato em andar de trem, uma coisa eu sabia bem: as portas ficariam abertas por tempo bem mais do que suficiente para todos entrarem e saírem conforme quisessem. E assim me coube um papel civilizatório; bloqueei meu lado da manada, gritando "deixaaa desceeer primeirooo!" na linha de frente do empurra-empurra, segurando com firmeza minha bolsa com a máquina fotográfica dentro. Não respeitaram meu apelo, mas respeitaram minha massa física.
 
Exatamente ao pôr o pé direito para dentro do vagão, notei primeiro que esse tinha os bancos pequeninos e com um estofamento modernoso, e em segundo lugar que o piso estava escorregadio de vômito. Meu pé bem no centro de uma poça de spaghetti à bolonhesa com vinho, que curiosamente não cheirava mal como a multidão nem como o rio Pinheiros ao lado; antes, era um odor adocicado, surpreendentemente perfumado.
 
E o trem partiu com outro tranco idiota, deslizando furtivamente pela margem do rio às escuras. Do outro lado, o Jóquei Clube e suas possantes luzes capazes de iluminar uma pequena cidade iluminavam coisa nenhuma; nenhum cavalo corria; uma verdadeira provocação aberta às vítimas das metas de redução que dentro do trem discutiam a última cagada do governo, problemas políticos, problemas de pobreza e problemas da vida cotidiana. Do lado de cá, a estação Rebouças tinha sido inaugurada com o novo nome de Hebraica-Rebouças, muito embora provavelmente jamais um sócio da Hebraica fizesse uso de um vagaroso e fedorento trem da CPTM; para esse tipo de lobby havia no Metrô o precedente de terem renomeado uma estação para Armênia, outra para Masp e outra para Corinthians. Mas em todos os mapas da linha Celeste, valia o nome Rebouças sem mais nada. E a verdade final é que essa estação deveria se chamar Eldorado, porque parte dela fora construída dentro do estacionamento do shopping.
 
 
::: R á p i d a s   R a s t e i r a s
 
"Eu estou com um corpo ótimo, é só colocar umas meias que fica tudo no lugar".
(DERCY GONÇALVES, 95 anos, que posará para a edição de setembro da revista Penthouse, exibindo todo o esplendor de sua nudez pra lá de madura)
 
"Só uso cueca vermelha. Isso me traz muita sorte no trabalho".
(EMÍLIO ORCIOLLO NETO, ator de uma novela da Record, dando mais informações do que eu necessito para a minha vida)
 
"Honduras eliminou o Brasil. É divino, é maravilhoso, sublime".
(MANCHETE do jornal argentino Olé. Enquanto a seleção portenha se dá ao luxo de esnobar craques como Riquelme e Redondo, Felipão tenta ressuscitar Mauro Silva. Quem diria que sentiríamos saudades de Zagallo?)
 

::: Love Story
::: Thais Fonseca <[email protected]>
 
Romualdo e Jeucilene eram pobres. Se casaram assim mesmo e tiveram 3 filhos: Weslei, Washington e Waldilson. Logo depois nasceram duas meninas: Claudiene e Claudiara.

No Natal deixaram uma cestinha na porta da casa deles.

- Hi! Mozão! Ê uma menina. Vamos ficar com ela.
- Vamos chamá-la de Natalina.
- Porque não Claudivane? Rima com as meninas.
- Sabe que você tá certa? Muito bom gosto...

E ficou assim: Weslei, Washington, Waldilson, Claudiene Claudiara e Claudivane.

Romualdo ganhou na Tele Sena. Largou o trabalho na oficina, pegou as crianças e foi pra Fortaleza com Jeucilene. Chegando lá conheceu uma boliviana, a Mercedes. Largou as crianças e Jeucilene e se mandou para o Caribe.

Hoje Romualdo e Mercedes são casados e têm dois filhos: Joselito e Ismaelito.
 
 
::: Maldito biscoitinho da sorte
::: Verônica Toste <[email protected]>
 
Sexta-feira. Treze. Estou toda arrumadinha para sair, com duas bolsas. Entro no elevador e, antes de apertar o botão para descer, vejo uma pilha de revistas - basicamente a "Viagem" e a "Casa e Decoração". Explico: os moradores do meu prédio, em geral, são uns porcos e jogam todas as suas porcarias no elevador.

"Oh, minha mãe ama essas revistas" - me agachei, coloquei a minha bolsa maior ao lado, e comecei a catar as revistas para levar para o meu apê. Quando saio do elevador, ele desce imediatamente com a bolsa que eu havia deixado no chão.

Quando o elevador voltou, só restou a bolsa (que é tão feia que ninguém quis pegar) e os livros que eu guardara dentro dela (morador-ladrão de cabeça-de-porco não gosta de ler, deveria ler mais para sofisticar os seus crimes).
 
Começou meu dia de cão.

Superada a crise histérica que eu tive, andei até o metrô e desci as escadas apoiada num corrimão. Corrimão este coberto de cocô de pombo.

Mas o que mais me irritou foi o meu almoço no China in Box. Eu havia me melecado toda, perdi meu casaquinho de estimação com meus buttons do Joy Division e The Cure, minha calça novinha, meu guarda-chuva... e recebo um biscoitinho da sorte em cujo bilhetinho se lê: "Sorria e regozije: a fortuna está sorrindo para você". Pensei: "putaquepariu, a fortuna está rindo de mim!".
 

::: N a v e g a r   I m p r e c i s o
 
Chacretes Forever
http://morango.ig.com.br/especiais/chacretes/index.html
Elas foram responsáveis pelo desabrochar sexual de toda uma geração de moleques com espinhas no rosto: Rita Cadillac, Fátima Boa-Viagem, Gracinha Copacabana, Leda Zeppelin, Gina Corinthiana, Lia Hollywood... Simplesmente imperdível é este especial do site Morango, com fotos do arquivo de Rita Cadillac. Pois, como dizia o sábio Chacrinha a respeito dos atributos necessários a uma chacrete: "tem que ser boazuda, ter coxões e peitos grandes, porque homem só gosta de magra pra casar".
 
A Vida Como Ela É
http://www.desembucha.com/putas
Site escrito por prostitutas, que aproveitaram a onda dos weblogs para fazer confissões e desabafos de sua vida nem sempre fácil. Sem meias palavras, elas escrevem pérolas que entram fundo, sem vaselina nem KY.
 

::: Histórias Inglórias 3
::: Orlando Tosetto Junior <[email protected]>
 
Talma e a Puta

 Talma era indefinido sexualmente. Ou melhor: era definido como ativo, mas os passivos variavam constrangedoramente. Com ele não tinha muita conversa. Ele era um cara estranho, que não se expressava de forma muito articulada, mas era capaz de explosões esquisitas e paroxismos de frieza. Idolatrava o Genesis (a banda, não o livro), foi cabeludo um tempo, e um de nós o definiu como a “versão espanhola de John Lennon”.
 Bem, uma noite ele estava ali pelo Brás, quando parou num barzinho de putas ali quase à beira do viaduto da Concórdia. Por que ele parou ali? Talma era assim. Entrou, pediu uma cerveja, e ficou entregue a si mesmo (é difícil a gente imaginar o que é que as pessoas pensam nessas horas).
 Veio uma puta.
 — Oi, bem.
 Talma sorriu (ele era capaz dessas coisas).
 — Oi.
 — Me paga uma cerveja?
 — Bebe aqui da minha — ele disse, e pediu outro copo. Serviu. Ela bebeu.
 — Como é que estão as coisas? — ele perguntou por perguntar.
 — Sei lá. Mal.
 — Mal por quê?
 — Dá pra adivinhar, né?
 Talma ficou quieto. Consultório sentimental não é com ele.
 — Quer transar comigo?
 — Não tenho dinheiro.
 — De graça. Vamos.
 — Por que de graça?
 — Porque você é legal. Vamos?
 Foram.
 Ela não era bonita, mas era jovem, e as carnes ainda estavam mais ou menos no lugar. Era loira falsa, e rebolava bastante ao andar. Subiram ao quarto (o bar era no mesmo edifício do hotel). Ele sentou-se na cama, ela pediu para ele esperar.
 — Vou tomar um banho.
 Mas não chegaram a fazer nada: bateram na porta. Era um cara.
 — Oi, Malu. Me deixa entrar.
 — Vem.
 Ela abriu a porta e o cara entrou. Viu Talma e ficou agitado.
 — Quem é esse cara, Malu? O que é que ele tá fazendo aqui? Quem é ele?
 Talma começou a suar frio.
 — É só um amigo, Van. Fica na moral.
  Cara olhava para Talma e para ela, alternadamente.
 — Amigo, é? Amigo? Aqui no teu quarto?
 — Que que tem, Van? — ela falava enquanto se despia.
 — Vai tirar a roupa no banheiro, Malu!
 Ela foi, rindo dele e mordendo a língua. Talma e Van ficaram se olhando. Van estava transtornado.
 — Quer dizer que você é amigo dela, é?
 — É.
 — Conhece ela de onde?
 Talma não soube o que responder, mas o acaso veio em sua ajuda, porque bateram de novo na porta. Van pulou da poltrona onde estava e escondeu-se atrás da cama, tirando um revólver do bolso do paletó.
 — Abre lá, cara! Abre lá!
 Talma foi, morrendo de medo. Abriu: era outra puta.
 — Ah... Malu taí?
 — Tomando banho — disse Talma.
 Ela olhou para ele de cima abaixo, medindo, avaliando.
 — Quando acabar, diz que a Kátia quer falar com ela.
 — Falou.
 Talma fechou a porta, sentindo as pernas como geléia. Van já estava de volta à sua poltrona.
 — Gostei de ti, cara, tu é corajoso. Vamos tomar uma cerveja lá embaixo. Deixa essa puta aí.
 Talma não se sentia em condições de negar nada ao Van. Foi com ele, enquanto Malu desafinava um pagode no chuveiro. Vieram duas cervejas.
 — A Malu é foda, cara.
 — É?
 — É. Ela é puta.
 — Ah.
 Mataram a garrafa. Talma quis sair, mas Van não deixou.
 — Fica aí, xará. Tá com pressa de ir aonde?
 — Pressa nenhuma não...
 — Então fica.
 Mataram outra.
 — Sabe, cara, eu gosto dela, da Malu.
 — Ah, é?
 — É. Mas ela não gosta de mim. Ela é puta.
 — Sei.
 — Eu posso tirar ela desse lugar, mas ela quer sair? Não, não quer.
 — Você já perguntou?
 Van olhou para ele com olhos embaçados.
 — Não adianta falar essas coisas com ela.
 Enxugaram mais uma.
 — O problema... é que eu acho que não tenho chance.
 — Hum...
 — Ela é puta. Ela ganha uma grana.
 — Oh.
 — Cê acha que eu tenho chance?
 — Por que não?
 — Você é um cara legal.
 Quando a noite terminou, o sol raiava a direito sobre a Rangel Pestana, e Van dormia com a cara no balcão de fórmica. Talma pagou as muitas cervejas, e saiu tonto pelo dia que amanhecia.
 Não viu nem sinal da Malu.
 

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"Bem, nem sei como dizer isso sem ficar sem graça, mas é que eu gostaria de não mais receber este zine, apesar de achá-lo sensacional. Aliás nem sei como ele veio parar aqui, desconfio de uma garota que eu estava 'ficando', por quem comecei a ficar doente de paixão. Como ela sabia que eu adorava contos, deve ter pedido para que vocês mandassem o zine para mim.
 
"O problema é que em todas as edições há algum texto que fala de relacionamento. Como estou saindo do buraco agora, por causa da maldita doença que é se apaixonar, não gostaria de ler mais nada sobre encontros, casais, separação, amor, vida a dois, sexo, etc. Tenho a impressão de que o texto foi escrito para zombar da minha cara e da situação, mas depois percebo que é puro egoísmo da minha parte, pois quando se trata desses assuntos, a vida de todo mundo é igual...
 
"Bem, então é isso, preciso esquecer daquela garota, e não posso mais ler nada sobre relacionamentos, pelo menos por enquanto. Espero que compreendam, e se quiserem podem até publicar isso aqui, para mostrar o quão miserável é o coração de alguém que não é correspondido, por isso se transforma em piada para a pessoa que não corresponde".
Rodrigo Coelho - [email protected]
 
OS EDITORES: Rodrigo, bem sei o quanto é difícil ser pego pela arapuca da paixão sem ser correspondido. Da última vez em que caí numa dessas, passei quase um mês enfurnado todas as noites em meu quarto, envolto pela penumbra e olhando pro teto. Não canso de repetir: amar emburrece. E a maior prova foi o efeito colateral dessa fase: passei a ouvir, me identificar e, pasme, GOSTAR PRA VALER das músicas de Zezé di Camargo. Principalmente aquelas que dizem coisas como "faz mais uma vez comigo", ou uma linda, que declara: "você pode encontrar muitos amores/ mas ninguém vai ter dar o que eu te dei/ podem até te dar algum prazer/ mas posso até jurar, você vai ver/ que ninguém vai ter amar como eu te amei". In my humble opinion, a verdade é essa: quando você esteja embevecido de paixão, não serão metáforas rebuscadas ou melodias intrincadas que traduzirão o que se passa dentro da gente. O cérebro, my friend, TIRA FÉRIAS, e faz com que a gente desça vários degraus na Teoria da Evolução, nos transformando em Neanderthais apaixonados, metendo Chicabons no meio de nossas testas.
 
Mas olha, Rodrigo, tudo isso um dia passa. Vaticinou o padre Vieira: "amor com amor se apaga". Sábias palavras. Assimile os socos, toque a bola pra frente, crie os devidos calos no coração, enjoy the life. E pense duas vezes antes de deixar de assinar o Spam. Tudo bem que ela nos emburrece, mas não cometa um ato tão insano! =^) A.I.
 
"Esta que vos fala, conhecida dos dois digníssimos editores desse prestigiado e interessante fanzine, resolveu acionar, em seu correio, um comando que detecta o famoso e nefasto 'lixo eletrônico'. Pois bem, o tal comando, creio, classificou - mais do que equivocadamente - o Spamzine como 'lixo' (!!??), fazendo com que o último número (dia 22/07) não chegasse ao meu mailbox, o que é lamentável. Peço-lhes desculpas, além de pedir-lhes o reenvio do citado número, prometendo-lhes, desde já, dar uma surra, ops!, fazer algumas modificações no mecanismo preconceituoso. ;-)))"
Nilda Viana
 
OS EDITORES: Querida Nil, se você precisar de uma ajuda pra dar umas porradas nesse mecanismo pra lá incompetente, é só me dar um toque que eu chamo a minha gang, os Kamikazes da Paixão, pra darmos um corretivo aí em Niterói. Grande beijo pra você, outro pra Melisande e um pra Andréa também. ;-) A.I.
 

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1) A coisa mais sexual em que consigo pensar agora é ser estuprado por um hondurenho barbudo e fedendo a tequila que, enquanto lambe a minha orelha, geme, entre suspiros: "Tegucigalpa, ay! Tegucigalpa!". (Orlando, argentino)
 
2) Dia 26 foi aniversário do Telê Santana, o homem que melhor sentido deu ao termo futebol-arte na história do jogo de bola. quando ele dirigia o São Paulo F.C., na época áurea do clube (meados dos 90), me lembro que o que mais me alegrava quando assistia aos jogos não era se o meu time - sou são-paulino - era ou não campeão, se vencia ou não o jogo, mas se jogava bem. a vitória, pro Telê, sempre foi conseqüência. foi por isso que conseguiu o que para muitos é um paradoxo: montar a melhor seleção nacional da história (a de 82, pra quem não sabe) e não ser campeão. a copa, ali, por causa do Telê Santana, deixou por um momento de ser um campeonato de futebol para ser uma mostra internacional de arte futebolística.

os jogadores sempre foram, com ele, peças de um esquema tático. não importava se eram estrelas ou desconhecidos, estavam no time para cumprir uma função igual à dos outros. e era assim. em que time um zagueiro joga tanto futebol e toca tanto a bola quanto um meio-campista? zagueiro é aquele cara que chega bicando, dando carrinho, enfeiando o jogo. no São Paulo do Telê, o Válber driblava dentro da área, fazia tabela. mesmo o Ronaldão, que não tinha habilidade, saía tocando magistralmente a bola de vez em quando.

é por isso que Raí, Palhinha, Válber, Cafu e outros nunca conseguiram render em outros times o que renderam durante aqueles anos mágicos do São Paulo. e é por isso que pra mim o Telê Santana é um nome tão importante para o futebol quanto Pelé.

parabéns, Telê Santana, e obrigado. (Potumati)