A Rio+20 mudou alguma coisa na sua vida?

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 28 de junho de 2012

Muito se ouviu falar sobre a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, mais popularmente conhecida como Rio+20. 188 países foram oficialmente representados neste encontro, a fim de discutirem o futuro do planeta e quais medidas devem ser adotadas para assegurar um mundo capaz de garantir vida digna a todos os seus habitantes, com desenvolvimento sustentável e a busca pela erradicação da fome e da pobreza. Mas, além de reclamar que a Rio+20 não serviu para nada, será que a sociedade mostrou genuíno interesse e engajamento nessas discussões? E os jovens e futuros líderes que herdarão este planeta tão maltratado, o que têm a dizer sobre o assunto?

A sensação geral, após a redação final do documento “O Futuro que Queremos”, publicado no site oficial da conferência, foi de frustração. Segundo os coordenadores da Cúpula dos Povos, evento realizado em paralelo à Rio+20, o texto final da conferência das Nações Unidas foi um fracasso. E afirmaram, categoricamente:

A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global.

Não é de se estranhar essa sensação geral de decepção e desilusão. Afinal, o documento final não levou a medidas mais efetivas de combate à poluição e ao desmatamento, não propõe a criação de nenhum fundo a ser financiado pelos países mais ricos, arcando com ações de sustentabilidade mundo afora, e no geral recorre a palavras genéricas como “reconhecemos” ou “achamos”, sem implementação imediata de ações e práticas capazes de viabilizar um planeta com desenvolvimento realmente sustentável.

Mas será que toda a mobilização em torno da Rio+20, e de eventos paralelos como a Rio+Social e a Cúpula dos Povos, que levaram cerca de 110 mil pessoas à cidade do Rio de Janeiro durante os dez dias da conferência, acabou em vão? Será que tudo não passou de um amontoado de discursos ineficazes, greenwashing e muito barulho por nada?

 

 

 

Jeffrey Sachs, economista da Universidade da Columbia, afirmou:

Os tratados não funcionaram. Não porque fossem ruins, mas porque não foram implementados. E nós precisamos prestar atenção nisso, porque os governos não vão nos tirar dessa bagunça. Esta é uma responsabilidade da sociedade, que pode levar seus governos a agir. Mas, se esperarmos por essas conferências multilaterais, essas reuniões da COP ano após ano, o que veremos pelas salas serão milhares de advogados e diplomatas apontando os dedos, e dizendo: ‘você primeiro, você primeiro, você primeiro’.

Complemento essa declaração de Sachs (que vi no excelente Globo News Especial sobre os bastidores da Rio+20) com as palavras de Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006 e criador do Graeem Bank, maior banco do microcrédito do mundo que já concedeu créditos para mais de 8 milhões de bengaleses, que considerou a Rio+20 um evento catalisador de inspirações e renovação de esperanças.

Eu, que estive no Rio assistindo às palestras da Rio+Social, creio que estes dez dias de discussões valeram principalmente pela oportunidade de reunir pessoas interessadas em debater ideias. É a partir de atritos que surgem as faíscas e fagulhas catalisadoras de novos projetos. Em um mundo cada vez mais individualista, foi bom encontrar gente pensando coletivamente, globalmente. Não dá, simplesmente, para esperar que governantes e corporações resolvam, com um passe de mágica, todos os problemas deste planeta. E aí resta fazer a pergunta inevitável: você está fazendo a sua parte?

* * *

P.S.: Gustavo Mini também esteve na Rio+Social e fez uma apresentação compartilhando suas impressões sobre o evento.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • http://blog.planilhasexcel.com/2012/05/calendario-2013-excel.html Calendario

    Adoraria ouvir depoimentos de pessoas que estavam lá…

  • http://www.pdvimobiliaria.com.br/ Imóveis em Salvador

     Pra mim isso tudo é papagaiada, estão conversando sobre o mesmo assunto de 10 anos atrás, porque eles simplesmente não resolvem logo esse assunto já que é de tanta importância assim. E da próxima vez já resolvam outro assunto

  • José Freitas

    Este blog é interessante e este post é muito criativo.
    As intenções do Rio+20 foram boas, o problema é levá-las à prática.
     Vocês estão no Inverno, em Portugal estamos no Verão, porque o Brasil está a Sul do equador e Portugal a Norte.Também tem interesse o blog http://www.anticolonial21.blogspot.com É um blog de livre-pensamento com algumas verdades inconvenientes e com fotografias com muito significado.

  • http://www.duniverso.com.br/patriota-fecha-texto-da-rio-20-que-decepciona/ Tomé Ferreira

    Concordo com o Allan no que diz respeito a encenação!

    Tudo não passou de uma grande bravata.
    Parece até com o metrô aqui de Belo Horizonte que leva de nenhum lugar a lugar algum!
    Uma tremenda perda de tempo e divisas, pagas por nós, é claro!

  • Allan Robert

    Acho essa encenação um lava-mãos internacional. Bota-se a culpa pelo falimento nos outros e tocamos adiante o trem enferrujado e fumacento do progresso. Não precisamos de Rios + 20, 30 ou 40. O que precisamos mesmo é uma catàstrofe mundial. O solo da China està afundando por esaurimento dos lençois freàticos e pela cimentificação. Quem sabe se quando um bilhão de pessoas começar a invadir as casas alheias não se decide fazer algo?

  • Jujuba

    Creio que toda discussão referente ao futuro do mundo seja válida. Acompanhei algumas falas através do rádio e tv. As epssoas discutem por tanta coisa (futebol, churrasco na casa do Anderson Silva…) pq ná falar sobre algo tão presente nos dias de hj, a sustentabilidade!?

  • Tennessee Williams

    quando morava em manaus, eventos no rio de janeiro ou em são paulo pareciam eventos tão distantes quanto cúpulas mundiais na europa ou nos estados unidos. Agora, morando em são paulo, mais especificamente, em campinas, interiOR de são paulo, este evento parecia tão distante quando qualquer evento que acontece em Manaus e ficamos sabendo tempos depois. Passei aqui, namorei esse post por duas semanas até que sentei pra ler. Independente dos efeitos buscados pela dita reunião, ainda se tem um desacordo para com as causas. Fiquei com a impressão, e posso estar completamente enganado, de alguns aparecem para afirmar que o “estado” deve executar as ações. Por outro lado, outros se valem da ideia que o estado e os empresários não vão fazer nada, para afirmar que a sociedade precisa fazer algo. Espero que esta não tenha sido a maior preocupação de quem foi ao evento. Sei lá, mas acho que a ação do estado não impede a ação da sociedade e vice-versa. Essas preocupações sobre quem deve agir precisam ser superadas. Isso já seria uma grande evolução para qualquer evento, seja qual for o efeito procurado. No mais, se me permitem, acho que talvez as reuniões tenham que ser para “trocar experiências”, assim deixamos de “debater” milhões de ideias impraticáveis, e nos restringimos ao grupo das ideias que já podem estar dando certo em algum lugar do planeta. Quis fazer essas duas contribuições, porque achei que talvez, o desânimo geral possa ter um pouco de suas raízes nos moldes com que estamos nos reunindo. 

  • http://twitter.com/claudiorubio Cláudio Rúbio

    muito debate para pouca EducAção, amigo. infelizmente.

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Pois é, Cláudio. Já é um começo, mas pra nós que estamos décadas atrasados, a sensação é mais do que preocupante.

  • Henrique

    Estou cagando verde!!

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Caro Henrique, repassarei a você o conselho que o Alexandre Berbe (@aleberbe:twitter) deu no Twitter: “Se está verde, aconselhe o fulano a procurar um médico… :-) ”

  • Analu Hirata

    A Rio+20 em si não mudou nada em lugar algum, infelizmente, como sempre acontece, ninguém fez nada para melhorar de verdade o mundo.
    Entretanto, no meu colégio nós, alunos do ensino médio, fizermos uma mini Rio+20, tipo uma simulação do que estava acontecendo lá no Rio. A Rio+20 pode não ter mudado nada da minha vida, mas a simulação que eu participei mudou e muito. Pois, se não fosse por ela eu nem sequer saberia o que foi essa conferencia. Além do que, eu e meus amigos percebemos a importância do evento para a vida de todos do planta. Obviamente, os documentos finais que nós produzimos não são nem um pouco parecidos com o que foram produzidos pelo delegados e delegadas oficiais, pois nos nossos as soluções realmente apareceram e nos deles a situação não saiu do lugar. 

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Analu, mas se a Rio+20 serviu de mote para essa simulação no seu colégio, de algum modo toda essa movimentação no Rio teve utilidade, já que mobilizou você e seus colegas a refletirem sobre o assunto. Já é alguma coisa. :)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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