[S p a m  Z i n e]
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    : 11 de março de 2001
    : curitiba, são paulo, joão pessoa, goiânia, ijuí, londrina
 
::: e d i t o r i a l - p o e m a
::: Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Faz como eles dizem, garoto.
 
Larga mão disso tudo, vai trabalhar.
Não perde tempo com bobagens,
não perde tempo com importâncias.
Não come,
não beija,
não trepa,
não fica.
 
Só vai, vai embora antes que o dia amanheça.
Vai antes que tenha que te explicar.
Ou explicar coisas a ti mesmo.
 
Pára de esfregar as mãos,
pára de olhar pra janela.
Pára de olhar naqueles olhos.
 
Faz como eles dizem, garoto.
Já tiraste os sapatos,
já tiraste as meias.
Então pára de descansar os dedos.
Pára de coçar a sola.
Lava a mão.
 
Todo dia chega a hora,
o momento de ir embora.
 
Paga a passagem,
dá dinheiro a quem pede.
Sê agradecido.
Sê generoso.
Sê educado.
Vai, vai, vai ser tudo isso.
Chega mais cedo
no funeral.
 
Joga fora a casca do sorvete.
Não põe açúcar no café.
Come o bagaço da laranja.
Injeta na veia o rapé.
 
Faz como eles dizem, garoto.
 
Não aceita teus presentes.
Não reclama da dor.
Não me toca,
não me toca.
não te toca.
 
Pára com isso!
Pára de chorar.
Larga de sofrer.
Veste o paletó.
esvazia o teu bolso.
Guarda embaixo do colchão.
 
Faz como eles dizem, garoto.
Dá as costas,
dá a mão.
Dá a vida.
fica no chão.
 
::: e d i t o r i a l - e m  p r o s a
::: Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
 
Salve(m-se).
 
Está certo, a culpa foi minha. Desapareci. É. Sumi do mapa. Estive perdido nos arredores de Santa Felicidade procurando as lentes de contato da mocinha que jurava ter deixado cair bem ali, do ladinho dos arbustos. Voltei perto das cinco da manhã dando luz alta no carro da frente, onde um sujeito (no banco de trás) mudava o mundo à sua maneira.
 
Mademoiselle Nicole me substituiu à altura (acima da altura, até - que não é pouca, diga-se) e Mr. Inagaki continuou com a qualidade e competência de sempre. Mas, sim, mamãe! estamos de volta. Perdoem a distância. Fui logo ali me formar e já voltei. Peguei o canudo (ops!) e dei uma choradinha no ombro da dona Sandra; mas retornei são e salvo, largando mão do smoking e da beca para ter novamente as camisas de gola por fora da calça.
 
Este editorial serve para demonstrar ao nobre leitor as pequenas nuances que devem ocorrer a partir deste Spam Zine, diferenciando edições capitaneadas por este que vos escreve, por Mr. Inagaki, e por eventuais co-diretores do nosso filhote. Como todo time de qualidade que se preza (esse verdão só me dá alegria!), temos cá nossas discordâncias - saudabilíssimas, é claro -, e isso só nos ajuda a fazer um Spam mais pluralista, multifacetado e rizomático, agradando tanto aos leitores gregos quanto aos troianos. É só um modus-operandi com características pessoais. E tenho dito. :-)
 
***
 
SPAM É POP, SPAM É ART! SPAM É LEGAL E NÃO FAZ MAL
 
Nesta edição, chamo atenção para dois fatos envolvendo membros do nosso time de colaboradores. Mateus Potumati (aquele da novelinha - sim, ele ainda não aprontou o capítulo derradeiro) lançou na última sexta (09/03) o primeiro CD de sua banda, Espíritos Zombeteiros. A festa no Bar Valentino, em Londrina, foi supimpa às pampas e o moço já deve estar preparando contrato milionário com alguma gravadora multinacional. Vale dizer: o som é de qualidade. Confira em http://www.mp3.com/espiritos_zombeteiros.
 
Outro a retornar ao showbiz é meu querido amigo Luiz Andrioli, que teve também na última sexta a estréia de sua nova peça teatral, a comédia musical Não Só as Balas Matam. Andrioli estreou nos palcos curitibanos em 1995, com a porreta Bala no Tambor. Em 97 foi a vez de Um Caso Para Silvas, baseada em esquetes e personagens criados por este que vos escreve (êta propaganda). E isso é só o começo. Quem estiver na terrinha dos pinheirais nos próximos meses, inclusive durante o X Festival de Teatro de Curitiba, pode ver de perto a obra viva de Andrioli no Teatro Lala Schneider (Rua Treze de Maio, 629) de sexta a domingo, às 21h.
 
Ah, e também temos hoje a estréia da seção Desabafaê, onde você, leitor querido, pode participar mandando a bronca. Diga lá o que você não agüenta mais engolir com farinha, já está com a bolsa escrotal cheia de tanto ouvir, ou não pode mais ver que já dá urticária. Spam Zine, o seu ombro amigo nas tardes de domingo.
 
***
 
COISAS SOBRE AS QUAIS NÃO SE DEVE DIZER (MAIS) NADA
 
1) Morte de Mário Covas
2) Dia Internacional da Mulher
 
Apenas duas palavras: 'pêsames', 'parabéns' (respectivamente).
 
E agora: SENTA, QUE LÁ VEM A HISTÓRIA!
 
 
::: Esconde-esconde
::: Maria Lúcia de João de Santo Cristo <
[email protected]>

I.
Para que servem seus ombros largos, homem?
Para carregar sua incapacidade de estar lá quando preciso,
para equilibrar seu ego que se esparrama em gestos umbigos,
ou para apoiar pesos que você carrega
contrariado,
só pelo fato de você ser homem?
 
Para que servem seu pêlos no peito
e suas coxas e panturrilhas musculosas?
Para fazer uma combinação harmônica-conceitual-streetwear
designed by Alexandre Herchcovitch?
 
Homem, quem é você se não uma pilhéria?
Não deu para notar que inúteis
seu peito estufado e cabeludo,
seus pêlos púbicos,
seu pau ereto e tântrico,
sua voz grave e grossa,
sua cara de macheza artificial
seu cu virgem e seus bíceps malhados,
se teu espírito não passa de um pitbull?

II.
Para que este olhar de sonsa sensualidade, mulher?
E que mexida é essa nestes cabelos descoloridos loiros platinados?
Quer ter caspa e acabar o fim do dia com a
franja mais sebosa do que sua voz de hiena no cio?
 
Para que esses seios de borracha
que não se movem, não sentem um toque
de uma mão calejada e grande de um homem?
Hi, Barbie! Let me be your Ken?
 
(Quando era criança, minha Susi brincava de médico com o Falcon do meu irmão)
 
Lipo-escultura, botox, batom, sombras,
bronzeamento artificial, academia, lingeries e cintas-ligas,
perfumes enjoativos e adocicados.
 
Não há espaço, em meio a tamanho arsenal,
para seu terceiro olho, mulher!
Mulher, seu papel não é de caça,
nem és vitrine de estrógeno ambulante,
ou de biquinhos e vozinhas agudas de gatinha mimada,
porque o cara não te ligou no dia seguinte.
 
III.
Homem, quero sentir o teu cheiro de suor
enrolada nos lençóis e nos seus braços.
Não quero que você durma com
um sorriso de dever cumprido e
tampouco não quero fingir ter orgasmos.
 
Homem, não preciso de ombros largos
peito estufado e bíceps malhados.
Preciso que seus pés quentinhos tamanho 42
aqueçam os meus em dias de frio, em dias de sol.
Quero a sua voz ouvida e conhecida a falar-me
de seus medos, delicadezas e da sua verdadeira macheza.
 
Quero ver seus cabelos ficarem grisalhos.
Não te esconda atrás do errado que te ensinaram.
 
IV.
Mulher, quero apoiar minha pesada cabeça
sobre seus seios macios e quentes,
que amamentou meus filhos.
 
Vou lhe comprar cremes pra sua celulite,
suas rugas e estrias, apesar de achar que lhe são
tão suas, feito marcas do que vivemos juntos,
ou negativos de seu álbum de retratos.
Mas vou fazer tudo isso pra
tirar um sorriso de seu rosto e
observar-te massageando rosto e corpo
diante do espelho de meus olhos.
 
Quero ver seus cabelos ficarem prateados e
ouvir sua voz lendo Hilda Hilst pra mim.
Não te esconda atrás do pudor com que te envenenaram.



::: P a p o - A r a n h a
::: O guia moderno da cantada virtual. Quer achar a tampa da sua panela? Envie uma cantada criativa para [email protected]. A melhor da semana você confere agora.
 
Cinismo é bom e nóis gostcha!
Valcir Ortins <[email protected]>
 
Menino (fim de noite, babando pela menina, toca o ombro dela com o indicador): - Oi...
Menina (intrigada pela repentina aparição): - Sim...?
Menino (meio sem graça): - Será que você percebeu que eu estava olhando para você a noite toda?
Menina (sincera, com peninha): - Não, na verdade não...
Menino (olhando profundamente nos olhos dela, um leve sorriso): E agora?
 
NOTA DO EDITOR: Valcir garante que já tentou uma vez e funcionou. Pena que foi sem graça...
 
 
Menino (sem pudores): - Oi.
Menina (surpresa): - Oi!
Menino (olhando de cima a baixo): - Você gosta de canto?
Menina (sem entender): - Canto? Gosto...
Menino (de supetão): - Então vamo pro canto.
 
 
::: Fe*ME*as
::: Nicole Lima <[email protected]>
 
Dedicado a todos os machos e mulheres prenhes
Versão FonFon do texto da edição 001
 
Por definição uma fêmea é: 1. Qualquer animal do sexo feminino. 2. Mulher. 3. Mulher Sensual. 4. Concubina. 5. Meretriz. 6. Colcheta.(?!) 7. Calço de madeira donde prende o leme das jangadas.
 
Fêmeas são o côncavo do convexo.
 
Faz-me rir...
 
Diz-se que uma mulher pode assim ser chamada tão logo ultrapasse a puberdade. E então pode ENCAIXAR-se em sub-classes: Mulher dos outros, Mulher do padre, Mulher da rótula, Mulher da rua, Mulher da vida, Mulher pública, Mulher de família, Mulher solteira, Mulher rica, Mulher velha, Mulher feia, Mulher fatal, Mulher à toa, Mulher doméstica, Mulher Católica, Mulher homem, Mulherona, Mulherzinha, Mulher branca, Mulher preta, Mulher loira, Mulher à francesa, Mulher baiana, americana, Mulher brasileira, Mulher mãe, Mulherão, Mulheraço, Mulher aranha, Mulher gato, Mulher macho.
 
Tem menina que quer ser mulher, treina passos de cinderela com os sapatos da mãe, pinta-se diante do espelho da avó, roda entre saias e bambolês, rouba o sutiã da irmã e os óculos do pai.
 
Tem mulher que se faz de menina.
Tem mulher que se faz de boba (e funciona).
Tem homem que se veste de mulher e fica mais bonito.
 
Tem mulher burra, mulher brava e mulher má.
Há mulheres que bebem Martini com cereja, homem com cereja, cerveja, a salvação é que algumas ainda bebem gim.
 
Tem mulher que reclama do peito que é grande, tem mulher que queria ter um maior. Bunda, coxa, barriga, quadril, culote. Homens de ombros largos e mulheres de cintura fina. Mulheres de seios fartos, quanto menor a razão cintura/quadril melhor a reprodutora.
 
Mulher que não reclama do próprio corpo ou é feliz ou é homem.
 
Mulheres olham mais para mulheres, comem-se com os olhos, comparam-se. Mulheres mexem no cabelo, se prender é pra mostrar a nuca, se soltar é pra exalar perfume. Mulheres se exibem, andam com a bunda e os seios empinados, usam meia fina e sutiã meia taça. Mulheres movimentam a indústria têxtil.
 
Antes as mulheres se casavam e ficavam gordas, mas daí veio o divórcio e a lipoaspiração. Cirurgiões plásticos cobram caro e os antidepressivos invadiram o mercado. Personal trainers, cães e gatos são mais atenciosos.
 
Dizem que as mulheres foram responsáveis pela invenção do elevador. Sem as mulheres os homens não comprariam as Mercedes, sem as mulheres não haveria copos, nem toalhinhas para lavar as mãos nos aviões. Talvez sem as mulheres não houvesse espelhos, refrigerantes dietéticos, músicas sertanejas, academias de musculação nem desodorantes antiperspirantes.
 
Mulheres são as principais responsáveis pela existência de poetas. Mulheres também são poetas. Mulheres tem a letra bonita e ainda assim podem ser médicas. Mulheres choram, mas não se impressione, choram até sozinhas diante de um espelho ou um teto, um filme e muitas vezes trancadas em banheiros... Nada que exija mais que uma caixa de lenços ou bonbons. Mulheres só não choram de dor, de fome ou de medo. Mulheres não tem medo de ter filhos mas tem nojo de matar baratas.
 
E se não existissem os homens já teriam inventado um vidro de palmito com tampa abre fácil.
 
Mulheres não deveriam ler contos de fadas para suas filhas.
Mulheres deveriam comer com mais prazer e comprar lingerie para si mesmas.
 
Como o boletim do UOL felicita a mulher pelo seu Dia Internacional
 
Olá NICOLE ,

Faça exercícios aeróbicos no conforto do seu lar com a bicicleta ergométrica Tractt que está em promoção no Pontofrio.com, por 6 de R$ 19,98 sem juros. E para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Shopping UOL traz um guia especial repleto de ofertas e ainda destaca os dotes culinários da tradicional Ofélia em dois livros inéditos com receitas de doces e pratos rápidos.
 
conclusões imediatas: 1) mulheres devem preferencialmente se exercitar em casa, já que os seus afazeres domésticos impedem a prática esportiva. 2) mulheres devem se exercitar. 3) é barato se exercitar. 4) essa é uma oferta para comemorar o dia internacional da mulher. 5) comemore o dia internacional da mulher exercitando seus dotes culinários com a Ofélia.
 
 
::: D i á l o g o s  I n e s q u e c í v e i s
 
"RESPECT THE DICK!"
(Tom Cruise fazendo a classe macha se fazer respeitar, em Magnólia)
 
 
::: A chave
::: Luiz Andrioli <[email protected]>
 
Minha mãe tinha a chave de casa. Ela sempre levava a chave presa numa daquelas argolinhas, enroscada no zíper da bolsa. Meu pai nunca teve a chave de casa... É que a minha mãe sempre chegava em casa antes, porque ela não trabalhava. Não que ela não trabalhasse assim, digo, de não fazer nada. Ela fazia crochê... Ou era tricô? Você sabe a diferença de um e outro? Ah, claro, são as agulhas né? Mas um dia minha mãe chegou mais tarde em casa. Não, não foi por maldade, antes que você pense mal da minha mãe. Eu estava em casa sim. Mas a porta lá de casa é daquelas que só abre com a chave, sabe? Daí o motivo de eu não ter aberto a porta pro meu pai. Só que ele não sabe pular a janela, e além do mais ele achou mais fácil sair pelo bairro procurando a minha mãe. É, pelo bairro. É que a minha mãe sempre morou no bairro, nem o centro conhecia. Então meu pai achou que seria mais fácil procurar a minha mãe do que pular a janela, até porque ele estava de calça jeans. Mas isto tudo ele falou gritando, para que eu pudesse escutar através da porta fechada.
 
Tem gente que passa a vida inteira procurando alguma coisa, né? É, eu também acho profundo, foi o pastor que falou na TV, naqueles programas que passam de madrugada, em qual canal que foi mesmo? Ah, deixa pra lá. Mas a vida do meu pai foi assim, a partir daquele dia, imagino eu. Digo imagino porque imagino mesmo, porque eu nunca mais falei com ele. Também nunca mais falei com a minha mãe, mas isto nem me faz muita falta. É que eu sempre fui muito mais meu pai, sabe. É, eu sei que você deve ter notado... Identificação, né? Por isso que eu também não tinha chave nem bolsa para pendurar ela. Bem diferente da minha mãe, né?
 
Mas para encurtar a história, é por isso que eu moro sozinho já faz uns quatro anos. Acho que um dia eles podem voltar, mas certamente não vai ser hoje... É, eu tenho este pressentimento.
 
Então... Você quer dar uma passada lá em casa? Não, nem se preocupe. Você nem precisa pular a janela. Ó, é segredo hein!!! Só para você que eu conto: na verdade, a porta estava aberta naquela dia. Eu só tava brincando com meu pai... Engraçado né?? Por isso que eu nunca mais precisei da minha mãe, nem da chave...
 
Quer dar uma passada lá em casa? Não? É, já tarda mesmo. Com sono é? Tudo bem. Anota meu telefone. Tá sem caneta? Eu peço pro garçom... Ei, espera um pouco. Olha, se você mudar de idéia, meu nome tá na lista... Opa, peraí: será que nós já nos apresentamos?
 
 
::: N a v e g a r  I m p r e c i s o  ( c u r t i n h o )
 
Assessoria de Absurdos
DJÎZAS!!! Eduardo Fernandes, colunista da revista eletrônica London Burning, anuncia e argumenta (com exemplos) como e por quê o funk não vai ser uma moda passageira de carnaval. Curtura pra quem tem fundura!
 
 
::: Minhas mulheres, essas invisíveis
::: carlãO
<
[email protected]>
 
Jade
 
Ela vinha inevitavelmente como vem uma tempestade.
Só que com ela também vinham flores e cheiros de oásis onde ela se escondia nas noites frias do deserto.
Nunca olhava para mim com aqueles olhos negros ônix e deslizava na areia escaldante como quem flutua num tapete mágico ao pôr-do-sol.
Nunca sequer percebeu que eu a admirava como quem adora a lua ou uma estrela e sempre eu ia vê-la quando sentia que a aldeia estava ficando triste e nesse momento ela sabia e vinha trazer um pouco de beleza dança e leveza para nós pobres mercadores.
Sua pele dourada domesticava os raios do sol e seus cabelos levitavam no vento morno que as folhas das pequenas tamareiras tentavam imitar.
 
Eu ficava imaginando o gosto da sua boca o veludo da sua língua o abençoar de um beijo molhado nas tardes tão sufocantes.
Quem sabe ela pudesse me levar para protegê-la da turva noite para embalá-la ao som das esfinges para possuí-la entre calma e bruscamente numa tenda rósea num dia de fina fria rara e maravilhosa chuva.
Talvez ao menos ela me direcionasse um aceno para que eu jamais a esquecesse para que eu parasse de jurar que a solidão foi feita para o coração dos homens.

 
:::  A c h a d o s  e  P e r d i d o s
::: Celebridades, professores, colegas de escola, amigos de infância... Escreva para [email protected] dando-nos pistas sobre os desaparecidos, ou dizendo quem você deseja reencontrar.
 
ALINE SANFELICE PROCURA: o menino que voltou de São Paulo no ônibus em que ela estava e que, lá pelas tantas, pegou seu travesseiro "emprestado" - só por algumas 16 horas... Qualquer pista, indício ou pegada, escreva para [email protected].
 
CALÍOPE ARREPENDIDA PROCURA: Marcelo Rodrigo Sponchiado, que estudou com ela no Colégio Bagozzi de Curitiba até 1994. Depois ele foi para o Cefet. Ela queria muito saber onde ele está e o que está fazendo. Já viu o meliante? Sabe do seu paradeiro? Escreva para [email protected].
 
RICARDO SABBAG PROCURA: Izak, o gato judeu do São Lourenço. [email protected]. Não vale trote.
 
CARLO GABRIEL PROCURA: Angélica de Amorim Romacheli (ou Romacheli de Amorim), vista há cinco anos  em uma praça de Curitiba. Foi o último encontro. Depois só ocorreram desencontros casuais, até o seu completo desaparecimento. Ou melhor, até a sua mudança para Goiânia. Disso ele ficou sabendo faz pouco. Oferece recompensa para quem souber notícias suas. Basta entrar em contato pelo e-mail [email protected]. P.S.: Caro AL-Chaer, você que é de Goiânia bem que podia dar uma ajudazinha, não?
 
NOTA DO EDITOR (1): o carinhoso pedido do leitor também pode ser atendido pelo carlãO.
 
NOTA DO EDITOR (2): queridos leitores, alguns pedidos ficam retidos na redação para serem utilizados em edições futuras. Não percam a paciência e continuem procurando quem vocês amam. Ah, e os textos também podem ser reduzidos por motivos de espaço, ok? Mas o que vale é a intenção... :-)
 
 
::: S o n h o  d a  S e m a n a
::: Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
 
Sonho número 2756
Mateus Potumati <[email protected]

De repente, um sonho. Estou perto de um campo de futebol e escuto a voz do Paul perguntando se já vi "Fogo no Céu". Ao serem pronunciadas, as palavras provocam um alarma geral na população ao redor. O céu começa a escurecer e nuvens se juntam, soltando raios e trovões. Escuto então um barulho ensurdecedor e, quando olho em sua direção, vejo uma imensa bola verde de fogo descendo do céu a uma velocidade espantosa. A bola cai direto no estádio, bem no meio do campo, destruindo tudo. Os que sobrevivem, eu incluído (porque estava do lado de fora), correm aterrorizados para seus carros. Mais bolas verdes, menores que a primeira, caem nas imediações. É um espetáculo lindo, ver tudo explodindo com luzes verdes.

Eu fico ali, estático, olhando o céu, quando uma mão de mulher me puxa. "Venha comigo". Morena, com um vestido preto glamouroso colado ao corpo magnífico, a franja cobrindo um lado inteiro do rosto, sexy à moda dos anos 50. Entro com ela, um adolescente magrelo e um velho gordinho de boina dentro de um carro antigo conversível, vermelho, e saímos em disparada. Vamos em direção a um galpão e paramos dentro dele. Lá, há mais pessoas com cara de que vão fazer alguma coisa pra salvar o mundo. Elas correm pra lá e pra cá, alguns de jalecos brancos, perdendo-se em meio a computadores e outras máquinas. "Que hora eu vou comer a morena?", penso.
 
Um homem troncudo, de meia idade, vem em minha direção e aperta-me fortemente a mão. Percebo, então, que se trata de Charles Bronson, misturado com o Teta, que jogou bola no time adversário ontem no Zerinho. Aliás, os dois se parecem muito. Ele entra rapidamente no carro com a mulher e o velho, no banco de trás (o menino sumiu) e indica-me o volante. "Eu vou dirigir?", pergunto. Ninguém responde. Charles-Teta conversa com a mulher e o velho me dirige um sorriso infame. Dou a partida e saímos do galpão. "O que faço, agora? Pra onde vamos?", pergunto-lhes novamente. "Sei lá, o sonho é seu", responde Teta-Charles laconicamente. Ele não é mesmo de falar muito.
 
Sigo, então, ao centro de Londrina - sim, já que o sonho é meu, a cidade virou Londrina - descendo pela rotatória da Rua Maringá em direção à Goiás. Estou no meio da ladeira, chegando ao vale, quando penso: "Ei, isso podia ser diferente". Voltando de novo à rotatória, quando entramos na descida da Goiás vemos um imenso buraco fumegante onde antes era o vale, repleto de destroços e com focos de luz verde. A cratera chega até quase a Avenida JK, onde já iniciaram a construção dos muros de contenção. Pra conter não sei o quê, mas achei que ficaria bem ter muros de contenção em algum lugar dessa história.
 
Olho para trás, o sorriso sexy da morena e o olhar aprovador de Charles me tranqüilizam - eles também gostaram dos muros de contenção. Começo a dizer-lhes que sempre sonhei em escrever um roteiro de ficção científica, que a dona Cida na quarta série disse que eu era muito criativo e que ganhei um prêmio no concurso de redação da escola, mas súbito percebo o olhar dos meus companheiros voltarem-se para atrás de mim e adquirirem espanto e horror crescentes, até que a mulher grita "O buraaaacoooooo...!!!". Viro-me e então percebo a utilidade dos muros de contenção: impedir que as pessoas caiam na cratera. Básico. Só que desse lado da Goiás ainda não construíram os muros e rumamos à toda, na banguela, para a morte quente e radioativa. Não há tempo para frear. Olho uma última vez pra trás e vejo Charles de olhos fechados, impávido, a morena agarrada a ele, com a cabeça grudada em seu peito, e o velho com aquele mesmo sorrisinho infame. Isso realmente me irrita.
 
A poucos metros para o precipício, porém, começa a piscar no console um botão vermelho onde está desenhada a célebre cena do menino voando de bicicleta com o ET na cestinha. "Será que aperto? Não é uma idéia muito esdrúxula? Posso pensar em outra coisa. A dona Cida sempre disse pra desenvolver bem as idéias e...". "APERTA LOGO, PORRA!", gritam Charles e a morena, o velho sempre com o sorrisinho infame. Aperto, finalmente, o carro já com um eixo dentro do vazio, e eis que alguma coisa dá um forte tranco no solo e o veículo decola, voando magnificamente por cima da cratera. Como não poderia deixar de ser, ouve-se a música-tema do ET. Viro para trás e Charles beija a morena, fazendo com que explodam fogos de artifício de diversas cores ao fundo e acabando com minhas esperanças polutivas noturnas. O velho dança uma balalaika sobre a tampa do bagageiro. Olha pra mim, com seu sorriso infame estampado na cara redonda, e dá uma piscadinha. O desgraçado já sabia de tudo.
 
 
::: D e s a b a f a ê
::: Solta a voz na estrada e diga pro mundo o que você não agüenta mais!
 
ALEXANDRE INAGAKI NÃO AGÜENTA MAIS: novelas das oito com sotaque fake baiano, pepinos no meio dos cheesebúrgeres do McDonald's e dinheiro (quando não o tem).
 
AUGUSTO SALES, do FALAÊ! (http://www.falae.com.br): Não agüento mais um sujeito calvo recém contratado, que trabalha ao seu lado. Ele passa todos os dias reclamando ao telefone, não sei para quem, de seu medo de ficar careca, das mulheres o rejeitarem, da insegurança e da tristeza de ver tão preciosas mechas deitadas no seu travesseiro enquanto se levanta todo dia pela manhã. É mole, huh?! Comenta que em compensação tem um corpo peludo... mas não é suficiente. Trocaria todos os pêlos do corpo por uma bela cabeleira... Esse sujeito... não sei não... O pior foi outro dia que ouvi ele dissertando uma teoria maluca sobre os golfinhos... mas essa fica pra próxima...
 
ALINE SANFELICE NÃO SUPORTA MAIS: a espera do primeiro salário, que nem chegou mas já foi usado sete vezes!! Em teoria...
 
carlãO QUASE VOMITA: ao ver uma cambada de políticos no palanque, após falarem um monte de asneiras, juntarem as mãozinhas (leves) e levantá-las todos juntinhos...
 
 
::: M e s a  R e d o n d a
::: Conversas descompromissadas em uma mesa online de bar.
 
Tema da semana: jornalismo alternativo & e-zines
Samuel Ramos <[email protected]>
m2b <[email protected]>
Alexandre Inagaki <[email protected]>
 
(observação: o papo abaixo é desdobramento do artigo "Jornalismo McDonald's", publicado na edição extra do Tijolão desta semana. O quê? Você não lê o Tijolão?? Que estás aguardando, infiel? Visite www.tijolao.cjb.net, e assine o e-zine que desce macio e reanima!)
 
INAGAKI: Os jornais estão cada vez mais padronizados, bitolados, parecidos uns com os outros, assim como o Big Mac da Rússia é igual ao tupiniquim. Mas o problema é que jornalismo NÃO é fast-food. E um texto não é um produto a se padronizar.
 
M2B: Bom, uma prova de que o leitor deseja alternativas são essas publicações fora do mercadão, via e-mail, por exemplo. Mas o problema é que rola uma institucionalização do "ser alternativo". Em outras palavras, o cara antes de agir pára e pensa: "serei um contemporâneo". Putz, esse já tá atrasado... ou seja: moçada desenvolve um projeto alternativo não pensando em fazer o que tá a fim, mas sim querendo soar "alternativo", esse alternativo que na verdade é mais um produto igual aos outros (nada contra ser um produto).
 
M2B: Resultado: vemos muito texto em publicação alternativa (caberiam umas aspas?) que parece que o autor colocou uma foto do editor de um ou outro jornal na parede ao lado do micro, para não esquecer nunca que para ser um texto alternativo há certos requisitos que devem ser seguidos à risca. Mal comparando, seria como uma banda brasileira querer fazer rock inglês.
 
SAMUEL: Ingenuamente, creio que cedo ou tarde, com a massificação da net, e, conseqüentemente, com cada pessoa podendo ser produtora (e não só consumidora de informação, cultura, lazer, etc), talvez esse padrão asséptico acabe sendo quebrado... Delirius tremens, enfim...

M2B: Tomara, mas tendo a achar que está mais para o que eu disse acima, a padronização do alternativo, que seria, digamos assim, mais um padrão nº 2 do que uma quebra de padrão.

M2B: Ou seja: a falta de assepsia também tá virando padrão...
 
INAGAKI: Retomando as palavras de Mr. Samuel, acho que precisamos cumprir o papel que um e-zine deve se propôr a fazer: cutucar a galera pra que eles não se satisfaçam com o papel de "voyeurs" da sociedade da informação. O grande tesão pra mim, em editar um e-zine, é este: de tirar o leitor do papel passivo a que ele está acostumado, e fazer ele despejar suas letrinhas Web afora.
 
SAMUEL: Sim, concordo com isso, porém não acho legal o mau uso que tem sido feito da ferramenta: tenho visto muita merda alardeada na onda da "vanguarda na net" sob o título de egotrip ou literatura pop. O Marcos mesmo sugere que, tanto na net quanto fora dela, os padrões de qualidade deveriam ser os mesmos.
 
INAGAKI: Sábias palavras. Tenho recebido MUITO texto bom pra ser aproveitado no e-zine, mas pra compensar, quando chegam coisas ruins... Um dia vocês precisam ver uma compilação das piores colaborações que andaram me mandando.

SAMUEL: Putz, e é generalizado. A gente recebe cada um também. E ainda passa por paunocu por vetar texto. Mas ou o cara pensa na qualidade do trabalho e no respeito a quem lê, ou vira merda.
 
INAGAKI: Show de horrores. Um grave problema contemporâneo é que as pessoas escrevem mais do que lêem.

SAMUEL: Triste verdade... Mas em suma, acho que esse papo de "todo mundo ter voz" incita a deixar muita coisa de lado também, já que tem muita coisa que não presta. Dar voz a quem não tem nada a dizer só serve pra quem não quer ouvir nada mesmo.
 
INAGAKI: Idem ibidem. Cê me fez lembrar das asneiras que a platéia do Serginho Groisman costuma cometer. E isso porque os caras que estão lá fazem parte de uma suposta elite econômica-cultural. Se bem que até aí, vejam os universi-otários do Show do Milhão, que cumprem um papel muito melhor do que os Provões do MEC no quesito "Avaliação de Curso".
 
SAMUEL: Sim, acontece que estar numa universidade ou em um meio cultural elevado não quer dizer, efetivamente, que o cara se torne gênio. Osmose só em química (ou física?). Ah, sei lá, não estudei muito mesmo... hahahhahahahah
 
INAGAKI: É isso aí! Chinelagem na tela e amor no coração!

SAMUEL: Chinelagem sempre, seja na tela ou no coração! E vão estudar, vadios! (risos)
 
ÚLTIMA NOTA DO EDITOR: Prezados leitores, foram realmente VÁRIOS os feedbacks em relação à mesa redonda que falava sobre amor platônico. Por isso, vou deixar o Alexandre compilá-los e responder melhor na edição 007 (viva e deixe morrer :-)), certo? E não vamos deixar que isso afete nossa amizade tão bonita. :-}
 
 
::: F a l a  q u e  E u  t e  E s c u t o
::: Mande suas críticas, sugestões e comentários  engraçadinhos para <[email protected]>. Aqui, trechos comentados de correspondências recebidas na última semana.
 
"Oi, pessoal. Parabéns pelo zine. Fico super feliz quando abro minha caixa de mensagens e vejo que chegou outro número. Leio absolutamente tudo. Gosto demais!! Os textos preenchem a solidão, o domingo fica mais leve e a gente fica assim, parecendo que conhece cada um de vocês pessoalmente. Pelo estilo, dá pra ver quem é mais alegre, mais filosófico, mais denso... E todos, cada qual a seu modo, têm sempre algo interessante a dizer :-)"
Meire Müller
 
OS EDITORES: Querida Meire, nós do Spam servimos bem para servir sempre. E somos multiuso, também. O Alexandre, por exemplo, é um ótimo cozinheiro. Mas ele também lava, seca e passa. E tudo isso por menos do que você imagina! :-) Muito obrigado pela participação, R.S.
 
"Educaralhopassastrixpownablesandancekidvaliummesmo........ EU"
Roberto Eduardo de Carvalho
 
OS EDITORES: Grande Betão, é mais ou menos por aí. Só discordaria no ponto em que você se refere a *zzzzz, rrrronc!* Amplexos fraternais do seu ex-colega, R.S.
 
"Spam Zine, eu amo vocês!!!!!!"
Aline Canejo
 
OS EDITORES: Doce Aline, a recíproca é verdadeira. Amor livre e gostosinho para todos. Carinho do editor, R.S.
 
 
::: C r é d i t o s  F i n a i s
 
Directed by:
Alexandre Inagaki <[email protected]>
Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Cast (by alphabetical order):
Aline Sanfelice <[email protected]>
carlãO <[email protected]>
Luiz Andrioli <[email protected]>
m2b <[email protected]>
Maria Lúcia de João de Santo Cristo (oof!) <[email protected]>
Mateus Potumati <[email protected]
Nicole Lima <[email protected]>
Samuel Ramos <[email protected]>
Valcir Ortins <[email protected]>
 
Special guest stars (appearing under the credits):
AL-Chaer <[email protected]>
Danilo Pschera <[email protected]>
Mariana Ferreira <[email protected]>
 
Thanks to Fernando S. Goulart, editor do MOL <http://www.mutantesonline.cjb.net>. Valeu pela força, cumpadi!
 
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::: P. S.
 
1) Na dúvida, ponha atrás. (Sabbag)
 
2) São as meretrizes que ditam as diretrizes deste país. (Pschera)
 
3) Te longo, porque te curto é muito pouco. (Chaer)
 
4) Platônico ou eletrônico, o coração ainda byte. (Ferreira)
 
5) De tudo que gastamos com mulheres, o dinheiro (por mais que seja) sempre será a coisa mais barata. (carlãO)
 
6) País melodramático, enterros grandiloqüentes, qualidades póstumas: isto é Brasil. (Inagaki)