[S p a m  Z i n e]
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    : 20 de maio de 2001
    : curitiba, são paulo, rio de janeiro, florianópolis, belo horizonte
 
::: e d i t o r i a l
::: Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
O MUNDO É TÃO BELO LÁ FORA
 
Mas tu vive no Brasil, neguinho, então rapa fora daqui antes que eu te dê uma voadêra nas idéia.
 
Crise política e energética. Não se fala de outra coisa nesse país. Parece que assumimos um discurso monocórdio e o final, puff, sabe-se lá o que vai ser.
 
Tudo fica com cara de piada depois que você assiste ao próprio presidente de seu país dizer que a culpa da crise é de São Pedro. Ah, esse São Pedro... sempre tão serelepe!
 
Daí eu fiquei na dúvida: "Presidente, mas, tipo, veja a minha família, de origem protestante. Eles não acreditam nesse lance de santos. Como é que a gente vai explicar isso pra eles?"
 
"Diz que é a estiagem, garoto. A estiagem! Es-ti-a-gem. Não precisa ter freqüentado a Sorbonne pra saber isso."
 
Então tá. Ou é São Pedro ou a estiagem. Beleza.
 
Enquanto isso, nas terras frias ao sul do Equador, vamos ajeitando nossos edredons porque o inverno vem rigoroso. E para o apagão, parece que há uma campanha velada quase hiponga: "faça amor, não acenda a luz". É isso. Sem TV os casais serão obrigados a um olhar para a cara do outro mais cedo, e, na falta do que fazer...
 
Mas fica a pergunta: "e quem não tem namorado(a)?"
 
Essa, aposto que nem o presidente acerta.
 
***
 
MOMENTO BRODAGEM
 
Não podia deixar de citar a referência que o Emílio Fraia e as meninas colunistas do GivagOnLine (www.givagonline.cjb.net) fizeram à minha correspondência. 'Brigado pelo cuidado, gente boa. JOVEM, você que acaba de completar 18 anos, assine o GivagOnLine.
 
Bacana foi a discussão suscitada a partir de um livro do Cortázar. Eu lembrei do Roberto Arlt e o Emílio do Ricardo Piglia. A literatura argentina contemporânea é tão desgraçadamente boa que me mata de inveja. Recomendei lá, recomendo aqui: conheçam "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt, e sua continuação: "Os Lança-chamas". Fazendo as comparações de sempre, los hermanos têm uma literatura muito mais vanguardista que a nossa no último século (à exceção de Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos... enfim, os suspeitos de sempre).
 
Fico pensando o porquê de tamanha distância. Acho que alguém errou no modernismo, e não fui eu.
 
Quer ler mais referências sobre o modernismo? Dirija-se à seção "P.S.", lá embaixo.
 
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ESCLARECIMENTOS
 
Esta edição de número 016 conta, agora sim, com a estréia como colaboradora oficial de Cecilia Giannetti no Spam. Devido a falhas logísticas, acabamos por publicar apenas uma participação discreta de Ciça na edição 014, em que ela assombrava-se por ter encontrado L. F. Padilha, seu antigo colega de jardim de infância, no escrete deste e-zine. Agora preparem-se meninos. Ela vem com força total. Já deixei o seu texto de primeira que é para não terem o perigo de errar.
 
Mas tem coisa boa mais abaixo também: colaborando conosco nesta edição aparece Marcão Henrique Xavier, meu nobre ex-colega de faculdade e atual colega de profissão, com um texto sobre as agruras da reportagem esportiva (porque ninguém gosta de tomar gol aos 45 do segundo tempo); e Fernanda Luft, a aquariana natural de Nossa Senhora do Desterro, com lembranças e memórias que devem ser evitadas pelos mais fracos de coração. Ah, o amor, esse fardo utópico...
 
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NOTAS ESPORTIVAS
 
E o Rubinho, hein?
 
E a seleção, hein?
 
E a Ponte Preta, hein?
 
E aí, pode ser ou tá difícil?
 
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(este editorial foi escrito ao som de Travis - Man Who, e Coldplay - Parachutes)
 
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::: Striptease pra cego
::: Cecilia Giannetti <[email protected]>
 
Há dois dias que não vejo a cara de ninguém. Por comparação, estou me sentindo ótima.
 
(a partir do p.f., um dos meus velhos)
 
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Uma das coisas que sempre me atraiu no jornalismo foi a possibilidade de me tornar colunista. Não falo de colunismo social, peco pela metade. A idéia era poder enviar de casa, uma vez ou duas a cada semana, minha inestimável colaboração para a qualidade informativa do prestigiado veículo que me contratasse. Assim, com o que eu imaginava ser o mínimo de esforço e sem ver a cara feia de ninguém, poderia gastar os tubos na Saravá Megastore e ler até o cerebelo fazer bico. A expectativa de que tal plano pudesse se concretizar cresceu no meu primeiro dia na universidade. Artur Xexéo era o responsável pela Aula Inaugural na FACHA (particular, RJ) e fez todo o auditório conhecer a origem de sua trajetória: resumindo, ele contou que, rapazote, inscrevera-se em uma das turmas de comunicação social da FACHA porque lhe pareceu ser o curso que daria menos trabalho.
 
Depois de dois anos na FACHA, fiz prova para a UFRJ e passei (um nítido sintoma da decadência da Universidade Federal). Chego pra assistir à Aula Inaugural, mesmo não sendo mais caloura, e lá está novamente o Xexéo. Pensei que não poderia ser mera coincidência. Não poderia ser apenas que ele tem mais tempo livre que os demais jornalistas porque, afinal, ele é dos meus. Não poderia ser que ele amasse calouros tanto assim a ponto de perseguí-los em aulas inaugurais por toda a cidade. Era o destino. O meu destino. Um dia eu também teria uma coluninha. Que eu não trabalhasse numa rede na varanda bebendo Malzbier e escrevendo num laptop mas certamente não viraria uma repórter estressada.
 
Hoje, meus dentes rangem quando o editor me pede pauta sobre algum assunto tecnológico cabeludo do qual eu entendo menos que as cotias do Campo de Santana. Ele ri canalha do outro lado do terminal: "surpreenda-me" e me informa que, por enquanto, a revista não pode pagar. Ilusão comum contar com as infiéis promessas das coincidências. Até o Xexéo rala demais hoje em dia, coordenando um caderno inteiro no Globo. Na expectativa de quem um dia o Spam Zine fique tão rico que possa pagar seus colaboradores (pagar em dinheiro, Sabbag), torno-me colunista deste mailzine com o compromisso de aqui varrer a pós-modernidade em todo o seu rico escopo de A a B e de volta ao A, esperando não cometer ficção, contos ou versinhos de nenhuma espécie ao longo do percurso.
 
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Arthur Dapieve deu palestra sobre relação entre colunista e leitor na UFRJ, Quarta-feira passada.
 
Os alunos seguraram o colunista do www.no.com.br e do Globo por duas horas em uma salinha de aula onde praticamente amontoavam-se uns sobre os outros (a Escola de Comunicação está sem auditório. Está também sem banheiro, desde o ano passado). É aquilo: muitos dos professores de jornalismo da ECO estão afastados das redações há algum tempo, trabalhando apenas na universidade. Então, quando a garotada vê um cara que realmente tá por dentro de como funciona uma redação em tempos de Internet e fala sobre colunismo, que ninguém aborda mais em sala de aula, é um surto coletivo de perguntas. Já disse que o primeiro sintoma de decadência da federal foi eu ter sido aceita nela. Outro é esta fome desesperada que o quadro de professores da faculdade não supre. Dapieve, by the way, dá aula na PUC.
 
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Luciano "Elcabong" Matos conta em seu website (www.elcabong.f2s.com) como foi a barbárie comandada pela polícia na última Quarta-feira na Bahia, quando estudantes levaram bombas de gás na cabeça, entre otras cositas, por pedirem em manifestação a cassação do coronel ACM. Luciano postou texto e fotos sobre a vergonheira que rolou nas ruas de Salvador.
 
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Faça como a maioria e não fique puto com a crise de energia elétrica, a inércia do governo que levou a ela e o recrudescimento do desemprego que ela vai acarretar. O negócio é usar a imaginação. Eu vou fingir que tô num livro da Jane Austen, manja? Pra justificar o uso de lampião e velas. No escurinho, aliás, vai ser mais fácil confundir um perebento qualquer com o Mr. Darcy (o que os olhos não vêem...) Enfim, todo mundo sai ganhando.
 
***
 
Conversando com a DJ Leïlah (Bunker, RJ) e outros pés-de-valsa, surgiu uma preocupação em relação aos apagões que a maioria da galera não comenta provavelmente por medo de soar fútil. Bem, que atire a primeira pedra quem não gosta de se divertir em finais de semana mas, caso funcionem as casas noturnas onde o povo se sacode, como fica a segurança, que já é precária sem apagões, no Rio de Janeiro? O Globo de hoje afirma que "está suspenso o fornecimento provisório de energia a circos, parques de diversões, exposições e shows em locais abertos após as 18h", mas não diz palavra alguma sobre as boates. Se forem abertas e faltar luz no meio do arrasta-pé, vai ser o caos. Se não funcionarem, bem, é hora de tirar a poeira da viola e brincar de sarau.
 
***
 
E já que eu falei em Austen, vale lembrar que "Mansfield Park" também já ganhou sua versão cinematográfica. Vai diferir da porcaria Emma (Patricinhas de Beverlly Hills saiu-se melhor que este, e no arriscado terreno de adaptar para a década de 90 um livro de Austen – e com humor para teens) e de Razão de Sensibilidade (este já foi melhor, que Ang Lee não costuma fazer muita vergonha): a tal diretora, Patrice Rozema (canadense) cuidou de meter trechos da correspondência de Austen nos diálogos do filme e fez de sua personagem principal uma extensão da autora. O nome do filme é Palácio das Ilusões. Tomare que não falte luz quando eu for assistir.
 
***
 
A revista de cinema www.contracampo.he.com.br põe no ar esta semana um especial sobre John Hughes, Amy Heckerling, Cameron Crowe e toda a patota que transforma a gente em babão cada vez que é exibido um de seus filmes, seja em reprises na TV (Curtindo a Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões, A Garota de Rosa Shocking, Digam o que Quiserem) ou novidades no cinema (Quase Famosos).
 
E, uma vez na Contracampo, não deixem de ler o texto de Glauber Rocha sobre Terra em Transe, publicado originalmente na revista Visão (sem data) e que estava perdido numa pasta da cinemateca. => www.contracampo.he.com.br/27/frames.htm
 
 
::: Para as noites sem luz
::: Nicole Lima <[email protected]>
 
I'LL KEEP THE DOOR UNLOCKED
 
Blackout
ouch
no blond blue-eyed faces
to scare me out
come over in the dark
come, it's cold out there
we can listen to some wine
taste a little breath
in and out our mouths
come, I'll keep the door unlocked
my ghosts well-shut in the closet
run my fingers down your hips
'cross your lips
tip toe on your face
come down
lay your new haircut on my lap
my cold hands on your back
'round your neck
come

 
::: A dura vida de repórter esportivo
::: Marcos Henrique Xavier <[email protected].br>
 
Que todo repórter esportivo é um jogador de futebol frustrado, todo mundo sabe. Pena que esse não seja o único desterro daqueles que escolhem levar a emoção do futebol para o público. Além de não poder entrar em campo vestido de chuteiras, calção e a camisa do clube do coração, o jornalista esportivo (prefiro esse termo a cronista, que me soa com um certo tom de amadorismo, pra não dizer de "cornetagem", mesmo) tem que esquecer, apagar, sumir de vez com as suas raízes de torcedor.
 
Quanto à desilusão de não se tornar um atleta, isso é logo contornado. De repente algo diz que você vai ter mesmo que deixar de lado o sonho absurdo de querer ser um craque com esse futebolzinho ridículo e seguir o conselho de sua boa e velha mãe de estudar e ser alguém na vida (se bem que o Romário mal sabe qual é a capital do país e é muito mais "alguém" do que você). Porém deixar de ser torcedor, o que impõe a conduta do bom jornalista -isento e imparcial -, é impossível.
 
Do enfeitezinho pendurado pelo seu pai na porta do quarto da maternidade ao manto sagrado que o acompanha no féretro, passando pela divisão dos times na peladinha da escola e pelo abraço na arquibancada com o desconhecido do lado no momento do gol, tudo o leva a seguir aquelas cores predestinadas. Isso até você assumir o bendito compromisso de levar as notícias de forma mais clara, objetiva e sem juízo de valores ao público, no caso o torcedor, como você já fora um dia. Depois disso, esqueça de ficar próximo ao túnel do vestiário xingando aquele grosso de seu time, ou o goleiro adversário, ou coisa que o valha.
 
Até por que se esse cabeça-de-bagre, goleiro ou seja lá quem for, ou, pior, algum dirigente perceber esse seu deslize, prepare-se para ser recepcionado por fortes seguranças que não o deixarão entrar no treino do dia seguinte. Além de não ter assunto para gastar em forma de tinta no papel-jornal, o que naturalmente já seria suficiente para deixar seu chefe com a veia do pescoço saltando, quando você chegar à redação o editor ainda soltará delicadamente poucas e boas em forma de #@* após receber o telefonema de algum cartola do clube - que com certeza aumentará em 1.000% o que, no fundo, no fundo, era a mais pura verdade, já que o cara era mesmo ruim de doer. E se for profissional de rádio ou tv, que são identificados mais facilmente nos estádios graças à parafernália de microfones e câmeras, recomenda-se ainda mais cautela: olhe bem para os dois lados da rua antes de atravessar, pois algum torcedor com instinto primal avançado pode querer o seu fígado.
 
E como desgraça pouca é bobagem, há ainda aqueles que vão justamente cobrir o arqui-inimigo do clube do coração. Aí a crise de identidade pode tomar conta de vez do subconsciente do sujeito. E se ele não for forte, pode até causar efeitos colaterais seríssimos, como virar a casaca, já que o sucesso profissional dele depende da campanha do time que cobre.
 
Pode-se chegar ao absurdo de ter que torcer contra a sua própria equipe numa partida de semifinal, só para não ter que ficar matando um leão por dia para inventar assuntos novos e encher lingüiça no período de entressafra da esquipe em que se é setorista (outro adjetivo que não me agrada, mas para esse não consigo encontrar sinônimo à altura).
 
E após passar por tantas prostrações, ainda tem aquele seu ex-companheiro de arquibancada que quer dar aquela força: "Mas pelo menos você não paga ingresso!". É como dar carne de soja a piranhas...
 
Marcos Henrique Xavier é repórter esportivo e antes de escrever esse texto fez a cobertura da partida em que o seu Coritiba foi desclassificado nas semifinais do Campeonato Paranaense pelo Paraná Clube. P.S.: ele também é setorista do clube algoz do seu Coritiba.
 
 
::: A c h a d o s   e   P e r d i d o s
::: Cansou de procurar em lugares óbvios? Não agüenta mais pagar R$ oitão a linha de classificado e não receber um só telefonema? Faça como nossos leitores: procure a agência matrimonial Spam Zine e seja o próximo a jogar de beque no time dos casados.
 
Jc++ <[email protected]> implora por duas coisas. Primeiro: alguém tem o livro "As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor"? Se alguém tiver, entre em contato. E por favor, essa é com certeza mais dificil, uma menina que more na zona leste de São Paulo, tenha menos de 20 anos e curta Belle & Sebastian, para relacionamento sério - tá relacionamento sério é pedir demais, eu concordo -, mas se tiver, entre em contato. Até breve!
 
 
::: O sentido da ausência
::: Fernanda Luft <[email protected]>
 
Eu quero te fazer chorar, não porque eu sou malvada (às vezes eu sou um pouquinho), mas porque eu quero mexer contigo. Quero te fazer pensar em mim e no que eu estou sentindo, quero que olhes pra dentro de ti, e veja no fundo do teu coração aquele pedacinho de mim que ainda está lá. Quero que olhes nos meus olhos e veja a tua imagem refletida (o pedacinho de ti que ainda está aqui), e que sinta no calor da minha pele a alegria que se foi. E nas minhas lágrimas, todos os momentos alegres que não voltam.

Quero te fazer sofrer, mas isso também seria masoquismo, pois quando sofres eu desabo por dentro. Eu quero que sintas muito a minha falta, que penses se eu estou indo às aulas todas as manhãs, e se estou bebendo muito. Se parei de fumar e se continuo fazendo trezentas abdominais todas as tardes e correndo todas as noites. Eu quero que fiques imaginando se eu ainda faço loucuras como ir caminhando para a universidade, ou ir correr na beira mar às quatro da manhã porque me arrependi de ter comido tanto chocolate.

Mas eu também quero ouvir a tua voz chamando o meu nome, e me chamando de bobinha porque eu choro em filmes tristes e despedidas mais tristes ainda. E te ver falando das minhas covinhas (que eu odeio), enquanto o teu sorriso é mais bonito que o meu. Quero te ver tomando suco de laranja todas as manhãs, e ficando preocupado porque eu não tomo café da manhã.

Quero saber se tens ido correr 40 minutos todos os dias e se o teu inglês melhorou. Se estais tomando muita cerveja, saindo todas as noites e dormindo até meio-dia. Se ainda cozinhas o teu almoço ou se já estás comendo fora. Se as tuas coisas ainda são uma bagunça e se os teus amigos ainda estão contigo. Quero olhar pro teu lado da cama e ver que ele não está vazio, que tu voltaste... mas quando eu olho para as nossas fotos, e quando ouço as 'nossas' músicas, eu sei que isso não vai acontecer.

Eu quero os nossos planos de volta, voltar a pensar naquela tatuagem do teu braço, o símbolo chinês para "duas vidas, um mundo" como uma possibilidade. Te ouvir falar de como os nossos cinco filhos seriam, e rir quando falas que eles têm que ser insensíveis. Porque isso é impossível, e tu, melhor do que ninguém, sabes bem disso.

Quero te ver sorrir, pois o teu rosto se ilumina e os teus olhos sorriem junto, e eu também.

Mas agora isso não vai mais acontecer, pois tu estás tão longe de mim, e eu contribuí pra isso. Não foi pela minha vontade, mas eu deixei de ser egoísta, aprendi contigo. E eu ouço With or Without You do U2 e choro todas as noites, e isso já fazem três meses. Eu não te quero infeliz, e, se pra seres feliz tens que ficar aí, longe de mim, então eu só posso te dizer, sem ressentimentos mas com os olhos rasos d'água: boa sorte, espero que consigas o que estás querendo.

Eu não posso fazer mais nada, as pessoas escolhem caminhos diferentes, e raramente eles se cruzam. E o nosso se cruzou por um momento, mas agora, eu sigo o meu caminho, as minhas escolhas, "o que é melhor pra mim". E tu segues o teu.
 
 
::: So long, thanks for all the fish
::: Pedro Vitiello <[email protected]>
 
O título é de um livro de humor/ficção-científica de um autor que morreu de complicações cardíacas aos 50 anos.

Douglas Adams, como era conhecido, foi roteirista do "Monty Python" e autor do brilhante "Mochileiro das Galáxias", com uma legião de fãs por todo o mundo e extremamente engraçado. O tipo de livro do qual um guri de 12 anos só desgruda no banho.

Em sua obra mais conhecida, o autor se utiliza de um suposto livro que teria as respostas básicas sobre tudo no universo, não como uma enciclopédia, mas mais como um guia de caroneiros intergaláticos, trazendo explicações simplificadas, desatualizadas e geralmente cômicas de um universo rico de personagens.

É descrita a importância de uma toalha, que serve para tomar sol nas praias do paradisiaco Planeta Satiricon IV, usar como chicote, se proteger da besta voraz de Orgonco tampando a cabeça (a besta voraz é um animal perigoso, mas incrivelmente estúpido, que acredita que se você não puder vê-lo, ele também não poderá ver você - uma besta, mas muito muito voraz...), o peixe babel, a poesia de tortura dos Vogons (que escreveram a "ode ao pedacinho de massa de vidro que achei debaixo do meu suvaco numa manhã gloriosa, causando várias vitmas em seu recital"), e ensina a fazer uma bebida chamada "Dinamita Pangalática", que tem como efeito a suave sensação de ter sua cabeça amassada por duas barras de ouro de bom tamanho envoltas por uma fatia de limão.

Como diria o vaso de petúnias materializado a 100km do chão (e umas três vezes isso de velocidade horária) no livro "Oh não, de novo não..." - apesar de ninguém saber o que o vaso quis dizer com isso.

Estou triste (para quem já conhece o livro, pensem no robô Maníaco-depressivo "Marvin").

Era fã do "Mochileiro", daqueles que o leram e releram umas 30 vezes, fora o resto da coleção (uma trilogia de 5 livros, como o próprio autor a apresentava). Adorava o cara (era meu autor predileto) e é uma pena que tão pouca gente conheça ele por aqui.

Vão fazer um filme sobre o mochileiro, com nomes como Bruce Willis e Ben Affleck no papel principal (o terráqueo Arthur Dent) e espero que o filme não seja uma daquelas bombas, que ao invés de contribuir, transformam a história numa coisa sem graça e decepcionante. Muito do humor de "mochileiro" é feito através de seus diálogos, como por exemplo:

"- É em momentos assim que gostaria de ter ouvido o que minha mãe sempre me dizia.
- Mas o que sua mãe lhe dizia?
- Não sei, nunca ouvi..."

Se tiverem contato com alguma coisa dele, leiam, mas evitem se possível a tradução portuguesa, que é péssima (a nacional é muito boa).
 
----- Original Message -----
From: Alexandre Inagaki <[email protected]>
To: Ricardo Sabbag <[email protected]>
Subject: Douglas Adams
 
Fazendo uma pesquisa pela Web, li algumas coisas sobre Mr. Adams. Dentre outras coisas, ele queria ser John Cleese (anos depois, acabou tornando-se amigo do ex-Monty Python), escreveu textos sobre literatura, ciência e bloqueios de escritor ("I love deadlines. I love the whooshing noise they make as they go by"). Sobre o sucesso e o posterior culto ao seu livro mais conhecido, "O Mochileiro das Galáxias", afirmou: "It was like being helicoptered to the top of Mount Everest, or having an orgasm without the foreplay".
 
Até sua morte foi inusual: sofreu um infarte numa academia, nos Estados Unidos, enquanto malhava, dia 11 de maio, aos 49 anos de idade. Eis o site oficial dele: http://www.douglasadams.com.
 
 
::: O cliente está morto
::: Eduardo Fernandes <[email protected]>
 
Ninguém sabe o que é o ser humano até trabalhar com atendimento ao público. Dito assim, à queima-roupa, a frase parece exagerada. Mas eu a enfatizaria ainda mais. Podemos ler, estudar psicologia, visitar sanatórios, assistir aos filmes do Bergman etc. Nada disso se compara ao telemarketing, ao SAC, ao suporte técnico.
 
Até o século 16 (vá lá, até o 18), as pessoas acreditavam que só existia um ser onipotente, onisciente e com o nome limpo no SPC. Chamavam-no de Deus. De lá pra cá, Ele deixou de ser reserva de mercado e foi submetido à concorrência. O filósofo, o cientista, a opinião pública, a Rede Globo, entre outros, foram desmonopolizando as qualidades divinas gradualmente.
 
Mas eis que, no século 20, cada vez mais ganha importância um novo ser: o cliente. Talvez mais abstrato do que Deus. Certamente mais chato do que Ele.
 
As igrejas e templos eram uma espécie de suporte técnico, de SAC dos serviços de Deus. Íamos a esses lugares e ficávamos reclamando, pedindo, sugerindo, enfim, torrando o saco divino. Imagine Deus com um headset, atendendo aos seus usuários e respondendo a perguntas idiotas como “o que eu tô fazendo vivo?”
 
De vez em quando surgiam uns clientes mais exigentes e turrões como Voltaire, Nietzsche, Sade etc. Nietzsche chegou a dizer que Deus morreu. Do outro lado da linha, Deus deve ter dito: “pois não senhor, estaremos encaminhando sua denúncia para o departamento de finados para estarmos prestando esclarecimentos posteriores”.
 
Hoje quem manda é o cliente. Segundo o clichê, ele tem sempre razão. Todos sabemos que, geralmente, o cliente é uma besta. Por mais que eu também seja cliente (mesmo que raramente, afinal, estou sempre duro). E não faz bem para a auto-estima admitir isso. Cliente raramente lê contratos, não entende explicações, tem preguiça de pensar etc. etc.
 
Ok, os atendentes também não são santos. Mas basta trabalhar um dia com o público para perceber que estão quase lá. É que eles são os sparrings da humanidade. Como o público sabe da sua atual onipotência, se dá o direito de despejar todas as suas frustrações e ódios nos atendentes.
 
Assim, há uma guerra: os clientes odeiam os atendentes que odeiam os clientes. Só que o atendente não pode esbravejar, gritar, chamar o usuário de incompetente. Por isso o enrola, atende mal etc. É sua vingança velada.
 
Por que estou dizendo isso? Por que trabalho como webdesigner, mas estou quebrando uns galhos no suporte técnico da empresa. Você deve saber que estudei Ciências Sociais. Pois estou aprendendo mais no suporte do que em cinco anos de faculdade.
 
Às vezes me espanta o quanto as pessoas são precipitadas e arrogantes. É raro ouvir um “por favor”. Todos chegam com os pés na porta e achando que você está pronto para encoxar a suas mães. Deduzem coisas que você não disse, não lêem as respostas que você envia e ofendem-no, pois “têm sempre a razão”. São onipotentes e oniscientes.
 
Geralmente, atendo a usuários leigos em internet. E tenho de responder suas dúvidas da maneira mais simples possível, sem que eles percebam que estão cometendo erros primários. Senão, seus eguinhos ficam feridos. Todos precisam se achar webmasters e programadores, mesmo que não saibam conjugar o verbo ser.
 
Aliás, o mais interessante é ver que a classe média está comprando computadores e fazendo páginas na Internet sem nem mesmo saber escrever. Somos uma fauna de analfabetos informatizados. Coisas de Brasil, que sempre faz suas mudanças sociais da maneira mais estranha. E ultimamente tenho cometido erros escabrosos, de tanto ler textos errados, que respondo por e-mail.
 
No século 21, nossas divindades são cada vez mais coletivas. Mas a lógica é a mesma. Se antes não podíamos questiona-las por medo de ser queimados, hoje tememos o desemprego (o que acarreta uma morte mais lenta, a fome e a humilhação). Isso é melhor ou pior? Não sei. Mas com Deus pelo menos tínhamos a crença na salvação da alma.
 
O que eu quero dizer é: precisamos de um novo Nietzsche, que declare que o cliente está morto. Parece algo medíocre e bobo. Mas nossa época é assim mesmo.
 
E agora vamos aos esclarecimentos: viva as leis de defesa do consumidor, muitas empresas são incompetentes etc. etc. Aquilo que você pensou em reclamar, também concordo. Mas, enfim: nem cliente e nem atendente têm razão.
 
Se este mundo fosse um episódio dos Smurfs, eu diria que o melhor seria que tivéssemos, ambos, educação e cordialidade. Errrr... Mas aí eu teria de enviar o texto para a revista Você S.A. Concorda?
 
 
::: S o n h o  d a  S e m a n a
::: Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
 
Sonho maluco da Paula
Paula Pimenta <[email protected]>
 
Um gato malhado aparece no meu quarto. Sempre gostei mais de cachorros, mas este gato é bonitinho. Gatinho-neném. Pego ele no colo e ele muda de cor. Gatos pretos dão azar. Este não. Tem uma manchinha branca no peito. Sempre gostei da cor preta. Por que eu nunca tive um gato antes? Coloco ele no chão e vou para a casa da minha avó. As minhas tias já estão com o meu vestido preparado. Me vestem de noiva rapidamente e saem para a igreja. Eu fico só. No quarto do espelho. Imaginando meu próprio casamento. O pânico surge de repente. Não posso me casar, não quero me casar, não vou me casar. Não tem mais ninguém em casa. Ligo, do telefone celular, para o meu primo. Noivas modernas (ou fúteis) levam o celular escondido nas camadas do vestido. Digo ao meu primo para vir me buscar. Ele buzina. Desço correndo e digo que eu não vou mais me casar, para ele me levar para bem longe. Ele concorda sem questionar. Peço então que ele passe comigo em frente à igreja, para que eu possa ver quem compareceu ao meu casamento. Observo as pessoas chegarem, escondida no chão do carro. Quando a minha curiosidade é satisfeita, ele me leva de volta para a casa da minha avó, para que eu possa trocar de roupa. Antes de entrar, percebo que está acontecendo um assalto. Sinto que alguém está lá dentro, com os assaltantes. Minha avó não pode ser, ela não faltaria ao meu casamento. Chamo a polícia, do celular. Eles chegam depressa. Invadem a casa. Ainda vestida de noiva eu presto atenção aos barulhos. Ouço tiros. Eles me acordam sem que eu saiba quem morreu. E com quem eu iria me casar.
 
 
::: F a l a   q u e   E u   t e   E s c u t o
::: Nossos editores atenciosos lêem todas as mensagens. Mas só respondem algumas, os preguiçosos. Participe você também, enviando suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para [email protected].
 
"Oi Ricardo, conheci o Spam pelo site da meninas (02 Neurônio) e achei muito interessante. Quero que saibam que são uma elite na internet, com textos bons, divertidos e que nos fazem admirar quem tem o dom e a criatividade de fazer arte com palavras. Estou imprimindo e montando uma pasta, quem sabe para a posteridade.
 
Depois de tanto reclamar que ninguém te escreve, estou tentando tc, apesar do frio de doer os ossossssssss, que está fazendo aqui em Curi City, e esperando ansiosamente que o domingo não tarde a chegar. Beijos"
Thais Fernanda Valente
 
OS EDITORES: Ah, que felicidade! Uma leitora ouviu o meu clamor. Obrigado, Thais, pelas palavras carinhosas. Continuo, sempre, à espera de mais mensagens. Mas em nome de todos os spamzineiros, agradeço as palavras. E legal que você está montando um arquivo. Eu, pessoalmente, acho que uma pasta como essas podia perfeitamente estar no lugar da camisa do Atlético-PR naquela 'cápsula do tempo' inventada pelo NY Times... Beijos do R.S.
 
"Os textos da seção 'Listas Abobrol' (Top 20 de coisas melhores que sexo-R.E.M) dessa ultima edição 13/05, foram muito ruins mesmo, sem a menor graça e criatividade, talvez a primeira grande mancada e estupidez que encontro nesse ótimo e-zine, que tanto me diverte e relaxa nas tardes de domingo."
Marlus Augusto
 
OS EDITORES: Pois é Marlus, como diria o epitáfio do velho Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra". Recebemos algumas mensagens elogiando a tal seção, mas escolhemos comentar a sua porque, afinal, é a primeira tão bem-educada que mete o pau em algo que publicamos. Democracia é isso aí. Se não gostou, reclame mesmo (menos no SAC do Eduf). Mantenha a fé. Abraços do R.S.
 
 
::: C r é d i t o s   F i n a i s
 
Parteiros:
Ricardo Sabbag <[email protected]>
Alexandre Inagaki <[email protected]>
 
Gestantes:
Cecilia Giannetti <[email protected]>
Eduardo Fernandes <[email protected]>
Nicole Lima <[email protected]>
Paula Pimenta <[email protected]>
Pedro Vitiello <[email protected]>
 
Anestesistas:
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Marcos Henrique Xavier <[email protected]>
Othelo Sabbag Lopes <[email protected]>
 
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::: P. S.
 
1) Era uma vez um bêbado tão bêbado, mas tão bêbado, que furou o chapéu. (Sabbag Lopes - 7 anos)
 
2) Ei, você mora em Nova York? Eu não. Se mora, faça-me o favor de ir visitar a exposição de Marc Chagall em cartaz no Jewish Museum (não sei o endereço, nunca fui à Big Apple). São obras do período em que Chagall se "auto" exilou na Rússia, sua terra natal. É a primeira vez que as obras deixam Moscou desde o fim da União Soviética. Chagall é um dos pintores mais belos do modernismo e deixou em suas telas a impressão da fantasia sobre a realidade dura em que viveu. Apaixonante. (Sabbag)
 
3) Já os paulistanos possuem como boa pedida para esta semana uma visita à megastore Fnac (Av. Pedroso de Moraes, 858, Pinheiros), nesta terça, 22, a partir das 18 horas. Neil Gaiman, romancista e roteirista da obra-prima dos quadrinhos "Sandman, o Mestre dos Sonhos", estará distribuindo autógrafos a fãs embevecidos como eu. Espero encontrar alguns incautos conhecidos por lá. (Inagaki)