Show do Police no Maracanã deu pro gasto
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Ao vivo, o trio formado por Sting, Stewart Copeland e Andy Summers impressiona pela competência técnica e por um entrosamento surpreendente para uma banda que esteve separada por mais de vinte anos. Além disso, são impecavelmente profissionais. Pouco depois dos alto-falantes do estádio tocarem “Get Up, Stand Up”, de Bob Marley, atiçando os mais de 70 mil incautos que muvucaram o Maracanã, o Police entrou no palco às 21:30, exatamente na hora marcada. Sem KY, arregaçaram logo na entrada com a clássica “Message In a Bottle”, botando a galera pra pular alucinadamente feito pipoca na panela.
Foi só a partir da segunda música, “Synchonicity II”, que os telões de alta definição espalhados pelo gramado deram o ar de sua graça, fazendo com que a multidão espremida feito shortinho de dançarina de axé (inclusos eu e minha namorada) finalmente pudesse ver os três ingleses saltitando lá no palco. Aliás, “conforto” foi um conceito pra lá de abstrato para quem sentiu in loco a opressão da sociedade na noite de sábado. No meio da muvuca no gramado do Maracanã, senti saudades dos shows dos Rolling Stones no Pacaembu, do R.E.M. no Rock in Rio III e do U2 no Morumbi, porque neles havia espaço pra poder pular e dançar, ao contrário da lata de sardinha humana que foi armada pelos (des)organizadores do show do Police.
O festival de patacoadas começou antes do espetáculo. Foi ridículo constatar que havia uma única entrada para todos que compraram ingressos para o gramado. Mas de lascar mesmo foi encontrar os portões fechados: cheguei ao Maracanã às 20:20, e não consegui entender porque naquele momento a (des)organização havia fechado a entrada, enquanto os Paralamas já estavam fazendo o show de abertura. Só depois de vinte minutos, com a multidão devidamente emputecida, é que os portões foram liberados. Resultado: um previsível empurra-empurra geral fomentado a partir de uma providência injustificada. Na boa, se o show fosse de uma banda punk ou metal, o pau teria comido legal na entrada do Maraca por conta de um motivo totalmente esdrúxulo.
É preciso ressaltar também uma praga que se alastra em todos os shows que foram trazidos ao Brasil nos últimos tempos: a tal “área VIP” que enfia atores de novelas e apresentadores de TV nos melhores lugares, prejudicando fãs que pagam caro por seus ingressos sem receber a devida contrapartida. É de emputecer a leitura da matéria “Celebridades são show à parte na área vip do The Police”, do Globo Online, que elenca depoimentos de famosos que sequer sabiam o nome de uma mísera música da banda, e foram ao estádio mais para badalar e aparecer nas colunas sociais. Pelamordedeus!
Mas enfim, a sina de um roqueiro é penar no purgatório antes de desfrutar das benesses do rock’n'roll. Ainda consegui pegar os estertores finais do show dos Paralamas do Sucesso, que tocaram com a competência habitual, mostrando que é uma das melhores, senão a melhor banda brasileira ao vivo. No intervalo, eu e minha namorada nos ajeitamos em um espaço cavado no meio da multidão, penando com o excesso de calor humano e a sede. Menos mal que não encaramos as quilométricas filas para comprar copos da soporífera cerveja Sol (no balcão de atendimento, havia um único incauto vendendo fichas), caso contrário, além da raiva, perderíamos o lugar onde ainda pudemos vislumbrar uns nacos do distante palco.
Quanto ao show em si, ele foi tecnicamente impecável. Copeland, em especial, esmerilhou na bateria, mostrando porque é um dos melhores instrumentistas do mundo. Ótimas versões de sucessos como “Can’t Stand Losing You”, “So Lonely” e “Roxanne” garantiram o deleite dos tiozinhos que aguardaram anos para ver o Police ao vivo. No entanto, a impressão geral que tive é de que o repertório não foi o mais apropriado. Canções pouco conhecidas como “Hole in My Life” e “Truth Hits Everybody” arrefeceram os ânimos da platéia, enquanto um hit como “Wrapped Around Your Finger” foi executado em um arranjo com pinceladas orientais que soariam bem em uma apresentação intimista num barzinho, não em um estádio com mais de 70 mil sardinhas ansiosas por pauleiras catárticas capazes de fazer todos dançarem e esquecerem do resto do mundo.
Para Ivan Finotti, faltou tesão. Concordo com ele. O show do Police compensou por conta da competência técnica do trio e pela oportunidade rara de conferir ao vivo músicas maravilhosas como “Every Breath You Take”, mas a apresentação não me convenceu de todo. Foi como uma noite de “meaningless sex”: tudo rolou de modo até satisfatório, ambos gozaram no final, mas ninguém cogitará ligar no dia seguinte para o outro.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
Categorias:
Artigos relacionados:
Comentários do Facebook
Comentários do Blog
-
Jonas
-
http://themusicface.blogspot.com Edk
-
oi
-
Jonas
-
http://alcilene.zip.net Alcilene Cavalcante
-
http://ikhaat.blogspot.com Bruno
-
http://www.estrelamoto.wordpress.com Carmélio
-
http://butuca.blogspot.com Raphael Perret
-
http://rolouporai.blogspot.com/ Marcos
-
Kelly
-
http://pensaremburrece.wordpress.com Társis Salvatore
-
http://jccbalaperdida.blogspot.com JULIO CESAR CORREA
-
http://f4lh4critic4.wordpress.com/ Rodrigo” Yin Yang”
-
http://www.slothsam.wordpress.com Guilherme
-
http://www.osarcofago.blogspot.com Mário Marinato
-
http://promo.4linux.com.br/resposta/1408 Bruno Bennotti Barbosa Moura
-
Mariângela de POA
-
http://www.sandranalemanha.zip.net Sandra Santos
-
Sandra
-
http://www.cozidocompapricas.com Natanael Mahon
-
Daniel Cancelier
-
Daniel Cancelier
-
http://d--mentes.blogspot.com/ Mylle Li
-
http://anny-linhaozzy.blogspot.com/ Anna
-
http://www.blogar.com.br enio
-
http://rancorizando.wordpress.com Cami
-
Sandra
-
http://existologopenso.wordpress.com Nanci
-
http://www.avoltadamulhermorena.blogspot.com Ana Libório
-
http://tzanoni.blog.uol.com.br Tadeu Zanoni
-
http://riffsesolos.blogspot.com Diego Matias
-
Anônimo
-
http://idelberavelar.com Idelber
-
http://thenatureandnurture.blogspot.com Luiz ALfredo
-
http://butuca.blogspot.com Raphael Perret
-
http://digitaldrops.com.br/drops/ Nick
-
aninha
-
http://fredsvision.blogspot.com ..fred.
-
http://www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com Odele Souza
-
Anônimo