[S p a m  Z i n e]
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    : 13 de maio de 2001
    : são paulo, curitiba, rio de janeiro, goiânia, jundiaí, porto alegre, salvador
 
::: e d i t o r i a l
::: Alexandre Inagaki <[email protected]>
 
"Dormingão", o dia mundial da preguiça. Os neurônios espreguiçam-se malemolemente na minha cabeça, e a manhã fria em Sampa City me dá mais ânimo para voltar à cama, sempre tão sedutora, lassa, lânguida. Ainda mais depois da festa de ontem, na qual fiquei até às seis da madruga. Reencontrar amigos, conhecer gente nova, ouvir música boa, conversar com pessoas legais: eis os motivos pelos quais a vida vale a pena.
 
A edição de hoje traz tudo isso. Colaborações de velhos conhecidos da gente, como o Ian, o carlãO, a Rennie, o Mateus, a Aline de Mello, o Orlando Tosetto. Amigos novos com textos bons pra compartilhar conosco: a Daniela Sigaud, o Orlando Lopes. Muitos sorrisos, gargalhadas gostosas, confissões olho-no-olho, historinhas boas pra compartilhar. Cá estamos, mais uma vez, trazendo letras que, espero eu, sejam mais edificantes que careações no Senado, e quase tão divertidas quanto ver o Van Damme armando barraco ao ver a Gretchen rebolar.
 
Enquanto ainda houver luz no fim do túnel, estaremos aqui, jogando papo fora em sua caixa postal. E quando o racionamento de luz começar, um conselho ululantemente óbvio: aproveitem o tempo livre sem computadores ou televisores conversando com os amigos, fazendo amor, tomando vinho, lendo Cortázar. Vida é uma coisa do caralho.
 
 
::: É Fantástico
::: Ian Black <[email protected]>
 
Era uma delícia ficar na casa da minha avó nos domingos, pois ela adorava o Silvio Santos e conseqüente, a televisão ficava ligada no SBT durante todo o domingo. Começava com o Domingo No Parque, com o Silvio Santos fazendo perguntas estúpidas e as crianças respondendo "sim" ou "não", trocando bicicletas por um "milhão".
 
Havia a Porta Da Esperança, aonde nunca sortearam a minha carta pedindo a coleção completa de Star Wars da Estrela. O Qual É A Música e suas disputas históricas entre Silvio Britto e Placa Luminosa, ou Gretchen e Sidney Magal. E durante os comerciais havia a Semana Do Presidente, que eu não entendia bulhufas, e aquele Jesus Cristo loirinho conversando com Deus.
 
...e eu gostaria tanto de chamá-lo de meu filho...
 
Mas chegava a noite e eu torcia para que meus pais ficassem mais um pouquinho na casa da minha avó. Porque a vovó sempre assistia ao Show De Calouros. Não que eu gostasse das palhaçadas do Sérgio Mallandro ou da antipatia do Pedro de Lara, muito menos do fato da minha avó se parecer com a Aracy de Almeida. Confesso que até sonhava em ganhar aquele troféu "honra ao mérito". Mas o verdadeiro motivo que me fazia gostar de ficar na casa da minha avó era porque ela não assistia ao Fantástico.
 
Quando a gente chegava em casa mais cedo, meus pais ligavam a televisão no Fantástico. Eu até tentava rodar o seletor de canais, já que o controle remoto ainda era um sonho lá em casa, mas minha mãe me dava uma bronca e colocava de volta no Fantástico.
 
O video-clipe de "Thriller", do Michael Jackson foi exibido pela primeira vez lá no Fantástico. e eu assisti e fiquei com medo do escuro por quase dez anos.
E ainda havia a zebrinha que narrava os resultados da loteria esportiva. Era ela começar a falar da coluna 1, coluna 2, coluna do meio, que eu corria para debaixo dos meus cobertores.
 
Mas o que me dava mais medo naquele show (de horrores) da vida eram as garotas que ficavam dançando na abertura do programa. Elas eram supermaquiadas e usavam roupas futuristas, num cenário, óbvio, futurista (maldito Hans Donner, malditos anos 80). Para completar, elas ainda ficavam acompanhando o tema de abertura com um "uuuuuuu" que era pavoroso. Eu até enfretaria os monstros de "Thriller" montado em zebrinhas da loteria esportiva, contanto que eles não chamassem as garotas da abertura do Fantástico.
 
Meu irmão mais velho vivia tirando um sarro da minha cara. Como eu poderia ter medo de mulher. Eu não tinha medo de mulher. Sempre adorei minha mãe, minha avó, minha irmã e ainda era tinha uma quedinha pela Gigi, a menina bonita do pré. E nenhuma delas usava aquelas roupas e maquiagens e nem moravam naquele cenário estranho e não saiam cantando o terrível "uuuuuuu".
 
Meu irmão sempre chamava seus amigos para jogar videogame em casa, o que me emputecia muito, pois nestas ocasiões eu não podia nem chegar perto do Atari 2600. Um dos amigos do meu irmão era o Cezinha. Ele costumava contar várias histórias legais. Das vezes em que ele viajava para umas cidades legais, e eu sempre aumentava um pouco para impressionar os meus colegas do prezinho, dizendo que ele havia ido até para a Lua.
 
Mas naquele dia, o Cezinha contou algo que me deixou muito feliz. Numa conversa sobre mulheres, ele disse que havia comido a garota da abertura do Fantástico. Eu que estava emburrado no meu canto, abri um sorriso enorme ao saber que agora ela já não me assustaria mais nas noites de domingo, pois já estava dentro da privada, ou no mínimo, dentro da barriga do Cezinha.
 
Eu passei os dias que antecederam o Domingo me gabando para os colegas do prezinho, pois era o amigo do meu irmão que havia comido e dado um fim naquela mulher que aterrorizava as minhas noites de Domingo.
 
No grande dia, estávamos na casa da minha avó e a minha coragem era tanta que era capaz da zebrinha ter voltado para o zoológico de tanto medo. Meu pai iria ficar um pouco bravo, pois ele sempre carregava aqueles bilhetes da loteria no bolso. Quando estava para começar o Show de Calouros, corri para a frente da televisão, fechei os olhos e respirei fundo e mudei o canal...
 
Ao abrir os olhos, vi outras cores, outras mulheres muito mais bonitas, sem aquelas maquiagens medonhas. E não havia aqueles cenários medonhos e muito menos o "uuuuu", apenas um "é fantástico!!!" no final da música. Acho que eles ficaram com medo do Cezinha comer outra daquelas garotas. Então voltei ao Show de Calouros, e pensei comigo mesmo que o Cezinha era quem merecia ganhar o troféu "honra ao mérito".
 
 
::: L i s t a s   A b o b r o l
 
PARTE I
 
. Top 20 Motivos Pelos Quais R.E.M. é Melhor do que Sexo
. Lista encontrada Web afora, traduzida por Renata Parpolov <[email protected]>
 
1) Você ainda pode ser amigo das pessoas com quem já ouviu R.E.M.
2) É perfeitamente normal ouvir R.E.M. em grandes grupos...
3) Ninguém vai rir de você se você mostrar sua coleção do R.E.M.
4) Você pode ouvir R.E.M. em público.
5) Sua mãe não vai ter um ataque se pegar você ouvindo R.E.M. sozinho.
6) Você pode ouvir R.E.M. com sua irmã.
7) Se você ouvir R.E.M. não precisará pagar pensão alimentícia mais tarde.
8) Você não pega nenhuma doença ouvindo R.E.M.
9) Quando você ouvir R.E.M. junto com alguém, vocês vão SEMPRE chegar juntos no final.
10) Você pode ouvir R.E.M. com as pessoas sem que elas queiram levar isso a sério.
11) Você consegue ouvir R.E.M. por mais de 15 minutos.
12) Não é um grande problema se sua mulher te pegar ouvindo R.E.M. com outra pessoa...
13) Não há problema se você decidir vender CDs do R.E.M.
14) Você não vai pra cadeia se ouvir R.E.M. com uma menor.
15) Não é atividade ilícita menores visitarem sites do R.E.M.
16) É normal ouvir R.E.M. com uma pessoa diferente a cada noite.
17) Não há problemas em ouvir R.E.M. no colegial.
18) Você pode ouvir R.E.M. mesmo se tiver 60 anos.
19) Você não precisa colocar um preservativo no seu CD Player..
20) Você não precisa ter uma conversa embaraçosa com seus filhos sobre o que é o R.E.M...
 
PARTE II
 
. Top 20 Exemplos de Coisas Melhores do que Sexo
. Orlando Tosetto Junior <[email protected]>, depois de ler o texto acima e se convencer de que QUALQUER COISA é melhor do que sexo.
 
1) Tatuar búfalos. Você ainda pode ser amigo das pessoas com quem tatuou búfalos.
 
2) Morder ratazanas vivas em bacias cheias d'água. É perfeitamente normal morder ratazanas vivas em bacias cheias d'água em grandes grupos. Quer dizer, normal não é, mas e daí?
 
3) Engolir peças de dominó. Ninguém vai rir de você se você mostrar sua coleção de peças de dominó engolidas. Talvez sintam-se meio estranhas, mas rir, não vão.
 
4) Torturar taturanas. Você pode torturar taturanas em público. Ninguém liga pra elas.
 
5) Beliscar as pálpebras. Sua mãe não vai ter um ataque se pegar você beliscando as pálpebras sozinho. É um jeito meigo de puxar a pelinha.
 
6) Vomitar. Você pode vomitar com sua irmã. Ou em cima dela.
 
7) Esfregar vidro na cara. Se você esfregar vidro na cara não precisará pagar pensão alimentícia mais tarde.
 
8) Morrer. Você não pega nenhuma doença depois de morto.
 
9) Algemar-se a alguém. Quando você sair pela aí algemado a alguém, vocês vão SEMPRE chegar juntos no final.
 
10) Grudar bacon cru na parede. Você pode grudar bacon cru nas paredes das pessoas sem que elas queiram levar isso a sério. Bom... pensando bem, talvez levem. Melhor esquecer essa.
 
11) Olhar mosquitos. Você consegue olhar mosquitos por mais de 15 minutos.
 
12) Matar coelhinhos a pontapés. Não é um grande problema se sua mulher te pegar matando coelhinhos a pontapés com outra pessoa. Talvez ela se horrorize com a brutalidade de vocês, mas jamais vai pensar que são amantes, por exemplo.
 
13) Vender carvão. Não há problema se você decidir vender carvão. Tanta gente vende, não é?
 
14) Escanhoar ursinhos de pelúcia. Você não vai pra cadeia se escanhoar ursinhos de pelúcia com uma menor. Por mais sugestivo e bizarro que isso pareça.
 
15) Mandar menores à merda. Não é contra a lei mandar menores à merda.
 
16) Fazer patê de sardinha com pêssego. É normal fazer patê de sardinha com pêssego com uma pessoa diferente a cada noite. Menos normal é comer isso, mas, de novo: e daí?
 
17) Degolar porcos. Não há problemas em degolar porcos no colegial. Ou será que há? E se for num desses passeios didáticos ao frigorífico? Acho que tudo bem...
 
18) Beber lisoform. Você pode beber lisoform mesmo se tiver 60 anos. Aliás, mesmo se tiver 80.
 
19) Tapar a narina esquerda com um dedo. Você não precisa colocar um preservativo no seu dedo. Nem no seu nariz.
 
20) Chicotear um milharal. Você não precisa ter uma conversa embaraçosa com seus filhos sobre o que é chicotear um milharal.
 
 
::: Um senhor distinto
::: Carolina Linden <[email protected]>
 
Para muitas pessoas, ir ao Teatro Municipal é um acontecimento. Você vê aquelas mulheres chiquérrimas, super arrumadas, parece até que vão subir no palco e cantar alguma coisa. São elas que te olham torto se você vai de jaqueta de couro ou, horror dos horrores, de calça jeans. E também são elas as ladies que nem reclamam quando toca o celular de alguém, só para não fazer mais barulho.
 
Algumas dessas senhoras estão lá sentadinhas acompanhadas. Mas também se vê senhores arrumados e engravatados sozinhos, apenas apreciando a boa música. Talvez com saudade de algum tempo distante ou de alguma pessoa distante. Talvez descansando depois de um dia de trabalho ou somente passando o tempo.
 
Era um desses senhores que estava ao meu lado na apresentação de um coro europeu.
 
Se eu fosse mais antiga do que de fato sou, diria que era um senhor muito distinto. Distinto era uma palavra que se usava mais antigamente, na época em que mais pessoas eram, de fato, distintas das outras. Este senhor distinto deveria ser médico, engenheiro, advogado ou professor, profissões de senhores distintos. E deveria ser viúvo também, pois um homem distinto daqueles não iria sozinho ao Municipal deixando a senhora em casa.
 
Ele estava sozinho na cadeira extra do canto.
 
O concerto começa com Händel. Eu, sob efeito de xarope para asma e fazendo um esforço danado para não tossir, fico dividindo minha atenção entre o concerto e as pessoas à minha volta. É quando reparo nele sentado do meu lado.
 
Ele cochilava. Não apenas cochilava, mas roncava. Baixinho, mas roncava.
 
Uma solista no palco dá um agudo mais agudo e ele acorda. Sabe aquela cara que a gente faz quando começa a cochilar na primeira cadeira da sala da escola e o professor acorda a gente? Foi assim que ele ficou, tadinho, do meu lado.
 
E só fez essa cara porque era mesmo muito distinto.
 
 
::: Vejam que monstruosidade
::: carlãO <[email protected]>
 
Puto com os spams sobre atrocidades inverossímeis com animais, carlãO teve que fazer o seguinte texto:

POR FAVOR, PESSOAL, VISITEM O SITE E AJUDEM A FAZER ESSE DE-CABEÇA-PARA-BAIXO ASSINADO!!!...
 
Atenção, estamos passando uma lista contra a criação de vassouras feitas com morcegos vivos. Dizem que o monstro que está fazendo isso é um aprendiz de vampiro que voltou frustrado da Transilvânia porque não encontrou lá o bisneto do Conde Vlad. O meliante sai pela noite com uma vara de marmelo e começa a zuni-la nas proximidades de cavernas e poços abandonados de fazendas antigas. Os bichinhos, cegos como o Mr. Magoo, são atraídos e desmaiam ao se chocarem com a vara. O sacripanta então os envolve numa rede e, de posse de seis ou sete espécimes, os grampeia com as asas abertas em pés de rodo. Seus ânus são costurados para não sujarem em vez de limparem. A duração do produto é de 2 dias. No terceiro dia, mortos e murchos, são usados como escovão para lavagens de vidraças e pneus de carros. Alguns, semi-mortos, ainda conseguem emitir um grunhido febril, mas o Batman nunca os escuta... Crueldade que está virando moda em casas de donos de trens-fantasmas e de recordistas em doação de sangue. Vejam mais em:
 
http://www.morcegosajaxvejamultiuso.com.br

Estamos fazendo um de-cabeça-para-baixo-assinado (afinal são morcegos), para enviar à Sociedade Protetora Dos Símbolos De Super-Heróis e aos noticiários, para evitar que esses abusos tenham continuidade e acabem levando à falência o Tim Burton, Val Kilmer, George Clooney e o Michael Keaton, além de jogar na sarjeta, suja, o mito do Drácula de Bram Stocker.

Agradecemos o interesse e pedimos que enviem uma cópia deste aos amantes do Christopher Lee, Gary Oldman, Vampiro Carneiro o vampiro brasileiro e o Bat Masterson.

Coloquem seus nomes no final da lista e ao inteirarem 500 nomes, enviem para:
 
[email protected]

1. Ozzy Osborne - U.K.
2. Marilyn Manson - Hell
3. Oscar Rapato - Fazenda Peão
4. Niosan Guessuga - Nipon
5.
 
 
::: A c h a d o s   e   P e r d i d o s
::: Quer rever sua namoradinha da 3a. série? Seu primo que se mudou pra Itaquaquecetuba? Aquele vinil raro dos Stones? Não perca tempo. Escreva para [email protected] e faça seu pedido. Quem sabe algum de nossos incautos assinantes não pode lhe ajudar?
 
ALEXANDRE CARVALHO <[email protected]> procura: MANÉ, um dos caras mais batutas do colegial no Brasílio Machado, apaixonado por uma nissei gatíssima, chamada Rose (aliás, eu procuro ela também). Um dia, ele quase cortou os pulsos porque achava que a menina tinha alguma coisa comigo. Bobagem; também fiquei só na vontade. Ela era uma daquelas ninfas inatingíveis que nos enfeitiçam com seus cantos, na adolescência, mas só namoram com os caras de 18, que já têm carro e faculdade. Enfim, hoje o Mané, que era o melhor aluno de língua portuguesa da classe de 88, já deve ser um advogado de respeito, formado pela faculdade do Largo São Francisco. Mas era um moleque doido para caramba, que vivia se machucando em tombos inacreditáveis na rua. Mané, cadê você, meu filho?
 
 
::: Velocidade
::: Daniela Sigaud <[email protected]>
 
O sol começa a invadir o carpete, bem devagar... Para trás ficaram o desejo e suas precipitadas paixões. Meu sono aumenta a cada dia, uma necessidade de espera. Do quê? Ainda está indefinido, jogo inacabado. Atualmente retornamos à infância, falando de nossos desenhos preferidos, sítio do pica- pau amarelo, speed racer... A sintonia se deu na vitrolinha e seus disquinhos coloridos. Buscamos a fabulação e recontamos os três porquinhos. Meu amor faz casinhas de tijolos, firmes, seguras e aquecidas. Eu, estou lá fora, sentindo na pele as estações. Sobrevivi ao inverno, da primavera senti o frescor e um enfado de verão. E o outono? Sempre a dúvida. No outono, ventanias, algo pode acontecer... e, se o porco for anarquista poderia me deixar entrar... Lá fora o lobo mau vive cheio de voracidade. Possui um carro veloz e a cada vitória nos mostra sua bandeira... vermelho, azul e estrelas.
 
CD – Death to the Pixies, 3. Tame
 
 
::: poema
::: Orlando Lopes <[email protected]>
 
O fim do amor são dominós enfileirados:
Palavras irreversíveis
Derrubando no piso o peso de um e outro sentimentos
(O giro sofrido, o sopro sôfrego, o golpe do sofrimento
(Uma pedra que descansa sobre a outra
Pedra sobre pedra
Tormento sepultado)

O fim do amor parece muro sólido
E oferece o medo de se arremeter contra ele

A face visível: belas efígies da cordialidade perdida
A face oculta: matemática casual dos afetos
E com as duas se pode ver a memória encontrar o falso cálculo
O passo em falso)

O fim do amor é labirintítico
Ainda
De pedra
É peça que sobre peça a palavra desarma
E vai fazendo pequenos alardes
Dando ao chão o floreio da morte que desabrocha
Em mosaico perfeito - mesmo que bruto -
Desenho do luto
Do amor desfeito
 
 
::: Uma comédia rotineira - ou - Magdalena, essa mulher difícil
::: Aline de Mello <[email protected]>
 
Mulher - Já que vamos ser colegas, que tal nos apresentarmos? O meu nome é Magdalena, e o teu?

Homem - Você vai rir... - disse ele, tentando um sorriso, mas todos aqueles espelhos o constrangiam.

Mulher - Ah, vou rir, nada! Fala aí, vai...

Homem - Bom... é que meu nome é Hilário.
 
Mulher - Tudo bem, eu já disse que não vou rir.
 
Ele, ofendido,  entendeu que ela não entendeu. Pigarreou. Ai ai ai.
 
Homem - Não, o meu nome é Hilário, mesmo.

Mulher - Tá, cara, é hilário, mas eu já disse que não vou rir! Me diz, como é que é o teu nome?

Ele, incrédulo, perdeu a paciência:

Homem - Mas eu já disse, caralho, meu nome é Hilário!

Mulher - Rimou, rá rá rá! Você é engraçado. (Fez uma pausa, recuperou-se). Tá, mas e o nome?

Com essa ele enlouqueceu. "Pronto", pensou, "além desses espelhos, ainda essa chata. Sei não..."

Homem - É Tadeu.

Ela, finalmente, ficou séria.

Mulher - E qual é a graça? Tadeu não é nada hilário! Meu marido é Tadeu e ninguém acha engraçado! Meu filho é Tadeu Lucas João Jorge Filho Júnior Segundo Sagrado Melo Pereira de Albuquerque e... (puf...puf...) e acho lindo! Lindo! Não tem nada de engraçado com Tadeu, tá? E chega, você fica aí, todo estúpido, se achando o tal, e me ver insultar meus parentes! Seu... Seu... Cretino!
 
E paf, deu-lhe um tapa no rosto. Depois saiu, balançando o coque.

"Essas bailarinas", pensou Hilário. E no outro dia pendurou as sapatilhas, e aderiu, finalmente, à musculação.
 
 
::: R á p i d a s   R a s t e i r a s
 
"A oportunidade é um bicho cabeludo na frente e careca atrás. Se quando vem você não pega, se passou não pega mais".
(ANÔNIMO, que escreveu a pérola acima num daqueles e-mails do tipo "Iluda-se Achando que Você Vai Ficar Rico Mandando Forwards Pra Todos os Coitados da Sua Lista".)
 
 
::: Novelinha barata em alguns capítulos (parte 5)
::: Mateus Potumati <[email protected]>
                                        
brasil, aí vai finalmente mais um capítulo de vossa "noveliiinha barata em alguns episódios" (* ler com voz de "versão brasileira becaéssseee"). como vocês já sabem, a periodicidade é caótica, e por isso apresento-lhes antes, orgulhosamente:

ººººººººººººººººººººººoºoººººººººººººººººººº
ºº "cenaaaas dos últimos capítuloooos" (*)  ººº
ººººººººººººººººººººoºoºoººººººººººººººººººº

no primeiro episódio (spamzine edição 3), Chico vai ao shopping atrás de peças para consertar seu chuveiro, no meio do inverno londrinense. angustiado por causa da situação profissional e amorosa, busca conforto numa exposição de animais, onde conhece Cíntia (que não é um animal, mas uma mulher).
 
compra um filhote de gato para não dar na cara, e consegue convencê-la a jantarem juntos. depois da janta (spamzine 4), convence-a a aceitar uma carona.

no meio da carona (spam 8), Chico tece um comentário infeliz e acontece uma
briga, que no final faz com que Cíntia jogue lama em sua cara e roupa.

Chico se arrepende, chama-a de volta para o carro (frio rigoroso, vento cortante, chuvinha fina lazarenta, sentimento de humanidade e tal). quando vai deixá-la na frente do prédio no bairro suburbano, é convidado a subir para trocar de roupa, limpar-se, etc. (meu deus, que argumento esdrúxulo). a moça que divide o apartamento com Cíntia não está, e eles estão a sós.

Chico vai tomar um banho (spam 10) e ao sair veste por engano uma blusinha da moradora ausente. depois da tiração de sarro inevitável, Cíntia vai ajudá-lo a tirar a peça, mas ela fica entalada no pescoço do nosso babaca-e-herói. sai somente com muita força, machuca-o, recebe consolo de Cíntia e, ao final, um beijo. e então é agora, um domingo qualquer de agosto do ano 2000.

ººººººººººººººººo0oººººººººººººººº
ººº  novelinha barata, capítulo 5  ººº
ººººººººººººººººoOoººººººººººººººº

|+| radiohead: ok computer, the bends;
|+| pedro: reclamações sobre o jean e o futuro da banda;
|+| south park - bigger, longer and uncut;
|+| the beatles: let it be;
|+| j. mascis: martin and me;
|+| coletânea que eu gravei com as bandas: pizzicato 5, beastie boys,
    trail of dead, jon spencer, chili peppers, primal scream;

[frase da semana: "hahah! could you please tell us what our discussion is all
abOUt?!"]

foi um beijo meio inocente, com licença da palavra, o que ela me deu - sem língua, quase um beijo de consolo. mas foi um beijo na boca.

fiquei parado, sem reação, e só fechei meus olhos. quando acabou, ela me fitou com um olhar cândido, sorrindo docemente, e afagou meu cabelo. desci minhas mãos até sua cintura, e quando cheguei ali a segurei firmemente, puxando-a para perto de mim. Cíntia inclinou sua cabeça para trás e jogou os braços. o moletom subiu e deixou à mostra o umbigo longilíneo, o abdôme cheinho de garota comum, e um pedaço da calcinha. com os polegares, segui a linha do elástico e rocei a pele por debaixo. ela começou a rir meio sarcasticamente, dando trancos no corpo, mas continuou na mesma posição. levantei seu dorso com uma das mãos e olhei-a nos olhos. ela olhou para a estante atrás de mim e apontou com o dedo. virei-me, era uma garrafa de um vinho italiano quase cheia. "pega ali, vamos beber", disse.

sem soltar sua cintura, peguei a garrafa com a mão esquerda, tirei a rolha com os dentes e dei um bom gole. Cíntia tomou-me a garrafa e deu um gole maior ainda, desatando a rir depois. devolveu-me, sorvi outro tanto e ela soltou-se de mim, fazendo um gesto engraçado como o de quem se desvencilha de uma criança grudenta. ligou o som e pôs um vinil pra rodar, que consegui distinguir depois de alguns segundos como sendo da Perla.

fui empurrado pra cama e, com a garrafa como microfone, Cíntia começou uma dublagem hilária de "Chiquitita do meu coração". ela empenhava ao mesmo tempo emoção e palhacice na performance, entre um gole e outro. os gestos eram intensos e exagerados, perfeitamente harmônicos com a letra e as entonações da música. ri até minha barriga doer e bati palmas efusivas no final, ao que ela agradeceu curvando-se três vezes. deu-me a garrafa de volta, disse "bebe" e saiu do quarto por uns instantes. fiquei ali, na cama, ouvindo incrédulo ao disco da Perla e bebendo o vinho, que já iniciava seus milenarmente conhecidos, louvados e sublimes efeitos.

qualquer resíduo de angústia - meu limbo existencial e tudo mais - foi sendo aos poucos eliminado pelo álcool. eu bebia rápido, porque o vinho era bom e fazia frio, e fiquei tendo pensamentos desconexos e rindo de mim mesmo. comecei a fuçar nos discos, e perguntei a ela se podia trocar o som. ela gritou que sim, à vontade, e pus um do Happy Mondays.

Cíntia voltou com uma pequena caixa de madeira, de onde tirou uma bolinha preta e um cachimbo metálico. era haxixe. "vamos fumar?". eu não estava  mais fumando maconha fazia tempo, porque tinha parado de ser divertido pra mim, mas costumava ser legal quando vinha por cima do álcool. além do mais, não era maconha, era haxixe, e não é sempre que aparece por aqui. "dou umas bolas", disse. sentou-se no meu colo, de frente pra mim, tirou uma lasca generosa da bolinha e colocou-a no cachimbo. logo, aquele agradável cheiro verde-musgo tomou conta do cubículo. com três bolas, mais o efeito do vinho, eu estava no estado em que os homens têm certeza de que são deuses.

beijei-a, segurando-lhe a cabeça por trás enquanto descia suavemente com a outra mão pela coluna abaixo. coloquei a mão por baixo do moletom e senti a pele lisa e quente. ela me beijava mais vorazmente à medida que eu subia em direção aos seios. toquei-os, senti-lhes a firmeza, apertei os bicos durinhos, e ela começou a mexer a bunda por cima do meu pau, que também já estava duro. total sincronismo de intenções, é disso que eu gosto.

ficamos nos bolinando até não agüentarmos mais de vontade, e depois nós acabamos de transar.

                              *

ela adormeceu antes de completar o último pensamento sobre o desentendimento com o gerente da exposição ("um paga-pau pervertido que tenta controlar a vida dos empregados"). estávamos espremidos na cama de solteiro, eu com o braço sob seu pescoço e ela com a bunda encaixada na minha pélvis. tentei dormir também. fechei os olhos mas a insônia, como tem feito ultimamente, tomou meus pensamentos com a ansiedade. a patrulha moral, que o vinho tinha distraído com tanta eficácia, despertou com fúria, jogando contra mim fortemente todas as verdades sobre o meu fracasso pessoal.
 
você é um coitado, chico. é um pobre vagabundo que sonha demais, que flutua a meio metro do chão e que não agüenta o tranco quando vê que vive de ilusões de poder. pior do que isso, é um paranóico (ou sei lá o nome certo pra isso) que imagina e sofre antecipadamente por desgraças que nunca acontecem. pior do que isso, envolve-se amorosamente muito depressa, com qualquer uma que idealiza, com você mesmo vendo sua mãe, no fundo. pior do que isso, é um perdulário inconseqüente, e é bem capaz de não conseguir pagar suas contas este mês. vangloria-se por possuir uma erudição precária, é intolerante e incapaz de admitir qualquer erro seu. é violento com as palavras, e sofre de diarréia verbal, sorri hipocritamente para pessoas que despreza, tenta mesmo ser gentil com elas, e guarda sua animosidade para os mais próximos, com quem é mais implacável do que consigo mesmo. de que adianta toda essa babaquice de taoísmo, de Lévi-Strauss e Castañeda, de Nietzsche e Wittgenstein, de Morphine e Dinosaur Jr. e Jorge Ben, se continua sempre sem saber a hora de calar a boca? mete logo uma faca no peito, viadinho, reconhece que você é um fraco mesmo e faz o mais fácil de uma vez. se matar é idiota, é patético, mas ficar vivo também, e você não tá dando conta de fazer isso decentemente, então se livra desse fardo.

fiquei mais algum tempo me depreciando, até que comecei a pensar em
alguma coisa agradável e peguei no sono também.
 
 
::: M o m e n t o  B r o d a g e m
::: Mural de recados da nossa galera - quem é da nossa gang não tem medo.
 
Como surgiu A F@brica
Luiz Coutinho <http://www.fabrica.com.br>
 
Um certo dia de 1986 acordei extremamente bem-humorado, dei uma revisada
geral em todas as minhas indignações, percebi que elas ficariam perdidas
nas seções "Cartas dos Leitores" dos jornais se eu decidisse botar a boca
no mundo e, então, criei a minha própria mídia. A F@brica nasceu assim,
comigo e mim mesmo, amparada na expectativa de se tornar um território para a livre expressão do pensamento - todos eles.

Os colaboradores que hoje deixam A F@brica permanentemente aberta também foram surgindo  do nada profundo que é a própria Internet, aliando-se ao meu desejo de observar as coisas e as gentes com olhares anticonvencionais. Não quero falar da Xuxa - quero falar da menininha que berra na loja para ganhar o brinquedinho e a roupinha que a moça jogou no mercado de consumo. Não me interessa o show dos Backstreet Boys, mas a mocinha que sai desmaiada nos braços do segurança. Passo longe de qualquer partido político, mas cerco na esquina as pessoas que deles fazem parte.

Assim fomos indo, fomos indo...pode completar a frase com aquela piadinha
que, certamente, você conhece. Não temos a intenção, lá na F@brica, de
reiventar a roda ou modificar o mundo - prá quê? Não somos visionários ou
profetas, apenas um punhado de jornalistas que em suas respectivas redações
ganham o leite das crianças mas na F@brica encontram-se para gozar o
extremo prazer que é digerir idéias e jogá-las no espaço da Internet sem
absolutamente nenhum tipo de mordaça.

Jornalistas. Somos onze lá na F@brica - e se você quer um sabor especial no
tempero que mescla a união dessa pequena tropa, saiba que nunca nos vimos e sempre nos amamos. Moramos na mesma cidade - e, no entanto, não nos
encontramos para tomar chope ou para xeretar a vida alheia. Gostamos que
seja assim, pois boa parte dos encontros fortuitos peneirados via Internet
acabam se revelando uma aporrinhação sem tamanho. Amando-nos à distância, fervorosamente ligados ao nosso objetivo comum, mantemos o mistério das nossas caras porque já desvendamos nossas almas. Isso é o que importa.
 
 
::: F a l a   q u e   E u   t e   E s c u t o
::: O que anda rolando em nossa caixa postal. Participe você também, enviando suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para [email protected].
 
"O SPAM ZINE me lembra quando eu era estudante de jornalismo ainda e tinha um jornal que metia tanto o pau em todo mundo que era o mais lido do campus, e da universidade toda (porque era bom ou pra conferirem quem tinha levado nos beiços)... Que saudade mesmo... tempos de fazer jornal com a cara e a coragem".
Ana Paula Penkala
 
OS EDITORES: Ana, nosso Spam funciona na verdade como aquele grêmio literário que cada centro ou diretório acadêmico tenta manter, mas que funciona na prática como um cantinho onde amigos se reúnem pra beber, falar besteiras e tomar chopinhos. Valeu pela mensagem, e estendo seu convite pessoal a todos os leitores do Spam para conhecer sua coluna sobre cinema em http://www.pelotasnet.com.br/colunas.htm. Grande beijo, A.I.
 
 
::: C r é d i t o s   F i n a i s
 
Produtores:
Alexandre Inagaki <[email protected]>
Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Músicos:
Alexandre Carvalho <[email protected]>
Aline de Mello <[email protected]>
carlãO <[email protected]>
Carolina Linden <[email protected]>
Ian Black <[email protected]>
Luiz Fernando Padilha <[email protected]>
Mateus Potumati <[email protected]>
Orlando Tosetto Junior <[email protected]>
Renata Parpolov <[email protected]>
Suzi Hong <[email protected]>
 
Backing Vocals:
Daniela Sigaud <[email protected]>
Luiz Coutinho <[email protected]>
Orlando Lopes <[email protected]>
 
Spam Zine é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net (a casa é modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, pedidos de edições anteriores, cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e/ou mensagens de amor? Escreva: [email protected]
 
 
::: P. S.
 
1) Pessoas impulsivas são foda. Mais foda ainda é que eu me incluo entre elas. E como é árdua a tarefa de fazer o "mea culpa" dos erros-impulsos. Putz, acho que no meu caso errar é institivo e meus "mea culpa" (como colocar isso no plural?) são alfinetadas aplicadas com agulhas beeeeem grandes. (Hong)
 
2) Ser DJ no Rio e depois botar som em uma festa em São Paulo é como jogar futebol pela primeira vez num campo gramado. O público de SP é muito mais exigente que o do RJ, e a tarefa é muito mais árdua (ufa!). Mesmo assim, a experiência foi muito gratificante. (Luiz Padilha)
 
3) O divertido de colocar som numa festa é ver a reação da galera a certas músicas. Por exemplo, quando toquei "Maria Madalena", de Sandra, empoeirado hit dos eighties, e vi a cara de espanto do pessoal. Ou a adrenalina quando rolaram Afghan Whigs, The The ou Iggy Pop & the Stooges. Boiada melhor que trabalhar como DJ, acho que só existiu um: a daquele tocador de maracas dos "Happy Mondays", finada banda inglesa. (Inagaki)
 
4) Dona Sayoko, pra você que está nos States: FELIZ DIA DAS MÃES!!!! (Inagaki)