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: 11 de fevereiro de 2001
: curitiba, são paulo, belo horizonte, fortaleza
Enfim chegamos
à segunda edição sem maiores perdas. Aos queridos leitores, pedimos desculpas
a quem por engano recebeu o zine duas vezes na semana passada. Tamanha a
ansiedade em enviarmos nossa primeira edição visada e revisada que clicamos
duas vezes em 'send' e deu no que deu.
Mentira.
Tanto
faz, o importante é ir direto ao assunto, e o assunto é a segunda edição
do Spam Zine, que está chegando em sua caixa postal precisamente nesse momento.
Aos
que perceberam, o autor deste editorial não é o mesmo da semana passada.
Sim! Mas eu explico o porquê. Spam Zine é um produto editado a quatro mãos
e escrito por outras 33 mãos (cortamos a mão de um de nossos colunistas
para calharmos com 'a idade de Cristo'). Fazemos isso (o revezamento
entre editores, quero dizer, e não a mutilação) para sempre lhes dar uma
edição fresquinha, bonita e cuidada, sem maiores vícios e mesmices.
Esta
semana eu tive o prazer de rever Monty Python Live at the Hollywood
Bowl, aliás, em uma noite bem pitoresca. Saí do cinema grintando WILSOOOON,
depois de assistir a Náufrago (alguém aí ainda NÃO viu a pérola?)
e decidi, em companhia de uns amigos, que precisava ver alguma coisa boa
antes de dormir. Me parti de rir do futebol dos filósofos, mas gostei mesmo
foi de ver um sujeito vendendo apresuntado SPAM para a platéia. Spam já
era coisa de se tirar sarro lá nos idos de 1982, vejam só. Sabem o que isso
representa para nós? Um calvário, um karma que deve se perpetuar por anos
a fio! Mas a nossa proposta é essa mesma. Não podemos ser igual à maioria
dos e-zines que existem por aí. Precisamos ser diferentes, nem que para
isso tenhamos que cortar as mãos dos nossos colunistas e fazer mal-agouro
contra nós mesmos.
Eu espero
que o Spam Zine possa seguir um caminho de sucesso ao longo de seus sabe-se-lá
quantos anos de existência. Para isso eu firmo aqui um compromisso público
em favor da qualidade dos textos que virão a seguir. Nesta edição temos
a estréia de três novos colunistas, Alexandra MM, Luiz Andrioli
e Ian Black. Ainda não creio que tenhamos chegado a um formato editorial
perfeito e, sinceramente, não acho que isso seja coisa que se alcance de
um dia para o outro. Imperfeições teremos sempre e essa que é a graça da
vida. Críticas, considerações e reclamações são mais que bem-vindas através
do [email protected].
***
Os senhores
poderão ver mais abaixo, na coluna de Nicole Lima, uma referência a um certo
Ricardo que é culpado pela pressa da moça. Depois também vão ver que almofadas
podem significar muito mais do que um simples anteparo para a cabeça e descobrir
que elas, as almofoadas, lembram a nossa colunista de um amor longínqüo.
Bem, posso dizer que aquele Ricardo ali sou eu, sim, o capataz do tempo.
Quanta diferença, não, Ricardo?, entre ser um impassível apressador e uma
saudade latente.
Mais
abaixo ainda, não deixem os senhores de conferir a estréia de nosso co-editor,
Alexandre Inagaki, como colunista. Seu texto sobre o mais brasileiro dos
esportes bretões é digno de fazer chorar fãs ardorosos de Nelson Rodrigues.
Saravá!
***
Por
ora me pergunto se só os grandes amores são responsáveis pela boa literatura. A
realização ou a miséria do grande amor. Culpa do Goethe.
A LONGA
HISTÓRIA DE MANECO E A ÁRVORE UMA SAGA DA PERIFERIA DE CURITIBA RECHEADA
DE SOMBRAS DE CUPINS ADAPTADA A PARTIR DE UMA ANTIGA HISTÓRIA OUVIDA PELO
AUTOR LUIZ ANDRIOLI NO BAIRRO DO BOQUEIRÃO AQUI APRESENTADA EM VERSÃO ERUDITA
A PARTIR DAS ERRADAS E INGRAMATICAIS FRASE COLHIDAS TOTALMENTE VEROSSÍMIL
PORÉM NÃO PRESA À UMA REALIDADE ESTANQUE O SANGUE QUE DESCE PELAS RUAS DE
UM BAIRRO QUE SÓ SAI NO JORNAL QUANDO O ASSUNTO É SANGUE
Na estrada
da casa de Maneco, tinha uma árvore que não ia pra frente.
Maneco
desempregado, a árvore quase seca.
Maneco
fazendo bicos pela vizinhança, a árvore morada de cupim.
Maneco
acertando no bicho e contando os trocados, a árvore deixando cair galhos
na valeta da rua.
Maneco
empurrando a bicicleta com o pneu da frente furado, a árvore mais pra lenha
do que pra sombra.
Maneco
vestindo negro-juiz-de-pelada-de-bairro correndo do time da Vila Osternack,
a árvore apoiada no muro.
Maneco
cansado da caminhada (a Companhia de Coletivos não cobre mais áreas de invasão)
senta no tronco caído da árvore.
:::
P a p o - A r a n h a
::: O
guia moderno da cantada virtual. Quer achar a tampa da sua panela?
Envie uma cantada criativa para [email protected].
A melhor da semana você confere agora.
Direto
da Maionese
Tô
perdida, perdidona, perdidaça. Porque a vida não é como as tiras do Calvin
e a trilha sonora de nossos dias não é by Ennio Morricone. Hei de confessar:
o amor me deixa perdida, sobretudo. As amizades me seguram no chão e raramente
me espatifam contra a parede. No meio de tantos nós, what can I do? Nunca
fui boa em desatar nós de cabelo, nem em corte e costura ou ponto-cruz.
Cansei de ser pop-cabeça, petista, blasé, cínica. Okay, o mundo venceu
e que venham as batatas fritas. E estou precisando aprender a conviver
com o mundo, trocando idéias, conversando em silêncio ouvindo Billie Holiday,
viajando por aí em busca de uma infinita praia deserta onde o sol nasce
primeiro, e ainda não descoberta pelos satélites e OVNIs. Se você acha
que viajei na maionese e curtiu toda esta gororoba, mande uma mensagem
para mim. Aviso legal: frases e dicas de auto-ajuda, mensagens evangélicas
ou zen-budistas ou cantadas papo-aranha serão imediatamente deletadas
do meu sistema.
:::
D i á l o g o s I n e s q u e c í v e i s
- McGaren... cada
coisa que faz!
(Jaspion para
McGaren, o filho de Satã Goss, aquele que tinha o poder de enfurecer
os seres e transformá-los em monstros incontroláveis)
Ôba,
o amor voltou!!!
"Ian
ainda acreditava no amor". Eu acho que nunca desacreditei. Juro. O problema
era que eu não conseguia me apaixonar. Garotas e mais garotas apareciam,
olá Ian, oi, olá. Mas nada. Você é bonitinha, mas tipo, e o resto? Você
gosta de poesia? Não. E de contos? Como assim? E de Hüsker Dü, você
gosta? Pôxa, eu prefiro gatos...
Pois
daí eu percebi que estava com ciúmes de uma garota. Tá, eu fico com
cíumes da minha mãe quando ela aparece com algum namorado, mas isso
é um pedacinho de Édipo dentro de cada homem. Mas eu fiquei com ciúmes
de uma garota que não é minha mãe, nem minha irmã, nem minha prima e
nem minha vizinha.
Putz,
eu até já tinha esquecido como era foda ter ciúmes. Pelo menos pra mim,
esta última vez que o bichinho do ciúme me atacou, deu uma dor no estômago,
parece que enfiaram um aspirador pela minha boca e pegaram tudo. Tava
tão vazio, e doía, e doía muito mesmo, tipo uma porrada. Daquelas em
que depois você fica agachado, tentando comprimir a barriga ao máximo
para ver se pára de doer. Você fica eufórico, tem que fazer alguma coisa,
mas o quê?
Eu
sempre me orgulhava de dizer que eu não era tão ciumento. O cacete,
era tudo mentira! Desculpem, minhas ex-namoradas (e também as não-namoradas,
pois é o meu caso agora). Talvez o ciúme seja um pouco de inveja também,
do tipo "por que ele pode e eu não?", "por que ele beija e eu fico aqui,
escrevendo?". Mas a gente pode combinar um negocinho: eu consigo algo
com ela e depois escrevo um monte de texto bonitinho. Eu escrevo até
sobre as minhas aventuras domésticas, limpando o chão e lavando a louça.
Promessas
feitas, tudo muito bem. Mas... Cadê você? Hei você, é, eu tô falando
de você, vai me dizer que nem percebeu? Então, fia, cê tá pior que eu,
que preciso de um super luminoso escrito "Ian, eu gosto de você", com
um super equipamento de som. E dá um toquinho no meu ombro, pr'eu perceber
que tem algo por perto.
Eu
tô escrevendo ultimamente só com letras minúsculas, mas posso até fazer
um esforcinho e mandar um -
HEI,
O QUE VOCÊ ACHA DA GENTE PASSEAR DE MÃOS DADAS E TOMAR SORVETE?
-
e sabe aqueles clichês chiclete (ou "chiclete clichê", isso daria um
ótimo nome de banda)? Então, pode escolher, tem vários. Beijar na chuva
é o meu preferido, mas tem também sair correndo no meio da multidão
e gritar o meu nome (pode ser vice e versa), a gente pode salvar o mundo
também, e depois dar um beijo no final (você percebeu que o negócio
é terminar com beijo, pôxa, não percebeu que eu quero te dar um beijo?).
Pra disfarçar, a gente está só passeando, daí você deixa derrubar qualquer
coisa no chão (pode ser chapéu, caneta, carteira; óculos podem quebrar,
e junto com eles, o clima) e daí a gente desce junto para pegar. Se
bem que se surgir um beijo neste momento, a probabilidade de ficarmos
com dores nas costas vai ser bem grande.
:::
F o l l o w t h e L i t t l e B a l l
Agora
Eu Sei/ Now I Know
(Kid
Abelha e os Abóboras Selvagens/ Kid Bee and the Wild Pumpkins)
Acabou a puberdade/ The puberty is over
E com ela a necessidade/ And also the need of
De pedir as chaves emprestadas/ Asking borrowed the keys
De deixar as portas trancadas/ Keeping locked the doors
Eu já nem me lembro bem/ I can’t even remember sharp
Da primeira vez que eu dei/ The first time I got laid
Eu já nem me lembro bem/ I can’t even remember sharp
Agora
sei que o amor/ Now I know what love is
É um sabonete dentro d'água/ It’s toilet soap in the water
Quanto mais a gente agarra/ The more we grab it
Mais ele escapa/ The more it flees
Agora
sei que é bom/ Now I know that is good
Que ele seja sempre novidade/ That it would always be a novelty
Ainda que a gente saiba/ Even though we know
Que é uma velha novidade/ That it is an old novelty
Preciso jogar os sonhos fora/ I need to get rid of the dreams
Preparar o próprio funeral/ Prepare my own funeral
Qualquer dos dois que vá embora/ No matter who is gone away
Pros dois o luto é igual/ The mourning is the same for both
Agora
sei que é bom/ Now I know that it is good
Que se perca a ingenuidade/ To lose the ingenuousness
Mesmo que a gente queira/ Even though we want
Acreditar em ilusão/ To believe in illusion
Acabou
a puberdade/ The puberty is over
Essa é a nossa casa/ This is our home
E não a dos nossos pais/ And not our parents’ one
Vamos deixar pra trás/ Let’s left behind
Toda forma de dor/ All kind of pain
:::
L i s t a s A b o b r o l
Top
5 Mulheres Mais Lindas em um Filme:
.
Monica Vitti em "A Noite", de Michelangelo Antonioni (1960)
.
Juliette Binoche em "A Insustentável Leveza do Ser", de Philip Kaufman
(1988)
.
Paulette Goddard em "Tempos Modernos", de Charles Chaplin (1936)
.
Jennifer O'Neill em "Houve Uma Vez Um Verão", de Robert Mulligan (1971)
.
Emmanuele Béart em "A Bela Intrigante", de Jacques Rivette (1991)
::: R á
p i d a s R a s t e i r a s
"Estou fazendo isso pois adoro a festa, não para chamar a atenção. Já
sou uma celebridade".
(Renata
Banhara, "ilustre" modelo que pretende desfilar em 14 escolas de samba
este ano para entrar no Guiness, o livro dos recordes)
"Ele
está tomando Viagra de mais e Lexotan de menos".
(Geddel
Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara de Deputados, comentando o kit
de prontos-socorros do presidente do Senado Toninho Malvadeza)
::: É
tudo culpa do Ricardo
Ricardo
É
tudo culpa do Ricardo
e
foi ele quem me intimou a escrever até quinta-feira
e
hoje é quinta-feira
três
e meia da tarde
um
puta sol em Curitiba, nem sinal de chuva (não que a chuva costume mostrar
algum sinal de aviso nesta cidade onde se vende guarda chuvas automáticos
a cinco reais em lojas de 1,99)
aiaiaiaiaiai
Ricardo!
Escrever
uma coluna escrever uma coluna.
escrever...
preciso escrever pra suzi sobre métodos eficientes de se combater a prisão
de ventre mental... mas agora não consigo pensar em nenhum.
tá,
eu poderia falar do meu amor pelas almofadas da sala.
É,
eu estava abraçando uma delas (há duas delas) esses dias, eu estava com
saudades de um menino que está longe, muito longe daqui. coloquei um cd
da billie pra tocar, meio Marlboro que eu esqueci de fumar.
and
so billie said..
The
way you wear you hat
The
way you sip your tea
The
memory of all that
no
no they can’t take that away from me
The
way your smile just beams
The
way you sing off key
The
way you have my dreams
no
no they can’t take that away from me
We
may never never meet again
on
the bumpy road to love
Still
I’ll always always keep the memory of
The
way you hold your knife
The
way we danced till three
The
way you’ve changed my life
no
no they can’t take that away from me...
E
eu ouvi, continuei abraçada com a almofada, continuei com saudades de
um menino, que agora era outro menino, não o mesmo de sempre,
nem
o da vez passada,
ou
daquela outra,
ou
outra, outra vez.
era
outro menino. era o meu menino. o que seria de mim sem minhas almofadas?
os amores vão e nós dormimos com as almofadas, deitamos no chão sobre
as almofadas, falamos com elas, choramos nelas e olhamos juntas (eu e
as almofadas) para o teto...
almofada,
eu te amo. o amor que eu sempre tive, sempre guardei dentro de almofadas.
aí
eu dormi,
abraçada
com minha substituta mais eficiente para um corpo (precisam fazer almofadas
maiores).
aí
outro dia eu falei pra minha mãe: mãe, minha almofada is my most faithful
love. ela sempre está comigo, e ela nunca vai embora de manhã cedo.
aí
ela riu, pensou, e respondeu: que nada, nem seja boba, ela não merece
um poema teu, ela dorme com qualquer um, senta no colo de qualquer um,
deixa qualquer um se encostar nela...
:o)
mãe
que escreve é foda.
é
talvez
eu devesse comprar almofadas novas ao fim de cada amor, ou começo.
almofadas
virgens
haha
so,
what’s the use of being a virgin anyway?
nah,
fico com as velhas, que elas já se acostumaram a ouvir a billie cantar
e eu nem tenho que explicar pra elas por que as paredes da sala devem
ser azuis.
no
no they can’t take that away from me...
::: A
c h a d o s e P e r d i d o s
:::
Celebridades, professores, colegas de escola, amigos de infância... Escreva
para [email protected] dando-nos pistas sobre
os desaparecidos, ou dizendo quem você deseja reencontrar.
LUCIANA NAOMI HIKAWA
PROCURA: Rogério, de Cassilândia/MT, alto, louro, olhos verdes [ui!].
Ex-tudante do Colégio Objetivo Marília em 1987, melhor amigo do Goiás.
IAN BLACK PROCURA:
a garota cega que estava gritando histericamente no show do R.E.M. (ver
maiores detalhes no texto "O melhor do Rock In Rio não foi o R.E.M.,
pasmem", de Suzi Hong, em http://www.fimdamente.org/logopeia).
Ele desconfia seriamente de que esta garota é a mesma que estava no
palco junto com o Morrissey no show de São Paulo, em abril de 2000.
ALEXANDRE INAGAKI
PROCURA: Ilana Muller, minha ex-colega de 5a. série no Colégio Raio
de Sol, que ficava na rua Monte Alegre (que bucólico). Pena que minha
memória digna de 286 não me permite mais descrevê-la fisicamente. Sei
que ela queria ser egiptóloga, foi vice-campeã paulista de ginástica
olímpica, e era linda o suficiente pra ter sido o primeiro dos muitos
amores platônicos que tive (ainda bem que depois cresci e deixei de
alimentar meu coração com a pobre dieta das paixões platônicas, que
só têm graça para filósofos gregos e adolescentes cheios de espinhas
e dúvidas existenciais).
RICARDO SABBAG PROCURA:
o caminhão de onde caiu.
É rapaz,
o tempo passa no cronômetro e no placar eletrônico;
na aflição do time em busca do gol premente;
nas rugas do jogador que sai vaiado pela torcida;
na tensão do atacante na hora do pênalti;
no nervosismo do treinador alinhavando desculpas amarfanhadas;
no desconforto do artilheiro que não marca há várias derrotas;
na dor do torcedor que volta para casa envelhecido
carregando em cada perna o peso indelével da frustração.
Instável como técnico no cargo ou juvenil no time titular,
a vida ignora qualquer tática ou esquema de jogo.
E não adianta designar volante para marcação homem-a-homem
porque ela nos escapa, feito bola molhada nas mãos do goleiro,
com a graça de moleque que dribla toda a defesa,
desenho de luz no verde gramado.
Subterfúgios também não vão colar, colega.
Fazer cera, retardar os tiros-de-meta,
simular contusões com artes de canastrão,
trocar passes estéreis de um lado para outro
afirmando "valorizar a posse da bola".
Cada momento será devidamente compensado nos descontos.
(O bandeirinha delator, o goleiro solitário,
o dirigente exaltado, o treinador teórico,
o gandula torcedor, o reserva conformado,
todos tecem vasta confusão de pernas, socos e palavrões no espaço,
estranha cerâmica no meio-de-campo.)
Esta competição, amigo, tem regras rígidas:
tão criticadas, tão vilipendiadas,
mas inevitavelmente obedecidas por todos.
Neste regulamento não há tapetão.
Futebol é paciência.
Agüentar as vaias uníssonas de hormônios desafinados.
Jogar sob a chuva pesada, o gramado pesado, a cabeça pesada.
Aturar as contas atrasadas e os bichos pagos com cheque sem fundo.
A semana na concentração longe da família.
O papo arrastado das preleções, o banco de reservas,
as perguntas imbecis dos repórteres.
Mas tudo logo se olvida e se justifica.
E como dá gosto de ver as arquibancadas lotadas,
as bandeiras tremulando, os fogos estralejando no céu.
O juiz já lançou a moeda pra o alto,
é hora de acabar o aquecimento
e entrar em campo com o pé direito.
Agora é hora de beijar a chuteira, fazer o sinal da cruz,
posar para as fotos do pôster,
rezar com os companheiros
e aguardar infinitamente pelo minuto de silêncio
que ninguém sabe por quem é.
Boa sorte, irmão.
E que tarde muito até que chegue o temido, o inevitável,
o inapelável Apito Final.
:::
S o n h o d a S e m a n a
:::
Crônicas & egotrips do inconsciente. Envie sua interpretação do sonho
da semana ou mande suas viagens oníricas para: [email protected].
A rua
da minha casa é uma grande ladeira. Em um certo trecho, a rua torna-se plana
antes de recomeçar a subida. Eu moro exatamente na parte plana. Estou na
porta de casa, andando em círculos, esperando alguém vir me buscar, alguém
nunca chega. De repente aparece um homem forte. Mal encarado. Mal vestido.
Mal intencionado. Eu olho para a rua. Ninguém. Nenhum carro. Só ele e eu.
Sinto o medo se aproximar. A intuição que alguma coisa ruim vai acontecer
faz com que o medo chegue antes que o seu real motivo se manifeste. Tento
entrar em casa, a chave não encaixa na fechadura, possivelmente devido às
minhas mãos trêmulas. Olho pra descida. Pra subida. Medo sempre me faz agir
imprudentemente. Subo a rua. Tivesse eu preferido descer, poderia ter caído
e rolado o resto do morro. Mas não, preferi subir.
Tento
gritar, grito nunca sai quando a gente precisa dele. Quase chegando no fim
da ladeira, resolvo olhar para trás. Talvez se não tivesse olhado, conseguisse
alcançar o topo. Mas olho e dou de cara com o sujeito. Ele me pega. Grito
nunca sai. Me arrasta novamente para baixo. Aquele abraço por trás, de homem
grande, malvado. Quando já estamos de novo na frente da minha casa, lembro
que eu tenho um passador no cabelo. Tiro, abro e tento atingir a barriga
do vilão, com a parte mais aguda, aquela onde se faz o "clic" para o passador
se fechar. Neste momento ele percebe minha intenção. Arranca da minha mão,
me olha com cara de louco e me atinge com minha própria arma. Várias vezes.
Grito nunca sai. Quando finalmente sai, eu acordo. Gritando. Com medo de
voltar a dormir e não ter mais voz para me resgatar da verdade.
:::
N a v e g a r I m p r e c i s o
Blame
Canada
Cáspite!!!
Confira no weblog do Marcus Amorim a crônica em que Luís Fernando Verissimo
destila seu veneno contra os canadenses. Vaca louca é a mãe!!!
Saudades
do Atari
Super
Gêmeos, ativar!!! Veja neste site da Loducca Publicidade uma simulação do
Atari 2600 em Flash, com direito a console, jogos e barulhinhos, e mate
as saudades de clássicos como Pac Man, Freeway, River Raid, Enduro...
Por
que coexistem popozudas e virgens declaradas nos auditórios do meu Brasil
varonil.
"Et c'est un dur métier que d'être belle femme!"
Charles Baudelaire
Pois
bem. Sou nova na turma, não tenho muito o que falar, então vou aproveitar
textos de dois jovens senhores, também colaboradores deste e-zine, Eduardo
Sumares e Ricardo Sabbag. O primeiro vinha a público pedir uma mulher de
verdade, não uma Amélia, mas qualquer ser XX que não fosse recém-saído da
mesa de lipoescultura. O segundo temia que todas as jovenzinhas incautas
resolvessem seguir os atuais baluartes da castidade e só dessem depois do
casamento.
Silicone
não é endêmico, até porque ainda é caro demais pra isso, por mais que "a
gente parcela em até seis vezes, cheque, cartão e tem desconto de 15% à
vista". Mulher de verdade, que acorda descabelada, passa desodorante, leite
de rosas, faz "chapinha" ou deixa "ao natural" tem bastantes. Eu, particularmente,
nunca vi uma popozuda fora da TV. Se vi, era drag-queen. É curioso achar
(ok, ele não disse que achava, mas estamos extravasando) que a Zezé Macedo
possa aparecer na TV com fins outros que não cômicos. Ou que a Carla Perez,
nossa "Ève future" (vide Villiers de L'Isle-Adam) saída de um tonel de azeite
de dendê, não vá balançar o popô no Faustão. TV tem um botão ótimo chamado
"POWER", que ratifica o grande poder de decisão de que dispõe o espectador.
E, afinal de contas, a gente só começa a ler Proust na educação física porque
nos contentamos em ser escolhidas por último pro torneio de vôlei. Essas
senhoras já nasceram sabendo, botaram a bunda no mundo e hoje estão ricas
e felizes. Quem vai negar a sua inteligência?! Quem vai negar que são "mulheres"?
Quanto
ao temeroso... É um ponto oposto. Por mais que a Sandy ou a Britney Spears
espalhem aos quatro ventos que têm o hímen no lugar e a consciência tranqüila,
isso não é páreo pro exército das popozudas ou pro apelo erótico de praticamente
tudo. Numa "abordagem freudiana" (hihihi), digamos que "tudo é fálico".
E as duas moças supracitadas só não dão por falta de espaço. Pois, como
se sabe desde que o primeiro homem e a primeira mulher se encontraram numa
caverna, privacidade é fundamental. Para cada Sandy, existe uma Maria Schneider.
Para cada Britney, um pacote de manteiga.
:::
C a r t a s d o s L e i t o r e s
::: Mande
suas críticas, sugestões e comentários engraçadinhos para <[email protected]>. Aqui, trechos comentados
de correspondências recebidas na última semana.
"Oi,
Ina, adorei esse Spam Zine. Muito bom mesmo, gostei mais que do 700. Parabéns".
Vanessa
Stelzer
RESPOSTA
DOS EDITORES: Querida Vanessa, agradecemos os elogios, mas ressaltamos que
o Spam Zine e o 700Km são 'co-irmãos' filhos da mesma parideira. A
gente nos amamos mutuamente. Com os melhores votos, R.S.
"Não
entendi muito bem o 'papo aranha', terminou assim: 'a melhor cantada da
semana vc confere agora' e aí já passou pra outra seção. (...) O texto
do Eduardo Sumares é muito bom".
Paula
Pimenta
RESPOSTA
DOS EDITORES: Querida Paula, deve ter sido falha nossa, mas o texto do Sumares
ERA o conteúdo da seção 'Papo-Aranha'. Carinho do seu editor, R.S.
:::
C r é d i t o s F i n a i s
Direção:
Elenco
(em ordem alfabética):
Spam
Zine é um fanzine distribuído gratuitamente por e-mail todos os domingos.
Para assinar o Spam Zine, visite http://www.spamzine.cjb.net (a casa é modesta,
mas é limpinha). Envio de colaborações, edições anteriores, cancelamento
de assinaturas, críticas anárquicas, dúvidas existenciais e mensagens
de amor? Escreva: [email protected].
:::
P. S.
1) Tem
dia que de noite é foda. (Sabbag)
2) Estou
pensando em criar um concurso de piadas internas. (Sabbag)
3) Palavra
de advogada: sempre soube que as leis brasileiras eram uma merda, mas nunca
imaginei que proibissem enterrar pessoas em seus próprios quintais. Para
quem assistiu a "Forrest Gump", gostaria de poder imaginar Herbert
Vianna em seu jardim, junto com seus três filhos, levando flores para Lucy.
(Hong)
4) Quando
eu morrer, quero que o Bozo evangélico venha me abençoar no meu velório.
(Black)
5) O
primeiro disco solo do Edgard Scandurra, "Amigos Invisíveis" foi relançado
em CD. Scandurra chegou a ser citado no Guiness brasileiro como o músico
que mais tocou instrumentos num único disco. Compre, pegue emprestado, pirateie,
roube: o importante é que você ouça. (Black)
7) Sobre
o Achados e Perdidos da semana passada, a leitora Luciana Naomi nos informa:
o nome da Bolete que nunca sorria é Zulu. Mais pistas?? (Inagaki)