Roberto Gómez Bolaños, o Chaves, o Chapolim Colorado (1929 - 2014)
Por Alexandre Inagaki ≈ sábado, 29 de novembro de 2014
Há 30 anos o SBT exibe no Brasil os episódios de Chaves e Chapolim Colorado. E há três décadas telespectadores de várias gerações assistem com prazer esses programas, mesmo já sabendo de cor as piadas e as situações que se repetem, tais quais gifs animados, abstraindo os cenários simples e o estilo naïf da produção, graças ao humor leve e ingênuo e ao carisma daqueles adultos que se vestiam como crianças ou super-heróis desajeitados, arrancando sorrisos descompromissados e embebidos por uma certa nostalgia de tempos menos complicados.
A maior parte das esquetes que fizeram a fama de Roberto Gómez Bolaños no Brasil foi originalmente produzida nos anos 70. Porém, como retratam experiências universais desatreladas a momentos históricos e pontuais, ganharam um certo ar atemporal que fez com que os episódios de El Chapulín Colorado e El Chavo del Ocho (os títulos originais de Chapolim Colorado e Chaves) possam ser apreciados até hoje por públicos de todas as idades, tornando-se sucesso e fenômeno cultural em toda a América Latina e mais de 100 países que exibiram os humorísticos. E é por isso que, guardadas as devidas proporções, não é difícil de entender porque muitos consideram Bolaños o Chaplin latino-americano.
Exibidos nos mais diversos dias e horários no SBT desde 1984, os programas criados e roteirizados por Roberto Bolaños permanecem como garantia de boas audiências até hoje. Eu, que assisto as pérolas cunhadas pelo Chaves e pelo Chapolim desde que eram dubladas pelo grande Marcelo Gastaldi (que também fazia a voz do Charlie Brown nos desenhos do Snoopy), integro a primeira geração de brasileiros que foi cativada pelo humor leve e repleto de humanismo do Chespirito. Nossa cultura já está definitivamente marcada por frases como “foi sem querer querendo”, “não contavam com a minha astúcia”, “não priemos cânico”, “teria sido melhor ver o filme do Pelé” e “sigam-me os bons”. Não à toa, a comoção no Brasil diante da confirmação de sua morte foi enorme, merecendo inclusive o reconhecimento da concorrência: o Jornal Nacional noticiou seu falecimento chamando-o de “fenômeno da cultura popular”, e o perfil da Globo no Facebook compartilhou a postagem do SBT em homenagem a Bolaños.
Quem cresceu vendo as aventuras de Chapolim Colorado, Chaves e a turma da vila pensará sempre nos personagens de Bolaños toda vez que lembrar de sanduíches de presunto, a volta de um cão arrependido ou pílulas de nanicolina. E, embora tenha sido notabilizado por um humor circense e ingênuo, Roberto foi grande ao cunhar personagens universais acolhidos com carinho por pessoas de todas as classes, nacionalidades e idades, como o garoto órfão e pobre que morava dentro de um barril, ou um herói que foi descrito pelo seu próprio criador, em declaração feita a Pablo Kaschner (autor dos livros Chaves de um Sucesso e Seu Madruga: Vila e Obra), desta maneira:
Chapolim não tem as propriedades extraordinárias dos super-heróis: é tonto, desastrado e medroso. Mas também é um herói porque supera o medo e enfrenta os problemas e é aí que estão o heroísmo e a humanidade.
No final do episódio da viagem para Acapulco, um dos mais famosos e queridos pelos fãs de Chaves, Roberto Gómez Bolaños canta uma música composta por ele mesmo, “Boa Noite Vizinhança” (confira aqui a versão original). Creio que seus versos são o modo mais apropriado de dizermos “até breve” a alguém que alegrou e inspirou tantas gerações ao longo de décadas.
Prometemos despedirmo-nos
Sem dizer adeus jamais
Pois haveremos de nos reunirmos
Muitas, muitas vezes mais!
P.S.: O autor da bela ilustração em que Chaves reencontra Seu Madruga (interpretado por Ramón Valdés, falecido em 1988) é Vicente Valentine.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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