[S
p a m Z i n e]
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: 25 de fevereiro de 2001
: curitiba, londrina, são paulo, belo horizonte, rio de janeiro
É Carnaval!!!!
uhu,
bunda lelê que nada, esse ano é do tigrão
Sex
Sleep Eat Drink Dream
Eu não
sou uma tchutchuca,
não
ia, jurei que passaria o carnaval trancada, cuidando das plantas, assistindo
novela, sambando na frente da tv (quem sabe eu não encontraria inspiração
para limpar o banheiro?). Odeio turistas, odeio ficar onze horas presa num
desses caminhos que levam ao mar. Mas meus planos de eremita foram lenço
de papel abaixo esta semana... Chorei tanto que de janeiro o meu rio já
alcançou fevereiro.
Meu pai
ligou na quarta-feira, e se ligou no meio da semana é que era caca, e era
grande, interurbano e em horário comercial...ischhhh. Pensei que era a minha
conta que estava estourada (de novo), pensei que tinha morrido alguém...
Não: "filha, estou ligando pra te contar que eu fui demitido".
Merda.
É redundância
dizer que ele vai sobreviver, claro que ele vai sobreviver. O que morreu
foram os escrúpulos... quase 30 anos acordando às seis de la mañana, pegando
a estrada, voltava pra casa só de noite, todo cansado, todo sujo. Chegava,
brincava um pouco com o gato, ia ver a filharada, tomava banho, comia, assistia
ao jornal nacional e ia dormir. Todo santo dia.
O mundo
dele era a coisa mais sólida que eu tinha para contemplar. O meu mundo desaba
várias vezes ao ano... grande mundo. Já trabalho, já estudo, moro sozinha...
mesmo assim, meu(s) pai(s) had always been there. E eu ia tocandinho a vida,
meio fazendo pose de adulta, meio correndo pro colo dele(s). E agora o que
parecia ser um feito heróico, a minha tão declarada INDEPENDÊNCIA virou
um tapão na cara. Eu precisava ter o meu ass devidamente kicked pra perceber
que já posso sair por aí atravessando a rua sozinha?
Ah carnaval...
Ano passado eu terminei um namoro (desses que deviam ser pra vida toda e
não eram). Este ano eu vou pra casa do meu pai. Vou tirar o dedo do umbigo
e deixar ele deitar a cabeça no meu colo. Vou lá dizer pra ele que antes
de casar sara, que o bem vence o mal e espanta o temporal, mesmo que nem
o azul nem o amarelo sejam muito belos.
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Ei ei
essa é a primeira edição FonFon do SpamZine. Quem contava com um editorial
by Mr. Sabbag que vá até Santa Felicidade nos arredores de Curitiba resgatar
o moçoilo (que a essa altura deve estar arrancando o smoking abraçado com
os amigos no seu baile de formatura).
E aí que
esta semana quem ficou posando de editora mala foi a menina aqui. Recebendo
e lendo TUDO, espremendo as colunas pra caber todo mundo, mas não dá...
people 30kb é beeem menos do que parece... Atirem os tijolos (bons tempos
aqueles em que os tomates eram mais utilizados...)! Eu juro que dei tudo
de si e fiz tudo o que o professor mandou.
Destaque
para os nossos mais novos colaboradores: Alexandre Carvalho, que veio incrementar
nossas listas de Top 5 com sua trilha sonora para momentos de profunda reflexão,
e Patrícia Corrêa, que anda sonhando que a igreja fica nos fundos da rodoviária
e tem saída para o hospital. Extra Extra Extra, não percam nesta edição:
mais um eletrizante capítulo da novelinha do Mateus Potumati (o final nem
ele sabe, mas a narrativa é deliciosa), Luiz Andrioli (que eu conheci "ao
vivo" esta semana e parece o Milhouse :o) dos Simpsons), e, é claro: o Alexandre
Inagaki e o Ian Black que até agora não me contaram o que vão aprontar nesta
edição (cê tá pensando que eu sou lóki bicho? Eu sou malandro velho não
tenho nada com isso...).
Thank
you thank you thank you: a todos que mandaram seus textos, cartas, tijolos,
alfinetadas, flores e telemensagens... o que não mata e não engorda faz
crescer.
Valeu:
Aline Canejo, André Rosa, Eliane Malpighi e Paula Pimenta, nossos leitores,
pelos perdidos nos nossos ainda não achados.
Campanha "Por
um Zine Maior": não seja egoísta, dê uma assinatura do SpamZine pra mais
alguém. É de graça :o). Mande um e-mail para [email protected]
com o subject ELE TAMBÉM QUER, e o e-mail do(os) felizardo(s) no corpo da
mensagem. Você concorre a uma viagem para a Tazmânia no final da promoção
(queira deus que nunca acabe) e pode inscrever mais de um coitado de uma
só vez.
::: Novelinha
barata em alguns capítulos (parte 2)
Fomos
pra um lugar que fazia pratos com carne por R$ 2,90. Fiquei na fila pedindo
um "farra do boi" pra mim e um executivo pra ela, enquanto ela foi procurar
lugar pra sentar, o que era praticamente impossível. Paguei os dois, peguei
a senha e fui procurá-la.
Aquele shopping estava insanamente cheio de pessoas, a maioria delas garotos
com topetinho e fantasias de caras do n'sync e garotas em fase pré-lolita.
O perfume enjoado-amadeirado-de-frio fazia uma mistura estranha com o
cheiro de molho de tomate da casa de massas, o que me deu certa repulsa.
Olhei para ver se a encontrava, mas nem sinal. Andei mais um pouco, apertando
os olhos, até perto do fliperama e vi um braço abanando lá do outro lado
da praça. Era a Cíntia; tinha realizado a incrível façanha de achar uma
mesa, quase na porta da rua. Fiz sinal de que ficaria ali, porque ia demorar
uma eternidade pra eu entrar e sair da turbamulta, e ela fez que tudo
bem. De longe, vi que sentou-se sozinha à mesa, de dois lugares, e que
pegou um livro pra ler, enquanto fazia a festa do meu gatinho do meu sobrinho
com a outra mão.
Um senhor barrigudo, com cara de pai de família, aproximou-se e conversou
com ela, que apontou na minha direção. Ele fez um gesto cordial, se bem
que impaciente, e entendi tudo quando o vi colocando algumas sacolas de
compra sobre a mesa, outras na cadeira. Cíntia olhou para mim, fez um
gesto de conformação e continuou sua leitura no meio da sacolaiada.
Foi então que uma loira lindíssima, de seus magníficos 16-17 aninhos,
chegou à maquina de pegar bichinhos de pelúcia. Aquele cheiro azedinho-doce
que ela espalhava deixou um rastro de cabeças masculinas perturbadas (topetinhos
e outros). Ela era, na falta de adjetivo mais adequado, perfeita: não
só os traços do rosto tinham simetria perfeitamente apolínea, mas a boca
era rosinha e polpuda, a pele muito branca, e a bunda absolutamente redonda
e firme. O fato de ela ser loira em todos os milímetros de suas pulseiras
douradas me impressionou mais ainda, porque não é o tipo de mulher que
comumente mais me atrai. Havia alguns caras olhando pra ela e as abaixadas
para pegar mais um ursinho, uma girafinha, um porquinho, um picachuzinho
- ei, isto sim é uma demonstração plena de loirice em altíssimo grau,
nunca vi ninguém pegar tantos - faziam a alegria da galera. Ela pegou
quatro desde que comecei a observá-la, e tinha mais uns quatro no braço
da amiga (que, sem atrativos à altura, era mero arauto da loirinha em
seu momento epifânico).
Fiquei absorto por um pouco ainda, até que me lembrei da senha. Virei
pra ver o número em que estava. Cacete, tinha passado dois do meu. Corri
ao balcão e peguei a comida, que estava num canto e já devia começar a
esfriar. Eu fiquei desengonçado com as duas bandejas e tive que assistir
de soslaio à partida da loirinha.
Caminhei com dificuldade até a mesa, e ainda tive que esperar a Cíntia
achar o gordinho das sacolas. Depois que ele tirou todas e foi embora
sem agradecer, coloquei as bandejas sobre a mesa e finalmente me sentei.
Ela sentou-se depois de mim, e deu uma ajeitada de leve no cabelo.
- Nossa, que demora, hein? Esse shopping é um inferno aos domingos.
- É um saco, mas pelo menos tem comida razoavelmente boa e barata.
Ficamos em silêncio um pouco, porque a espera tinha causado um buraco
no estômago.
- E o gatinho, como vai? - perguntei, ainda mastigando um pedaço do bife.
- Bem. Dei um pouco de ração e ele dormiu.
- Me diz uma coisa, você capa seus gatos machos?
- Eu castro, claro.
- E não acha cruel?
- Acho cruel vê-los chegando mutilados em casa depois de brigas na rua.
Tudo por causa de pinto.
- Eu preferiria continuar com o meu.
Nós dois rimos, e aquela risada dela era mesmo interessantíssima. Não
consegui me convencer a respeito de capar ou não o gatinho, então falamos
mais algumas coisas sobre cuidado de gatos, perguntei o que ela estava
lendo (era um John Steinbeck comprado às cegas num sebo, e ela estava
achando chato) e demos mais algumas risadas. Foi agradável. Quando terminamos,
ela fez menção de me dar o dinheiro da comida, mas eu disse que a próxima
seria por conta dela, então. Ela insistiu, mas já fui me levantando e
pegando a caixa do gato e a sacola com as coisas do chuveiro.
- Vem, vamos que eu te dou carona.
- Não, obrigado, eu moro longe.
- Um motivo a mais, ué.
- Tá bom, então, mas é longe.
Saímos dali e já era noite. Fazia frio. Me faria bem não ir direto pra
casa naquela hora, e me faria mais bem ainda se fosse pra casa dela. Quis
pegar o caminho para a cidade, mas ela disse que pela estrada era mais
fácil. Pus a minha fita ebony & ivory (de um lado som de branco, do
outro de negro) e fui na estrada pelo sentido da Universidade.
(ainda continua)
::: A
c h a d o s e P e r d i d o s
:::
Celebridades, professores, colegas de escola, amigos de infância...
Escreva para [email protected] dando-nos pistas sobre
os desaparecidos, ou dizendo quem você deseja reencontrar.
ANDRÉ
ROSA DE OLIVEIRA, morador do longínquo bairro do Itaim Paulista, zona
leste da capital paulista, PROCURA POR: Lorena Ramos Fraga, uma adorável
capricorniana que compartilhou sua presença nos idos de 1988, época
em que este reles jornalista cursava a quinta série do colégio Arsol
(atual Souza Lopes). Quando o cururu aqui percebeu que gostava muito
dela, ouvi a seguinte frase: "Sabe, Dé, eu quase me apaixonei por você.
Pena que você seja tão bobo...". Gostaria que ela soubesse, parodiando
o editor deste respeitável zine, que eu "continuo soltando asneiras
mundo afora, mas agora com mais experiência...".
ELIANE
MALPIGHI PROCURA POR: o cachorrinho mais lindo que já tinha visto até
meus 6 aninhos nem tão idos assim e que me fez tomar 75 picadas no Instituto
Pasteur de SP tudo só porque eu contei pra minha mãe que ele era cor-de-rosa
- razão que me faz pensar que existia nele uma porção extra de longevidade.
ALEXANDRE
CARVALHO PROCURA: Marie, minha ex-colega de Brasílio Machado. Garota
brilhante, cheia de sacadas, virou atriz e se mudou para a Bahia, para
Boca do Rio (beleza pura). Foi a primeira pessoa a me falar sobre a
vila de Maromba e suas cachoeiras, e suas noites de violões e poesia.
Mandou-me uma carta, dizendo que ia ser mãe, e sumiu da minha vida.
ALINE
CANEJO PROCURA DESESPERAMENTE POR: Lucas de Freitas Monteiro. O cidadão
foi meu amorzinho de infância e me deixou marcas até hoje (Oh!). Era
o longínquo ano de 1989 e a pobre menininha que vos fala se derretia
de amores por aquele menininho louro e com jeito de Don Juan. O talzinho
tinha 3 namoradinhas!!!! E o pior: elas eram minhas amigas!!! Bom, na
época estudávamos no Colégio Nossa Senhora das Dores do Rio de Janeiro.
Agora, nem faço idéia de como ele esteja. Aproveitando a deixa: eu queria
encontrar as minhas amiguinhas tb que dividiam o lourinho comigo, Flávia
Vieira e Clarissa Marques.
PAULA
PIMENTA PROCURA: o "poeta à procura de editor", que enfeitava os muros
de Belo Horizonte com suas lindas frases como: "apaguem a rua que a
lua está linda". Eu costumava anotar todas as suas frases que tinha
a chance de ver pelos caminhos que eu passava em 1991. Terá ele arrumado
uma editora? ou ainda vaga pelas ruas e perdeu a inspiração para as
poesias?
:::
P a p o - A r a n h a
:::
O guia moderno da cantada virtual. Quer achar a tampa da sua panela? Envie
uma cantada criativa para [email protected]. A melhor da semana você confere agora.
Haverá
alguma explicação para o fracasso em massa dos casamentos realizados em
meados dos anos setenta?
Pela lógica
deveríamos ter um homem divorciado para cada mulher divorciada, um homem
casado pra cada mulher casada, um solteiro pra uma solteira... onde estão
os cromossomos XY? Não me conformo... Minha mãe é linda nnnnnngata, 1,58,
49kg bem distribuídos, alimentação saudável, mestrado e doutorado em literatura
norte-americana, professora universitária, poeta, financeira-filosófico-sexualmente
resolvida, escreve, lê, come pouco, gasta pouco, tem bom humor, casa própria
(em Florianópolis), carro próprio, sabe nadar, usa filtro solar, bikini
tamanho "P" e abraço tamanho "G".
Minha
mãe não tem mais vinte anos e ainda dorme com as luzes acesas... mas também
não chora olhando pro espelho, não freqüenta praças de alimentação de shopping
centers, não fuma, não bebe pra fazer tipo, nem dança a música do tapinha
que não dói.
Se você
tem um pai solteiro, um amigo, um tio, um irmão mais velho, um vizinho...
conhece alguém que goste de ficar em casa, tomar café bem quente, alguém
que não tenha medo de escuro, que goste de assistir a filmes deitado no
chão, praias vazias, livros cheios, alguém que saiba sentir o gosto da palavra
derramada em papel e tinta, um homem com um bom colo e um abraço melhor
que o beijo, envie suas cupido-cartas de recomendação que eu encaminharei
o felizardo à senhorita Maria Lúcia.
:::
L i s t a s A b o b r o l
Top
5 Discos Para Levar a Uma Ilha Deserta (Nacionais)
Não
se trata de apontar os melhores, o que implicaria uma forte influência
do que o resto do mundo considera, quais os clássicos, etc. A seleção
se refere àqueles que você levaria para uma ilha deserta, àqueles que,
quando tudo está uma merda, você coloca para tocar e logo deita na cama,
abre aquele sorrisão e fica olhando para o teto, com a cabeça lá longe.
Ou seja, aqueles que fazem a vida valer a pena. Aqueles que, se você pôr
para tocar em casa ou no carro, e sua namorada pedir para abaixar o volume,
você logo conclui que ela não era mesmo a mulher da sua vida.
"Tecnicolor"
- Mutantes (1970)
Sem
demagogia, eu acho esta obra-prima um dos cinco melhores álbuns de rock
de todos os tempos. Quando ouvi "She's my Shoo Shoo" pela primeira vez,
meus olhos se encheram de lágrimas. Só não chorei porque nunca choro (defeito
de fábrica). O fato desse disco só ter sido lançado quase 30 anos após
sua gravação só confirma a tese de que brasileiro é tudo burro mesmo.
Seria o mesmo que a EMI decidir não lançar o "Sargent Peppers". Arnaldo,
Rita, Serginho, Liminha e Dinho estavam no auge do entrosamento e do desempenho
como instrumentistas, gravaram um disco sem nenhuma canção inédita, compondo
novos arranjos (ponto para o Arnaldo) e criando versões para o inglês
que, em algumas faixas, melhoraram o que não era tão bom em português,
como é o caso de "Saravah" (ponto para Rita). Ouço toda semana e nunca
me canso.
"Jóia"
- Caetano Veloso (1975)
Já que está na moda falar mal do Caetano (e endeusar seus imitadores baratos),
vamos falar bem. Fiquei na dúvida entre este e o "Outras Palavras" (certamente
levaria os dois para a ilha deserta), mas o "Jóia" passa dos limites,
porque é menos conhecido, mais experimental e tem sido meu tiro de misericórdia
sempre que quero impressionar uma menina daquelas que valem o esforço.
A primeira faixa, "Minha mulher" ("Quem vê assim pensa/ que você é muito
minha filha/ Mas na verdade/ você é bem mais minha mãe), só voz e os violões
do Caetano e do Gil, já derruba a resistência da garota. Depois já pulo
para "Na asa do vento", música linda que rola muito em Itaúnas, o paraíso
na terra. Então é só colher os frutos dos novos horizontes de beleza que
você está abrindo para a garota. Se não der certo, há alguma coisa errada,
provavelmente com ela.
"Milton"
- Milton Nascimento (1970)
Quem já ouviu "Pai Grande", letra e música do Milton, em que ele fala
da família negra que não conheceu (foi adotado por pais brancos), com
acompanhamento do Som Imaginário, banda que tinha Zé Rodrix tocando vários
instrumentos, sabe que esta preciosidade está entre as melhores criações
da MPB. João Bosco fez uma regravação inspirada em "Dá Licença Meu Senhor".
Além dela, tem "Clube da Esquina", "Amigo Amiga", "Durango Kid" e, para
quem gosta de clássicos, "Para Lennon e McCartney". Quem tem o vinil deve
trocar pelo CD, que possui faixas bônus imperdíveis sobre futebol.
"Lóki?"
- Arnaldo Baptista (1974)
Nenhum disco de rock nacional supera este em termos de "feeling".
Depois de sair dos Mutantes, Arnaldo fez este disco sem nenhuma guitarra,
mantendo o "punch" com uma base econômica de teclados (piano e órgão),
baixo (Liminha) e bateria (Dinho). Aqui e ali, uma orquestração do Rogério
Duprat. Ele estava com saudades da Rita e deixa isto explícito na maioria
das faixas, como "Desculpe" ("Desculpe/ se eu fiz você chorar...") e "Será
que eu vou virar bolor?" ("Venho me apegando ao passado/ e em ter você
ao meu lado..."). O Liminha reclama até hoje que o Arnaldo não permitiu
que nada das canções fosse regravado. Queria que saísse tudo como ficava
na primeira tentativa, o que impressiona pelo acabamento perfeito das
músicas e todo o sentimento que o Arnaldo colocou no jeito de cantar.
Era um desabafo, e desabafos só se fazem uma vez. Ouvir este grande artista
em um de seus picos de talento, e depois pensar no que o futuro lhe reservava
(a loucura, o esquecimento, a reclusão), dá um aperto no peito.
"O
Grande Circo Místico" - Edu Lobo e Chico Buarque (1983)
Todas as músicas são do Edu; todas as letras, do Chico. Para completar esta
seleção de nacionais, pensei em colocar o "Gil & Jorge", em que ambos
detonam dois violões emaconhados, em versões intermináveis e sensacionais
de suas músicas; pensei em "Acabou Chorare", dos Novos Baianos, mistura mágica
de talentos do rock, do samba e do frevo, que nada tem a ver com Mangue Beat
e porcarias semelhantes; pensei também no primeiro dos Secos e Molhados. Mas
o negócio é que, ultimamente, é "O Grande Circo Místico" que não sai da minha
cabeça. Se só tivesse o Milton cantando "Beatriz", já valia o preço do CD,
mas também tem Tim Maia cantando "A bela e a fera" e um Gil de arrepiar em
"Sobre todas as coisas". Foi mais uma indicação da Alina, uma garota muito
especial, cujos olhos sempre ficam marejados quando começa o coro de crianças
cantando "A ciranda da bailarina". E eu disfarço os meus olhos úmidos quando
me lembro dela.
:::
D i á l o g o s I n e s q u e c í v e i s
-
Malkovich... Malkovich, Malkovich?
-
Malkovich.
(precisa
dizer o nome do filme??)
+
plus + plus + algumas das respostas sarcásticas dos Beatles às clássicas
perguntas imbecis de jornalistas em "A Hard Day's Night":
-
Como vocês chegaram à América?
-
Viramos à esquerda depois da Groenlândia.
-
Como se chama o seu corte de cabelo?
-
Arthur.
Talvez
nunca seja eu o único
Quando
acendo um cigarro, penso se estou sendo o único a tragar e baforar neste
instante.
Se não
for o único fumante desta fração de mundo, fico feliz com a possibilidade
da marca do fumo, cor da chama do isqueiro, posição do cigarro nos dedos
formarem uma variação tão singular que me faça ser único.
Talvez
nunca seja eu O
Olho
no espelho, vejo que minha boca para ser mulher só falta um par de seios
palmo e meio abaixo.
Talvez
nunca seja eu
Acordo
assustado depois de perceber que a marca do meu corpo no lençol é menor
do que a que eu até então imaginava ser o meu corpo.
Me olho
no espelho e uma rápida faísca lusco fusca me cega os olhos, somente os
meus... Mas preserva a lente inquiridora da imagem negativa à minha frente.
Não reconheço a imagem que até então imaginava ser a minha, maior ou menor
que a marca no lençol.
Talvez
nunca seja
Porque
sê já, se se pode sê daqui a pouquinho?
Talvez
nunca
Giro
um globo e arremesso um dardo com a mira de um ansioso. Com dificuldade,
traduzo latitude e longitude, local que permanecerá eternamente virgem pelos
meus pés.
Talvez
...
não se mude nada desta fogueira autofágica que cheira concreto e fumaça
a partir destas bem ou mal traçadas linhas.
:::
R á p i d a s R a s t e i r a s
"A vida é uma faculdade que nos dará o diploma da felicidade".
(JORGE,
participante do programa Clube da Madrugada com Iaponira, exibido diariamente
pela Rádio e TV Exclusiva de Curitiba)
"O álcool
é foda. (pausa) Interfere mesmo".
(NEWTON
CHAGAS JÚNIOR, repórter da Gazeta Mercantil Paraná, caneco de chope na mão
e olhar perdido no movimento da Boca Maldita)
:::
S o n h o d a S e m a n a
:::
Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho
da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
Era uma
quinta-feira de manhã e eu estava em um casamento, em Petrópolis. Era o casamento
de um colega de escola, que, por sinal, já é casado há alguns anos, mas isso
não importa. A igreja era muito grande, não muito parecida com uma igreja,
na verdade. Acho que era o Museu Imperial de Petrópolis. O casamento começou,
com o noivo e os padrinhos entrando. Mas no meio do caminho, antes da noiva
entrar, eles começaram uma gincana e correram para pegar alguma coisa em uma
pracinha em frente. Os convidados ficaram por ali, conversando e esperando
os garçons passarem. Aproveitei para ajudar meu pai a preparar uma apresentação
em Power Point que ele tinha que fazer para o trabalho. Mas fiquei de saco
cheio e resolvi sair sozinha para passear pela cidade.
Andei muito,
me perdi (o sonho imita a vida, sou completamente desorientada) e acabei esbarrando
com um amigo, o Alexandre. Continuamos caminhando juntos até chegarmos em
uma ponte. A tal ponte tinha uma espécie de degrau muito alto, quase um muro
e eu quase não consigo subir. Além disso, a gente tinha que pagar um pedágio
de R$ 11,50, mesmo estando a pé. Fiquei com raiva, mas paguei. Daí o Alexandre
sumiu e eu cheguei em um hospital. Resolvi pedir informações sobre a igreja.
A médica me disse, chorando (e eu entendi que ela estava triste porque ia
se casar naquela igreja mas foi abandonada pelo noivo), para eu passar por
dentro do hospital. O corredor do hospital era comprido e com um teto muito
baixo, obrigando as pessoas a andarem curvadas que nem no filme "Quero ser
John Malkovich". Atravessei o corredor e cheguei à igreja.
Depois de
tanto trabalho, percebi que eu tinha estado o tempo todo muito perto da igreja,
bastando ter atravessado o cemitério ao lado para chegar. Mas já estava ficando
muito tarde e eu entrei de novo na igreja. O casamento ainda não tinha começado
e o noivo estava contando piadas para divertir os convidados. Foi aí que o
Alexandre reapareceu, dizendo que ia voltar para o Rio no ônibus de 17:30h.
Pedi para ele comprar passagem para mim também, mas ele saiu correndo. Corri
atrás, mas ele já tinha sumido. Cheguei a um prédio que parecia ser a rodoviária,
peguei um elevador enorme e... acordei!
:::
M e s a R e d o n d a
:::
Conversas descompromissadas em uma mesa online de bar.
Tema
da semana: Amor Platônico
ALEXANDRE
INAGAKI, na edição 002: "Ainda bem que depois cresci e deixei de alimentar
meu coração com a pobre dieta das paixões platônicas, que só têm graça para
filósofos gregos e adolescentes cheios de espinhas e dúvidas existenciais".
RENATA PARPOLOV, leitora do Spam, retruca: Que nada, Inagaki,
amor platônico é muito legal. Tem amor que sem dúvida é pra ser vivido,
sentido, com todas as suas bocas, beijos, e fluidos. Mas tem amor que você
sabe que não é pra você, mas mesmo assim insiste em sentir. Amores que você
só fica pensando na pessoa, imaginando como será que ela beijaria, ou faria
sexo. E, claro, você imagina que a pessoa é perfeita, absurdamente perfeita
em tudo, e que saberá te agradar da maneira mais detalhista que você jamais
imaginou.
AI: Ms. Parpolov, eu entendo o seu ponto de vista. E faço aqui um mea culpa:
talvez seja eu quem esteja por demais mergulhado no mundo dos sentidos,
plenamente convicto de que vale mais uma (sorry pela expressão, não
achei outra melhor) trepada homérica do que zilhões de amores platônicos.
IAN BLACK, amigo de ambos: Não podemos descartar que a masturbação é uma
continuidade do amor platônico. São momentos onde a pessoa é sua, e faz
o que você quiser, quando, onde e como você bem entender. Seja ela uma personalidade
hollywoodiana ou uma pessoa estranha que passou do outro lado da rua.
RP: Platão tava certo sim. Quando você realiza o tal sonho platônico,
descobre a imperfeição. Porque aí, tudo vira realidade: o beijo nem é essas
coisas, o fulano ou fulana faz um sexo meio medíocre mesmo, e apesar daquele
rosto perfeito, o tal indivíduo ou indivídua fala muita, mas muita besteira
mais broxante do que um pum debaixo do cobertor. E você levanta, põe a roupa
e vai embora pensando: "nossa, como era mais legal quando tava só na minha
cabeça...".
AI: Sonhos sonhos são. Sei lá Renata, sou um cara que, em termos de amor,
procura não idealizar muito as coisas. Porque apaixonar-se é desencadear
um processo de criação de expectativas, que nem sempre se cumprem na realidade.
Sim, eu compreendo a defesa que você faz do amor platônico. E sei, muito
bem, o quanto é gostoso a gente de repente se perceber capturado pela arapuca
da paixão, pensar NAQUELA pessoa e sentir o coração criando asas, dando
cambalhotas, enxergando estrelas onde não há. Mas, putz, tem coisa melhor
do que transportar esse mundo onírico pro nosso plano terrestre? Não sei,
acho que sonhos são uma maneira de felicidade ilusória e transitória.
RP:
Qual felicidade não é transitória babe!!!?? Às vezes sonhar pode ser
melhor do que a realidade, às vezes não. Tem vezes que você descobre,
tipo, sonhar era bom, aí você vai, faz e vê que é melhor fazer do que sonhar.
Tem vezes que não, que você vê que teria sido melhor ter ficado sonhando.
Mas tem vezes que você não descobre. Ué!! heheheh... Tem um amigo meu que
diz que tudo pode ser.
IB: Um amor platônico envolve muito o MEDO de descobrir as imperfeições.
Ou pior, o medo de nem ter a possibilidade de descobrir tais imperfeições.
O problema é que sonhamos e sonhamos demais. O amor platônico acaba te incapacitando
de criar elos possíveis de relacionamento. Mulder e Scully praticamente
não têm relacionamentos por culpa do amor platônico vivido por eles. Neste
caso, até NÓS podemos entrar na roda e ficar imaginando como poderia ser
legal se os dois pudessem namorar, dividirem uma casa até. Mas no fundo
ninguém gostaria disso, pois temos a consciência de que a graça está naquela
tensão vivida pelos dois.
RP: Amor platônico na verdade é um jeito de sentir amor por si mesmo. Pelo
que você seria, pra te agradar, se fosse a tal pessoa. Descobrir mais ou
menos o que você quer pra você, e o tal "amado platônico" não passa de cavalo
do santo. Claro que não pode ser algo do tipo: "preciso conquistar fulano
de qualquer jeito", porque aí vira um treco meio doentio e sem muita esperança
de dar certo de nenhuma forma. Lembre-se: é tipo aquelas paixões do primário,
que a gente não pode contar de jeito nenhum. Só que desta vez é diferente,
porque você não quer que role, porque sabe que vai estragar.
AI: Pressuposto básico pra gente ser capaz de dar amor é amar a si mesmo.
Mas, mais uma vez, continuo valorizando a experiência prática. Nada como
conviver com alguém de quem a gente gosta MESMO, pra tentar se tornar uma
pessoa melhor: menos egoísta, mais tolerante, mais generoso. Porque amar
é fazer pequenas concessões em nome de algo maior. Eu até dou o braço (um
pouquinho) a torcer: amores platônicos possuem o seu encanto. Mas, comparados
com um amor pra valer, são como ossos pra cachorro. Jogue um pedaço de picanha,
e veja se o cão vai pegar o osso ou a carne...
RP:
CALMA LÁ!!! Amor platônico não é lifestyle, é só uma certa massagem terapêutica
na alma. Temos que amar SIM, temos que encontrar nossa cara-metade SIM,
temos que ser bem resolvidos com nossos sentimentos e sexualidade SIM. "Amor
platônico é um jeito de voar, porque alivia os pés cansados de só andarem
na terra" (putz falei bonito agora hein! essa frase é de um cara chamado
Ganymedes José :)).
IB: Ainda insisto no medo como a maior influência do amor platônico. Às
vezes superamos este medo e até conseguimos viver um amor de verdade. Mas
pode acontecer da gente conviver com alguém que a gente gosta MESMO, e acabar
se tornando uma pessoa pior, egoísta, intolerante, gananciosa. Amores platônicos
são bons quando percebemos que é praticamente impossível que ele tenha continuidade
no mundo de verdade. Amores platônicos são uma merda quando percebemos que
há uma possibilidade mínima de dar certo, e preferimos ficar no quentinho
das nossas ilusões com medo de nos machucarmos por aquilo que acreditamos.
AI: Bão, o fato é que tenho meus senões pelo amor platônico porque valorizo
mais as experiências práticas (não troco um beijo gostoso na boca por zilhões
de oníricos).
RP:
Eu também não troco. Mas troco um beijo ruim por meio beijo onírico gostoso.
Pode até ser com a mesma pessoa aliás. Atualmente, uns três principes diferentes
habitam os meus sonhos. Nada me garante que virarão sapos ao ser beijados,
mas, ainda assim, melhor três príncipes na cabeça do que três sapos na mão.
Irrrc!!!
IB: Amores "práticos", quando (possíveis e) bem resolvidos, são indiscutivelmente
melhores que os platônicos. Poderíamos ter tido esta discussão algumas semanas
atrás, não?
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F a l a q u e E u t e E s c u t o
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Mande suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para <[email protected]>. Aqui, trechos comentados de correspondências recebidas
na última semana.
"Recebi
aqui o spamzine, bem legal, parabéns. a 'diagramação' ficou ótima".
OS
EDITORES: mr. m2b, obrigado pelos elogios à nossa versão HTML, mas o Spam
Zine quer provar que é mais do que um rostinho bonito. Forte amplexo, A.I.
"mais
uma vez parabéns, pode mandar o texto, pode mandar o e-zine, pode dizer pro
e-egocêntrico e-editor que eu não on se ele shut down
meu e-texto".
Fabrício
Hasse Furtado
OS
EDITORES: Ah Fah... essa eu tinha que publicar. Nada como ser bem e-resolvido.
Beijo, N.L.
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C r é d i t o s F i n a i s
Direção (ladies
first):
Elenco (em
ordem alfabética):
Spam Zine
é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para
assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net (a casa é
modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, edições anteriores, cancelamento
de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e/ou mensagens de
amor? Escreva: [email protected].
:::
P. S.
1)
Spam
Zine na folia: programação normal e o melhor do carnaval. (Inagaki)
2)
Toda
hora é hora. De ir. (Sabbag)
3)
"Para que complicar inutilmente,
Pensando, o que impensado existe?" (nicole, citando Ricardo Reis - Pessoa)
4)
Eu copiei o Cardoso descaradamente na hora de escrever os créditos finais
(nicole)
5)
Mateus eu não coloquei a tua soundtrack porque NÃO CABEU (nicole)
6)
Hoje
sonhei aos gritos. E quando acordei, gritei porque não estava sonhando mais.
(Hong)
7)
Tivessem as pessoas alguma virtude, o tempo e o espaço não
seriam nada além de burocracia. (Black, citando conversa com mr. Mercvirivs)
8)
Não
existe amor sem perdão. Ou existe? Existem, sim, amores burocráticos. (Hong)
9)
Estou
tentando aprender um novo sorriso. (Black)
10)
"Enfim
dentro de um buraco apertadinho" (futuro epitáfio do Luiz Andrioli, citado
por Sabbag)