Ruth Lemos, Gary Brolsma e Adolar Gangorra

Por Alexandre Inagakidomingo, 13 de março de 2005

Caroline Bittencourt foi expulsa do casamento de Ronaldo com Daniela Cicarelli, teve triplicado o seu cachê como modelo e recebeu diversos convites para apresentar programas de TV e posar nua. Ricardo Duna tornou-se o corno mais famoso do Brasil ao ver sua esposa flagrada na praia do Leblon aos beijos com Chico Buarque, mas teve uma resenha elogiosa do seu CD publicada na Veja desta semana. Hoje famosos, amanhã esquecidos: a cada semana novas personalidades são criadas pela necessidade famélica que a mídia possui de criar novos personagens, por mais irrelevantes que sejam os motivos que levam um anônimo a ser catapultado para as manchetes de revistas e jornais. Em contrapartida, há aqueles que tornam-se famosos a contragosto. Dois “fenômenos” recentes da Web ilustram essa afirmação: Gary Brolsma e Ruth Lemos.

Gary Brolsma, 19 anos, ficou conhecido entre seus colegas da Saddle Brook Middle School por dois motivos: um peculiar senso de humor e seu gosto por novas tecnologias. Em entrevista ao New York Times, Susan Sommer, professora de Gary, recorda que era a ele que recorria sempre que os computadores da escola necessitavam de algum conserto. Já os amigos de Brolsma destacam seu lado criativo: ele costumava, por exemplo, distribuir aos colegas fitas-cassete em que gravava comerciais satíricos de produtos como Prozac.

Pois bem: numa certa tarde ociosa de dezembro de 2004 este jovem de New Jersey resolveu usar sua webcam para filmar a si mesmo dublando a canção pop “Dragostea Din Tei”, gravada pelo grupo romeno O-Zone e popularizada no Brasil graças à nefasta versão “Festa no Apê” cometida por Latino. O vídeo, inegavelmente hilariante, foi originalmente distribuído a alguns parentes e colegas, que não resistiram à tentação de repassá-lo a outros “muy amigos”, e assim foi até que a performance de Gary fosse parar no Newgrounds, site especializado em disponibilizar a seus visitantes animações em Flash e vídeos extraídos da tevê ou criados por internautas. Foi o que faltava para Brolsma tornar-se o novo superstar da Web: em poucas semanas sua performance angariou mais de 1 milhão de page views, após a exibição de seu desconcertante vídeo por canais como VH1 e CNN.

No entanto, ao contrário do que era de se esperar nestes tempos de celebridades instantâneas, Gary recolheu-se: recusou uma solicitação de entrevista do New York Times, assim como os pedidos feitos por canais de TV como a NBC para que aparecesse em seus programas. Refugiado da fama, não atende mais telefonemas e deixou de ir à escola, simplesmente porque, segundo relatos de parentes, Gary estaria mortalmente envergonhado com a superexposição de sua imagem.

Fenômeno semelhante aconteceu no Brasil com a nutricionista Ruth Lemos. Em entrevista concedida ao vivo ao telejornal “Bom Dia Pernambuco”, da TV Globo, dona Ruth atrapalhou-se toda com a situação, gaguejando de modo deveras aflitivo, devido ao nervosismo e ao fato de ouvir a própria voz no fone de ouvido com um delay de alguns segundos. As pessoas que assistiram ao vídeo dividem-se entre as que se regozijaram de tanto rir e as se angustiaram com tamanha vergonha alheia. Eu, por exemplo, sou um cara cronicamente tímido. Toda vez que sou obrigado a falar em público me atrapalho: fico burro, gago e fanho. Confesso que ri na primeira vez em que vi o vídeo, mas depois fiquei pensando no estado em que esta mulher deve ter ficado após tamanha exposição na Web.

Além das inúmeras comunidades criadas no Orkut em seu “louvor”, o fenômeno “sanduíche-iche” criado pela dicção ímpar de Lemos inspirou a criação de ícones para MSN, uma sátira com atores, animações e diversos arquivos mp3 com samplers de sua voz. Apesar de toda a gozação, a fama virtual não foi de toda ruim para a nutricionista, que viria posteriormente a estrelar um comercial para a Intelig.

Para não dizer que fama na Internet é sinônimo de desastre, vale a pena citar o que ocorreu com Adolar Gangorra, pseudônimo de um autor que há tempos publica textos na rede. Ao navegar pela rede, a atriz Fernanda Torres encontrou uma crônica que lhe chamou a atenção, intitulada “Como me Fudi por Completo no Show dos Los Hermanos“. Interessada em encenar o texto, Fernanda, por intermédio de uma matéria no jornal O Globo, pediu que o autor da crônica entrasse em contato com ela. Dias depois, o escriba que se esconde por detrás do pseudônimo Adolar Gangorra contatou a atriz. Diga-se de passagem, não é o primeiro texto de Adolar que foi parar no palco: é dele também a autoria de “Análise Comportamental e Crítica da Música Eduardo e Mônica“, adaptado para o teatro pelo grupo Cemitério de Automóveis.

Quem será o próximo a ter seus 15 bytes de fama?

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

Categorias:

Tags:

Comentários do Facebook

Comentários do Blog

  • http://www.gardenal.org/inagaki/2006/01/orkut_dordecotovelo_e_musica_s.html Pensar Enlouquece, Pense Nisso.

    Orkut, dor-de-cotovelo e música sertanerd: conheça Ewerton Assunção
    Volta e meia a Internet cria celebridades instantâneas, que desfrutam de seus 15 bytes de fama e depois somem na memória volátil da rede. Gizele Silveira (a “Madonna capixaba”), Fabíula Rodrigues (a “Darlene de Brasília”), Neisa Pantera e Ruth Lemos…

  • http://sinistras.aranha.com.br Fábio Caparica de Luna

    Sim…
    Muito bom o post.

  • http://sinistras.aranha.com.br Fábio Caparica de Luna

    Salve Inagaki.
    Sobre Ruth Lemos, faltou acrescentar um pequeno detalhe.
    Depois de passado o “Trauma” ela aproveitou e capitalizou um pouco no rastro do Hype. Ela fez um comercial (veiculado apenas na internet pelo que soube) da operadora de telefonia Intelig.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

Parceiros

Mantra

A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.