[S
p a m Z i n e]
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: 16 de julho de 2001
: são paulo, curitiba, recife, florianópolis, porto alegre,
lisboa
: edição
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
mais de
34 horas sem dormir e com previsão de apenas 3 horas de sono antes de ir trabalhar.
É o saldo final da maratona que envolveu conversas em mesas de bar e mc donalds,
peças de teatro, e principalmente, a edição do SpamZine, cuja tarefa está
sendo realizada pela primeira vez por mim. e este um editorial complicado,
pois por motivos de força maior, houve adição de novos comentários na segunda
feira.
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
é difícil
montar toda a estrutura do spamzine, colando os textos, creditando, respondendo
as mensagens dos leitores com as palpebras pesando alguns quilos. E ainda
a missão de escrever o editorial...
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
e agora estou
completando para avisar que já são quase 20 horas da segunda feira e o inagaki
acabou de me ligar para dizer que a versão que eu mandei pela manhã estava
pela metade. nem editorial existia.... desespero!!! vasculhei toda a minha
lixeira e os cantos mais insólitos do meu disco rígido para encontrar a versão
definitiva. e encontrei... (risinho e respiração aliviada)
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
ontem
foi a última apresentação da peça "a vida é cheia de som e fúria",
e eu, ao lado da viviane, e só tenho a agradecê-la pela companhia compreensiva
com meu sono e pelas bolachas de chocolate que ela carregava na bolsa, que
espantavam meu sono vez ou outra, fazendo com que eu não perdesse a peça por
definitivo. (ainda bem que havia assistido à mesma peça há algumas semanas
atrás)
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
A minha falta
de tempo fez com que eu não criasse coragem de ir até uma loja e comprar o
"Reveal" do R.E.M. mesmo sendo daqueles fãs chatos. Como também
não ouço as nossas maravilhosas rádios-rock e nem MTV, passei por um momento
vergonhoso para um fã, quando no Mc Donalds, eu pergunto ao Inagaki, a Renata
e ao Erick qual a música bacana que estava tocando ao fundo. Eles dizem Coldplay...
E eu: "porra, até confesso que gostei desta música do Coldplay"...
E eles fogem, não acreditando que eu ainda não conhecia "Imitation Of
Life"
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
tem muita
gente bacana. alguns eu tive a oportunidade de conhecer apenas nesta edição.
espero que gostem deste trabalho movido bocejos e encham a caixa postal do
inagaki e do sabbag com pedidos de mais uma chance para que no futuro eu edite
um spamzine com menos zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
beijos. Ian.
Eu tinha ido ao médico resolver um problema: pequenas manchas avermelhadas
na pele, que coçavam como o diabo. Eu achava que era sarna, mas tinha uma
remota esperança de que fosse lepra; no mínimo, uma erisipela daquelas. O
doutor riu de mim.
- Não é nada tão bombástico. É só uma rubéola.
- E isso mata?
- Ora, é claro que não. Só dá uma febre.
Indignei-me comigo mesmo. Com tanta doença boa no mundo, das que matam ou
deixam seqüelas, eu pegava logo uma meia-boca. Quem nasceu para lagartixa...
- Mesmo assim vou te dar uma semana.
- Por quê?
- Porque você pode contaminar uma mulher grávida. Para você e para ela
a rubéola é inofensiva, mas para a criança...
Peguei
o atestado e fui pra rua, perambular. Uma semana em casa? Naquela casa? Olhando
longamente para as paredes, examinando cuidadoso a sujeira entre os azulejos?
Matando palavras cruzadas? Fazendo caretas diante do espelho? Fui trabalhar.
Peguei
o velho ônibus elétrico Belém-Pinheiros. A Praça da República estava numa
confusão: parece que uma luta de supers tinha destruído o lago, e assado uns
bichos-grilos. Havia bombeiros e sirenes, como se isto fosse uma Jerusalém.
Cheguei
à portinha de ferro, e fui subindo os degraus. Na porta, surpresa: Lili Marlene.
Linda e grávida, me olhando firme, com ar de quem me ama. Ela estava esperançosa
comigo, Deus sabe por quê; andava atrás de um pai, acho.
- Oi, Casimiro.
Tomei-a
em meus braços, e dei-lhe um longo beijo na boca.
-
Sempre te amei, bêibe.
Ela ficou me olhando com olhos de cachorro.
Tirei
o paletó fedendo a suor, e pendurei no encosto da cadeira. Não vi ninguém,
mas a garrafa de café estava lá. Bebi um, dois, três copinhos. Depois mais
três. Bebi até acabar a garrafa.
Fiquei
pensando. Por que é que eu beijei Lili Marlene? Ela estava grávida; o médico
tinha me avisado; eu não sou nenhum monstro. Então por quê? Eu não achava
uma explicação, mas também não me empenhava muito; estava mais curioso que
contrito.
O dia
passou lentamente, lentamente. Não fiz nada. Às duas, desci e comi três coxinhas.
Às cinco, mais três. Tudo de três em três. Trêsteza de vida. Cheguei
ao meu apartamento e liguei a televisão, enquanto me despia.
Sempre
fico só de cuecas em casa, às vezes de cuecas e meias. Entrevistavam um dos
supers.
"Superporco,
quanto às..."
"Capitão Suíno."
"Como?"
"Meu nome é Capitão Suíno."
"Certo, Capitão. O que é que você acha da recente decisão das seguradoras
de suspender prêmios para as vítimas das brigas dos supers?"
"Acho um absurdo. Os supers dão sua contribuição para a paz social
com o risco de suas vidas. Tudo o que esses burocratas têm de fazer é meter
a mão no bolso e pagar umas fachadas danificadas."
"O incidente de ontem no Citybank destruiu a fachada e o prédio
inteiro, superporco."
"Capitão Suíno. Mas afinal, o Citybank, sendo o mega banco que
é..."
"Morreram duas mil pessoas, superporco."
"Capitão Suíno! E quantos milhares mais teriam morrido se o Borrachomem
ainda estivesse à solta, hein?"
"Ele só queria descontar um cheque, super... er, suíno."
"Com essa gente, nunca se sabe."
"E quanto às declarações do candidato Lula, dizendo que as lutas
dos supers não passam de arruaças de hipertrofiados?"
"Ele disse ‘hipetrofiados’? Ele?! Ele, que anda de aliscópitro?"
"Morganta Argêntea, direto de São Paulo, com o superporco."
"CAPITÃO SUÍNO!"
Esses supers. Eu ia desligar a tevê, quando tocou a campainha. Fui atender
de cuecas mesmo; não sou nada hospitaleiro. Era Lili Marlene.
-
Oi.
- Entra.
Fui tirando
a roupa dela no caminho do sofá. Os seios vazavam colostro, e a bunda estava
cheia de perebas. O umbigo tinha praticamente desaparecido. Sentei no sofá;
ela veio por cima, a barriga batendo no meu peito. Não usei camisinha.
Depois,
ela quis me beijar. Aceitei de má vontade.
-
Vai embora, Lili Marlene.
- Deixa eu te fazer um café?
- Não. Some.
Ela me olhou fixamente, por trinta segundos; foi fácil suportar.
- Você me ama?
- Acho que sim. Amanhã te ligo confirmando. Vai.
Ela vestiu-se.
Enfiou papel higiênico dobrado dentro da calcinha, porque não a deixei tomar
banho. Levei-a até a porta, para ter certeza de que ela ia embora mesmo. Remorso,
cadê você? Quando voltei, ele estava no sofá. Ele era um sujeito estranho,
vestido com uma túnica grega, e com um capacete na forma de um cérebro.
- Você sabe quem eu sou? - perguntou.
- Uh... superporco?
- Você deve estar se referindo ao Capitão Suíno. Não, não sou ele. Meu
nome é Major Mental.
- Ah.
Ele ficou quieto um minuto. Me irritei.
-
O que você quer?
Ele riu. Um riso canastrão.
-
Eu leio mentes, meu jovem. Eu sei tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo o que você fez. Arruinar a vida daquela moça e daquela criança.
Fiquei indignado. Nem meu anjo da guarda dava tanta importância ao caso quanto
aquele sujeito.
- A lei não te pega, menino, mas eu sim.
Lembrei que na gaveta da cômoda eu tinha um revólver.
-
Não adianta você pegar aquele revólver, menino - ele grunhiu. - Meus poderes
mentais me defenderão.
Bem, que custava tentar? Fui andando na direção da cômoda.
- Um simples comando telepático meu paralisaria sua coordenação motora.
Abri a gaveta.
- Uma rajada telecinética explodiria seu cérebro.
Tirei o revólver.
- Uma mind blaster bem colocada arruinaria seu intelecto.
Atirei. Bem no meio da testa. Sangue e miolos voaram para todos os lados.
Sentei-me no tapete, olhando o corpo que vagarosamente desabava, enquanto
o sangue ensopava tudo, e os pedaços de miolo tremiam. Recapitulei:
. um super
herói morto;
. uma louca no meu pé;
. um bebê arruinado.
. Rubéola: primeiro dia.
:::
Contra A Prova Da Prova
::: José Roberto Pereira <[email protected]>
Fiquei seis meses no hospital, me recuperando da surra.
A enfermeira da noite se chamava Magda e ela adorava me aplicar injeções.
Mesmo quando não precisava, ela tacava umas duas benzetacil em mim. Quando
ela fazia isso, eu inevitavelmente ficava sem dormir por causa do inchaço.
E ficava passeando pelos leitos vazios. Eu desconfiava que alguma coisa esquisita
estava acontecendo, porque não é comum um hospital ter tantos leitos vazios
e só um fodido como eu lá, sendo tratado.
A Santa Casa (ou Servidor do Estado, sei lá) estava sendo reformada, havia
baldes de tinta e material de construção nos corredores. As luzes fluorescentes
estavam dependuradas de qualquer jeito e no jardim as mesas e cadeiras estavam
empilhadas como uma obra de arte surrealista. De branco, eu saía zanzando
pelos corredores, cheio de dor, principalmente na bunda e nos braços. Eu arrastava
minha sonda que, não sei por que, estava sempre vazia, só soltando uma pasta
parecida com piche de vez em quando.
Ficar em pé afastava a dor.
O corredor esticava pra longe, caindo além do horizonte, numa dobra para baixo.
Me sentei num banco para coçar a ferida da sonda.
Lá no fundo do andar eu vi o pesadelo que virou vida.
Um homem andava calmamente e meio gingado. Pelado, o corpo de osso quase a
mostra, as mãos levantadas bem altas, acenando a cada passo, e abrindo e fechando
a boca, colocando a língua para fora. Ele era um brinquedo obsceno, aquela
coisa pálida, abrindo e fechando a boca grande, sem dentes, chocando-se contra
as paredes, aquele duro e soltando jatos de sêmen.
O homem não tinha um dos olhos, tinha um buraco no crânio de onde saia um
cabo de panela. E dependurado desse cabo, diversas lâminas de barbear que
tilintavam.
O homem assombração dizia uma coisa como "gooooh, gooooh, guuuuh..."
O medo mais animal subiu de meus pés, me travou os músculos e me torceu o
corpo em cãibras de desespero. Gani, rilhando os dentes, que estalavam de
tanto que eu os pressionava. Pedaços de imagens voavam na minha cabeça e meu
intestino se soltou.
Antes que aquela abominação chegasse perto de mim, uma força divina me ajudou
e me levantei, pulando como um grilo em pânico em direção à saída do hospital.
Arrastando minha sonda, avancei por corredores, portas, escadas, sempre para
baixo, até que cheguei na rua.
Da rua ganhei a Paulista e da Paulista caí pela Brigadeiro. Eu não corria,
eu voava, flutuava, passando entre carros, peruas, caminhões.
Uma pessoa gritou do prédio:
- Shake it uuuup! SHAAAAAAKE IT UUUUPPP!!!!!!!!!
Meus pés estavam em carne viva, feridos por pedras e sem sola. Peguei a rua
Humaitá sem fôlego nenhum, sem ar nenhum, sem hemoglobina nenhuma. Como um
maratonista, eu consegui deixar meu corpo no automático.
As ruas retas ficaram tortas, os prédios dançavam numa festa mexicana, hora
passando em minha frente, em outra trazendo placas de números e de "aluga-se"
aos meus olhos. Cabeças batiam-se contra mim e uma medusa de ferro me olhava,
sarcástica.
Casa! Eu queria ir para casa!
Da rua Humaitá ganhei a rua Abolição, dobrei na travessinha, cai na rua Japurá
e cheguei na porta em casa, com dois cachorros se digladiando para comerem
minha sonda e uma parte da sola de meu pé, que se desprendera.
Levantei-me até a lâmpada, peguei a chave secreta, abri a porta com respeitoso
silêncio.
Desci para meu quarto, me envolvi em minha cama e só me lembro de ter começado
a chorar antes de desmaiar.
NOTA
DO EDITOR: Os textos anteriores da série acima foram publicados
nas edições nº 018 e 020, respectivamente, do [S p a m Z i n e]. Se você não
a tem, solicite através do [email protected].
:::
Lua
::: Alyuska Lins <[email protected]>
Apago
a luz. Sento-me à varanda. A mágica e pequena varanda de onde meu olhar pende
para o mundo. É hora! A lua vai nascer...
Não sei
se rápida ou paulatina; se intrépida ou caroável. A cada mês, quando se faz
cheia, a lua se mostra diferente e única ao meu olhar incansável. Às vezes,
vem triste, às vezes, amante. Às vezes, distante, às vezes, feliz...
Nunca
se sabe.
Se vem
sorrindo, no entanto, seus raios alcançam longe... E brilham mais que a própria
lua que brilha mais que o próprio céu.
Se vem
cansada, surge de repente e quando menos se espera ela já está no alto. Indiferente.
Hoje eu
não faço a mínima idéia de como virá. Janto à luz de estrelas, à sua espera,
alternando mastigadas desconexas no escuro com olhadelas em que procuro na
noite imensa sinal ou brilho que a denuncie.
O último
gole de suco. Risadas. Converso só. E Sophia me escuta. Compensa o eterno
silêncio a que foi condenada com a adorável disposição que possui para sempre
me ouvir falar. E se não falo, lê meus pensamentos. Orquídeas são sempre assim.
Traiçoeiras, sabem tudo que se passa por dentro desses seres esguios que quase
sempre se esquecem de lhes regar. São tão cínicas às vezes... Quantas e quantas
noites já não flagrei suas pétalas se esforçando para não rir enquanto eu
lhes perguntava o que sabiam sobre mim. Mas não guardo delas por isto nenhum
rancor. Afinal, são leais. Mexeriqueiras, (profundamente mexeriqueiras) mas
leais. Compreendem que não há nada melhor
do que guardar somente para si as coisas que a mais ninguém interessam saber.
Sophia dá cor e beleza à minha varanda, a fantástica e absurda varanda de
onde meu coração é lançado ao mar, e eu me lembro todos os dias de trocá-la
de posição para que fique ao sol durante a manhã e à sombra
quando começa a entardecer.
E a Lua...
Mas não é possível! Não acredito. Surgiu a lua sem eu perceber...
Tão rápido.
E quase não ilumina o céu.
Como está
infeliz... As estrelas se aproximaram a saber o que houve, mas a lua torceu-lhes
o nariz. Deu de costas e virou-se para o mar. Não quer falar.
Queria
poder consolá-la, mas não a conheço bem. Vejo-a sempre de longe, não me atrevo
a visitá-la. Ela de cima parece satisfeita com minha prudência.
Não parece
ser de muitas palavras. À lua interessa apenas o nosso olhar.
Achar-lhe
a mais linda... cantar para ela... recitar-lhe poemas...amá-la...
Apenas!
Mas eu
não agüento vê-la assim... Tão triste! Tão triste! Como quem apenas pelo compromisso
vem ao baile.
Que não
seja eu parte desse tamanho incômodo. Ponho Sophia para dentro, fecho a varanda,
abaixo as persianas:
-
Boa noite, Lua!
Ao menos
por mim, esta noite você não precisa ficar.
Å...a
:::
L i s t a s A b o b r o l
::
5 Coisas Das Quais Os EUA Se Vangloriam Injustamente
:: Renata Parpolov <[email protected]>
1) A cultura escolar, preconceituosa e exclusiva. Para ter amigos, é preciso
não ser feio, nem gordo, nem nerd, nem negro, nem latino, nem virgem, jogar
no time da escola, ser cheerleader da escola, etc etc. Mas eles só vêem o
lado bom disso. Eu percebi isso do meu ex-chefe, Bob, quando, chateado, me
contou que o filho dele tinha perdido o campeonato de futebol da escola e
a namorada dele, cheerleader, tinha terminado com ele por causa disso. Quando
critiquei a cultura escolar americana, ele me veio com essa: Mas é que incentivando
a competição, as pessoas se tornam mais aptas para o mundo (!). E que era
muito difícil pra um americano se sentir perdedor. Fiquei tão chocada com
isso que comecei a assistir esses filminhos de sessão da tarde com outros
olhos. Sem contar a falta de cultura de humanas! O Bob, administrador de empresas,
nunca tinha lido um único poema do John Keats!
2) O chocolate
Hershey's é uma ofensa a palavra chocolate. O chocolate branco da hershey
é pior do que o da Dizioli.
3) A cerveja.
Aqui a "top" de linha é a Bohemia. Lá é a budweiser! irrrrrc!
4) O churrasco
é hamburger na grelha! e não tem o carvão, ingrediente maravilhoso que deixa
o churrasco e a rua inteira cheirando bem. O grill deles é elétrico ou a gás
mesmo. Écat! Um ex-chefe meu, americano, ficou deliciado ao provar uma picanha
no alho no Esplanada Grill. Foi conhecer churrasco de verdade no Brasil.
5) Roupas,
sapatos e lingerie. Modelos antiquados, cores berrantes e tecidos feios. Não
é de se admirar que o povo americano se vista tão mal. Mas curiosamente, só
os brancos. Os negros têm gosto apurado e são estilosos. E quanto à lingerie,
a top é a Victoria Secret, cheia de calcinhas e sutiãs caros e cheios de rendinhas
bregas. Porque existem rendas legais.
"Uma menina na praia empilha um monte de chinelos e os derruba, metodicamente...
qual é o nome do filme? - A TOMBA RAIDER!" -
(Michel
Foucault - in "Papoulas ao Vento")
Hummm...
nada como a Lara Croft! Mulher, Arqueologa, rica, boazuda, inteligente e virtual!
Uuhhhhú, aquela textura lisa na tela do computador, aquelas generosas curvas
artificiais, aquela carinha de safada... aaahhhh....!
Ela é
tudo o que se espera de uma mulher: Você a comanda conforme seus desejos mais
loucos. Ao mesmo tempo ela também é interativa! Faz você querer ir até o fim
(do jogo), está sempre à sua disposição quando procurada e custa pouco pelas
horas de prazer que te dá (uns 60 pilas por pelo menos umas doze horas de
fantasia). Claro que também dá calo na mão, por causa do joystick, mas a não
ser que você tenha um pôster dela virtualmente nua, pelo menos não dá cabelo
na mão e nem deixa a pele amarelada.
Agora
temos um filme com ela. E é a sensacional Angelina "Labios de Ralo"
Jouli. Um estupendo filme, com direito a armas, explosões e peitos em um biquini
que, de tão apertados, só podem ser feitos de computador e silicone.
Nem tudo
são rosas, claro. Existem problemas, mesmo em um relacionamento deste tipo:
Há o problema da tendinite, o da luz cortada pelo apagão (que costuma ser
solucionado desligando a geladeira, o microondas e o aparelho respiratório
do seu irmão menor, ou até fazendo "gatos" do seu vizinho, que é
uma boa solução e econômica, também.), e há os problemas decorrentes da atrofia
de outras funções cerebrais como a área de conhecer garotas de verdade, ou
a coordenação motora do resto do corpo.
Alguns
jogadores tem tido sérias dificuldades em convencer a própria família que
a "Laurinha" quer se comunicar com eles, se eles acharem a passagem
secreta adequada. E como eles podem ter razão, uma boa idéia é trancar seu
quarto com uma fechadura bem resitente, munido de pizza congelada e de seu
cachorro para companhia humana (se seu cachorro te morder, lembre-se que a
carne canina pode ser uma boa fonte proteica). Levar geradores também
ajudam, quando seu pai, em um gesto de desespero, mandar cortar a luz.
Nenhum
desses problemas é realmente relevante quando você têm a escultural Laura,
parada de shortinhos na sua tela, cheia de amor para dar a tigrinhos, terroristasinhos,
estatuasinhas e morcegos grandes para caralh... (Ops, desculpe Laurinha)!
E tudo em 3-a pessoa, que aprendi na escola que é como eles chamam jogos em
que o personagem aparece pequeninhinho de costas na tela!
Mal posso
esperar o próximo jogo desta encantadora personagem, que provou de uma vez
por todas que video-game não vicia. Se isso fosse verdade, eu, jogando 17
horas por dia, já estaria viciado, não, é? Ainda bem que isso não acontece...
Bem...
vou parando por aqui, pois meus pais estão arrebentando a minha porta a machadada
e tenho de acabar esta fase (Lalinha me espera com sofreguidão, desejosa por
minhas mãos em seu botãosinho). Até!
::: D
i á l o g o s I n e s q u e c í v e i s
_ Escuta,
Kevin, Jeanjean me contou.
_ Contou
o quê?
_ Que
você levou ela e Cathy para dentro do armário, tirou as calcinhas delas e
cheirou as pererecas delas.
_ Cheirei
as pererecas?
Trecho
do conto "Uma Enorme Ressaca", de Charles Bukowski.
"Oi,
meu nome e Isabella e eu sou alcoolica."
Foi assim
que ela comecou o seu relato, parecia sua primeira reuniao, mas ela nao sabia
mais. Tinha perdido a nocao de tempo que tinha tao bem delineada na cabeca
quando era mais jovem. Perdeu tambem a nocao da realidade e nao fazia mais
questao de saber se era dia ou noite.
Isabella
tinha um problema com o alcool, mas esse nao era o seu maior defeito. Ela
usava a bebida como uma alternativa para tapar algo maior, que nao queria
saber e queria esconder de todo mundo. Principalmente dela mesma. Isabella
era insegura e o seu lugar no grupo era tao instavel quanto ela. Aparecia
de vez em quando, ou nos dias em que estava arrependida do tanto que bebera
e mais uma vez mentia pra si mesma que ia parar com isso. Que era adulta e
tinha total controle sobre a sua vida.
Mas, la
no fundo, ela sabia que isso nao ia acontecer, que era so mais uma desculpa
pra convencer as pessoas ao seu redor de que estava consciente do "problema".
Isabella
sofria em silencio, e para apaziguar isso, ela se perdia em orgias alcoolicas.
Ai o consolo aparecia no primeiro calice de vinho, no primeiro copo de cerveja,
na primeira dose de whisky...
E la estava
ela mais uma vez, aos pes dele, mais uma vez maltratada, humilhada e magoada.
E mesmo assim sem aprender que ele nao presta, porque o amor tem dessas coisas.
Alguns chamam de masoquismo, mas nao é. Ela nao sabia porque insistia em procurar
coisas boas nele, vai ver e porque achava que tem alguma coisa boa la, que
por tras dessa mascara de mau carater existe um cara que realmente vale a
pena e que um dia vai se mostrar de verdade.
So que
esse dia esta demorando muito pra chegar, e Isabella nao sabia o quanto mais
iria aguentar. Porque ela estava ficando cansada, de brigar, de discutir,
de tentar convence-lo, de implorar por uma palavra afetuosa, de ser maltratada.
Ja cansou de ouvi-lo bater o telefone na cara dela, do silencio enquanto falava.
Tudo. Tudo que estava sentindo, que queria sentir, que queria ouvi-lo tambem,
nem que fosse pra dizer que nao queria mais falar com ela e nunca mais queria
ve-la. Ela entenderia. Ou tentaria entender.
Mas o
silencio machuca, a indecisao incomoda; e as poucas palavras asperas que ele
diz parecem punhaladas nas suas costas. Entao ela foje de tudo isso aqui na
realidade e se perde nas garrafas de vinhos; depois, tudo parece um sonho
que ela nao sabe mais se viveu ou nao.
:::
Sonhos e Ilusões (Hora de crescer)
- É hora de crescer. Tira esse boné da cabeça, guarda ele no armário, ali do
lado daquelas ilusões.
- São sonhos pai, são sonhos.
- Você acha que aquilo ali são sonhos? Não vê que você se enganou todo esse
tempo?
- Pára com isso pai.
- Amo você filho, alguém tinha que lhe dizer a verdade, você está cego.
- Ama pai? Por que destrói meus sonhos assim?
- Sonhos não são como as ilusões, que a gente constrói em cima da areia fofa.
Sonhos a gente constrói nos céus, a gente carrega no coração sempre, mesmo
quando abrimos os olhos. As ilusões não resistem a realidade, se desfazem
com a luz do dia, só sobrevivem na escuridão.
- Por que abriu os meus então? Não vê que eu era feliz assim? Eu era feliz
pai, muito feliz, minhas ilusões ainda eram sonhos para mim.
- Desculpe filho, espero que um dia seus olhos se acostumem com essa claridade.
Coquetel
boca livre na Gabriel Monteiro da Silva, loja de móveis no melhor estilo modernoso,
mas é a Maristela que vem me buscar. Fotógrafa de eventos, nem é tão fudida
na cama, mas sempre me leva nestes coquetéis. Podia chamar algum bacaninha
só pra querer impressionar, mas não, liga sempre pro Ari, eu, que ainda vou
e sempre paquero outras meninas porque tomo todas.
Chega
deste monólogo de Zé e vou te contar da Maristela, bunduda naquela calça masculina
de lã e um xale verde que só mesmo Maristela pra usar. Beija gostoso e a música
nova da Maristela é Ltj Bukem-Watercolour, fico atualizado do lado dela, mas
ela ainda dirige o bom e velho Uno Vermelho, que já tive que empurrar tantas
vezes, porque ela esquece de colocar água ou abastecer.
Chegamos
e a hostess nos recebe cheia de dentes. Maristela começa a desfilar clicando
peruas soltas no salão. No bar sou atendido por simpáticos garotos, me oferecem
caipirinha de saquê, mas prefiro whisky. Vou me entrosando aos clássicos contemporâneos
como chaise-longue Le Corbusier, aprecio a gostosona sentada na poltrona de
Mies, ela puxa papo comigo e Maristela passa e me belisca na barriga, ciumenta.
Estava
tudo perfeito, no andar de cima no home theater rolava um Frank Sinatra que
distraía os mais tímidos, embaixo o vinho começava a colorir todos os rostos,
até que vi a água. Logo após a entrada, perto da escada, a armadilha, um lago,
um pequeno rio artificial, que nós convidados desavisados mal notamos ao entrar,
lógico!, porra, cara, você vai olhar a decoração, o povo, mas nunca
onde pisa num lugar destes! Grudei na orelinha da Maristela e pedi que ela
ficasse de olho nos pés, fizemos nossa piada particular, e Maristela clicou
cada bota, salto alto, e barra de calça que saiu molhada da festa. Realmente
este planejamento de interiores deixou meus olhos e muitos pés cheios d'água.
:::
De noite todos os gatos são pardos (Quando um Miau não é o que parece)
:::
João Verde <[email protected]>
A noite é apenas o resultado da posição dos astros. Nós para um lado, o sol
para outro. À medida que o universo se mexe, tudo se mexe com ele, e os dias
surgem após as noites, e as noites a seguir aos dias. É uma sucessão que acompanhamos
todos os dias. Usamos as noites para dormir e os dias para nos mantermos alerta.
E de dia os gatos andam nas ruas, à noite fecham-se nos esconderijos
e visitam o mundo.
Os gatos
despem a farda de serviço e sentam-se nos seus computadores. Deixam a noite
caír, pousam as garras sobre os teclados e esperam. Têm tempo. A noite é longa
e eles não têm pressa de ser pardos. É o que a noite lhes faz, torna-os pardos.
Silhuetas que se movem sem denunciar a presença. Presenças invisíveis que
se escondem de quem não querem que os vejam, que se afastam na sombra, que
julgam enganar tudo e todos.
À noite
o miau não é inocente, e os gatos transformam-se. Carinhosos maridos e atenciosas
esposas durante o dia, trabalhadores esforçados, pessoas em tudo normais,
esperam a queda da noite e o brilho da lua para se transformarem por completo.
E a ti que conheço de dia, não reconheço de noite. És uma presença fria e
distante para mim. Tornaste-te gato. Tornaste-te pardo. E foste com as sombras
para longe de mim. Não te conheço, não sei quem és.
Trocas
a minha luz pelas sombras. Enfias-me na prateleira. E pensas "ele que
espere pelo dia, a noite não é para ele". E nesse momento despejas as
tuas mentiras, vives uma vida que não partilhas, usas os teus dentes para
mentir descaradamente. Não és tu. Não foste tu. Foi uma figura parda, foi
um gato.
Mas para
cada gato bom, há sempre um gato melhor. Há sempre uma figura pardacenta que
se move mais depressa do que a sombra, mais depressa do que o olhar invisível
que o espreita. Para cada gato de bom miar, há um miar ainda melhor.
Por isso
segue o teu jogo, que o meu é melhor. Segue a tua sombra, que a minha vai
alguns passos à frente. E quando virares a esquina, quando a noite ceder perante
o dia, adivinha quem te vai esperar na esquina...
Eu.
Por isso
abre o jogo. Somos gatos igualmente pardos. A mentira de nada nos serve.
Eu vejo-te a ti, e tu vês-me a mim. Miau para ti também!
:::
N a v e g a r I m p r e c i s o
Foi
Sem Querer Querendo
foi
nesta página que eu tive a triste constatação: não assistimos nem a metade
dos episódios do seriado Chaves, exibidos pelo SBT. Nesta página, informações
sobre vários episódios, personagens (saiba que o nome do Nhonho é Febrônio!!!),
todas as roupas que o Chaves já usou e o que andam fazendo os outros atores
nos dias atuais.
Socialmente
Aceitável
críticas
ácidas e muita ironia e ceticismo sobre o amor, religião, e 42 (?!) mostram
que a vida é apenas uma piada ultrapassada - a página mais bacana da internet
brasileira foi feita totalmente em Front Page !!!
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F a l a q u e E u t e E s c u t o
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Faça seu último desejo: [email protected].
mas não garantimos que o sorvete de manga será entregue sem derreter.
"MUITO
MUITO MUITO BOA ESTA EDIÇÃO!!!!!!!!!!!!!!!!
o problema é que estou lendo no trabalho e solto umas gargalhadas que ninguém
entende.... abraços vesgos"
OS
EDITORES: Não seja egoísta e compartilhe sua alegria com seus colegas de trabalho.
Tenho a certeza de que suas chances de ganhar um prêmio na empresa por colaborar
com um melhor ambiente de traalho serão maiores. Daquele que quer ganhar dinheiro
fácil fazendo palestras do tipo "seja um artista no seu trabalho, use
dois tipos de graxa no sapato do chefe". abraços, Ian.
"Como
vai, pessoal! Leio o Spam há um tempinho já, acho que desde a edição número
4, sei lá... Então gostaria de sugerir uma mudança que iria agradar muita
gente, pelo menos eu sim. Que fosse feita uma seção com sugestões literárias
com um comentário sobre certo livro, uma análise até bem humorada do conteúdo
da publicação, com nome do autor e ano de publicação é claro. Ah, também queria
pedir para que o Spam deixasse de ser enviado como arquivo "zipado",
não sei se é por culpa do meu servidor que isso acontece, sei que deixou de
ser enviado como HTML, mas um formato mais fácil de se abrir seria ótimo ,
pois toda vez que o recebo tenho que descompactá-lo e copiá-lo para o Word.
Bom...Valeu !!! é só! Aquele abraço!"
Marlus
Augusto
OS EDITORES: Marlus, o SpamZine passa um pouco longe da missão de comentar
livros e discos e afins pois já existem muita gente boa fazendo este trabalho.
Um exemplo é a www.screamyell.hpg.com.br,
aonde você encontrará comentários, resenhas, critícas e tudo o mais feito
por um pessoal bem competente. Quanto ao formato no qual é enviado o Spamzine,
ele continua utilizando exclusivamente as versões HTML ou TXT, de acordo com
a preferência do leitor. Um Abraço, Ian.
"Fala
cumpadi! Realmente o SpamZine está cada vez melhor, e fico muito feliz em
saber que existem cada vez mais pessoas talentosas, inteligentes e criativas
nesse mundo tão banalizado e massificante! Parabéns por demonstrar pra mim
que essa história de "falta de tempo para fazermos o que a gente gosta"
é algo absolutamente psicológico!"
André
Rosa de Oliveira
OS EDITORES:
Eu preciso de um psicólogo urgente, para assessorar minha falta de tempo para
que eu consiga reler todos os livros da FUVEST e estudar todas as minhas apostilas
do cursinho e ainda escrever aqui no spam. E com prazer, vamos arrumando um
tempinho aqui ou acolá para responder mensagens como a sua. Escreva sempre.
Ian.
:::
C r é d i t o s F i n a i s
World
Leader Pretend:
Perfect
Circle:
Shinny
Happy People:
Spam Zine
é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para
assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net
(a casa é modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, pedidos de edições
anteriores, cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas
existenciais e/ou mensagens de amor? Escreva: [email protected].
Spam Zine
prega que uma partida de xadrez pode ser jogada apostando uma bandeja de danoninho.
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P. S.
1) Sigur
Rós é Enya para indies. (Inagaki)
2) Amor
de pica dura? (Hong)
3) Porra
é Yakult de vagabunda (Orlando, iniciando uma discussão sobre clichês de contos
eróticos)
3) Por
que na maioria dos contos eróticos o nome do amante é Marcos? (Ian)
4) ...e
sempre há um negâo pra dar o trato final na "mocinha" da trama.
(Inagaki)
5) Oi,
A.I.! (já viu q as suas iniciais vão virar "A. I. - Inteligência Artificial",
né? Ele não podiam mesmo colocar só "I.A."?) Tenho mais duas
pérolas para a lista de traduções, as duas vitimando o pobre do Tenesse Williams.
A primeira é "Uma Rua Chamada Pecado", o título brasileiro do filme
"A Streetcar Named Desire". O outro é o meu favorito: "Gata
em Teto de Zinco Quente". Por mais sonoro que seja, note que "roof"
significa telhado, não teto, o que resulta em uma gata andando de cabeça para
baixo... ;-)) Uma coisa! (Tavares)