[S p a m  Z i n e]
_____________
 
    : 01 de abril de 2001
    : são paulo, são leopoldo, curitiba, goiânia, joão pessoa, palmas, porto alegre
 
::: e d i t o r i a l
::: Alexandre Inagaki <[email protected]>
 
Daqui pra frente, tudo vai ser diferente. O cachorro comeu a minha redação. Vou comprar um cigarro lá na esquina, daqui a pouco volto. Vou me casar virgem. Pode quebrar meu sigilo bancário, não tenho nada contra essa CPI. Puxa, você parece ser bem mais jovem. Foram as forças ocultas. Esse vestidinho de oncinha ficou o máximo! O importante é a beleza interior. Esta é a solução definitiva para todos os seus problemas financeiros. Doutor, não vi nada e não sei de nada. Cuidado com o vírus Bad Times. Hoje não, estou com dor de cabeça. Sogrinha, uma delícia o seu pudim de jiló! O Brasil é o país do futuro. Este é o melhor show que já fizemos na vida. Foi a cegonha que te trouxe. Amanhã não posso ir, vou ter que engessar a minha sobrancelha direita. Pode ficar tranqüilo, semana que vem vou depositar o dinheiro na sua conta. Encaminhe este e-mail para todo mundo que você conhece, e ganhe uma viagem para a Disney. Relaxe, só vai doer um pouquinho. Ninguém teve culpa, foi o destino que quis assim. Vou começar a dieta na segunda. Querida, não é nada disso que você está pensando! Se você não se comportar, não vai ganhar presente do Papai Noel. Só vou pôr a cabecinha. Eu nunca minto.
 
Perguntinha inocente: por que só UM Dia da Mentira?
 
***
 
Galera, tá cada vez mais difícil ser editor do Spam Zine. Felizmente, por um motivo agradável: estamos com sobras de bons textos. Pra vocês terem uma idéia de como andam as coisas, tive que deixar de fora textos do carlãO, Suzi Hong, Mateus Potumati, Orlando Tosetto Junior, Tatiana "Sweethell" Leão, Alexandre Carvalho e Priscilla Ramos. Esta edição, aliás, está ESTOURANDO de kbytes. Recomendo, inclusive, àqueles que recebem o Spam Zine em formato HTML, que troquem suas assinaturas para o formato plain text, se acharem que está demorando muito para carregar. Se bem que tem o seguinte: Spam Zine dói, mas é gostoso. =P
 
Destaque desta edição: a estréia de Carmela Toninelo, colunista do Baguete Diário e uma das responsáveis pela excelente revista eletrônica Viés <http://www.vies.unisinos.br>. Vocês não imaginam o quanto estou feliz por ter conseguido cooptar mais uma amiga para nossa intrépida trupe. Ah, temos também um hilariante texto do futuro papai Pedro Vitiello. Adiantando um dos tópicos de seu artigo, um comentário en passant: encontrei, numa dessas megastores, um singelo livro psicografado de Nélson Rodrigues, com o título de "A Vida Como Ela Continua Sendo Depois da Morte". Pfuf. Como diria um amigo meu, tem cada uma que parece duas.
 
Ah, aos indignados pelo atraso no envio da edição, a explicação: o editor vagal aqui ficou em frente à TV, torcendo contra o Schumacher...
 
 
::: Como Escrever Livros de Auto-Ajuda... (ou: "Não Atire sua Vaquinha de Marte em uma Tempestade de Copos d'Água em Vênus")
::: Pedro Vitiello <
[email protected]>
 
Hoje em dia, mais e mais pessoas têm conseguido, através de livros de auto-ajuda, resolver os seus problemas. Contas a pagar, dívidas, tempo para o lazer, tudo isso vem sendo solucionado (pelo menos, segundo os autores desses livros) através desta revolucionária forma de transmissão de idéias. E o melhor é que qualquer um, mas qualquer um MESMO, tem acesso a esta elaborada forma de escrita, pois é impressionante o quanto é fácil prosar sobre o óbvio ululante sem precisar de graduação ou pós-graduação, podendo até mesmo escrever um livro sem saber escrever!!! Não é revolucionário?
 
Mas sejamos melhores que os livros de auto-ajuda que existem por aí. Vamos dar alguns exemplos fictícios:
 
- Dona Zucleide, dona de casa do interior do Paraná, escreveu o livro "Aumentando O Que Já Ia Crescer de Qualquer Forma", uma interessante pesquisa feita com suas vizinhas sobre como as relações pessoais passam pelo que ela chama de "tensões". No livro, ela descreve suas experiências místicas a partir das tensões desencadeadas por uma porrada que José, seu marido e pai-de-santo, lhe deu, pouco antes de serem abduzidos por alienígenas de uma seita de Alfa Centauro.
 
- Pablo Conejo, ex-escritor pop de baladas, escreveu "Yo Soy Un Canastrón", falando sobre sua experiência mística, cheia de tensões familiares, antes de ser abduzido por uma editora que queria publicar seus livros.
 
- Johatahamn P. N'Taylor, americano, ex-místico, e jogador de biriba e bocha, escreveu "Crescendo as Bolas" ("Big Balls of Rubber"), aconselhando todos os seus leitores a serem abduzidos por uma seita de mulheres ninfomaníacas.
 
Os exemplos são os mais variados, mas tendem a usar pelo menos um dos elementos abaixo:
 
- Livros sobre vida familiar: teorias aparentemente absurdas, como sugestões para que a mulher obedeça ao seu marido em tudo, servindo-lhe como empregada não-remunerada, na realidade provaram ser de grande profundidade e sabedoria, a partir do momento em que o autor/autora descreve em 144 páginas o retrato de mulheres que são burras o suficiente para comprar um livro desses, merecendo assim servirem de capacho para seus machos.
 
- Livros psicografados sobre qualquer coisa: são livros de aborrecentes-adolescentes, médiuns e mal-humorados narrando o lirismo de sua vida (ou de uma delas) antes de virarem pudim em uma máquina alienígena que queria apenas abduzi-los; ou sobre a vida de líderes e filósofos famosos que, com certeza, odiariam ser psicografados, porém, pelo bem do marketing e da literatura barata, concedem uma "ajuda" a pessoas sem talento literário para, juntos, psicografarem uma imbecilidade qualquer que dê muito dinheiro.
 
- Livro de procto-psicólogos sobre questões classe média, do tipo "Como Segurar Seu Homem Pelo Pênis", ou "Como Fazer Aquela Gostosa da Sua Vizinha Olhar Para Você... E Rir Só Um Pouco Dessa Vez": trata-se de um material riquíssimo para quem se acha sensível-pois-chorou-em-um-filme-do-Stallone, mesmo que tenha sido porque a pipoca acabou, ou porque é sensível e está a fim de "repensar a relação".
 
- Linha "Como Transformar Seu Filho Mimado Em Uma Criança Mimada e Com Pais Muito Chatos": gênero dedicado a todos aqueles que têm filhos e não dão a mínima para eles, a não ser quando eles esperneiam pentelhamente em um supermercado, ou quando os genitores ouvem falar que "Juninho, o filho da dona Eulália do 403, está ouvindo rock e, portanto, logo vai se tatuar e abduzir umas menininhas, influenciando seu próprio rebento com orgias de ki-suco e biscoitos de água e sal”. Tais pais, zelosos com sua conta bancária, ficam preocupadíssimos em como poder educar seus filhos sem sujar as mãos nem comprar bonecas do tipo "Barbie faz Sexo Oral".
 
- Textos "Era de Aquarius": este tipo requereria uma edição toda especial. É o tipo de material que se dedica a decidir que seu nome, para ter um melhor Karma, deveria mudar de Humberto para Doisberto (segundo a numerologia). Ou, ainda, afirmar que aquele traste chamado de "marido" ser considerado o parceiro ideal, só porque o signo e o mapa astral assim decidiram. O gênero dedica-se também a ensinar que mijar no canto do quintal não deixa a energia Feng-Shui fluir, impedindo, sobretudo, que os homens da civilização intra-terrestre saiam do buraco para abduzir você.
 
- Textos "Faça Dinheiro e Dê para Mim, Sua Besta": voltados para aqueles valorosos homens de negócios pequenos (e pequenos negócios), poucos miolos e com muita vontade de continuarem estúpidos a respeito de assuntos como finanças e economia doméstica, dando exemplos práticos sobre como evitar gastar dinheiro em coisas como o livro que eles têm nas mãos.
 
Outros temas como civilizações perdidas (cujos livros incluem um guia da cidade que, mesmo assim, vai fazer o leitor parar para pedir informações); abduções de surfistas por uma seita que faz marketing; mapa astral legal; músicas pop que vão dominar a terra com livros de auto-ajuda místicos(!); posições criativas de sexo (que dão lucro a muitos ortopedistas); etc, certamente ainda virão, mas nosso espaço é curto e dá mau karma encher demais o saco do leitor com abobrinhas.
 
Uma vez escolhido o tema de seu livro, resta saber que Recurso Especial de Trabalhos Admirados e Reconhecidos De Otários (R.E.T.A.R.D.O.) será usado, a fim de que possamos criar siglas bonitinhas e muito (pouco) criativas, frases de efeito e títulos dignos de boas gargalhadas ou inspirados em ditados populares (estes, os ancestrais dos livros de auto-ajuda, aliás).
 
Entram na categoria acima títulos como "Não Borbulhe Para Não Fazer Tempestade em Copos d’Água (Mas Tudo na Vida São Borbulhos em Copos d'Água)"; "Mate sua Vaquinha"; "Atropele seu Ceguinho"; "Esfole Seu Gatinho"; "Faça Bolsa do Seu Jacaré"; "Homens São de Lá, Mulheres São de Lá-Lá-Lá”; “Minhas Vidas (Diário de um Esquizofrênico)”; "Inteligência Emocional: Fazendo de Você um Bobo-Alegre"; "Enquanto Você Ia Buscar o Amendoim Já Tinha Enchido o Rabo de Paçoquinha"; ou o sensacional "Não Peide na Farofa (Mas Tudo na Vida São Farofas...)", etc etc.
 
É importantíssimo que o livro tenha apenas uma idéia única, tipo uma frase de efeito como "cueca suja se lava em casa", a ser repetida de todas as formas por várias e várias vezes no livro. Com a cretina idéia de chamar homens de marcianos, mulheres de venusianas e leitores de imbecis completos, tem muita gente ficando rica por aí, mesmo que o livro não diga nada além disso.
 
A repetição da idéia repetida é para que pessoas que sejam repetitivas consigam entender a ideia básica do livro, mesmo que a repetição seja repetida por repetidas vezes repetidas, pois é a idéia básica repetida e repetida do livro, gravando a idéia de forma que seja repetida enquanto se lavam as cuecas em casa... Entendeu?
 
Ah, e coloque as coisas básicas em negrito/itálico ou em gráfico resumindo o capítulo, assim o leitor superficial pode se sentir em casa, como se estivesse de cuecas limpas, sacou?
 
O passo seguinte (livros desse tipo sempre têm uma série de passos, mesmo que não seja de dança) é arrumar uma editora que queira publicar o livro. É bico. É só dizer que você quer fazer isso para aumentar a consciência cósmica da sua conta bancária, relacionando-a com numerologia, uma vida passada psicografada pelo Dr. Fritz, uma abdução, um surfista da vizinha ou astrologia. Vai vender fácil, fácil.
 
Mas... e depois? Depois você precisa mostrar a seriedade de sua criação, criatura! Programas voltados a psicólogos que receitam florais, com discussões que chegam à conclusão de que os maridos são uns idiotas, ou de que futebol é coisa do demônio e no mundo falta amor, e de que a mulher pode ser feliz se trocar sua marca de sabão em pó, são os melhores. Claro que você corre o risco de vender quase que somente para mulheres, mas e daí? Elas é que mandam em casa, meu chapa, mesmo que não saibam disso porque lêem abobrinhas de auto-ajuda demais.
 
Enfim, como diria um autor de auto-ajuda, "se vocês estão ok, eu estou ok; se vocês não estão ok, eu também não estou ok... mas, por favor, fiquem RICOS".
 
Boa sorte!
 
[Este texto foi escrito por Pedro Vitiello, psicografado por Lao Tsé Tsé (autor de "O Chinês Feliz"), cheio de som e fúria, significando nada, dirigido pelo Stallone e abduzido por uma de minhas vidas passadas... Os lucros das vendas (??!) serão distribuídos para a Fundação Feng-Shui de Armadilhas Para Otários.]
 
 
::: D i á l o g o s  I n e s q u e c í v e i s
 
- Eu gosto de acompanhar o noticiário! As agências de notícias sabem que eu não vou agüentar nenhuma discussão séria de assuntos complexos e chatos. Elas me dão o que eu quero: palhaçadas, confrontos emocionais, citações, escândalo, histórias tristes, pesquisas de popularidade e corrida de cavalos! É muito divertido.
- Daí os comentaristas se perguntam por que o público é tão cínico a respeito de política.
- Dá pra ver que esta é uma reportagem profunda, porque tem um artigo ao lado do gráfico.
 
- Mamãe não entende os gibis. Ela não percebe que os gibis lidam com assuntos atuais sérios. Os super-heróis de hoje enfrentam dilemas morais difíceis. Gibis não são só fantasia escapista. Eles são críticas sociais sofisticadas.
- O superpoder da Garota Amazona é a capacidade de espremer esse corpo nessa roupa?
- Não, todos eles podem fazer isso.
 
- Nada que faço é culpa minha. Minha família é desfuncional, e meus pais não me capacitam! Conseqüentemente, eu não sou auto-realizado! Meu comportamento é viciante, funcionando num processo doentio de co-dependência tóxica! Eu preciso de cura holística e bem-estar antes de aceitar qualquer responsabilidade por meus atos!
- Um de nós precisa enfiar a cabeça num balde de água gelada.
- Eu adoro a cultura da vitimização.
 
(algumas das melhores tiradas sarcásticas de Bill Watterson, em "Calvin & Haroldo")
 
 
::: Love is Just Around the Corner
::: Carmela Toninelo <[email protected]>
 
Tirando o fato de que muita gente não compreende porque Mirela tinha aquela paixão platônica pelo Lion do Thunder Cats quando tinha mais ou menos uma dezena de anos, sua mãe sempre disse que ela tinha bom gosto para escolher meninos.

Mirela durante a adolescência namorou diversos meninos, apesar de não ter gostado muito de beijo de língua pela primeira vez. Ela deveria ter uns doze anos, quis experimentar, forjou um namoro e deu seu primeiro beijo em frente à cantina da escola onde estudava (na época, era uma escola de padres). Nas duas semanas seguintes, fugiu como pôde do garoto loiro e de olhos azuis que a fez escovar a língua por mais de meia hora quando chegou em casa. Um dia o menino a encontrou e Mirela mentiu dizendo que não gostava dos coturnos pretos que ele usava. Ele se sentiu ofendido e nunca mais a procurou.

Nos anos que se seguiram, Mirela namorou Frederico - um menino muito alto, Rodrigo - um japonês, Guilherme - um abusado, Álvaro - um extravagante, Jefferson - um loirão, Beto - o irmão do Jefferson, Sebastião - o mais bonito de todos eles. Mirela lia Capricho todos os meses e numa edição ganhou, além da leitura, um pôster do Tom Cruise. Ela não sabia o que fazer com o pôster e o pregou atrás da porta do quarto. Seu pai começava a acreditar que a filha gostava de astros do cinema.

Mirela assistia videos ao vivo de New Kids on the Block com a namorada do irmão. Assistia por compaixão porque ela nem de Menudos chegou a gostar um dia. Ela gostava de ouvir Cindy Lauper e Frank Sinatra aos domingos, mas ao anoitecer chorava quando assistia Claire Danes na televisão.

Vieram os namorados do segundo grau, as festas em boates, o aumento do teor de álcool nas bebidas, o primeiro emprego, a primeira transa. Mirela ganhou de presente do pai uma foto autografada do Tom Cruise e a trocou por dois discos do Buffalo Tom e três do Rush com uma colega de classe (na época, era uma escola de maçons).

Mirela nunca colecionou fotos de pessoas famosas. Mirela colecionava apenas fotos de namorados losers que nunca duravam mais de um mês, fosse de mãos dadas, fosse com pés colados na cama.

Quando Mirela completou vinte e um anos, talvez a vida tenha suposto que já fosse hora. Pra tudo tem sua primeira vez e assim o foi. Mirela entrevistou Lúcio Ribeiro para o trabalho (na época ela se esforçava para ser uma jornalista convincente), e Lúcio Ribeiro lhe apresentou Chris Martin.

E assim horas de contemplação passaram a existir antes mesmo que a loja de CDs importados onde ela sempre comprava desse algum sinal. Uma encomenda de "Parachutes", todas as músicas já baixadas pelo Napster e um exercício de "botão esquerdo do mouse sobre foto e clica no save picture as". Mirela estava encantada. Pela primeira vez garotos comuns foram esquecidos e um ídolo conseguido, arranjado, conquistado.

See you soon, Help is just around the corner, Careful where you stand, Harmless, Bigger stronger, Brother and sisters, Animals, In my place, You only live twice, No more keeping my feet on the ground. Musiquinhas que ficaram fora de "Parachutes". Permanceram nos EPs e são cantadas freeticamente em performances ao vivo. Melodia na voz é humildade, letras que rimam é mero acaso, e transparência de sentimentos permanece como beleza suprema. This is Coldplay, e o nome do Tom Cruise verdadeiro na vida de Mirela é Chris Martin.

Hoje o menino de cabelos loiros, olhos azuis cintilantes até morrer e dentes separados feito os de Mirela, Zélia Cardoso e Madonna se apresenta desgastado fisicamente com aquilo que nem ele, nem seus três amigos previram. Virar rockstar nos dias de hoje não está com nada. Ou você é aquilo que produz ou você não passa de imagem medíocre e criada. E Mirela sempre achou que num planeta já saturado de mesquinharias, o humano tem se sobressaído.

Mirela trabalha onze horas por dia. Ouve Dave Matthews Band quando acorda (ou Aphex Twin dependendo do céu das cinco da manhã), mas o diskman toca "Parachutes" no caminho de ida e volta pra casa. No trabalho, usa phones de ouvido, e tem uma coleção de shows ao vivo. The Verve em Glastonbury poderia ser o número um da lista, mas seu preferido é um de vinte e dois minutos - Coldplay em sua primeira apresentação na Alemanha.

Entrevistas em vídeo no site do NME, e Mirela insiste em assisti-las novamente ao menos duas vezes por semana.

"Do we have to see you guys as children of Beatles or do we have to see you as the next thing after Radiohead, Oasis, Blur and etc?". Chris Martin: - I have no idea, this annoys me. We are still trying to figure out what we are, but maybe I should say new sensitive. New sensitive music like everybody who is doing it now... all the children of Radiohead, all the children of Bob Dylan. But what makes every band an individual one is the combination of the music influences and their personalities... everything is not lost, trouble and yellow - the three big songs and definitely the ones that show us more.

Você sente, você vive, você renasce. Você tem gripe, resfriado, machucados nos dedos. Mas você também tem um coração que permanece o mesmo. O de Mirela tem permanecido com a mesma devoção e afeto a Coldplay há cinco meses. Algumas pessoas debocham, outras se admiram, outras se enervam. Mirela não se importa e seu pai nem sabe disso. Jamais trocaria uma foto de Chris, um CD da banda dele ou um mp3 baixado. Ela os daria de presente, porque aprendeu que se tudo o que você deseja é amigos, então ela poderá te ver em breve. Yes, she woke up, smiling.

 
::: L i s t a s  A b o b r o l
 
Top 5 Piores Foras
Erick Muller <[email protected]>
 
. "eu gosto de você, mas não desse jeito" - significava que eu era bom ombro pra chorar, não boca pra beijar.
. "ah, sei lá, é tão diferente, não é a mesma coisa" - significava que não valia a pena o sacrifício que eu fiz.
. "estava tentando esquecer meu namorado, mas me parece que não é com você que eu vou conseguir" - sem comentários.
. "se você tivesse um carro, podia até ser..." - parece mentira, mas eu ouvi isso.
. "eu não estou querendo ficar com ninguém agora, estou atrás de alguém interessante..." - o mais engraçado é que ela se tocou da mancada e, tentando consertar, piorou: "não que você não seja interessante, mas não é, bem, você sabe...". E até hoje eu não sei.
 
 
::: Monólogos interativos
::: Eduardo Fernandes <[email protected]>
 
Você sabe o que é um monólogo interativo? É uma conversa na qual somente um sujeito fala, em carreira solo. E o seu interlocutor faz apenas observações como: "sim", "é mesmo?" etc. Para fingir que está atento.
 
Funciona como a Internet: a maioria dos sites não permite que você vá além de alguns cliques para mudar superficialmente o enfoque do assunto. Uma interatividade meio capenga.
 
Mas, já que tocamos no assunto, há vários tipos de adeptos do monólogo interativo:
 
[ Os auto-referentes ]
 
São pessoas que só conversam na medida em que você está falando delas. Direta ou indiretamente. Não são capazes de fazer uma pergunta simples, mas transcendente como "e você, como é que está?", querendo realmente que você responda.
 
Estão sempre em busca de admiradores, de provas (ainda que mínimas) de que são viáveis, admiráveis, importantes. E isso aparece tanto em conversas quanto em textos e outros tipos de tentativas de comunicação.
 
Gente que não quer falar com você, mas saber o que você acha dela. Que o usa como um espelho, como uma platéia de comício. O máximo de intervenção que o discursador aceita é um desvio aqui e ali. E isto é uma concessão à ignorância ou à falta de brilho do seu ouvinte.
 
[ CPP ]
 
CPP significa Cigarro + Pose + Paranóia. Geralmente, são mulheres. Acham-se as pessoas mais inteligentes e cheias de atitude do mundo. E, por isso, pensam que estão condenadas à solidão e a serem mal amadas.
 
Não estou bancando o antitabagista, mas, enfim, quase todas as pessoas assim que eu conheço fumam. Portanto, por motivos estéticos, o cigarro entrou na descrição.
 
Quando eu estava na faculdade, durante conversas, algumas CPPs passavam de 100 CPM (Citações Por Minuto). E as suas expressões eram sempre à Garfield: entediadas, cansadas de viver entre os mortais.
 
Para suportar seus monólogos, eu me divertia em identificar de onde vinham as idéias que elas enfatizavam como se tivessem acabado de descobri-las.
 
[ Os "inconectáveis" ]
 
Há ainda pessoas que simplesmente o ignoram: você tem de fazer um esforço enorme para manter um diálogo, pelo menos enquanto ainda tiver de conviver com elas. Quando as vejo, logo me vem à mente:
 
TCP/IP error.
This server may busy.
Try to connect latter.
 
Você tenta se reconectar, digita a senha e todas os dados corretamente, mas a pessoa continua não respondendo.
 
[ Conectômetro ]
 
Tenho um mecanismo natural, biológico, de detecção deste tipo de gente. Eu o chamo de conectômetro.
 
Funciona assim: se eu conseguir conversar com você por mais de 15 minutos, posso ser um grande amigo, um namorado, sócio etc. Mas se eu sentir esses 15 minutos passarem, minuto a minuto, geralmente nunca mais voltamos a nos falar. Ou apenas nos falamos superficialmente, quase que fugindo um do outro.
 
Você pode achar que é radicalismo. E é. Mas geralmente dá certo. Meus grandes amigos são gente com a qual a identificação foi instantânea. Conversamos dois minutos, mas parecia que nos conhecíamos há 200 anos.
 
Um exemplo. Conheci um dos meus melhores amigos descendo a R. Ministro Godoy, em Perdizes (SP). Chovia muito. E ambos estávamos sem guarda-chuvas. Fizemos uma piada um com o outro. Na hora percebemos tudo. Seríamos amigos para o resto da vida. E isso já faz mais de 7 anos.
 
Outra cena clássica. Certa madrugada, estava com duas amigas biomédicas. Comíamos uma pizza fria, de ontem. De repente começamos a debater o absurdo assunto: o prazer que se tem comendo uma pizza é biológico ou social (gostamos de pizza porque todo mundo em SP gosta)? Não falávamos uma palavra coerente. Mas havia ali a comunicação total, o prazer de estar um com o outro.
 
Foi aí que eu cheguei a esta conclusão: a verdadeira conversa prescinde de assunto. Ela vai além. É uma experiência que ativa nossos mais primitivos desejos de proteção e o nosso instinto de bando.
 
Podemos falar sobre Wittgenstein, futebol, bandas ou qualquer tipo de coisa. Mas há troca. Há algo que une, que faz as coisas fluírem inconscientemente. Não há explicação. Por mais que isso soe a Nando Reis.
 
Por isso, às vezes dá uma vontade incontrolável de sair na rua com um aparelho de tortura contra chatos. Apertaríamos um botão e daríamos choques de 220 watts nos sujeitos. Por mais que chatice seja um conceito relativo e que eu mesmo pudesse levar uns choques por aí, seria bem divertido.
 
Cala a boca e BZZZZZZZZZZZ!!!!
 
 
::: P a p o - A r a n h a
::: O guia moderno da cantada virtual. Encontre você também a tampa da sua panela: [email protected].
 
Bárbara
Marcos Beck Bohn <[email protected]>
 
guri: baeh, me desculpa.
 
guria: não, não foi nada.
 
guri: é que talvez tenha queimado tua saia.

guria: ...

guri: encostei o cigarro atrás...

guria: acho que não foi nada.

guri: desculpe.

guria: ...

guri: queres um?

guria: qual que tu fumas?

guri: não fumo, é do meu amigo ali.

guria: mas a carteira está contigo.

guri: quer?

guria: ...

guri: como é teu nome?

guria: Bárbara.

guri: ...

guria: ...

guri: bárbara é a cantada que eu te passei.

guria: ...
 
 
::: São Paulo
::: Nicole Lima <[email protected]>
 
Ô cidade que não chega nunca... ou melhor, chega, chega e vai chegando e continua e vai vai vai... (não é nome de escola de samba?)
nicole in Sampa
no samba
Assim, sem avisar ninguém (e se eu morresse em São Paulo?)
E se eu me perdesse de vista, ai ai ai e se eu nunca mais conseguisse voltar pra...
casa(r)?
que(r) casa(r)?
Nada, peguei um ônibus e vim ver a chuva cair do lado de cá. Eu e os retirantes, mas os retirantes não vêm do sul. Vim olhar as pessoas que passavam por mim, olhar cuidadoso, como se esperasse encontrar a qualquer momento a Fernanda Montenegro escrevendo cartas na estação da luz, o MASP, o Alexandre Inagaki, a Marta Suplicy, a cova do Mário (que Mário?) Covas.
Ninguém, só rostos estranhos passando desconfiados, apressados, ô rodoviária que não tem porta...
Bang Bang Bang! Pum!
Mataram um homem logo ao lado, ouvi os tiros e pensei que fossem foguetes, quatro, morreu, nem vi,
passou junto com os outdoors que disputam lugar sobre os muros.
Giseles Bündchens,
Cocas Colas,
Cocas-ínas
Esco-colas,
Neons velhos,
Neo novos,
Um rio no fim de março. Ô rio que não acaba nunca...
Qualquer coisa à margem do Tietê deve estar muito perto de onde fica o Beleléu, a Puta Que o Pariu, o fim do mundo, the middle of nowhere, onde judas perdeu as botas, onde o caminhão (não me perca)
me perdeu.
Deixei meus dois gatos sozinhos em casa.
Deixei a louça na pia por lavar e nem arrumei a cama.
Estranha essa sensação de interromper o curso de um dia,
fazer de conta que nada importa, brincar de Alice e entrar no mundo
Vim pra ver um menino italiano que diz sentir minha falta, que não podia ir embora sem me ver...
(ver não, tocar, beijar, falar, dormir, essas coisas.)
Eu vim.
E quem quiser que me mate, que um tiro a mais pelas costas não há de fazer diferença.
E que já morra também aquela raposa mentirosa do pequeno príncipe que EU NÃO SOU RESPONSÁVEL PELO QUE CATIVO, E ETERNO É UM TEMPO QUE EU DESCONHEÇO.
Ninguém nunca foi responsável por mim, ora pois.
C’est la vie.
Amore mio cheguei...
Amore mio?
Ô menino que não chega nunca...
2 de la mañana e estou cá, três cigarros mais tarde, sacada de um FLAT nos jardins (que devem ter desparecido junto com os da Babilônia) olhando atentamente o vizinho da frente jogar play station
sob as antenas de TV.
Não tem nada pra comer,
só chocolate e Coca Cola (ô imperialismo).
Chocolate não mata a fome nem faz crescer, mas é bom então eu como.
Acendo o quarto cigarro, um barulho de carroça pra quebrar a fumaça, a minha e a dos carros,
sirene de ambulância que é bom necas.
Nada na TV, zap zap zap...
knock knock knock...
O menino italiano chegou.
 
Diário de Bordo – the day after
menos de 24 horas mais tarde já me ponho a postos na rodoviária para voltar pra casa
home sweet home
Curitiba é uma merda, mas é do meu tamanho,
não compreendo São Paulo e suas ladeiras.
Não compreendo o que se sucedeu nas últimas horas,
(Não sei se amo ou se estou louca, não sei se fujo de mim ou se fujo de ti.)
Não bati uma foto sequer, nada, mas guardo os olhos de um menino deitado em meu colo, guardo o café aguado que não veio pela manhã, a chuva que quase tomamos, o japonês que abriu o restaurante para fazer sushi "só por que eu queria comer sushi", o carro que quase nos atropela, as ruas estreitas,
o ar parado, o cheiro de nada abafado, úmido e barulhento.
São Paulo,
são horas e já te deixo.
Volto para a minha quadrilha de segundas-feiras repetidas, meus ex-amores conhecidos, meus dias cinzentos, meu aspirador de pó,
fazer análise uma vez por semana, tomar cápsulas contra a tristeza uma vez ao dia.
se as pessoas se olhassem mais não viveriam tristes assim.
Espero que meus gatos estejam bem, espero que a mediocridade não tenha sentido a minha falta.
Espero encontrar alguma coisa para comer além daquela garrafa de água mineral pela metade.
 
 
::: A c h a d o s  e  P e r d i d o s
::: Quem procura acha aqui: [email protected].
 
ORLANDO TOSETTO JUNIOR procura por ela, e pelas coisas que havia dentro dela até terça-feira, quando ele bebeu demais e foi aquela desgraça que ela lembra; e pede pra qualquer um que estiver com ela, ou que a vir, que peça desculpas em nome dele, que jure que isso nunca mais vai se repetir, e que ele a ama, e que o telefone desligado, o ICQ fechado, os e-mails protocolarmente educados estão fodendo com ele tão completamente que ele agora veio dar vexame aqui em público: [email protected].
 
CAROLINA CARVALHO PROCURA: leitores de zines que gostem de beber, não tenham repulsa a fumantes, droguem-se com poesia, artes, música e afins e que residam em João Pessoa e proximidades. Ajudem a paulista que se perdeu na Paraíba a parar de tomar porres solitários em bares para turistas! e-mail: [email protected].
 
SAMARA PEREIRA MARTINS PROCURA: Aline Rosa - estudou comigo na EEPSG Prof. Amélia Moncon Ramponi e na EEPSG Eusébio Queiroz em SAMPA nos idos de 95 e 96. A última notícia que tenho é que ela estava cursando Jornalismo na Anhembi Morumbi, o número de telefone que tinha dela agora é de um bar!! De quebra, procuro por qualquer um das Turmas do 2º grau do Amélia e do Eusébio de 1994 a 1996. [email protected], Palmas-TO.
 
 
::: Genealogia Dadaísta de uma Fraude
::: Fernando S. Goulart <[email protected]>
 
Eu sou uma fraude
Um santo
No ostracismo
 
Carrego deuses no nome
Escondo-os com um ponto
 
Sou segundo piloto
Terceiro colocado
Traço no Ibope
 
De volta ao vazio
Eu me sinto em casa
Beijo meus pais
Tento uma rima
 
Sem sucesso
Só me resta a fraude
Do não-sujeito
Com Santos no sobrenome
 
 
::: Mãe, olha eu no [S p a m  Z i n e]!!!
::: As melhores colaborações enviadas por nossos leitores. Participe você também: escreva para [email protected], indicando sua cidade e, se possível, não ultrapassando os 4.000 caracteres (os editores agradecem).
 
Um Roubo com Razões Óbvias
Cristiane Lisbôa <[email protected]>
 
(NOTA DO EDITOR: a historinha abaixo foi (ins)pirada pelos textos de Luiz Andrioli, Mirella Imogen, Ricardo Sabbag e Orlando Tosetto Junior publicados na edição anterior do Spam Zine, e, segundo a autora, foi produzida "pra ver se desatava um nó". Bão, se esses nós inspirarem textos tão legais como este, espero que ainda restem muitos outros.)
 
Trilha sonora: Milton, que transforma música em silêncio
 
Drink: água, por favor.

Agora estou sozinha com meus pensamentos. Alguns pensamentos são demônios. Fique sozinha com seus demônios por muito tempo e enlouqueça, já disse alguém que eu não sei bem quem é, mas que estava muito certo. Caminhar sem um rumo definido, olhar pro céu e não ver estrela alguma e tentar colocar as idéias em ordem alfabética, numerada ou qualquer uma que impeça que elas virem nós dentro da gente é muito doloroso. Tristeza vira nó dentro do peito e aperta até explodir. Foi uma das nossas conclusões naquelas conversas em que a gente falava, sorria, chorava um pouco, fazia declarações bobas, infantis ou então ficava em silêncio, absortos, sonhando o impossível, com pensamentos diferentes, mas com as mãos dadas para apertar quando alguma coisa doesse mais do que o esperado. Cúmplices de algo que nem nós sabíamos o que era.

Quando as nossas mãos se soltaram um nó nasceu em mim. Em ti não?

Expurgar os demônios é a parte mais perigosa. Há dias em que eles simplesmente não querem ir embora, nem dialogar. Daí vem aquelas insuportáveis sensações me remoendo por dentro e o nó não vai embora, apenas muda de lugar pra tentar machucar um pouco mais.

Nessas horas eu precisava que meu peito virasse uma janela pr'eu poder abrir, escancarar, deixar o vento entrar remexendo as cortinas e tirando o pó dos cantos, derrubando coisas. Ou simplesmente fugir por ela. Tenho a impressão de que pra qualquer lugar que eu vá, parto pra longe, nunca vi tanto caminho.

Olho pro lado e não vejo ninguém. Onde estão as pessoas todas? Sempre tinha alguém por perto...

Preciso aprender a ser só. Porque até hoje não aprendi, nem a ser só nem a só ser. Vou me guardar de novo. Pode ser covarde mas pelo menos não machuca. Dizem que quando a dor é insuportável, se dilui e passamos a não sentir nada. O pior que alguém pode sentir é nada. Fico então nessa pausa. Dessas que a gente dá em conversas sérias pra dar um tom mais dramático. Só que a pausa continua mesmo depois do fim da conversa que nem aconteceu.

Uma chuvinha fina começa a cair. Uma dessas chuvas bobas, que segundo a minha vó servem só pra umedecer roupa quase seca no varal, e que a meu ver não serve nem pra esconder as lágrimas. Nessas horas a saliva faz o papel de lágrima e o corpo chora por dentro sem dar nenhuma bandeira. São Paulo, cidade-monstro, engole as pessoas a todo instante. E é grande, grande, grande, embora nessa imensidão toda não haja espaço pra minha fuga de ti. Mudo rota, troco o caminho e sempre acabo passando por algum lugar que tenha gerado um comentário, uma risada, ou que apenas tenha ganho novas cores quando nos percebeu passando.

Sabe, às vezes sinto o teu cheiro doce em mim, ainda durmo com aquela camiseta enorme que tu me deste e sigo sentindo sede antes de pegar no sono. Só que agora, quando eu acordo de madrugada, ainda com medo daqueles pesadelos que sempre tenho, não tenho ninguém pra sonolento me abraçar e garantir que nada de mal vai me acontecer enquanto eu estiver ali. (nesses momentos, eu quase esquecia que o destino sempre me quis só.) Então eu me encolho nas cobertas e choro e berro bem berrado que é pra ver se aquela mágoa toda vai embora. Mas tenho o cuidado de chorar e berrar bem berrado baixinho, que é pra como diria o nosso poeta, não incomodar o sono dos passarinhos que a cidade-monstro ainda não engoliu.

Tenho a sensação de que cheguei na hora errada. Não pedi licença nem fiz como as pessoas educadas que ligam antes pra dar tempo de esconder a bagunça da sala, atirando as bitucas de cigarro e as almofadas sujas pra detrás da cortina. E vim com essa minha mania de ocupar espaços e necessidade de ser ouvida, discordada, atendida. Antes isso era bacana. Ou talvez nunca tenha sido. Já nem sei mais. Modéstia a parte, sempre fui legal. Por isso tenho me esforçado pra te entender. Só que nunca consegui ser boazinha por mais de 30 segundos. E entender, aceitar passivamente me sufoca. Aliás, como foi que eu te sufoquei a ponto de nada valer a pena? Tudo vale a pena, lembra?

"Não deu certo, desculpe." No exato instante em que tu disseste isso, alguma coisa se espatifou dentro de mim. E eu tentava pensar em alguma outra coisa, disfarçar, fingir que não tinha ouvido nada, mas as palavras dançavam na minha frente. Queria que tu disseste que era mentira, que foi brincadeira, modo de falar ou qualquer absurdo que justificasse as coisas estarem tão resumidas em ti. Mas tudo que tu fizeste foi suspirar devagar, como se fosse a coisa mais normal, como se não tivesse feito desabar o chão sobre meus pés. Como alguém tem coragem de me despedaçar assim e continuar existindo?

Posso imaginar aquela cena sendo filmada em Super 8. A câmera ia fazer um close demorado no teu maldito semblante calmo e sem nenhuma lágrima e logo depois iria virar pra mim e tudo que eu estivesse pensando ia virar imagem, som, voz do Lombardi em off. Sabe no que eu pensei? No chão se abrindo, em aranhas assassinas me devorando, plantas carnívoras no teu jardim, nas armas a laser dos power ranger e mais em meio milhão de absurdos que vi na sessão da tarde. Pensei também na primeira vez que te vi naquele café e na última no portão. Chegada com discretos carinhos e partida sem nem um abraço. Pensei em quando tu choraste ao dizer que me amava e nos poemas nossos. Será que isso tudo não conta porra nenhuma pra ti? E me veio também a cara que tu fizeste quando tomaste chimarrão pela primeira vez e também aquele fim de semana em que a gente foi pra praia e tu tiveste que ficar passando creme nas minhas costas porque eu parecia um imenso tomate-cereja. E no meu escapulário perdido, na tua horrorosa blusa verde perereca e nas nossas tartarugas.
 
Puta merda, tudo que eu quero é que tu desapareça. Por favor. Tento te expulsar dentro de mim mas é tão difícil...
 
Às vezes tenho ímpetos de gritar que tu foste um troglodita e me machucaste, que nunca mais quero te ver, que pouco me importo com o teu passado, o teu presente e muito menos com o teu futuro. Mas alguma coisa segue errada dentro de mim e por mais que eu me esforce não consigo te expulsar.
 
Sento numa escada qualquer porque tanta lucidez dá vertigem. Quando a gente senta em escada é sempre pra esperar ou pensar em alguma coisa que nos impede até de respirar, que dirá seguir em pé. Duas coisas geralmente tristes. Ainda não há nenhuma estrela no céu. Mas já não chove. As lágrimas começam a escorrer quentes no meu rosto. Escada, no fundo, foi feita pra gente chorar.
 
 
::: M o m e n t o  B r o d a g e m
::: Mural de recados da nossa galera - quem é da nossa gang não medo.

GivagOnLine - zine por email

Givago é a língua materna de cerca de 130 milhões de pessoas. Pertence ao ramo oriental da família linguística atlântida. Apresenta infinitos dialetos e todos eles com características peculiares. Essa variedade é tão grande que uma única pessoa pode passar dias sem se comunicar com outras.

Givago é a Pangéia, que bebe água no oceano-mundo. Sente o calor do abraço mais forte da Terra e produz um único grito. Apresenta uma única garganta. Um único fôlego. Um último suspiro.

Givago é a marca de tênis preferida. Milhares de modelos configuram o seu grande catálogo. Existem nuvens para todos os pés.

Givago é um monte de letrinha de plástico.

Traz a bola: www.ovodogivago.cjb.net // www.givagonline.cjb.net.
 
Falta gente no time: [email protected].
 
 
::: fala
::: AL-Chaer <[email protected]>

no seu corpo
          voam
minhas mãos asas
uma ave sua
          suave
 
movo suas
falas
       por nuas alas
num dialeto
de voar palavras
 
entendo uma parte
sua mudez
               alada
sua nudez
               calada
 
seus gritos
espantaram os pássaros
 
mas sei
eles voltarão
                     cantando
para me ajudar
na tradução
                do amanhecer
ao seu lado
          ainda escutando
          seus gemidos
 
 
::: F a l a  q u e  E u  t e  E s c u t o
::: O que anda rolando em nossa caixa postal. Participe você também, enviando suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para [email protected].
 
"Estou curtindo pacas o Spam Zine, acho que vou até perder uns quilinhos, substituindo caixas coloridas recheadas de bombons pelo arquivo recheado de textos-delícia. Saudações paraibanas".
Carolina Carvalho
 
OS EDITORES: Carol, nós do Spam contamos com sua força para divulgar nossa "dietazine" Paraíba afora. Afinal de contas, Spam Zine tem mais cálcio, proteínas e sais minerais, e a mamãe ainda fica com o copinho. Mande-me depois o convite pro próximo sarau que você for agitar, ok? Aquele beijabraço, A.I.
 
"Tenho uma certa tara por zines, mas este me emocionou. É engraçado, irônico, ácido, tudo de bom!!!! Portanto a partir de agora vocês estão obrigados a me enviar todo domingo esse amor gostosinho depois do almoço da mama".
Mariane Gonçalves
 
OS EDITORES: Os e-mails que nossa redação recebeu esta semana revelam: Spam Zine ajuda a manter a forma e ainda por cima é afrodisíaco! Pois é galera, é duro, mas não é mole não: Spam Zine é mais versátil que pomada Minâncora e tem mais utilidades que Bom Bril. Mari, valeu pela mensagem! Beijim gostosim do seu editor, A.I.
 
 
::: C r é d i t o s  F i n a i s
 
Autores intelectuais:
Alexandre Inagaki <[email protected]>
Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Os suspeitos de sempre:
AL-Chaer <[email protected]>
carlãO <[email protected]>
Carmela Toninelo <[email protected]>
Eduardo Fernandes <[email protected]>
Ian Black <[email protected]>
Nicole Lima <[email protected]>
Orlando Tosetto Junior <[email protected]>
Pedro Vitiello <[email protected]>
 
Cumpadis & companheiros de crime:
Fernando S. Goulart <[email protected]>
GivagOnLine <[email protected]>
Marcos Beck Bohn (vulgo m2b) <[email protected]>
 
Testemunhas convocadas para depoimento:
Cristiane Lisbôa <[email protected]>
Erick Muller <[email protected]>
Renata Parpolov <[email protected]>
 
Spam Zine é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net (a casa é modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, pedidos de edições anteriores, cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e/ou mensagens de amor? Escreva: [email protected]
 
 
::: P. S.
 
1) A seleção brasileira não perdeu para a venezuelana. Ainda. (Inagaki)
 
2) O importante é o principal. O resto é secundário. (Parpolov)
 
3) Felizes foram os dinossauros, única espécie não extinta pelo homem. (carlãO, ao ver a imensa plataforma de extração de petróleo submergir - levando vidas humanas -  e após algumas horas emergir uma sinistra mancha de óleo)
 
4) There She Goes... é aquela musiquinha fofa, o pop perfeito que toca no comercial de sabonete (ou seria xampu?) na televisão da minha mãe enquanto estou no computador escrevendo estas minhas poesias desastradas, contando para o meu editor de textos como o seu sorriso é mais importante do que saber seu nome. De como eu tenho vontade de dizer o quanto meus olhos conseguem fantasiar que os seus estão brilhando quando me veêm. De como eu tenho vontade de saber conversar sem gaguejar na terceira frase, de conseguir não desviar meu olhar do seu, de te entregar aquela fita que eu gravei pra você, mas que insiste em não sair do toca-fitas do meu carro. (Black)