Sopa de letrinhas

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nesta semana o Tribunal Superior Eleitoral autorizou a criação de dois novos partidos: o PROS (Partido Republicano da Ordem Social) e o Solidariedade. Com esta decisão, o Brasil possui agora nada menos que 32 legendas. Uma bela sopa de letrinhas que está mais para gororoba, diante dessa multiplicação de partidos sem um projeto ideológico consistente. Afinal de contas, que leitor será capaz de distinguir o PV (Partido Verde) do PEN (Partido Ecológico Nacional), ou o Partido Humanista da Solidariedade (PHS) do Partido Pátria Livre (PPL)? Taí uma boa pergunta de jogo de trivia, aliás: quem será capaz de citar todas as trinta e duas legendas (sem contar o Rede da Marina Silva, que ainda não foi homologado pelo TSE) de cabeça?

Mas, afinal, neste ruído de informações trazido por essa confusão digna de controle remoto repleto de botões que a gente sequer sabe para que servem, esse fenômeno da multiplicação de partidos no Brasil tem alguma razão de ser? Uma matéria de Isabel Braga e Paulo Celso Pereira, do jornal O Globo, joga luz sobre uma grande motivação para o singelo pluripartidarismo tupiniquim: “PROS e Solidariedade receberão no mínimo R$ 600 mil antes de disputar qualquer eleição”.

Uma nota publicada no painel da Folha exemplifica bem a ideologia abstrata por trás das legendas no Brasil, comentando que o PROS espalhou outdoors por aí com o slogan “Somos contra a corrupção”: pfuf. Um cidadão afirmar que é contrário à corrupção é algo tão surpreendente quanto comentar que chuvas molham, brindes são de graça ou elos são de ligação. Novidade retumbante na política seria ver um partido defendendo aumento de impostos para subsidiar ainda mais a corrupção no país, a criação do Bolsa Pornografia e a distribuição desenfreada de hambúrgueres com bacon na merenda escolar.

Porém, devo admitir ao menos um grande diferencial do Partido Republicano da Ordem Social, também conhecido como PROS: trata-se de uma legenda que possui hino oficial (com direito a muitos trocadilhos com a sigla).

Começo a alimentar a ideia da criação do meu próprio partido, o PIRIGUET (Partido Independente de Respeito à Inteligência de Gente Unida pela Ética e Trabalho). Aguardo pela manifestação de voluntários dispostos a arrecadar assinaturas pelo surgimento de uma legenda em prol de minorias como os fãs albinos de estatuetas de gnomos, os sósias univitelinos de Sandy & Júnior e os adeptos da dieta de chucrute com maionese.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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  • brunoalves65

    PQP: Partido Quotista Patriota; PASME: Partido Ativista Social-MEritocrático… :D

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      E por aí vai. :) Renato Aragão, por exemplo, poderia criar o PSIT: Partido Sincero e Inigualável dos Trapalhões.

  • brunoalves65

    PUTA: Partido Único dos Trabalhadores Assalariados; PORRA: Partido Operário Revolucionário Respeito e Atitude; PQP

  • Cláudio Rúbio

    as legendas são tantas que, no fundo, representam partido nenhum.

    quem dera fossem muitas mais, mas todas realmente íntegras na representação de interesses da nação!

    infelizmente, (a maioria de) nossos políticos só nos representam no que (a maioria de nós) temos de pior: nossa cidadania pouca, nossa consciência política pequena, nosso imediatismo, nossa cobiça… tudo isso disfarçado de ingenuidade e bom-mocismo.

    abraços!

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Pois é, Cláudio. Lembrei agora de alguns cartazes que foram espalhados pelas ruas de São Paulo, há alguns anos, divulgando o PATO: Partido Anarquista Tropical Onírico. Creio que me sentiria representado por essa legenda. :/ Um abraço!

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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