[S
p a m Z i n e]
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: 22 de julho de 2001
: são paulo, curitiba, rio de janeiro, praga, jundiaí,
teresina, goiânia, londrina
:::
e d i t o r i a l
::: Alexandre Inagaki <[email protected]>
Deus, dê-me paz, saúde, amor livre e gostosinho; dinheiro para comprar
a discografia completa do Miles Davis e instalar banda larga aqui em casa;
disciplina para acabar de vez a porra da faculdade; luz para incutir
na cabeça do Felipão que Cris e Roque Júnior não é zaga de seleção; senso
de humor para aqueles que ainda não sabem rir de si mesmos; tempo e paciência para
aprender mais sobre meshworks, espanhol, webdesign, física quântica e técnicas
de bateria; alguma pintura a óleo feita pelo Carl Barks reproduzindo uma daquelas
histórias maravilhosas do Tio Patinhas; férias urgentes e imediatas em algum
lugar distante e bucólico, longe de PMs grevistas, telefones
grampeados, malufes, barbalhos, testes de fidelidade e rádios
que tocam aquela maldita música sobre gnomos & duendes; livros
novos do Paul Auster; inspiração para escrever editoriais mais decentes.
* * *
Antes
de mais nada, agradecimentos públicos a Ian Black,
que assumiu a edição da semana passada no lugar do Ricardo
Sabbag, que tirou uma semana de folga e precisa urgentemente de algumas
dicas de HTML. =^)
Vamos,
pois, à edição de hoje. Que começa com o pé direito e um belo texto de Cecilia
Giannetti, a moça que deu um novo sentido aos churros
de chocolate e é combatente incansável do analfabetismo
abstêmio. Temos ainda a estréia de um novo colaborador, José Vicente,
vulgo O Perscrutador de Coisas, responsável por um dos melhores blogs da Web
tupiniquim, o Evasão de Privacidade.
Do velho mundo, nos chega nova colaboração de Marcel Novaes, com um texto
digitado em um cybercafé em Praga. E mais: a qualidade de sempre de Eduardo
Fernandes, um dos meus contos preferidos de Carolina
Linden, um belo poema de Suzi Hong
e a participação especial de Wilson Rodrigues, do blog (Quase)
24 Horas de Marmota, ressuscitando uma das seções preferidas dos nossos
leitores, o Sonho da Semana. Aliás, cabe aqui a convocação a todos: enviem
as descrições de suas trips oníricas para [email protected].
E viva
Bergman!
::: Texto primaveril (ui)
Acho um
milagre que duas pessoas consigam namorar e até, em alguns casos, se casem.
Não é cinismo: eu acredito que duas pessoas possam se gostar e estar juntas,
é claro, vemos isso por aí todo dia. Mas pode haver todo tipo de empecilho
no caminho que percorremos até a troca de telefones, de saliva e etc. Lidamos
com probabilidades demais, com apostas demais, com desdobramentos que sequer
imaginamos.
Primeiro,
você é apresentado a alguém com uma boa conversa, nenhum dente preto (à vista),
um rosto interessante e você não pensa "putaquiparil eu preferia estar
em qualquer outro lugar neste momento" enquanto trocam figurinhas. O
que pode dar errado neste paraíso? Bom, seu alvo pode:
1) estar
pensando "putaquiparil eu preferia estar em qualquer outro lugar neste
momento";
2) já
ter alguém e estar cagando pro fato de você também gostar do Elvis Costello;
3) não
ter ninguém mas te achar:
3.a) intragável;
3.b) intragável
E morbidamente obeso;
3.c) intragável,
gordo demais E cabeçudo (eu poderia continuar...);
Ele (a)
pode ainda:
4) ter
sífilis;
4.a) ficha
na polícia;
4.b) mau
hálito que você não percebeu no primeiro encontro porque os dois estavam alcoolizados
demais então você achou que era só o uísque. (Perceba que posso continuar
ad nauseum em qualquer dos tópicos, principalmente no das doenças venéreas).
Pode ser
que você consiga conversar de novo com essa criatura cheia de possibilidades
fantásticas e só diga merda à ela; pode ser que ela só diga merda a você num
segundo encontro casual; você pode marcar com ela um cinema e o trânsito ou
seu chefe ou um telefonema te prender por alguns minutos a mais e você não
aparecer a tempo de entrar na sessão e deixar alguém sozinho numa sala de
cinema achando que você amarelou; pode ser que tudo ocorra perfeitamente no
departamento das coisas em comum e simpatia mútua, mas tocar essa outra pessoa
resulte em tanto tesão quanto fazer um canal num dente (observação que não
vale para sado-masoquistas).
Sartre
(não me joguem pedras), aquele do absurdo da vida, disse que não existe amor
senão o que se constrói e eu acredito nisso. Não há nada menos existencialista
do que acreditar que duas pessoas são predestinadas. Mas eu experimento mais
que a náusea sartriana ao imaginar que está entregue à obra do absurdo o encontro
de duas pessoas que podem gostar mais uma da outra do que de pizza, rock ou
RPG. Como é que fica? Com a dúvida sobre se o acaso vai dar conta do recado?
Ou há predestinação nesses casos e, no caso de haver, ela vai funcionar para
você? Como é que essas coisas funcionam às vezes, eu não sei, mas eu sei que
funcionam.
Isso tudo
já parece bastante assustador e eu falava só de encontrar alguém interessante
e não levar um toco por um motivo ou outro. Eu ainda não estava falando de
amor.
Acho quase
um Arquivo X que duas pessoas compatíveis possam estar no mesmo lugar, no
mesmo momento e sejam apresentadas uma à outra. Acho mais incrível que nenhum
dos empecilhos listados lá em cima e correlatos não surjam em seu caminho.
Acho que duas pessoas de mãos dadas na rua enfrentaram mais obstáculos do
que podem imaginar para chegarem àquele entrelace de dedos banal.
:::
D i á l o g o s I n e s q u e c í v e i s
- É um
inferno com as mulheres, e pior sem elas. A melhor coisa é matá-las enquanto
se pode.
- Mulheres
são inoportunas e insensíveis.
- Bebês
e fraldas sujas.
- Unhas
e palavras afiadas.
- Tapas,
socos e uma sogra.
- E quando
você quer dormir...
- Outra
melodia.
- Lágrimas
e gemidos que acordariam um morto.
- "Por
que você não me dá um beijo de boa noite?"
- "Por
que você não canta?"
- "Você
não me ama mais como antes". "Você não notou a minha mudança".
"Você apenas virou-se e cantou". Diabos! Agora ela se foi, seja
grato.
(...)
- Talvez
eu a ame.
- Talvez
você a ame. Vou dizer-lhe uma coisa idiota, amor é uma palavra para luxúria,
mais luxúria, trapaça, falsidade e comportamentos idiotas.
- Bem,
mas isso machuca de qualquer maneira.
- O amor
é a mais negra das pestes, mas ninguém morre de amor, e quase sempre passa.
- O meu
não passa.
- É claro
que passa. Raramente um par de idiotas morre de amor. Se tudo é imperfeito
nesse mundo imperfeito então o amor é perfeito nessa perfeita imperfeição.
- Que
animador. Toda essa conversa e você acredita nas suas tolices.
- Quem
disse que eu acredito? Sou um sábio. Peça meu conselho e terá em dobro.
(de
um dos meus filmes de cabeceira, "O Sétimo Selo", do mestre Ingmar
Bergman)
Saio da
igreja às 10:00. Estava assistindo a um concerto de violinos. Igreja de São
Nicolau, Praga, capital da República Tcheca. Não havia programado esse concerto,
estava passando, vi o anúncio, perguntei a que horas, "9:00", olhei
no relógio, 9:05, disse "quanto?", "10 dólares", "tô
nessa". Agora estou só andando, curtindo o ar noturno de Praga. Esta
é uma cidade bonita, quase tanto quanto Paris. A arquitetura obviamente é
diferente e não há o mesmo glamour, mas percebe-se a elegância. Um pouco como
uma senhora que envelheceu sem cuidado mas indica que um dia botou pra quebrar.
No meio do passeio uma moça se aproxima, não reparo muito nela, só noto que
é gorda, usa um batom marrom e tem as unhas do pé pintadas de verde. Pergunta
se falo inglês. Digo que sim. O dela é péssimo. Oferece-me "sex"
e "blowjob". Esta noite não, obrigado. Curioso é que ela é a única.
Em Berlin eu havia visto várias, perambulando de fio dental e meia calça.
Cidade curiosa, Berlin. Se Paris e Praga são senhoras elegantes, Berlin é
um cara cheio de cicatrizes. Estão reformando Berlin oriental há dez anos
e vão precisar de outros dez (antes que perguntem da cerveja, digo que é
boa. A mais interessante foi uma que tinha bolhas como champanhe, era doce
como champanhe e tomava-se de canudo. Mas era cerveja. Incrível).
Mas voltando ao passeio, depois de dispensar a puta vou seguindo por uma rua
grande com um canteiro no meio (inútil tentar decorar os nomes das ruas em
tcheco) em direção a um prédio bonito todo iluminado (é isso que dá não ter
um guia turístico). No meio do caminho encontro nada menos que uma cruz cravada
no chão. "Em memória das vítimas do comunismo". Catzo! A primeira
sensação de estranhamento que tenho é: "como pode algo chamado 'comunismo'
ter vítimas?". Mas isso logo desaparece frente à dúvida de onde colocaríamos
uma cruz em memória às vítimas do capitalismo.
Deu vontade de voltar pra casa. Passo em frente a um "M" dourado,
mas não tenho vontade de ingerir um McMerda agora. Sigo reto. Mais à
frente outra surpresa: uma vitrine escrito "Asalea Brasil". Que
coisa. Isso me lembra de hoje de manhã. Estava tomando café no balcão de um
bar, apontei uma garrafa para a garçonete e disse que aquilo vinha do meu
país. Ela perguntou se eu queria. Caninha 51 às 10:30 da manhã? Tô fora.
:::
S o n h o d a S e m a n a
:::
Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho
da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
Tive um
pesadelo dos piores. Acho que foi uma revelação. Era mais ou menos assim:
eu não tinha sido um bom menino e tive que ir ao andar de baixo. Então, chegando
lá, a cena era dantesca, conforme descrição abaixo:
Tudo escuro. Mais ou menos 5.000 pessoas aglomeradas num empurra-empurra
sem parar. Na frente, um palquinho. De repente, um laser começa a percorrer
o palco. A luz se acende. Lê-se: "Na Band é bom demais!". Em off,
a locução: bem amigos da Band. Mais uma vez estamos juntos para curtir em
todas as suas emoções um show da Band FM. Olho para um dos cantos do recinto.
Uma grande faixa com os dizeres: "Galvão, filma nóis".
Não demora muito, um ruído estridente invade o recinto. Um microfone é
colocado ao centro do palco. Um show de luzes. Galvão Bueno anuncia: "com
vocês, Wanessa Camargo!" O público vai à loucura. Vanessa sobe e canta
5 playbacks.
Galvão interrompe a canção por um momento. Desta vez traz ao palco KLB.
Vanessa continua. Todos juntos cantam "Amigo é coisa pra se guardar,
do lado esquerdo do peito..."
Netinho prepara-se para subir ao palco.
::: Aquela velha história
::: Aline de Mello <[email protected]>
Olhando as coisas como estão, sinto falta de como elas eram. Parece que já
disse isso antes, não é mesmo? Sim, isso é meu jornal de notícias batidas.
Porém faz pouco tempo que percebi que sinto sua falta, e isso é algo novo.
Muitas vezes eu penso no rumo que as coisas tomaram, ou melhor, no rumo que
eu dei para isso tudo, e que você, pacificamente, aceitou. Não sei se me arrependo
de ter feito o que fiz, só sei que depois nos perdemos de vez. Por outro lado,
minha última memória mostra você, em Santa Maria, de quieto na sua toca e
assustado por me ver a, em alguns minutos, ser meu velho melhor amigo, como
antes de tudo.
Ah, se eu fosse você, acho que ia me odiar, hoje, ou me perguntar como pude
gostar de mim, de alguém como eu. Pois é, eu não faço sentido, mesmo, e a
sua aventura foi tentar me entender.
Talvez eu tenha desistido porque, como em outras vezes, me via num relacionamento
em que apenas uma das partes estava de fato envolvida, e, como em outras vezes,
não era eu. Talvez eu tenha desistido porque ainda tenha, comigo mesma, um
preconceito inexplicável, do gênero "ainda é cedo demais". Pra variar,
muitas coisas não foram ditas, e certamente agora não é hora de dizê-las,
não faz mais diferença. Analisando os 'talvezes' de antes, e tentando
ME analisar um pouco, acho que sou uma covarde, e por isso fiz o que fiz.
Uso sempre a desculpa de outras preocupações no momento, mas é só fachada,
na real sou uma medrosa, e provavelmente o teu comportamento e tudo que você
sempre dizia me deram mais medo ainda. Ah, menino, aquela velha história:
eu continuo uma criança que acha que sabe e pode, mas não tem muito controle
sobre si mesma, sobre seu poder, sobre seu limite, sobre seus atos.
Sempre tenho vontade de perguntar por ti pra Cris. Às vezes ela conta uma
história engraçada e você está no meio, e nessas horas eu sempre lembro sorrindo
da última vez que te vi, às gargalhadas numa pequena sacada, amanhecendo outra
vez.
Sou meio enlouquecida de escrever isso agora, sem saber como você está, o
que está acontecendo na sua vida. Mas já era. Eu gosto muito de você, e não
imagino minha vida sem seu telefonema 5 minutos após a virada de ano, ou seu
olhar impressionado enquanto eu conto uma piada e datilografo velozmente um
trabalho ao mesmo tempo.
Apesar de provavelmente estar pedindo muito, eu gostaria de pelo menos nossa
confiança e amizade um no outro poder restabelecer. Porque, com certeza, tenho
sentido muito a tua falta, depois das mudanças tantas que passei nesses últimos
tempos. Além do mais, preciso de alguém pra rir das minhas coreografias, e
só pode ser você pra poder rir de mim sem me deixar sentir mal. Porque, adivinha
só quem ainda é meu melhor amigo.
:::
R á p i d a s R a s t e i r a s
"Eu
botei silicone porque estava chegando à fase em que o peito cai na sopa".
(HELÔ PINHEIRO, constatando com rara elegância as descobertas do físico
Isaac Newton a respeito da inexorabilidade da natureza)
"Hoje,
os técnicos armam esquemas que fortalecem a marcação. Se jogasse na época
do Pelé com certeza teria grandes possibilidades de chegar aos 1000 gols".
(JARDEL, centroavante reserva da Seleção, em declaração embebedida de humildade
à revista Placar)
::: Moderninhos e
espontâneos
Imagine
que uma agência de publicidade fizesse uma pesquisa de mercado, tentando saber
como as pessoas o vêem. Quais adjetivos você acha que seriam associados a
você? Que tipo de imagem você passa? Se fosse chamado para fazer um comercial,
que tipo de produto seria "a sua cara"?
Se
você leu a Folha
de S. Paulo de sexta-feira, notou a enorme foto de João Gordo deitado
num divã. A reportagem relatava a dificuldade que o apresentador da MTV vem
encontrando em se adaptar à sua vida de celebridade.
É
que, como você sabe, ele era (ou é) punk. E esta ideologia, pelo menos em
tese, condena a maneira como Gordo vive atualmente (fatura cerca de R$ 10.000
por mês, mora num bairro nobre de SP etc.).
Gordo
se submeteu a tal pesquisa de mercado. E os adjetivos que apareceram foram:
bonachão, legal e fofinho. E ele foi chamado para fazer um comercial de sorvetes.
A
entrevista questiona (como sempre): Gordo seria um traidor do movimento punk?
Teria se vendido? Se você já passou dos 20 anos e tem de pagar suas contas
sem ajuda dos pais, certamente sabe que estas são questões são um tanto complicadas.
Mas,
por hora, o que interessa analisar em João Gordo não é o fracasso da sua ideologia.
E sim o sucesso da sua vida profissional. Ele conseguiu ser um sujeito tatuado,
cheio de piercings que ganha bem e é respeitado e admirado.
E
isso não é novidade hoje. Há centenas de pessoas com as mesmas características
e também bem-sucedidas profissionalmente. E trabalham em agências de publicidade,
na mídia etc. São viáveis, estão integrados. Influenciam outras pessoas, ditam
moda. Ah, e têm atitude.
Mas
que atitude?
Por
exemplo, qual é, basicamente, o "produto" que João Gordo vende?
Bem, ele xinga pessoas. Ele faz piadas às vezes ofensivas. Ele é considerado
um "escroto" engraçadinho e simpático. Ele parece escatológico.
E diz o que lhe vem à cabeça. Aquilo que alguns gostariam de chamar de espontaneidade.
Agora
leia a entrevista. O que ele quer? Casar, ter filhos, ser amado pelos seus
pais etc. O que seria então a tal espontaneidade? Um produto, como qualquer
outro, um emprego? Um trabalho alienado, que nos separa das mesmas necessidades,
desejos, medos e objetivos dos nossos pais? E que, ao mesmo tempo os esconde
e os reflete? Isso não soa a Belchior?
Assim,
ser desbocado e, no limite, grosseiro é engraçadinho. Mas não desafia, não
provoca. É uma mera curiosidade, é ser pitoresco. E quantas pessoas você encontra
em festas e ou no seu trabalho que fazem o tipo o moderninho escroto, "espontâneo",
que acha que você tem obrigação de agüentar seus surtos, seus dias de mau-humor,
suas piadas ofensivas? O moderninho arrogante, critério do mundo, que julga
os vivos e os mortos.
Isso
é o que entendemos por espontaneidade hoje? Espontaneidade: mais uma das palavras
vazias que inventamos para nos torturar e, ao mesmo tempo, para nos dar um
objetivo, um sentido que insiste em não existir. Espontaneidade que vamos
buscar nos consultórios psicológicos, pois temos dificuldade de encontrá-la
sozinhos. Espontaneidade induzida.
Imagine
se as pesquisas de mercado, como aquela a que João Gordo foi submetido, se
tornassem obrigatórias. Muitos adorariam ser cotados como inteligentes, descolados,
cheios de atitude e de opiniões fortes. Mas e se você fosse visto como: fofinho,
bonachão, legal?
Ou
resmungão, inconveniente, egoísta? Ou como um simples, claro e ornamental
chato?
E
que, no fundo, só esconde a vontade de voltar para o colo da mãe, de ser protegido
e amado incondicionalmente?
É
mais ou menos a conclusão de João Gordo: "Essa história de punk, de radicalidade
deve ser um grande esconderijo para mim. Um enorme escudo." E é claro
que o divã também já está influenciando o ex ou atual punk.
Por
isso, voltamos à pergunta inicial: e se você estivesse no lugar de João Gordo?
Quais seriam os adjetivos que seriam associados a você? Que produto você seria
chamado a vender?
::: L i s t a s A b o b r o l
::
5 times de futebol que nunca saíram da minha cabeça
:: Ricardo Nishizaki <[email protected]>
1) Valdir
Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Falcão, Toninho Cerezo, Zico e Sócrates;
Serginho e Éder.
2) Solito,
Alfinete, Mauro, Daniel González e Vladimir; Paulinho, Sócrates e Zenon; Ataliba,
Casagrande e Biro-Biro
3) Zé
Carlos, Jorginho, Leandro, Aldair e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato
Gaúcho, Bebeto e Zinho
4) Fillol,
Leandro, Mozer, Marinho e Júnior; Andrade, Aílton e Zico; Tita, Nunes e Lico
5) Gilmar,
Zé Teodoro, Vágner, Darío Pereira e Nelsinho; Bernardo, Silas e Pita; Muller,
Careca e Sidnei.
P.S.:
Sou corinthiano, então é natural que o Timão de 82 esteja na lista. Mas
nunca fui flamenguista e não me perguntem por que tem 2 times do Flamengo
na lista. Sei lá, tá na minha cabeça. O mesmo para o do SPFC, que me fez sofrer.
Tá aqui...
:::
Encontro Cibernético
Toda
noite era assim. Muita gente nem acessava mais o canal poesia daquele servidor,
de tão chata que tinha se tornado a infindável briga entre Bianca e Nelson.
-Mas
será possível? Aqui só se fala em Vinícius de Moraes? Achei que esse canal
era chamado poesia!!!
-Calma,
Bianca...
-Calma
nada, Nelson! Vinícius, Vinícius, Vinícius! Até parece que a única coisa que
presta escrita em português é desse cara! Muda o nome daqui logo para #Vinícius_de_Moraes!
-O.k.,
sugira outro poeta, nervosinha... Não precisa latir tanto! : )
-Augusto
dos Anjos, que tal?
-Bleargh!!!!!!!!!
: ( Voltemos para Vinícius, Paulo...
Assim
era a maioria - para não dizer a totalidade - dos papos deles. Bianca e Nelson,
como tanta gente atualmente, se conheceram no IRC, #poesia. Só rolava briga.
Ele adorava Vinícius e ela detestava. Preferia Augusto dos Anjos, que ele
abominava. As discussões só acabavam quando um deles se retirava e ia dormir.
-Gosto
não se discute, Bi. Lamenta-se. Augusto dos Anjos! Por favor!
-Só
não continuo com isso por hoje porque tenho uma reunião amanhã de manhã cedinho
e já passa das três da madrugada. Amanhã continuamos. Boa noite, Nelson.
Isso
rolava toda santa madrugada, sem exceção. Por mais que ela reclamasse, não
conseguia passar da meia-noite sem ligar o computador e acessar o IRC. E,
conseqüentemente, discutir com Nelson.
-Tudo
bem... Pelo menos Manuel Bandeira?
"Aquele
pequenino anel que tu me deste,/ - Ai de mim - era vidro e logo..."
-
"Se a alguém causa inda pena a tua chaga,/ Apedreja essa mão vil..."
-NÃO!
Augusto dos Anjos!!!
-Bandeira
também é dose!
-Se
você não gosta de coisa alguma, abre um canal particular só para Augusto.
Quero ver quem é que vai querer acessar! Você sabe o que rola aqui, se não
gosta, não enche o saco de quem está curtindo!
-Calma
Pattie. Não precisa falar assim com a Bi.
-Precisa
sim! Essa mala invade o canal toda santa noite e vem cortar o barato de quem
está afim de curtir numa boa. Ninguém agüenta mais, só que não tem coragem
de falar. Pois eu falo!
-Então
fala, Patrícia.
-Ninguém
tem mais saco para essas gracinhas por aqui, Bianca. Não sei se você tem reparado,
mas de noite o canal sempre fica vazio. Isso não é à toa.
-Você
está exagerando, Pattie.
-Não
estou, não, Nelson. A verdade é que ninguém tem mais saco para agüentar a
Bianca.
"Disconnect".
Bianca
sumiu do servidor. Por ali, a maioria se conhecia, saía junto nos finais de
semana. Bianca não, nunca dera sequer seu e-mail para a galera. Por isso,
quando sumiu, sumiu de verdade e não puderam achá-la. Nem Nelson pôde fazer
coisa alguma. A paz voltou a reinar no canal, as conversas sobre poesia rolavam
numa boa, mas faltava algo.
Bianca.
Já
tinha passado mais de dois meses da briga com Patrícia. Uma noite, Bianca
estava instalando o kit do provedor no computador de uma amiga. Para testar
o mIRC, entrou no #poesia. E tudo estava igualzinho. Bateu uma saudade...
Mas não disse que era ela, entrou com outro nome e depois de alguns minutos,
desligou.
Foi
correndo para casa acessar o canal. Quando ela entrou, Nelson discutia Modernismo
com uma outra pessoa, um amigo seu da faculdade. Ela se identificou, imaginando
que seria aquela festa.
-*BIANCA
AVISA QUE DEPOIS DE LONGO RETIRO ESPIRITUAL, REGRESSOU AO CANAL E DÊ BOA NOITE
AOS SAUDOSOS AMIGOS.
Nem
uma resposta. Silêncio. Não se conteve e começou a provocar, como já era de
se esperar.
-
"Eu, filho do carbono e do amoníaco..."
-
"Que pode uma criatura senão,/ entre criaturas, amar?/ amar e esquecer,/
amar e malamar,/ amar, desamar, amar?/ sempre, e até de olhos vidrados, amar?"
-Que
lindo, Nelson! De quem é?
-
"Claro enigma", Carlos Drummond de Andrade.
-Parabéns.
Achei que você só conhecia Vinícius...
-Gracinha
de menina!
O
que importa mesmo é que depois dessa noite nunca mais se brigou por ali. Bianca
e Nelson voltaram a se falar toda santa madrugada, agora mais amigavelmente.
Trocaram seus e-mails e começaram a se corresponder todo dia, quase sempre
compartilhando poesias de que gostavam: Murilo Mendes, Shakespeare, Camões,
Cláudio Manuel da Costa... Finalmente, Vinícius e Augusto. O #poesia voltou
a ser o canal mais concorrido do servidor.
-Você
recebeu as "Cinco elegias" do Vinícius, que mandei ontem de e-mail?
O que achou?
-Recebi
e já li. Achei legal, embora dele ainda prefira os sonetos e as músicas. Amanhã
mando as poesias do Augusto que ainda faltam.
Quando
o Mac dela completou a "Antologia Poética", e o PC dele, "Eu
e outras poesias", os amigos do canal decidiram marcar um IRContro para
que os dois se conhecessem. O único empecilho era a distância que os separava:
Nelson morava em Petrópolis e Bianca em Niterói. O que fazer?
Uma
coincidência faria com que o encontro se tornasse tão oportuno que a vã filosofia
de qualquer um deles jamais seria capaz de sonhar...
-Nelson,
tá chegando o feriado da Semana Santa. Vai viajar?
-Pois
é, nem te conto. Meu melhor amigo comprou uma casa em um lugar chamado Jaconé
e me convidou para ir lá conhecer. Tá me parecendo a maior roubada mas não
tenho como escapar, ele pediu para eu dar um help numas obras que estão rolando
por lá.
-Que
é isso! A minha tia tem casa em Jaconé, todo feriadão a família se reúne e
viaja prá lá! É muito legal! Você vai se divertir para caramba!
-Onde
fica a casa da sua tia?
-As
ruas lá não tem nome, só número.
-
"Where the streets have no name" foi composta em homenagem à Jaconé?
-Mais
ou menos : ) . A casa da tia Helena fica na rua 92. E a do seu amigo?
-Não
sei, acho que é perto de um tal Bar do Arnaldo...
-Ronaldo!
É o melhor amigo da tia Helena e padrinho do meu primo, o Manuel.
-Demorou!
Vamos marcar alguma coisa.
-A
gente vai se conhecer!!! : )
-*BIANCA
AVISA QUE VAI CONHECER NELSON NO FERIADO EM JACONÉ!
Festa
geral entre o pessoal. Finalmente os dois iriam se conhecer. Jaconé, Região
dos Lagos, Estado do Rio de Janeiro. A coincidência fora muito mais do que
oportuna. Na véspera da viagem, acertaram todos os detalhes.
-Se
eu não te conheço, Bi, como saberei quem é você?
-Fácil.
Eu tenho cabelo castanho curto, cacheadinho, olhos pretos, sou alta, um pouco
morena e vou estar de bermuda de veludo, camiseta preta e mocassim. Não uso
brinco e estou sempre de maquiagem. Anotou?
-Eu
sou baixinho, ruivo, olhos azuis, branquelo-vestibulando, tenho cavanhaque,
meu cabelo é na altura do ombro e liso. Vou estar com um short de tactel,
uma camiseta regata estampada e um tênis de cano alto.
-Beleza!
A gente se encontra amanhã às cinco da tarde no Bar do Ronaldo. Até amanhã!
A
excitação não os deixou dormir nem ligar outra vez os computadores. Tiveram
medo do que iam encontrar pela frente. Bianca imaginava um pequeno monstrinho
e Nelson, um canhão. Rolaram no colchão praticamente a noite inteira. Bianca
refazia a mala que já estava pronta enquanto Nelson comia um sanduíche com
leite quente.
Viajaram
em um estado completamente angustiante, ela de carro com a família e ele de
ônibus com os amigos. Os engarrafamentos de sempre da Niterói-Manilha pareciam
uma tortura infindável. O calor na rodoviária parecia mais sufocante. A sede
na Ponte parecia maior. A fome tinha ido embora, junto com o sossego. Agora
era só esperar. A hora se aproximava lentamente, o ponteiros dos segundos
dos relógios deslizavam sem pressa naquele pacato distrito. Esperar...
Cinco
em ponto. Apenas uma pessoa estava sentada no Bar. Um garoto, moreno, de seus
1,85m de altura, cabelo preto curtinho e olhos castanhos, usando um óculos
Armani, uma camiseta branca, uma calça jeans e um mocassim. Do lado de fora,
uma menina loirinha, baixinha, cabelo liso no meio das costas, olhos verdes,
branquinha daquelas que nem sabe onde fica a praia mais próxima, de short
jeans, casaco de moletom cinza e tênis preto.
Estavam
ambos com aquela cara de quem procura alguém na multidão quando os olhares
se cruzaram. Permaneceram se encarando durante um segundo, que demorou mais
para passar do que a noite em claro e o engarrafamento na estrada. Uma expressão
de espanto.
-Bianca?
-Nelson?
De
seus rostos abriram dois sorrisos, iluminando tudo em volta. Em nada correspondiam
às respectivas descrições, muito antes pelo contrário.
-
...
-Achei
que você usava maquiagem... - disse isso beliscando o nariz daquela menina
de carinha lavada - e não tivesse brinco... - descobriu duas argolas debaixo
dos cabelos dela.
-Ah!
Você disse que tinha cavanhaque!
::: N a v e g a r I m p r e c i
s o
Ilariê
do Capeta
Xuxa fez
um pacto com o capeta!!! Exemplo bombástico: a música "Coloquei um X
no Seu Coração" quer dizer na verdade "Coloquei um 666 no Seu Coração".
Vejam a lógica: a palavra X (xis) escrita ao contrário quer dizer "six"
(seis em inglês). Como o refrão é repetido três vezes, já viram. A página
ainda transcreve entrevista com um ex-paquito que revela: fez sexo com
animais aos 4 anos de idade, e depois partiu para coisas mais pesadas, como
vudu, magia negra, LBV e OVNIs. Agora eu entendo certas coisas, como o fato
do You Can Dance ter posado para uma revista gay, ou a edição do Jornal Nacional
(outra coisa do demo) que foi dedicada ao nascimento da Sasha. Oliver Stone,
taí o roteiro do seu próximo filme!
Animações
extremamente maionésicas, envolvendo estreptococos no vinagre, pescaria de
cágados, estrelas que choram, tartaruga Joana e a Sagrada Ameixa do Azerbaijão.
Confiram com seus próprios globos oculares!
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Now is the Winter of Our Discontent
22 de junho de 1997. Encontro-me sentado sobre o terraço do hotel Monte Carlo,
apaixonado pela minha namorada.
Copos rolam pela mesa de plástico. Ao longe, os pontos luminosos da cidade
formam uma serpente em cintilações róseas.
Ao lado, um casal brinda com vinho tinto. As pérolas que adornecem o pescoço
da mulher são coadas pela bebida. O reflexo torna-as cor de vinagre.
Fico observando a ponta do cigarro. Aumenta-lhe a intensidade a aspiração,
depois derrota-o o langor do vento. Minha namorada arrebenta a rolha com um
estampido. A bebida cai no cristal. Seus olhos são de um azul muito limpo.
Procuro olhá-los através do vinho.
As cores então se fundem num púrpura esmaecido. Está frio.
"Meu Deus", diz ela, "nós poderíamos ter sido tão felizes".
nosso tempo veio
rápido assimétrico pontiagudo desfocado
percorreu a mim e a ti
revolto e ríspido
acusado e condenado
por nossas disritmias e dissonâncias
porque foi melhor assim.
quando faz frio
é que mais me doem
o tempo que lhe doei
os risos que esqueci
a fala muda e
as palavras que silenciaram
o tempo o medo o só o dia o peito.
nosso tempo parou
quando encontrei em suas costas
um lugar para bater
em seus ouvidos a total incompreensão
em sua boca milhares de armas
inocentes despropositais e há tempos perdoadas.
quando remonto nosso guarda-roupa
arrumo suas meias camisas e casacos
dou-me conta que tudo é
naftalina sachets old fashioned
nosso tempo morre junto
a cada traça que esmago com meus dedos.
percorro um vasto vale de gestos dóceis
de trilhas íngremes escuras e estreitas
escondidas sob a luz indiferente ao meu cansaço
fadiga e fome de encontrar você no cume da montanha
andar e contar os passos-tempo
saber que o tempo morre para gerar outro
o outro que irá me levar a ti
se ao menos eu pudesse lembrar-me
como um consolo um afago um motivo
de teu rosto riso e alma
não mais acordaria no meio da noite
para arrumar suas roupas e
morrer
aos poucos defronte ao armário.
::: F a l a q u e E
u t e E s c u t o
::: Espaço reservado para desabafos, declarações de amor, bordoadas e
confissões de nossos leitores. Consultas online para o nosso divã: [email protected].
"Olá,
Ian!
Essa não dava pra passar em branco... Identifiquei-me imediatamente com essa
sua 'história insone', pois eu mesma já estou até treinando com palitinhos
de fósforo um modelito fashion pras minhas pálpebras... Fico imaginando como
é que uma pessoa normal (e morta de sono que nem eu) consegue produzir de
madrugada, mas o diabo é que eu consigo, e antes de 'broxar' irremediavelmente
sobre o micro, já tenho dado minha colaboração diária pra garantir o 'faz-me-rir'
do fim do mês... Um zzzzzzz beijo zzzzzzzzzzz pra você!"
Rosa Magalhães
OS
EDITORES: Rosa, o Ian te contou que, enquanto editava o Spam Zine da semana
passada, dormiu em frente ao computador, e acordou com um esporro da mãe porque
estava atrasado pra ir trabalhar? Aliás, quem tiver alguma história interessante
de soneca em lugares inusitados (escritório, teleférico, geladeira, fila de
espera do motel, etc.), mande-a, please, para [email protected].
Vamos fazer uma edição Insônia em homenagem ao intrépido cumpadi Ian. =) Um
abraço bocejante, A.I.
"eu
tava lendo os créditos finais da última edição... é impressão minha ou só
tesão encalacrado? vamos fazer uma edição sex shop erótico pornográfica? ok
ok
foi só uma idéia..."
Nicole Lima
OS
EDITORES: ni, pois não é que sua sugestão já andou atiçando nosso staff? Vamos
ver quando é que rola essa edição. Orlando Tosetto já deu (ops) algumas sugestões
ótimas de pauta:
-
Top 5 Broxadas (essa não serve pro Ziraldo);
-
A Antropologia de um Pica-Doce (tô fora);
-
Sala Especial & Eu (Orlando, vou ver se faço uma ode a Helena Ramos, Zélia
Martins, Zaira Bueno, Aldine Müller e outras musas da extinta sessão de filmes
da Record responsável pelos primeiros pêlos na mão de toda uma geração de
punheteiros). Beijim nostálgico, A.I.
::: C r é d i t o s F i n a i s
Cogumelos:
Spam Zine
é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para
assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net
(a casa é modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, pedidos de edições
anteriores, cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais
e/ou mensagens de amor? Escreva: [email protected].
::: P. S.
1) Poesia
concreta sucks; é arte conceitual com um monte de letrinhas. (Hong)
2) Em
resposta ao P.S. da Hong na edição anterior ("amor de pica dura?"), a
interpretação científico-sexológica:
- Dura...
Amor, que pica! (AL-Chaer, voyeur nas vagas das horas & entomologista
nas horas vagas, estudando a cópula de um casal de muriçocas...)
3) gentêm,
essa é pra todos que gostam de Espíritos
Zombeteiros e moram
em São Paulo ou têm amigos lá ou em qualquer outra cidade que sintonize a
brasil2000 fm. eu deixei nosso cd com eles e na 89 também. mas na br2000 eles
foram mais gente fina, além da recepcionista ser muito mais gata. então liguem
lá uma hora dessas (0xx11-3873-2662), ou acessem o site,
ou qualquer coisa, e peçam pra tocar. seria really super, thanks for asking.
(Potumati)