[S p a m  Z i n e]
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    : 11 de fevereiro de 2001
    : curitiba, são paulo, belo horizonte, fortaleza
 
::: e d i t o r i a l
::: Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Enfim chegamos à segunda edição sem maiores perdas. Aos queridos leitores, pedimos desculpas a quem por engano recebeu o zine duas vezes na semana passada. Tamanha a ansiedade em enviarmos nossa primeira edição visada e revisada que clicamos duas vezes em 'send' e deu no que deu.
 
Mentira.
 
Tanto faz, o importante é ir direto ao assunto, e o assunto é a segunda edição do Spam Zine, que está chegando em sua caixa postal precisamente nesse momento.
 
Aos que perceberam, o autor deste editorial não é o mesmo da semana passada. Sim! Mas eu explico o porquê. Spam Zine é um produto editado a quatro mãos e escrito por outras 33 mãos (cortamos a mão de um de nossos colunistas para calharmos com 'a idade de Cristo'). Fazemos isso (o revezamento entre editores, quero dizer, e não a mutilação) para sempre lhes dar uma edição fresquinha, bonita e cuidada, sem maiores vícios e mesmices.
 
Esta semana eu tive o prazer de rever Monty Python Live at the Hollywood Bowl, aliás, em uma noite bem pitoresca. Saí do cinema grintando WILSOOOON, depois de assistir a Náufrago (alguém aí ainda NÃO viu a pérola?) e decidi, em companhia de uns amigos, que precisava ver alguma coisa boa antes de dormir. Me parti de rir do futebol dos filósofos, mas gostei mesmo foi de ver um sujeito vendendo apresuntado SPAM para a platéia. Spam já era coisa de se tirar sarro lá nos idos de 1982, vejam só. Sabem o que isso representa para nós? Um calvário, um karma que deve se perpetuar por anos a fio! Mas a nossa proposta é essa mesma. Não podemos ser igual à maioria dos e-zines que existem por aí. Precisamos ser diferentes, nem que para isso tenhamos que cortar as mãos dos nossos colunistas e fazer mal-agouro contra nós mesmos.
 
Eu espero que o Spam Zine possa seguir um caminho de sucesso ao longo de seus sabe-se-lá quantos anos de existência. Para isso eu firmo aqui um compromisso público em favor da qualidade dos textos que virão a seguir. Nesta edição temos a estréia de três novos colunistas, Alexandra MM, Luiz Andrioli e Ian Black. Ainda não creio que tenhamos chegado a um formato editorial perfeito e, sinceramente, não acho que isso seja coisa que se alcance de um dia para o outro. Imperfeições teremos sempre e essa que é a graça da vida. Críticas, considerações e reclamações são mais que bem-vindas através do [email protected].
 
***
 
Os senhores poderão ver mais abaixo, na coluna de Nicole Lima, uma referência a um certo Ricardo que é culpado pela pressa da moça. Depois também vão ver que almofadas podem significar muito mais do que um simples anteparo para a cabeça e descobrir que elas, as almofoadas, lembram a nossa colunista de um amor longínqüo. Bem, posso dizer que aquele Ricardo ali sou eu, sim, o capataz do tempo. Quanta diferença, não, Ricardo?, entre ser um impassível apressador e uma saudade latente.
 
Mais abaixo ainda, não deixem os senhores de conferir a estréia de nosso co-editor, Alexandre Inagaki, como colunista. Seu texto sobre o mais brasileiro dos esportes bretões é digno de fazer chorar fãs ardorosos de Nelson Rodrigues. Saravá!
 
***
 
Por ora me pergunto se só os grandes amores são responsáveis pela boa literatura. A realização ou a miséria do grande amor. Culpa do Goethe.
 
 
::: Maneco e a árvore
::: Luiz Andrioli <[email protected]>

A LONGA HISTÓRIA DE MANECO E A ÁRVORE UMA SAGA DA PERIFERIA DE CURITIBA RECHEADA DE SOMBRAS DE CUPINS ADAPTADA A PARTIR DE UMA ANTIGA HISTÓRIA OUVIDA PELO AUTOR LUIZ ANDRIOLI NO BAIRRO DO BOQUEIRÃO AQUI APRESENTADA EM VERSÃO ERUDITA A PARTIR DAS ERRADAS E INGRAMATICAIS FRASE COLHIDAS TOTALMENTE VEROSSÍMIL PORÉM NÃO PRESA À UMA REALIDADE ESTANQUE O SANGUE QUE DESCE PELAS RUAS DE UM BAIRRO QUE SÓ SAI NO JORNAL QUANDO O ASSUNTO É SANGUE

Na estrada da casa de Maneco, tinha uma árvore que não ia pra frente.

Maneco desempregado, a árvore quase seca.

Maneco fazendo bicos pela vizinhança, a árvore morada de cupim.

Maneco acertando no bicho e contando os trocados, a árvore deixando cair galhos na valeta da rua.

Maneco empurrando a bicicleta com o pneu da frente furado, a árvore mais pra lenha do que pra sombra.

Maneco vestindo negro-juiz-de-pelada-de-bairro correndo do time da Vila Osternack, a árvore apoiada no muro.

Maneco cansado da caminhada (a Companhia de Coletivos não cobre mais áreas de invasão) senta no tronco caído da árvore.

 
::: P a p o - A r a n h a
::: O guia moderno da cantada virtual. Quer achar a tampa da sua panela? Envie uma cantada criativa para [email protected]. A melhor da semana você confere agora.
 
Direto da Maionese
Susie Loves Calvin <s[email protected]>
 
Tô perdida, perdidona, perdidaça. Porque a vida não é como as tiras do Calvin e a trilha sonora de nossos dias não é by Ennio Morricone. Hei de confessar: o amor me deixa perdida, sobretudo. As amizades me seguram no chão e raramente me espatifam contra a parede. No meio de tantos nós, what can I do? Nunca fui boa em desatar nós de cabelo, nem em corte e costura ou ponto-cruz. Cansei de ser pop-cabeça, petista, blasé, cínica. Okay, o mundo venceu e que venham as batatas fritas. E estou precisando aprender a conviver com o mundo, trocando idéias, conversando em silêncio ouvindo Billie Holiday, viajando por aí em busca de uma infinita praia deserta onde o sol nasce primeiro, e ainda não descoberta pelos satélites e OVNIs. Se você acha que viajei na maionese e curtiu toda esta gororoba, mande uma mensagem para mim. Aviso legal: frases e dicas de auto-ajuda, mensagens evangélicas ou zen-budistas ou cantadas papo-aranha serão imediatamente deletadas do meu sistema.
 
 
::: D i á l o g o s  I n e s q u e c í v e i s
 
- McGaren... cada coisa que faz!
(Jaspion para McGaren, o filho de Satã Goss, aquele que tinha o poder de enfurecer os seres e transformá-los em monstros incontroláveis)
 
 
::: Chiclete Clichê
::: Ian Black <[email protected]>

Ôba, o amor voltou!!!

"Ian ainda acreditava no amor". Eu acho que nunca desacreditei. Juro. O problema era que eu não conseguia me apaixonar. Garotas e mais garotas apareciam, olá Ian, oi, olá. Mas nada. Você é bonitinha, mas tipo, e o resto? Você gosta de poesia? Não. E de contos? Como assim? E de Hüsker Dü, você gosta? Pôxa, eu prefiro gatos...

Pois daí eu percebi que estava com ciúmes de uma garota. Tá, eu fico com cíumes da minha mãe quando ela aparece com algum namorado, mas isso é um pedacinho de Édipo dentro de cada homem. Mas eu fiquei com ciúmes de uma garota que não é minha mãe, nem minha irmã, nem minha prima e nem minha vizinha.

Putz, eu até já tinha esquecido como era foda ter ciúmes. Pelo menos pra mim, esta última vez que o bichinho do ciúme me atacou, deu uma dor no estômago, parece que enfiaram um aspirador pela minha boca e pegaram tudo. Tava tão vazio, e doía, e doía muito mesmo, tipo uma porrada. Daquelas em que depois você fica agachado, tentando comprimir a barriga ao máximo para ver se pára de doer. Você fica eufórico, tem que fazer alguma coisa, mas o quê?

Eu sempre me orgulhava de dizer que eu não era tão ciumento. O cacete, era tudo mentira! Desculpem, minhas ex-namoradas (e também as não-namoradas, pois é o meu caso agora). Talvez o ciúme seja um pouco de inveja também, do tipo "por que ele pode e eu não?", "por que ele beija e eu fico aqui, escrevendo?". Mas a gente pode combinar um negocinho: eu consigo algo com ela e depois escrevo um monte de texto bonitinho. Eu escrevo até sobre as minhas aventuras domésticas, limpando o chão e lavando a louça.

Promessas feitas, tudo muito bem. Mas... Cadê você? Hei você, é, eu tô falando de você, vai me dizer que nem percebeu? Então, fia, cê tá pior que eu, que preciso de um super luminoso escrito "Ian, eu gosto de você", com um super equipamento de som. E dá um toquinho no meu ombro, pr'eu perceber que tem algo por perto.

Eu tô escrevendo ultimamente só com letras minúsculas, mas posso até fazer um esforcinho e mandar um -

HEI, O QUE VOCÊ ACHA DA GENTE PASSEAR DE MÃOS DADAS E TOMAR SORVETE?

- e sabe aqueles clichês chiclete (ou "chiclete clichê", isso daria um ótimo nome de banda)? Então, pode escolher, tem vários. Beijar na chuva é o meu preferido, mas tem também sair correndo no meio da multidão e gritar o meu nome (pode ser vice e versa), a gente pode salvar o mundo também, e depois dar um beijo no final (você percebeu que o negócio é terminar com beijo, pôxa, não percebeu que eu quero te dar um beijo?). Pra disfarçar, a gente está só passeando, daí você deixa derrubar qualquer coisa no chão (pode ser chapéu, caneta, carteira; óculos podem quebrar, e junto com eles, o clima) e daí a gente desce junto para pegar. Se bem que se surgir um beijo neste momento, a probabilidade de ficarmos com dores nas costas vai ser bem grande.

 
::: F o l l o w  t h e  L i t t l e  B a l l
::: translation by Suzi Hong <suzihong@terra.com.br>
 
Agora Eu Sei/ Now I Know
(Kid Abelha e os Abóboras Selvagens/ Kid Bee and the Wild Pumpkins)

Acabou a puberdade/ The puberty is over
E com ela a necessidade/ And also the need of
De pedir as chaves emprestadas/ Asking borrowed the keys
De deixar as portas trancadas/ Keeping locked the doors
Eu já nem me lembro bem/ I can’t even remember sharp
Da primeira vez que eu dei/ The first time I got laid
Eu já nem me lembro bem/ I can’t even remember sharp
 
Agora sei que o amor/ Now I know what love is
É um sabonete dentro d'água/ It’s toilet soap in the water
Quanto mais a gente agarra/ The more we grab it
Mais ele escapa/ The more it flees
 
Agora sei que é bom/ Now I know that is good
Que ele seja sempre novidade/ That it would always be a novelty 
Ainda que a gente saiba/ Even though we know
Que é uma velha novidade/ That it is an old novelty

Preciso jogar os sonhos fora/ I need to get rid of the dreams
Preparar o próprio funeral/ Prepare my own funeral
Qualquer dos dois que vá embora/ No matter who is gone away
Pros dois o luto é igual/ The mourning is the same for both
 
Agora sei que é bom/ Now I know that it is good
Que se perca a ingenuidade/ To lose the ingenuousness
Mesmo que a gente queira/ Even though we want
Acreditar em ilusão/ To believe in illusion
 
Acabou a puberdade/ The puberty is over
Essa é a nossa casa/ This is our home
E não a dos nossos pais/ And not our parents’ one
Vamos deixar pra trás/ Let’s left behind
Toda forma de dor/ All kind of pain
 
 
::: L i s t a s  A b o b r o l
::: Assine djá: [email protected]
 
Top 5 Mulheres Mais Lindas em um Filme:
Alexandre Inagaki<[email protected]>
 
. Monica Vitti em "A Noite", de Michelangelo Antonioni (1960)
. Juliette Binoche em "A Insustentável Leveza do Ser", de Philip Kaufman (1988)
. Paulette Goddard em "Tempos Modernos", de Charles Chaplin (1936)
. Jennifer O'Neill em "Houve Uma Vez Um Verão", de Robert Mulligan (1971)
. Emmanuele Béart em "A Bela Intrigante", de Jacques Rivette (1991)
 
 
::: R á p i d a s  R a s t e i r a s
 
"Estou fazendo isso pois adoro a festa, não para chamar a atenção. Já sou uma celebridade".
(Renata Banhara, "ilustre" modelo que pretende desfilar em 14 escolas de samba este ano para entrar no Guiness, o livro dos recordes)
 
"Ele está tomando Viagra de mais e Lexotan de menos".
(Geddel Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara de Deputados, comentando o kit de prontos-socorros do presidente do Senado Toninho Malvadeza)
 
 
::: É tudo culpa do Ricardo
::: Nicole Lima<[email protected]>
 
Ricardo
É tudo culpa do Ricardo
e foi ele quem me intimou a escrever até quinta-feira
e hoje é quinta-feira
três e meia da tarde
um puta sol em Curitiba, nem sinal de chuva (não que a chuva costume mostrar algum sinal de aviso nesta cidade onde se vende guarda chuvas automáticos a cinco reais em lojas de 1,99)
aiaiaiaiaiai Ricardo!
Escrever uma coluna escrever uma coluna.
escrever... preciso escrever pra suzi sobre métodos eficientes de se combater a prisão de ventre mental... mas agora não consigo pensar em nenhum.
 
tá, eu poderia falar do meu amor pelas almofadas da sala.
É, eu estava abraçando uma delas (há duas delas) esses dias, eu estava com saudades de um menino que está longe, muito longe daqui. coloquei um cd da billie pra tocar, meio Marlboro que eu esqueci de fumar.
and so billie said..
The way you wear you hat
The way you sip your tea
The memory of all that
no no they can’t take that away from me
The way your smile just beams
The way you sing off key
The way you have my dreams
no no they can’t take that away from me
We may never never meet again
on the bumpy road to love
Still I’ll always always keep the memory of
The way you hold your knife
The way we danced till three
The way you’ve changed my life
no no they can’t take that away from me...
E eu ouvi, continuei abraçada com a almofada, continuei com saudades de um menino, que agora era outro menino, não o mesmo de sempre,
nem o da vez passada,
ou daquela outra,
ou outra, outra vez.
era outro menino. era o meu menino. o que seria de mim sem minhas almofadas? os amores vão e nós dormimos com as almofadas, deitamos no chão sobre as almofadas, falamos com elas, choramos nelas e olhamos juntas (eu e as almofadas) para o teto...
almofada, eu te amo. o amor que eu sempre tive, sempre guardei dentro de almofadas.
aí eu dormi,
abraçada com minha substituta mais eficiente para um corpo (precisam fazer almofadas maiores).
aí outro dia eu falei pra minha mãe: mãe, minha almofada is my most faithful love. ela sempre está comigo, e ela nunca vai embora de manhã cedo.
aí ela riu, pensou, e respondeu: que nada, nem seja boba, ela não merece um poema teu, ela dorme com qualquer um, senta no colo de qualquer um, deixa qualquer um se encostar nela...
:o)
mãe que escreve é foda.
é
talvez eu devesse comprar almofadas novas ao fim de cada amor, ou começo.
almofadas virgens
haha
so, what’s the use of being a virgin anyway?
nah, fico com as velhas, que elas já se acostumaram a ouvir a billie cantar e eu nem tenho que explicar pra elas por que as paredes da sala devem ser azuis.
no no they can’t take that away from me...
 
 
:::  A c h a d o s  e  P e r d i d o s
::: Celebridades, professores, colegas de escola, amigos de infância... Escreva para [email protected] dando-nos pistas sobre os desaparecidos, ou dizendo quem você deseja reencontrar.

LUCIANA NAOMI HIKAWA PROCURA: Rogério, de Cassilândia/MT, alto, louro, olhos verdes [ui!]. Ex-tudante do Colégio Objetivo Marília em 1987, melhor amigo do Goiás.

IAN BLACK PROCURA: a garota cega que estava gritando histericamente no show do R.E.M. (ver maiores detalhes no texto "O melhor do Rock In Rio não foi o R.E.M., pasmem", de Suzi Hong, em  http://www.fimdamente.org/logopeia). Ele desconfia seriamente de que esta garota é a mesma que estava no palco junto com o Morrissey no show de São Paulo, em abril de 2000.

ALEXANDRE INAGAKI PROCURA: Ilana Muller, minha ex-colega de 5a. série no Colégio Raio de Sol, que ficava na rua Monte Alegre (que bucólico). Pena que minha memória digna de 286 não me permite mais descrevê-la fisicamente. Sei que ela queria ser egiptóloga, foi vice-campeã paulista de ginástica olímpica, e era linda o suficiente pra ter sido o primeiro dos muitos amores platônicos que tive (ainda bem que depois cresci e deixei de alimentar meu coração com a pobre dieta das paixões platônicas, que só têm graça para filósofos gregos e adolescentes cheios de espinhas e dúvidas existenciais).

RICARDO SABBAG PROCURA: o caminhão de onde caiu.

 
::: Futebol
::: Alexandre Inagaki<[email protected]>

É rapaz, o tempo passa no cronômetro e no placar eletrônico;
na aflição do time em busca do gol premente;
nas rugas do jogador que sai vaiado pela torcida;
na tensão do atacante na hora do pênalti;
no nervosismo do treinador alinhavando desculpas amarfanhadas;
no desconforto do artilheiro que não marca há várias derrotas;
na dor do torcedor que volta para casa envelhecido
carregando em cada perna o peso indelével da frustração.

Instável como técnico no cargo ou juvenil no time titular,
a vida ignora qualquer tática ou esquema de jogo.
E não adianta designar volante para marcação homem-a-homem
porque ela nos escapa, feito bola molhada nas mãos do goleiro,
com a graça de moleque que dribla toda a defesa,
desenho de luz no verde gramado.

Subterfúgios também não vão colar, colega.
Fazer cera, retardar os tiros-de-meta,
simular contusões com artes de canastrão,
trocar passes estéreis de um lado para outro
afirmando "valorizar a posse da bola".
Cada momento será devidamente compensado nos descontos.

(O bandeirinha delator, o goleiro solitário,
o dirigente exaltado, o treinador teórico,
o gandula torcedor, o reserva conformado,
todos tecem vasta confusão de pernas, socos e palavrões no espaço,
estranha cerâmica no meio-de-campo.)

Esta competição, amigo, tem regras rígidas:
tão criticadas, tão vilipendiadas,
mas inevitavelmente obedecidas por todos.
Neste regulamento não há tapetão.

Futebol é paciência.
Agüentar as vaias uníssonas de hormônios desafinados.
Jogar sob a chuva pesada, o gramado pesado, a cabeça pesada.
Aturar as contas atrasadas e os bichos pagos com cheque sem fundo.
A semana na concentração longe da família.
O papo arrastado das preleções, o banco de reservas,
as perguntas imbecis dos repórteres.

Mas tudo logo se olvida e se justifica.
E como dá gosto de ver as arquibancadas lotadas,
as bandeiras tremulando, os fogos estralejando no céu.
O juiz já lançou a moeda pra o alto,
é hora de acabar o aquecimento
e entrar em campo com o pé direito.

Agora é hora de beijar a chuteira, fazer o sinal da cruz,
posar para as fotos do pôster,
rezar com os companheiros
e aguardar infinitamente pelo minuto de silêncio
que ninguém sabe por quem é.

Boa sorte, irmão.
E que tarde muito até que chegue o temido, o inevitável,
o inapelável Apito Final.

 
::: S o n h o  d a  S e m a n a
::: Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
 
Grito
Paula Pimenta<[email protected]>
 
A rua da minha casa é uma grande ladeira. Em um certo trecho, a rua torna-se plana antes de recomeçar a subida. Eu moro exatamente na parte plana. Estou na porta de casa, andando em círculos, esperando alguém vir me buscar, alguém nunca chega. De repente aparece um homem forte. Mal encarado. Mal vestido. Mal intencionado. Eu olho para a rua. Ninguém. Nenhum carro. Só ele e eu. Sinto o medo se aproximar. A intuição que alguma coisa ruim vai acontecer faz com que o medo chegue antes que o seu real motivo se manifeste. Tento entrar em casa, a chave não encaixa na fechadura, possivelmente devido às minhas mãos trêmulas. Olho pra descida. Pra subida. Medo sempre me faz agir imprudentemente. Subo a rua. Tivesse eu preferido descer, poderia ter caído e rolado o resto do morro. Mas não, preferi subir.
 
Tento gritar, grito nunca sai quando a gente precisa dele. Quase chegando no fim da ladeira, resolvo olhar para trás. Talvez se não tivesse olhado, conseguisse alcançar o topo. Mas olho e dou de cara com o sujeito. Ele me pega. Grito nunca sai. Me arrasta novamente para baixo. Aquele abraço por trás, de homem grande, malvado. Quando já estamos de novo na frente da minha casa, lembro que eu tenho um passador no cabelo. Tiro, abro e tento atingir a barriga do vilão, com a parte mais aguda, aquela onde se faz o "clic" para o passador se fechar. Neste momento ele percebe minha intenção. Arranca da minha mão, me olha com cara de louco e me atinge com minha própria arma. Várias vezes. Grito nunca sai. Quando finalmente sai, eu acordo. Gritando. Com medo de voltar a dormir e não ter mais voz para me resgatar da verdade.
 
 
::: N a v e g a r  I m p r e c i s o
 
Blame Canada
http://zamorim.eti.br/textos/canada.html
Cáspite!!! Confira no weblog do Marcus Amorim a crônica em que Luís Fernando Verissimo destila seu veneno contra os canadenses. Vaca louca é a mãe!!!
 
Saudades do Atari
http://www.lo-v.com.br
Super Gêmeos, ativar!!! Veja neste site da Loducca Publicidade uma simulação do Atari 2600 em Flash, com direito a console, jogos e barulhinhos, e mate as saudades de clássicos como Pac Man, Freeway, River Raid, Enduro...
 
 
::: A Pequena Eva
::: Alexandra MM <[email protected]>
 
Por que coexistem popozudas e virgens declaradas nos auditórios do meu Brasil varonil.

"Et c'est un dur métier que d'être belle femme!"
Charles Baudelaire
 
Pois bem. Sou nova na turma, não tenho muito o que falar, então vou aproveitar textos de dois jovens senhores, também colaboradores deste e-zine, Eduardo Sumares e Ricardo Sabbag. O primeiro vinha a público pedir uma mulher de verdade, não uma Amélia, mas qualquer ser XX que não fosse recém-saído da mesa de lipoescultura. O segundo temia que todas as jovenzinhas incautas resolvessem seguir os atuais baluartes da castidade e só dessem depois do casamento.
 
Silicone não é endêmico, até porque ainda é caro demais pra isso, por mais que "a gente parcela em até seis vezes, cheque, cartão e tem desconto de 15% à vista". Mulher de verdade, que acorda descabelada, passa desodorante, leite de rosas, faz "chapinha" ou deixa "ao natural" tem bastantes. Eu, particularmente, nunca vi uma popozuda fora da TV. Se vi, era drag-queen. É curioso achar (ok, ele não disse que achava, mas estamos extravasando) que a Zezé Macedo possa aparecer na TV com fins outros que não cômicos. Ou que a Carla Perez, nossa "Ève future" (vide Villiers de L'Isle-Adam) saída de um tonel de azeite de dendê, não vá balançar o popô no Faustão. TV tem um botão ótimo chamado "POWER", que ratifica o grande poder de decisão de que dispõe o espectador. E, afinal de contas, a gente só começa a ler Proust na educação física porque nos contentamos em ser escolhidas por último pro torneio de vôlei. Essas senhoras já nasceram sabendo, botaram a bunda no mundo e hoje estão ricas e felizes. Quem vai negar a sua inteligência?! Quem vai negar que são "mulheres"?
 
Quanto ao temeroso... É um ponto oposto. Por mais que a Sandy ou a Britney Spears espalhem aos quatro ventos que têm o hímen no lugar e a consciência tranqüila, isso não é páreo pro exército das popozudas ou pro apelo erótico de praticamente tudo. Numa "abordagem freudiana" (hihihi), digamos que "tudo é fálico". E as duas moças supracitadas só não dão por falta de espaço. Pois, como se sabe desde que o primeiro homem e a primeira mulher se encontraram numa caverna, privacidade é fundamental. Para cada Sandy, existe uma Maria Schneider. Para cada Britney, um pacote de manteiga.
 
 
::: C a r t a s  d o s  L e i t o r e s
::: Mande suas críticas, sugestões e comentários  engraçadinhos para <[email protected]>. Aqui, trechos comentados de correspondências recebidas na última semana.
 
"Oi, Ina, adorei esse Spam Zine. Muito bom mesmo, gostei mais que do 700. Parabéns".
Vanessa Stelzer
 
RESPOSTA DOS EDITORES: Querida Vanessa, agradecemos os elogios, mas ressaltamos que o Spam Zine e o 700Km são 'co-irmãos' filhos da mesma parideira. A gente nos amamos mutuamente. Com os melhores votos, R.S.
 
"Não entendi muito bem o 'papo aranha', terminou assim: 'a melhor cantada da semana vc confere agora' e aí já passou pra outra seção. (...) O texto do Eduardo Sumares é muito bom".
Paula Pimenta
 
RESPOSTA DOS EDITORES: Querida Paula, deve ter sido falha nossa, mas o texto do Sumares ERA o conteúdo da seção 'Papo-Aranha'. Carinho do seu editor, R.S.
 
 
::: C r é d i t o s  F i n a i s
 
Direção:
Alexandre Inagaki <[email protected]>
Ricardo Sabbag <[email protected]>
 
Elenco (em ordem alfabética):
Alexandra MM <[email protected]>
Ian Black <[email protected]>
Luiz Andrioli <[email protected]>
Nicole Lima <[email protected]>
Paula Pimenta <[email protected]>
Susie Loves Calvin <[email protected]>
Suzi Hong <[email protected]>
 
Spam Zine é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos. Para assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net (a casa é modesta, mas é limpinha). Envio de colaborações, edições anteriores, cancelamento de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e mensagens de amor? Escreva: [email protected]
 
 
::: P. S.
 
1) Tem dia que de noite é foda. (Sabbag)
 
2) Estou pensando em criar um concurso de piadas internas. (Sabbag)
 
3) Palavra de advogada: sempre soube que as leis brasileiras eram uma merda, mas nunca imaginei que proibissem enterrar pessoas em seus próprios quintais. Para quem assistiu a "Forrest Gump", gostaria de poder imaginar Herbert Vianna em seu jardim, junto com seus três filhos, levando flores para Lucy. (Hong)
 
4) Quando eu morrer, quero que o Bozo evangélico venha me abençoar no meu velório. (Black)
 
5) O primeiro disco solo do Edgard Scandurra, "Amigos Invisíveis" foi relançado em CD. Scandurra chegou a ser citado no Guiness brasileiro como o músico que mais tocou instrumentos num único disco. Compre, pegue emprestado, pirateie, roube: o importante é que você ouça. (Black)
 
6) Só para variar, o Arthur Dapieve roubou todas as palavras que eu gostaria de dizer sobre o acidente com o Herbert. Confira: http://oglobo.globo.com/colunas/dapieve.htm. (Inagaki)
 
7) Sobre o Achados e Perdidos da semana passada, a leitora Luciana Naomi nos informa: o nome da Bolete que nunca sorria é Zulu. Mais pistas?? (Inagaki)