[S p a m Z i n
e]
_____________
: 06 de maio de
2001
: curitiba, são paulo, são
leopoldo, rio de janeiro, lisboa, paris, goiânia
CHIQUE, NÃO?
Sim, pela primeira vez na história de nossa
e-publicação, Spam Zine cruzou o Atlântico e chegou, enfim, ao velho
continente. Fizemos o caminho às avessas de Cabral, e descobrimos na Europa
dois colaboradores que vieram para abrilhantar nosso escrete de escritores
(êta). São eles: Marcel Novaes, brasileiro que reside em Paris, e João Verde,
português de nascença (natural de Viana do Castelo) e vivência. Geógrafo e
webdeveloper, Verde é colunista do sítio Código de Barras (http://cdb.pnorte.pt) e traz a nós um
pouco da beleza da língua-mãe em seu belo sotaque lusitano.
Façamos como os irmãos portugueses, pois, e
abolamos (oof!) o gerúndio - esse devasso - de nossas conversas. Vamos recuperar
o brilho da língua de Luís de Camões, que, desde os cânticos dos Lusíadas,
sobreviveu sôfrego até o século XXI, mas jura que não passa do próximo hit
funk que invadir o baile das popozudas. Enquanto isso, fique com uma seção que
provisoriamente se chama Pelo Mundo,
e reúne os textos vindos diretamente do exterior.
***
A NORA QUE MAMÃE PEDIU A DEUS
Quem também estréia nesta edição do Spam é
ninguém menos que Cecilia Giannetti. Dona de um dos melhores textos pertencentes
à tal "nova geração" de escritores que surgem na web, Ciça é
também vocalista e compositora da banda porreta carioca 4 Track Valsa. Quer
ouvir? Procure por "Na Pista" no Napster ou no Audiogalaxy e seja um menino
feliz.
Pra não ficar só no lado musical, Ciça também
desfila qualidade, atrevimento e bom-humor em seus textos, que podem ser
encontrados aqui ou aqui. É um deleite. Em pouco mais de
uma semana de leitura, já fiquei apaixonado pela moça. Sim, marmanjos. Tem coisa
que você vai ver e, quando foi ver, já foi. Wonderful. Mas, como não sou um
editor ciumento, compartilho com todos as letras de Ciça. Daqui, agora em diante
e até sempre. No Outlook mais próximo de sua residência.
***
letras pequeninas
ANDO MUITO IMPACIENTE NOS ÚLTIMOS DIAS. E
CREIO QUE ESSA MINHA TAL IMPACIÊNCIA TENHA ME DEIXADO EXTREMAMENTE IRRITADO
COMIGO MESMO NOS MOMENTOS EM QUE NÃO CONSEGUIA CRIAR NADA DE DIFERENTE, EXCETO
PENSAR EM UMA NOZ QUE SE COME DE DENTRO PRA FORA.
ACHO QUE POR ISSO PENSEI EM ESCREVER PARTE DE
UM EDITORIAL EM LETRAS MAIÚSCULAS. PORQUE, SE A ESSÊNCIA PERMANECE A LESMA
LERDA, PELO MENOS NA FORMA A GENTE DÁ UMA DISFARÇADA.
É como se você descobrisse que seu grande
amor se casou, entende?
NÃO ENTENDE?
SÓ UM EXEMPLO: NA TERÇA-FEIRA À NOITE, QUANDO
O FERIADO ESTAVA QUASE ACABANDO, FIZ UMA ANOTAÇÃO QUE JULGAVA SER GENIAL E
PENDUREI NA TELA DO COMPUTADOR. ESQUECI DELA. HOJE FUI CONSULTÁ-LA E LÁ ESTAVA
ESCRITO: "Todas as coisas podem ser melhores que uma". EXATAMENTE. POR AÍ, VOCÊ
PODE ENTENDER PORQUE EU CONTINUO PENSANDO EM NOZES QUE SE COMEM DE DENTRO PRA
FORA.
Mas ela se casou, está feliz. Man, you gotta
get over it.
NÃO. TEM GENTE QUE NASCEU PRA SER HOMEM, E
TEM HOMEM QUE NASCEU PRA SER BURRO. E BURRO TEM MAIS É QUE PASTAR, MESMO.
PORTANTO, ESSA É UMA DAQUELAS SITUAÇÕES EM QUE VOCÊ NÃO VAI TER CABEÇA FRIA O
SUFICIENTE PARA SUPERAR E DESEJAR UMA BOA VIDA A TODOS. O QUE INTERESSA É A SUA
VIDA, E ELA JÁ ESTÁ NUM MERDÊ TOTAL. E AINDA VÊM COM ESSA? FUCK OFF. A CULPA É
DO TIM MAIA, QUE CANTAVA "ME DÊ MOTIVO... PRA IR EMBORA. NÃO VEJO A HORA... DE
TE PERDER".
Esse Tim era louco.
***
PENSAMENTO DA SEMANA: (não checado, vai de
cabeça, memo)
- Quem é o homem da primeira
base?
- Ken é o homem da primeira
base.
- QUEM é o homem da primeira
base?
- Ken. Ken é o homem da primeira
base.
***
(SO) SORRY
Vai ter festa de lançamento do zine
(SO) SORRY dia 12 de maio, às 23h02, no BritBar, na Rua Cardeal Arcoverde,
1857, na Vila Madalena, em SP. Na discotecagem, os editores do mesmo, Renata
Parpolov e Marcos Câmara, a.k.a. Ian Black (ambos colaboradores do Spam), L. F.
Padilha (o homem que desconhece a palavra 'consenso' - TAMBÉM colaborador do
Spam) e Alexandre Inagaki himself, mandando pópi + róque + 80's + 90's
+ nacional + niu uêivi + indie-gestos. Quer saber mais? Escreva para o Ian:
[email protected]. E vamos
todos ouvir REM.
***
E dá-lhe frente
fria!
***
O homem desce a rua,
preocupado com coisas que só ele sabe, quando é abordado por um outro sujeito.
— Pra você — diz o sujeito,
estendendo-lhe uma nota de dez reais.
O homem pára e fica olhando
para o outro, sem pegar o dinheiro, por três ou quatro segundos. Vê-se que está
com medo de que seja uma pegadinha, um conto do vigário, ou uma dessas promoções
escrotas, onde te dão dez tomando cinqüenta.
— Pra mim? — diz,
afinal.
— É — diz o outro, sacudindo
a nota. — Pega.
Mas ele não pega a nota (que
é quase nova). Não consegue pensar; só olha o dinheiro.
— Por que pra
mim?
— Sei lá. Deu vontade de
dar.
O homem sente sua suspeita
aumentar.
— Vontade,
é?
— É.
— E vontade por
quê?
— Porque você é
legal.
"Legal, eu?", pensa o homem,
quase ofendido. Irritado, pergunta:
— Como é que você sabe que eu
sou legal?
— Dá pra se ver que você é
legal.
— Mas como?
— Vendo. Você é legal
mesmo.
— Não sou.
— É sim. Você é um cara muito
bacana.
E volta a estender a
nota.
— Pega,
vai...
Mas o homem não pega. Ele
quer explicações. Ele quer entender.
— Escuta, você por acaso
conhece a minha vida?
— Evidente que
não!
— E se eu te dissesse que já
furei olho de passarinho?
— Eu jamais
acreditaria.
— Mas furei, tá? — fala o
homem, quase dando língua. — Furei!
— Não
acredito.
— É verdade.
—
Impossível.
— Eu juro!
— De jeito nenhum. Você é bom
demais para isso. Tó.
E volta a estender a
nota.
O homem está furioso, e
continua sem pegar o dinheiro.
— Olha, deixa eu tentar
entender.
— Claro.
— Você quer me dar
dinheiro.
— Isso.
— Porque eu sou,
supostamente, um bom sujeito.
— Supostamente não: você é um
bom sujeito.
O homem se impacienta, mas,
com esforço, se contém; ele quer é esbofetear o outro.
— OK. Digamos que eu
seja.
— Sim.
— De onde você tirou esse
dinheiro?
O outro se
surpreende.
— Ora, é
meu!
— Seu, é?
Sei.
— É meu sim!
— Duvido. Se fosse seu mesmo,
você não dava.
— Por quê?
— Porque ninguém dá
dinheiro.
O outro está bestificado, com
a nota na mão.
— Ora, eu dou. Quer dizer,
não dou; geralmente eu gasto com as minhas coisas... Mas hoje resolvi
dar.
— Ah,
resolveu.
— É, resolvi — responde o
outro, já ficando irritado.
— Resolveu abrir mão do seu
patrimônio.
— É.
— Pois você não devia fazer
isso.
— E por quê?
— Porque é
errado.
— Errado por
quê?
— Porque é,
ora.
O outro não
quer acreditar. Continua segurando a nota na mão. Volta a
oferecê-la.
— Olha, o dinheiro é meu,
certo?
— Certo.
— O que eu faço com ele é da
minha conta apenas, certo?
— Certo.
— Se eu gasto,
como, bebo, poupo, ou enfio no cu, é problema meu, certo?
— Certo.
— Se eu o dou a
você, é problema meu também, certo?
— Não: é um problema da sociedade.
O
outro fica meio minuto olhando a nota.
— Meu, pega. Tô te dando dinheiro,
cara.
— De jeito nenhum.
— Meu, são dez reais.
— Dez reais
inaceitáveis.
— Inaceitáveis por quê? — pergunta o outro, já
desesperado.
— Porque há valores a defender.
— Que valores? É
dinheiro!
— É um dinheiro amigo da baderna e da desestabilização. Ora, onde
já se viu? Então, um bela dia, um gaiato sai por aí dando dinheiro porque acha o
mundo legal, e ainda acha que isso é normal, aceitável, e não sei mais o quê?
Não pode!
— Mas porque não?
— Porque está eliminando da nossa sociedade,
da nossa cultura, a noção do valor, do sofrimento, da conquista. Imagina se tem
graça pra mim sair à rua e ganhar dez contos do primeiro laranja que me aparece,
como se eu fosse um mendigo. Pra mim não serve, entendeu?
— Mas você é tão
legal... olha, viu como você é articulado? Como fala bem? Com quem mais eu
poderia gastar dez reais, senão com alguém assim, tão... tão preparado para ter
dez reais?
O homem balança a cabeça,
triste. Põe a mão no ombro do outro.
— Meu pobre amigo, convença-se: seu
dinheiro é moralmente inaceitável.
E vai embora, deixando o outro com a nota
na mão. Caminhando tranqüilamente, ele chega à sua casa. Já na entrada diz à
esposa:
— Salvei o mundo.
— Como? — pergunta ela.
Ele conta.
— Bem,
eu teria pego os dez reais — diz ela, e vai temperar o frango.
Ele olha para
ela com desprezo. “No pasarán”, murmura.
:::
D i á l o g o s I n e s q u e c í v e i s
A
Filosofia em Rambo II - A Missão
Estava para escrever isso para
o Spam há tempo, mas queria ver o filme outra vez antes de mandar. Mas chegou
aqui a edição especial sobre cinema e eu não me agüentei. Ainda mais que fizeram
referência ao Rambo lá.
Rambo 2: um dos dois comandantes se chama
Murdock. Esse que vou citar aqui é o outro. Sabe-se lá por que razões, ainda não
fui na locadora retirar o tal filme e revê-lo. Mas sei que esse é um dos
diálogos mais importantes da minha midíocre (assim mesmo, com "i" - outra hora
explico de novo) cultura cinematográfica.
E também um dos mais
importantes da minha formação. Que nem a cena do Van Dame (um ou dois emes?)
obrigando o Chong Li (ou será "Lee") a dizer que desistia da luta na final do
Cumitê (desse nem arrisco a grafia correta), pegando a faixa do camarada que o
Chong tinha ferido e apertando-a na mão.
A conversa acontece no final da
história, depois de o Rambo destruir com uma metralhadora boa parte do
equipamento da base que deveria tê-lo assessorado, mas que o abandonou no meio
da batalha, com um grupo de reféns que ele havia libertado (era só para ter
fotografado).
O Rambo está caminhando em direção ao deserto (tem uma
vegetação rasteira, acho), faz sol e um calor imenso.
O militar amigo do
Rambo (o outro, o tal Murdock, é filho da puta, mandou abortar a missão quando
soube que o Rambo tinha resgatado os prisioneiros) pergunta:
- Como vai
viver?
O Rambo responde (eu me emociono):
- Dia a dia.
É
muito bom, sem sacanagem.
Quando eu revir o filme, aí vou poder citar
mais dois ou três, que quero lançar em inglês também, para manter o lirismo do
original.
NOTA DO EDITOR: O filme Rambo,
do original First Blood, foi citado na última edição cinematográfica do
Spam Zine como um "drama elizabetano sem texto, quase uma peça de mímica",
segundo palavras do próprio Sly. :-)
:::
José Antônio da Silva
São Paulo,
Cemitério da Cachoeirinha. Certamente, um nome nada aristocrático, nada
promocional. Quase indigente. E foi ali que ele fez questão de ser enterrado.
José Antonio da Silva. Outro nome nada promocional.
Era por volta das 14h00 de uma quinta-feira. O sol
deixava a paisagem saturada. E não propiciava clima para que as pessoas se
concentrassem nas suas tristezas. Os corpos insistiam em pedir atenção e
cuidado.
O rapaz entrou no salão do velório, justamente se
culpando por não estar conseguindo se concentrar na sua dor. Disperso, quase não
se dava conta do que acontecia ali. Viu pessoas chorando. E outras com rostos
vagos, sem expressão. Apenas presenças.
Lembrou-se da última vez em que esteve com José Antônio da Silva.
Foi na UTI de um hospital. Zé acabara de fazer uma traqueotomia. Tinha um tubo
na garganta, que o impedia de falar e de se mexer. Estava todo amarrado a fios,
soltando líquidos pelo corpo. O rapaz tinha impressão de que Zé morreria a
qualquer momento. E os três respiravam vagarosamente, no mesmo compasso. Ele, o
doente e as máquinas.
(Bip^^^^^^Shhhhh^^^^^^Bip^^^^^^Shhhhh).
Porém os olhos de Zé eram os
mesmos. Enormes, vivos, ansiosos.
(Bip^^^^^^Shhhhh^^^^^^Bip^^^^^^Shhhhh).
De acordo com
as classificações tradicionais, Zé era avô do rapaz. Mas no que isso importava?
Não havia como rotular a relação que existia entre os dois. Eram quase
amigos.
(Bip^^^^^^Shhhhh^^^^^^Bip^^^^^^Shhhhh).
Mas como? Seus
mundos eram radicalmente diferentes. Suas idéias raramente combinavam. Zé era um
ex-operário da Estrada de Ferro Santos Jundiaí, semi-analfabeto, conservador e
do interior de São Paulo. O rapaz era patológicamente urbano e era aquilo que as
pessoas chamam de intelectual, por falta de definições
melhores.
Todas as razões do mundo para não se aproximarem.
Mas havia um respeito mútuo e às vezes mudo. E um companheirismo, em detalhes.
Sabiam conversar sem ferir um ao outro. Pelo contrário: sentiam-se bem
juntos.
(Biiiiiiiiiiiiiiiip^^^^^^^^^^Sh^^^Shh).
O rapaz só se deu conta de que o avô havia morrido
porque algo chamou sua atenção. Um funcionário do cemitério cruzou de um lado a
outro do corredor. Em passos lentos, ritualísticos. Não olhava para os
lados.
Parou em frente a uma placa negra. Enfiou uma das
mãos num saco plástico. E, cuidadosamente, retirou pequenas letras, que colou na
placa, logo à sua frente.
Muito lentamente, a palavra se
formava:
J
O S E A N
T O N
I...
(Biiiiiiiiiiiiiiiiiip.)
Não quis mais olhar. Foi consolar sua avó. Mas
sabendo que tudo aquilo seria inútil. O que se pode dizer a alguém que perdeu o
marido, com o qual conviveu por mais de cinqüenta anos? Apenas a abraçou. E
ficaram ali, ao mesmo tempo solidários e solitários em suas
dores.
"Pode-se sofrer de infinitas maneiras", o rapaz
pensava, "a felicidade tem um tom estúpido e limitado". (Alguém já falou isso
antes). Logo em seguida, ria de si mesmo: “se disser isso em público, terei de
ficar meses me justificando, para os que me acham pessimista e sombrio. É capaz
de pensarem que eu não gosto de ser feliz. Raça de Lair Ribeiros. Qualquer
dúvida os faz fugir para os seus travesseiros
cognitivos".
Não conseguia derramar sequer uma lágrima. Porém,
sua cabeça era uma profusão de teorias e de reflexões que se chocavam e se
entre-analisavam. Pensava em coisas que ninguém ali entenderia. E, sentia-se,
como sempre, conformadamente solitário.
Invejava a dor espontânea e barulhenta do tio,
simplesmente, "Bastião". Sua dor era comovente. Dizia, chorando, com sotaque do
interior paulista: "como é triste perder um ente querido". Pronunciava todas as
vogais.
E, finalmente, a angústia
chegou.
Bruscamente, virou-se para a avó e disse: "Eu
estou impregnado do meu avô". Ela olhava, tentando entender. Mas o rapaz
continuava, como se estivesse falando para si mesmo: "foi ele que me levou para
conhecer o centro de SP quando eu era moleque. Eu olhava aqueles prédios, a
Estação da Luz, com um sentimento de pertencer àquilo tudo. Até hoje me sinto
assim".
"Quando criança, eu queria ser um lutador de artes
marciais, lembra? Era meu avô que fazia minhas espadas de madeira, que cortava
couro para fazer as bainhas. Quando comecei a ouvir música, ele me fez uma
guitarra vermelha, também de madeira, forrada com camurça. Me ajudou a desenhar
as cordas. Pescava comigo, fazia castelos de areia na praia. Me contava suas
histórias de operário em meados do século 20...".
Algo ali estava perdendo o
ritmo:
"Depois na adolescência ele foi comigo à Rua Santa
Efigênia comprar minha primeira guitarra de verdade meu pai não queria que eu
comprasse mas ele foi comigo confiante de que eu de alguma maneira precisava
daquilo lembra vó?"
A avó continuava
olhando.
"E quando eu entrei na faculdade? Ele ficou
orgulhoso não sabia muito bem o que eu estudava mas tinha uma estranha confiança
em mim me respeitava achava que eu estudava coisas importantes e sérias e quando
a Marta Suplicy venceu a eleição da prefeitura de SP queria que eu fosse
procurar emprego com ela ele já doente e falando com dificuldade sempre me
perguntava se eu já havia escrito para a Marta
Suplicy..."
O rapaz notou que a vó estava ocupada com sua dor.
"Preciso parar de tortura-la", pensou.
Olhou para os lados e reparou nos amigos do avô.
Amigos de mais de 30 anos. Todos tinham ainda a fisionomia típica das décadas de
1940 e 1950. Falavam com um tom italianado, como os antigos
radialistas.
O rapaz sentia-se tremendamente só. Pensava que
sempre fora assim. Quem, afinal, um dia teria se dado o trabalho de parar para
entende-lo, para ouvir o que ele tinha a dizer? Tinha a vocação para o dramalhão
mexicano.
Respirou fundo. E finalmente criou coragem para
olhar o corpo dentro no caixão. O estado das mãos de Zé Antonio mostrava que a
noite antes da morte não fora nada fácil.
Mas a expressão do rosto do avô parecia dizer
algo. Havia alguém no mundo que entendera e respeitara o rapaz. Mesmo que
nunca tivessem discutido questões que, para o neto, pareciam ser
essenciais.
Agora ele pensava que o entendimento, que a
companhia existencial, muitas vezes não se expressa em palavras, que não se
estende a enunciados, teorias, gostos ou pontos de vista. "Outra conclusão
mexicana".
O fato é que, na sua frente, havia alguém que o
respeitara e o entendera. Do seu jeito. E que nunca o abandonara. Durante toda
uma vida.
Que agora estava
extinta.
Riu consigo mesmo. Mesmo depois de morto Zé ainda
fora capaz de lhe ensinar alguma coisa.
::: A c h a d o s e
P e r d i d o s
::: Achou? Perdeu? Quer rever sua
professora do primário? Ou quem sabe aquele seu vizinho de praia em Santa
Catarina? Não perca tempo. Escreva para [email protected] e faça seu
pedido. Como não conseguimos resolver muita coisa, fique com um
TEXTO.
Achados e
perdidos da Ciça
Eu não leio todos os textos que me mandam por
e-mail, nem visito todos os sites que me mandam link porque existe esse negócio
agora de um tal de emprego e aí falta tempo, sabe como é. Só decidi ler o Spam
Zine no dia em que escrevi pro Alexandre topando colaborar. Aí fui dar uma
olhada nos textos que tinham vindo no Spam anterior e dei de cara com um nome
conhecido, que eu ouvia quando tinha uns 5 anos de idade. Ouvia muito. Tinha lá
um texto dele e o e-mail. Escrevi pro cara e era o próprio. Foi então que pensei
em fazer um achados e perdidos de caras que conheci, e, como ele, sumiram. Nos
arquivos do Spam, descobri que tal seção não só já existia como também o tal
sujeito lá dos 1980 da minha vida era um colaborador fixo. Em homenagem a esta
descoberta, meu achados e perdidos privado (os itens com * já foram
encontrados):
Vai pra casa,
Padilha*
Repeti este bordão durante boa parte da minha
infância, nunca sem um pouco de medo. Afinal, o Padilha em questão era maior que
eu, menino e conhecido por bicar a canela dos colegas independentemente do sexo
ou de advertências do professor. Ele era mais inteligente que o resto das
crianças. Provavelmente se alfabetizou lendo Os Irmãos Karamazov. Enquanto isso,
eu comia terra no parquinho do Maternal e repetia "Vai pra casa, Padilha"
igual um papagaio.
Quando finalmente li o Spam Zine, dei de cara
com o Padilha, o próprio, assinando uma coluninha aqui. Ainda moramos no mesmo
bairro e, tenho quase certeza, foi o Padilha mesmo que encontrei na ladeira de
Santa Teresa no carnaval passado cantando alalaô. Foi, foi sim. Bloco das
Carmelitas, eu tenho certeza. Padilha, vamo tomar uma cerveja. Eu prometo que
não digo "Vai pra casa, Padilha."
Admílson Paulista
Ele era um dos dois caras que falavam comigo no
segundo grau. Eu passei dois anos numa escola dormindo a manhã toda. Eu não
tinha saco praquilo. Chegaram a amarrar meus cadarços uma vez na mesa enquanto
eu dormia, aquela coisa, vamo ver se ela aprende a ficar acordada. Bem,
aconteceu que eu acordei, desamarrei os sapatos e não caí. Lição nenhuma
aprendida. O Paulista não se importava com nada disso. E daí que eu era
esquisita. Falava comigo. Mesmo nos meus piores dias, que não eram poucos.
Uma vez fizemos planos de morar em São Paulo.
Foi um surto de uma semana, apenas. Mudei de colégio e ele acabou mudando também
pro mesmo colégio, nada combinado.
(...) Levantei e fui até a pilastra do corredor
do lado de fora do quarto. bati a cabeça na pilastra. Voltei. Minha amiga,
Juliana Coutinho (www.contracampo.he.com.br), observa.
Que foi?
Peraí. Nunca tinha me dado conta disso: ele era
um dos DOIS únicos a falar comigo durante todo o tempo que estudei naquela
espelunca, ria das minhas piadas e foi estudar no mesmo colégio que eu, na mesma
turma, quando eu mudei. Porra. Se alguém tiver aí um diploma de mané pra me
conceder, enviar pra redação da Spam mais próxima. Acho que passei o segundo
grau todo me achando um monstro e aquele cara maneiro até gostava de mim.
Testemunhas podem afrimar que eu bati a cabeça na parede três vezes ao escrever
este texto e me dar conta disso.
Paul McCartney
Aos 12 anos, fui no aeroporto esperar o
Paul McCartney chegar. Ele não apareceu. Eu e os meus amiguinhos surtamos.
Imagina, um monte de criança surtando porque o Paul McCartney decidiu fugir
pelos fundos do aeroporto. Houve uma disputa não-declarada entre os coroas com
farda de Srgt. Peppers do fã-clube oficial dos Beatles e nós pra ver quem
chorava mais alto.
Vocês não esperavam que, depois de contar que
eu já fui amarrada pelos cadarços do tênis numa carteira escolar eu pudesse
ainda revelar alguma coisa desse nível na mesma coluna, né? Mas taí. E, se
alguém achar o Paul McCartney, já sabe o que fazer (violência não. Manda pra mim
que eu resolvo).
::: P e
l o M u n d o
:::
Portugal
Nunca conheceu o segredo.
Nunca teve a certeza de existir um segredo, apesar de viver toda a vida
convencido disso. Limitou-se, desde sempre, a fazer o melhor que sabia. Insistia
numa única certeza: Era ele. Era ele que sentia as coisas que mais ninguém podia
sentir por ela. Disso tinha ele bem a certeza.
Levantou-se preocupado. Não
era a primeira vez, mas era sempre assustador. Era sempre prenúncio de tristezas
acordar assim preocupado, com uma estranha sensação de ter más notícias pelo
caminho, quer levassem horas ou dias até chegar. Inquieto desejou que de nada se
tratasse. Com um pouco de sorte seria passageiro ou até injustificável. Mas
continuava preocupado, porque conhecia bem esse sentimento de estranheza, de
receber um sorriso deslavado, projectado para o exterior sem expressão interna.
A inquietude tomou conta dele e começou a sentir-se cair. Sabia bem que tinha
pouco tempo antes que todo o seu sistema nervoso se fosse abaixo. Era preciso
sustentá-lo, ou talvez distraí-lo com coisas banais de um quotidiano vulgar, mas
como fazer tal coisa se estava já invadido pelos fantasmas das más
novas?
Passou a reviver todos os
momentos em sucessão lenta. A racionalizar.
Passou a tentar convencer-se
de que tudo tinha sentido, e de que era impossível terem vivido coisas juntos
para que tudo perdessem. Tentou encontrar conforto no conceito de ideal comum.
Ficou na dúvida. Não tinha sequer a certeza de estar a fazer sentido nos seus
pensamentos. A confusão era total. A incerteza. Era esmagadora a incerteza. A
insegurança. O cansaço. As nuvens negras que mais uma vez se atiravam sobre a
sua cabeça, munidas de facas afiadas. Era um risco permanente. Passou a reviver
todos os momentos em sucessão lenta. A racionalizar.
Passara quase um ano desde a
última vez em que fizeram amor. E agora, o seu maior receio, era de que tivesse
sido essa a última vez. Era impossível que assim fosse, não tivera tempo de se
preparar. Não tinha podido atribuir a essa noite o significado, ou a dôr, que se
atribui a algo que se sabe ser a última vez. Estava de rastos. Amedrontado,
encostado a um canto, a viver sozinho a sua agonia. Estava a sucumbir aos
demónios com apenas um fio de fé a agarrá-lo à esperança. Continuava a tentar
racionalizar. Para onde se deveria virar? O que deveria fazer face à distância?
Lançar cordas ao mar para agarrar as águas, as redes às terras para manter as
raízes no lugar. Deveria fazer apelos de homem apaixonado, ou votar-se ao
silêncio. Referendo nacional que abençoasse a sua união. Como havia ele de se
sentir lá dentro. Como devia ele julgar-se a si próprio, como saber exactamente
o que sentir. Debater-se entre a vontade de chorar quieto num silêncio escuro,
ou esvaír-se num grito desafinado mas profundo. Qual era a sua melhor saída.
Qual seria a forma de agarrar a felicidade. Como poderia ele encher-lhe o
coração de saudade. De muita saudade. Tanta que a fizesse correr aos seus
braços. Romântico terminal, era ainda assolado por fantasias em que as mulheres
correm para os braços de quem amam. Seria ele amado?
:::
França
O que tenho agora nas mãos é
uma coisa um pouco deprimente. É algo que muitas pessoas se crêem capazes de
criar, mas elas estão enganadas. Esses objetos possuem realidade própria, e
somos felizes de algumas vezes poder materializá-los sem destruí-los. Falo de
cartas. Em particular, cartas não enviadas. Cartas não enviadas sempre me deixam
calado e pensativo. Elas são um discurso que elevou-se do lamaçal do nosso
cérebro para uma existência mais nobre mas foi executado ao nascer. Abortado.
Cartas não enviadas são algo que alguém disse mas ninguém ouviu.
A carta que estou segurando e
prestes a reler, o leitor já terá adivinhado, fui eu mesmo quem escreveu, há
alguns meses. Estava na minha gaveta, naquela gaveta em que se escondem os
fantasmas, as lembranças, um broche, um cartão, uma foto. E cartas. As recebidas
e as abortadas. Felizmente, e fico realmente feliz com isso, pois penso que
talvez existam pessoas que enviam todas as suas cartas - e que algumas delas se
destinam a mim - e que o número de cartas enviadas deve ser muito maior que o de
abortadas, pelo bem do mundo, felizmente, eu dizia, a quantidade de abortos não
é grande. As circunstâncias da vida que nos levam a ter vontade de sentar e
escrever uma longa carta não são muitas, e as que nos levam a desistir do
projeto, depois da carta escrita, quero dizer, são raras.
Na realidade, e talvez isso soe
como um anti-clímax, minhas cartas abortadas são apenas três. A primeira foi
concebida muitos anos atrás, na assim chamada adolescência, e era dirigida, como
novamente o leitor adivinhará facilmente, a uma garota. Nao há muito o que dizer
sobre isso que já não tenha sido dito. Eu era um garoto tímido, ela era uma moça
atraente, eu queria dizer-lhe que ela era a única razão pela qual eu ia à escola
todos os dias e a única maneira possível de fazer isso era de longe, por
escrito. Pelo menos já tinha passado da idade de mandar cartas anônimas (todo um
capítulo a parte na história das cartas). Escrevi a carta, disse também que
sabia que ela não ia se interessar por mim mas nao podia ficar calado, etc.,
enfiei num envelope, endereçei, selei e coloquei entre as páginas de Madame
Bovary para enviar no dia em que tivesse coragem.
Esse dia, e torno a ser
previsível (mas como nao ser previsível? Existe algo que ainda nao tenha sido
dito?), nunca chegou. Meses depois, tirei a carta de dentro do livro, rasguei o
envelope, reli e coloquei no receptáculo ectoplásmico, vulgo gaveta dos
fantasmas. Curiosamente, não muito tempo depois percebi que a garota era uma das
pessoas mais idiotas que já conheci. Felizmente faz anos que não a
vejo.
O segundo aborto ocorreu a
menos tempo, um tempo que pode ser genericamente denominado "poucos anos". Desta
vez não foi uma garota, mas foi outra figura mitologica: o autor preferido. Isso
mesmo. Faço parte da enorme legião de pessoas que ficaram tão apaixonadas por um
livro ou pelo autor que escreveram uma carta para o sujeito. Dentro dessa
legião, e não sei dizer se isso é bom ou mau, devo ser catalogado entre os que
não enviaram a tal carta. Desta vez, entretanto, não passei a julgar o autor
como um dos mais idiotas que conheci, muito pelo contrário. Desnecessário dizer
que nessa época escrevi alguns contos profundamente, e quero dizer
profundamente, influenciados pelo cara. Guardei um deles na gaveta e nos outros
pus fogo.
E finalmente chegamos à carta
que tenho em mãos. Esta já é um assunto mais delicado. Novamente, trata-se de
uma garota. Ou de uma mulher, sei lá. Mas desta vez o buraco era mais embaixo.
Não sei por onde começar. Era uma vez ele, era uma vez ela. Eles já se
conheciam, eram até bons amigos. Um dia se apaixonaram. Um pelo outro, quero
dizer. Viveram felizes por algum tempo, não muito, e ela disse a ele que ele nao
precisava mais procurá-la, ou algo desse tipo.
Esse talvez fosse um jeito
simples de narrar o que aconteceu. Mas todo mundo sabe que as coisas nunca são
tão simples (as coisas nunca são tão simples quanto a última sentença,
especialmente). Para falar tudo o que quero, tudo o que senti, eu precisaria ser
poeta, e dos bons. Não sou. Mal consigo me expressar em prosa. A carta, que
escrevi nos últimos dias do drama, quando percebi que havia algo cheirando mal e
uma quantidade razoável de sofrimento se anunciava, demonstra minha confusão
mental naquele período, eu acho. Talvez fosse mais simples deixar os leitores
julgarem por si mesmos, lendo o que escrevi. Mas não sei se devo fazer isso,
afinal trata-se de um aborto. É uma carta que não foi enviada, compreendem? São
coisas que eu disse e ninguém ouviu.
::: M o m e n t o
B r o d a g e m
::: Mural de
recados da nossa galera - quem é da nossa gang não tem
medo.
Manifesto
do Banheiro Espada
Literatura, comportamento, relatos e
depoimentos de leitores com o objetivo de revelar às mulheres pela primeira vez
a natureza do "pensamento genuinamente masculino", escrito por homens para
mulheres, sem atravessadores, sem equívocos. O Banheiro Espada <http://www.falae.com.br/banheiro> nasce de um VÁCUO provocado por publicações femininas como
CLÁUDIA, MARIE CLAIRE, NOVA e CAPRICHO (esta última a mais nefasta de todas,
pois compromete ainda durante a formação da personalidade da adolescente seus
valores e sua visão do universo masculino).
Este vácuo reflete o abismo que
separa o IMAGINÁRIO FEMININO da REALIDADE MASCULINA. Entenda-se o imaginário
feminino como as teorias e lendas mirabolantes criadas e alimentadas pelas
revistas femininas em torno das agruras, anseios e inseguranças masculinas. Tais
publicações, ao apresentarem mentiras como verdades, numa conspiração
CAPRICHOSAMENTE sutil e eficaz, dão a impressão de ter como objetivo o
esclarecimento feminino. Entretanto, são veículos disseminadores da
ignorância e do equívoco que tange as questões cruciais relativas ao
comportamento e pensamento do homem comum.
Resultado: dificultam a
convivência feliz e sadia entre homens e mulheres.
Definitivamente, não é
lendo o que uma mulher escreveu sobre o que ela pensa que o homem pensa, que UMA
OUTRA MULHER vai penetrar no NEM tão sombrio assim "pensamento genuinamente
masculino". O qual podemos defini-lo como o conjunto de experiências vividas
pelo homem durante a sua existência, que colaboram para a formação de um
inconsciente coletivo do macho.
Engana-se quem pensa que
a nossa proposta seja a de literatura para os homens. Nosso objetivo é INICIAR A
LEITORA DESOLADA/DESCOLADA NUMA MAIOR/MELHOR COMPREENSÃO do universo masculino.
Corroboraremos nossas páginas com depoimentos, textos e pensamentos do macho
brasileiro comum(um dos mais complexos da espécie). Do homem com
H.
Homem que, quando sozinho
ou junto aos seus pares, não se sente acuado e pode se expressar naturalmente.
Coça o saco, arrota depois de um gole de coca-cola no rodízio de massas no
almoço do meio de semana, vira a cabeça e faz "fiu-fiu" quando passa a
empregadinha do 406. Este homem comum, na praia, ao decidir por dar uma “caída
no mar”, deve se sentir livre para galopar até a água e saltar (ou dar uma
cambalhota), sem parar para considerar a temperatura ou ligar para as ondas.
Este mesmo homem que, ao sair do mar, corre (literalmente) na areia para o seu
lugar ao lado da fêmea amada, fêmea que o observa com admiração, enquanto este
macho resiste heroicamente a se sentar na cadeira, pois sabe que homem que é
homem deve ficar em pé por alguns minutos, olhando o movimento. Toda mulher QUE
ASPIRE A FÊMEA deve entender essas pequenas IDIOSSINCRASSIAS, e aprender a ver a
beleza intrínseca da MACHEZA de seu Homem, e até exaltá-la em determinadas
situações.
Dar-vos-ei outro exemplo de TÃO
importante questão. CONVERSAVA com uma amiga, Cláudia Holanda, que dissertava
com toda a certeza e vigor (que só os que desconhecem uma causa têm) o quanto
DESORIENTADOS e cheios de aflições os homens de hoje em dia são. Cláudia
enumerava A mais diversa sorte de teorias dantescas que nada tinham a ver com o
universo 'genuinamente masculino". MEU amigo Dante Sasso, que assistia a tudo de
camarote, retrucou:
- Tenho a impressão de que as meninas acham que há
muitas coisas que afligem a cabeça dos homens quando, na real, o principal
problema (ou VIRTUDE) dos homens é justamente não ter muitas coisas que afligem
suas cabeças...
Não se pode pensar "o
homem" através da cabeça de uma mulher! Isto é óbvio. Mas como diria NELSON
RODRIGUES, "toda a história humana ensina que SÓ OS PROFETAS ENXERGAM O ÓBVIO".
Sejamos profetas então! Tiremos as escamas que cobrem os olhos de nossas
mulheres (sem trocadilho) com uma lixa d'água, se necessário. DESINFETEMOS a
proliferação desse ensinamento torpe com "Pinho Sol".
PORÉM NÃO SE ILUDA, CARA
LEITORA! NÃO estamos aqui PARA "discutir a relação", tampouco para subestimar a
inteligência feminina. NÃO estamos querendo dar uma de durões (sem trocadilho!),
MUITO MENOS NEGAR que o homem não tenha lá suas preocupações e conflitos.
QUEREMOS, SIM, PRESTAR UM SERVIÇO DE VALOR INESTIMÁVEL à toda comunidade
heterossexual.
Aproveita e me passa a cerveja, benzinho.
::: F a l a q u e E
u t e E s c u t o
::: Mande
suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para <[email protected]>. Aqui,
trechos comentados de correspondências recebidas na última
semana.
"Oi, Inagaki. Delícia o zine sobre cinema.
maravilhoso 'ouvir' as lembranças das pessoas e ao mesmo tempo lembrar das
minhas. Meu pai tem um cinema lá em Uruguaiana, interior do Rio Grande do Sul.
Mandei o zine pra ele por fax e ele mandou uma resposta dizendo somente:
'Filhona, viste como ainda vale a pena?' :) Acho que não preciso dizer mais nada
por agora. Beijos e muito obrigado"
Cris Lisbôa
OS EDITORES: Cris, nós é que não
precisamos dizer mais nada depois de uma mensagem como essa. Ficamos muito feliz
que o nosso trabalho causou essa reação tanto em ti quanto em teu pai. E
obrigado, também, em compartilhar isso conosco. Beijos do seu editor,
R.S.
"oi, alexandre. hoje é dia do meu
aniversario, saí, comprei coisas, ganhei coisas, distribuí sorrisos e estou
contente.. sentei aqui por minutos pra dar uma olhadinha nos emails antes
de ir balançar o esqueleto com os amigos. recebi a revista..
comecei com nicole e o dia de domingo... como é prazeiroso este espaço,
este momento dedicado a beber as letrinhas que você reúne nesse seu
cantinho especial. obrigada pelo presente. é realmente um prazer
receber vocês. um beijo."
Valentina
OS EDITORES: Querida Valentina,
felicitações atrasadas pelo seu aniversário. Spam Zine é assim: simples, mas de
coração. Continue em contato conosco e nós é que receberemos presentes sempre,
mesmo não sendo nosso aniversário. :-) Ósculos fraternais do
R.S.
APELO DO EDITOR: Admiráveis leitores, ao
mandar mensagem para [email protected], lembrem-se
também do outro editor ao sul do Equador, que tanto zela pela sua saúde e
bom-humor. Não me faria mal ler uma mensagem começando com um "oi, Ricardo"...
:-}
::: C r é d i t o
s F i n a i s
Mestres-de-obras:
Operários da construção civil (em
ordem alfabética):
Cimentcola Quartzolit:
Spam Zine é um fanzine distribuído
gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para assinar o Spam Zine, visite
http://www.spamzine.cjb.net (a casa é
modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, pedidos de edições anteriores,
cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e/ou
mensagens de amor? Escreva: [email protected].
Spam Zine prega amor livre e gostosinho para
todos.
::: P.
S.
1) Toda mulher tem um quê de pitbull
metafísico. Quando nos abandonam sempre levam um pedaço da nossa alma.
(carlãO)
2) O que escrever, neste momento difícil em
que sou obrigado a aturar e-mails de ignaros tirando sarro da minha cara
por causa de minha condição
(privilegiada) de torcedor do Guarani de
Campinas, rebaixado pela primeira vez à segunda divisão do Paulistão?
Futebol é coisa para masoquistas. Dizer que um torcedor é sofredor é pura
obviedade, tão redundante como aquele que afirma que uma pessoa
enquanto humana a nível de homo sapiens é muito gente (sic). Quem já foi a um
estádio e suportou banheiros fétidos, paus entre torcedores e PMs e
arquibancadas em dias de chuva, e tudo isso pra ver um empate de 0 x 0,
sabe do que estou falando. Mas enfim, da queda vem a redenção. E eu sei que não
tardará o dia em que retrucarei às pilhérias de hoje com o silêncio altivo e
orgulhoso dos que superam as adversidades com o gosto doce da
vitória.
Quando eu morrer, por favor, não se esqueçam
de cobrir meu caixão com o manto sagrado: a bandeira do meu BUGRÃO.
(Inagaki)
3) Sobre o cinema e a infância: me orgulho de ter perdido meu cabaço cinematográfico aos
6 anos, no cine Comodoro, no centrão de São Paulo, com o filme "O Trapalhão
Na Arca De Noé", quando paguei o grande mico de gritar "Olha a Xuxa!!!" quando a
futura rainha dos baixinhos, então na Manchete, aparece na cena final.
Corrigindo o P.S. do camarada Goulart na edição passada,
o Cine Marabá, no centro de São Paulo, não se transformou em uma casa pornô. O
Mappin transformou-se em Extra, o antigo prédio da Eletropaulo transformou-se no
Shopping Light, mas o Marabá continua cinema "NORMAL" como sempre foi. O Cine
Marabá ainda é a maior sala de São Paulo, com seus mais de 1700 assentos. Ele
não possui o mesmo conforto das salas multiplex, onde a classe média
enfurnou-se, aumentando ainda mais o muro da separação social (credo, pareço
aqueles esquedistas revoltados!), mas possui uma acústica perfeita, uma tela de
bitola grande para a exibição de grandes clássicos, e o melhor, ingresso de
4 reais, o que o torna acessível para pessoas com um poder aquisitivo menor,
como os aposentados, grandes freqüentadores da sala. Aliás, o público que
freqüenta o Marabá é uma maravilha à parte. É o único que aplaude
alguma cena que empolga a todos durante a exibição, recordando o adjetivo
"espetáculo" atribuído às exibições
cinematográficas. (Black)