Rápidas rasteiras

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Ótima a coluna mais recente de João Pereira Coutinho para a Folha Online, sobre Woody Allen. Mas sou obrigado a discordar do texto de JP Coutinho em três pontos:

a) à santíssima trindade de filmes woodyallenianos elencada por Coutinho (“Hannah e Suas Irmãs”, “Crimes e Pecados” e “Desconstruindo Harry”), eu acrescentaria “Annie Hall”, talvez o mais belo filme de todos os tempos a descrever um amor que nasce, cresce, morre e se transforma em amizade;

b) Peter Bognadovich dirigiu, na verdade, quatro longas excepcionais. Além dos citados “A Última Sessão de Cinema” e “Lua de Papel”, também foi o responsável por “Esta Pequena é uma Parada” (comédia com Barbra Streisand no melhor estilo das screwball comedies produzidas nos anos 30 e estreladas por atores como Cary Grant e Katharine Hepburn) e “Na Mira da Morte” (ótimo filme sobre um franco-atirador, com Boris Karloff no papel de um velho ator de filmes de terror que resolve se despedir do cinema por ojeriza à violência do cinema contemporâneo);

c) dizer que Truffaut só realizou três grandes filmes é uma enorme injustiça cometida por JP Coutinho. Tendo a imaginar que meu colega português não assistiu a “O Homem que Amava as Mulheres”, “A Sereia do Mississipi” ou “Fahrenheit 451″, por exemplo. Também não deve ter visto “Beijos Proibidos“, segundo longa-metragem protagonizado por Antoine Doinel, alter ego de Truffaut. É desse filme uma das minhas seqüências prediletas de todos os tempos. Nela, Antoine (Jean-Pierre Léaud) está sentado em um banco ao lado da mulher por quem está apaixonado, Christine (Claude Jade). Ela está sendo seguida semanas a fio por um misterioso homem, que, ao ver o casal sentado na praça, resolve finalmente lhe dirigir a palavra. Diz o estranho:

- Nunca havia provado o gosto do amor, até que conheci você. A vida é repleta de experiências provisórias, de pessoas provisórias. Mas eu sei que, para você, serei definitivo. Não estou pedindo para que você me diga “sim” neste momento. Eu lhe darei um tempo para pensar. Quero apenas que você saiba que eu a amo, muito. E que estarei aqui, para você, sempre.

O homem vai embora sem olhar para trás. Christine e Antoine se entreolham, ainda atordoados, em silêncio. Até que Christine desabafa:

- Esse homem é completamente louco!

Amor é como jazz ou zen-budismo: não é para ser explicado, vivencia-se.

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Ainda sobre cinema, saibam que continuo com minha coluna no site da Antena 1.

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Abram a porta, pelo amor de Deus! Minha filha é uma criança!“. O Rio de Janeiro continua lindo, mas saber de notícias como a do atentado contra o ônibus da linha 350 me obriga a ficar com os três pés atrás com relação ao meu projeto de um dia morar na Cidade Maravilhosa. Em meio à guerra urbana que assola o Rio, a governadora Garotinho permanece afastada por stress, enquanto seu marido ainda fomenta o plano de se candidatar à Presidência. Este país definitivamente não é para principiantes.

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Blog Tour. O post que a Viva publicou no dia 29 de novembro, na nova URL do Nós por Nós, é uma das mais belas declarações de amor que li nos últimos tempos. Luciana, mulher movida a paixões, acabou de passar no vestibular para Jornalismo (muita sorte pra você, mon ami!). Recomendação entusiástica da casa: conferir a poesia de Bruna Beber em sua Cutelaria & Chapelaria. Dois dos meus gurus na blogosfera: Mario AV e Zel. Manobra, 1979 é, com sobras, o melhor dos novos blogs surgidos nos últimos tempos. Por fim, a indefectível nota ególatra: segundo o Yahoo! Search, existem 33.103 links apontando para o domínio pensarenlouquece.com (servimos bem para servir sempre).

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Deus está na fé que ainda insistimos em ter no outro“. (Gabriela Franco)

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • http://www.gardenal.org/inagaki Inagaki

    Texto publicado originalmente em minha URL no Blogger Brasil em 03/12/2005. Comentários deixados por lá:
    08/12/05 21:32
    Guru, Ina?
    Não, obrigado…
    Não compreendo seu critério de seleção.
    Abraçadas!
    Mario AV (w)
    # 06/12/05 20:29
    Olá Alexandre,
    Gostei muito do post. Mas o que adorei foi saber onde está Deus.
    Beijo
    Stella (@) (w)
    # 06/12/05 18:35
    allen incluiria alguns filmes nesses essenciais: a rosa púrpura do cairo, manhattan e stardust memories. eu colocaria stardust memories (que concentra todas as piadas sobre cinema, mulheres e fama, com as tradicionais cínicas ao judaísmo e vida familiar) e life and death (a última noite de boris grushenko - onde as piadas leiterárias e existencialistas se fazem mais presentes)… de qualquer maneira, desconstruindo harry foi muito bem lembrado, é um dos maiores MESMO!

    lembrou bem de “na mira da morte”, filme DATADÍSSIMO e, talvez por isso, muito legal no visual, no ritmo, etc..

    a viva e a luciana são lindas.

    a gabriela é uma filósofa. e é também muito sortuda, essencialmente, por ser nossa CHEFA.
    :>)
    Biajoni (@) (w)
    # 06/12/05 12:40
    Oi Alexandre. Entrei no seu blog por acaso e li o post sobre a violência no rio. Entrei no link e li a reportagem (q ainda não tinha visto) e pra resumir estou me sentindo enjoada e tonta. Estou sofrendo como se eu conhecesse essas pessoas… Tenho um garotinho de um ano e não me imagino na situação dessa mãe. Sou carioca e já cansei de andar nesse ônibus. Agradeço a Deua a oportunidade de ter me mudado do Rio pouco mais de um ano atrás. Onde nós vamos parar?
    Um grande bj.
    Daniela (@) (w)
    # 06/12/05 10:38
    Puxa, Yvonne, eu adoro essa palavra - loas! :) É da minha coleção! :)
    Luciana (w)
    # 06/12/05 05:35
    Ina, vou me mudar do Rio por razões outras que não a violência. Adoro esta cidade. Nasci e morei aqui por todo esse tempo, mas já estou cansada de qualquer cidade que tenha mais do que cem mil habitantes. Quero sossego. Sabe a música “Eu quero uma casa no campo …”? É por aí. O Rio é lindo, os cariocas são ótimos, mas fatos como esse maculam toda uma cidade. Você não avalia como sofremos. Sobre o assunto, eu escrevi um post no dia 03 de dezembro no Nós Por Nós. Leia se possível.
    Gostei de sua homenagem à nossa querida Viva, ela merece todas as loas do mundo. Beijocas
    Yvonne (@) (w)
    # 05/12/05 14:58
    O Rio continua lindo. E continuará lindo mesmo depois de a Floresta da Tijuca ser totalmente ocupada pelas favelas, de não podermos mais sair às ruas após o por do sol, de não podermos mais frequentar as praias devido à poluição e aos assaltos, de nossos filhos não poderem mais andar na rua sozinhos… E todas essas mazelas que inviabilizam viver em nossas grandes e desgovernadas cidades. Eu jamais me mudaria de uma grande cidade para outra igual. Não vejo perspectiva de melhora para o Rio, acredito que meus filhos viverão em um mundo pior do que o que já estamos vivendo. Fico com Cortázar, “Sob a dor física, como funda picada metafísica, abunda a literatura”. Ou seja, resta ainda a evasão da realidade através da arte, da catarse escrita. Cuide bem do seu blog, Inagaki, é um local de descanso para mentes cansadas dos massacres urbanos. Precisamos de distração e humor, contra toda essa loucura. Abs.
    O leitor (@) (w)
    # 05/12/05 14:40
    Esta cena que você relata reforça minha crença no mito do cupido. Penso que ele está em algum lugar nos observando e, de repente, solta uma flechada. O duro é quando ele não encontra um outro ser pra flechar em seguida e a gente fica assim… vendo os passarinhos e com vontade de se apaixonar…
    Não sabia que você tinha planos de se mudar pro Rio. Seria uma grande aquisição para o nosso território. Mas agora, realmente, não é um bom momento. Mas você deveria vir mais vezes pra ir fazendo uma avaliação do clima.
    Obrigada pela citação e pelo elogio.
    A Gabs é uma grande filósofa!
    Viva (@) (w)
    # 05/12/05 14:31
    ô meu querido, que fofura eu ser sua “gurua” :D amei, e você é que é o amado guru, não eu :) beijos
    zel (@) (w)
    # 05/12/05 08:57
    Oi meu amorzinho…
    Puxa vida, uma frase minha no teu blog, logo abaixo de um trecho de Baisers Volés de Truffaut…o que mais me falta na vida?
    Ahh ir no cinema e tomar aquele chopp que já foi mais protelado que exame de próstata…!
    Te adoro Ina!!! : ) Sinto falta de nossos papos emeéssenísticos…mas prefiro ao vivo, cráru.
    Beijocas nessa bochecha japonesa.
    Gabi (@) (w)
    # 05/12/05 06:17
    Quem mandou votar neles?
    viscondi (@) (w)
    # 05/12/05 00:36
    ina, o rio tah complicado mas, segundo todas as estatisticas, SP tem mais assassinatos, tantos em termos absolutos quanto em termos relativos (em relacao a populacao)…
    alex castro (@)
    # 04/12/05 07:33
    Mundo maluco: mulher que não se ama tenta se matar com remédios, desmaia; o cão que a ama tenta salvá-la e, para isso, morde seu rosto, mas, como ela está rija, arranca um pedaço; alguém que vê a cena assume que o cão atacou a mulher e o sacrifica, levando a suicida ao hospital, onde os médicos, por amor à profissão, salvam-lhe a vida e ainda realizam um transplante de rosto; a doadora era outra suicida, que se enforcou. Roteiro mórbido para uma história de amor e desamor, uma história de máscaras, uma história de limites. Apesar disso e do fogo que consome a raça humana em todos os cantos desse mundo, sim, o Rio continua lindo.
    Cláudio Rúbio (@) (w)
    # 04/12/05 00:52
    O Rio é hoje o resultado de erros do passado que hipotecaram o futuro.
    Afora as obviedades, o carioca-way-of-life e o clima inumano, é um lugar tão aprazível quanto Cidade do Leste/Paraguai.
    Aliás, de Itatiaia (o parque) prá cima é tudo paraguai …
    Falou !
    Rods (w)
    # 03/12/05 17:31
    Eu gosto de Allen independente da opinião de críticos. Mesmo aqueles tidos como repetitivos e menos dignos de grandes referências como “Escorpião de Jade”, me parecem ter um humor bem inteligente e fustigante que merecem ser repetidos ad eternum.
    Paulo Henrique (w)
    # 03/12/05 14:43
    é aqui ou lá?
    inagaki.blogger.com.br dá erro. Não existe essa página. Luz gato, luz.
    Simy (@) (w)
    # 03/12/05 14:28
    :) Obrigada. Eu gosto muito de você. Um beijo da Lu.
    PS- Aguarde meu testimonial (é assim que se escreve? - agora nao sou mais professora, sou jornalista! :p), sim? ;)
    Luciana (@) (w)
    # 03/12/05 11:50
    Ina escrevendo no site da Antena?
    Que interessante. um dia explico.
    abração!
    (e a fala do homem misterioso é mesmo aquela que alguns de nós gostaria de ter dito, assim como um prego torto finalmente vencido pelo martelo. eita)
    enio (@) (w)
    # 03/12/05 08:22
    Fui uma vez ao Rio e voltei mais tensa do que estava antes das férias. Devo retornar lá mais vezes, já que meu cunhado mora lá e pelo menos uma vez por ano, meu marido vai vê-lo. Mas é triste a situação lá.
    Uma pena
    Claudia Draper (@) (w)
    # 03/12/05 05:42
    Pois é meu Caro Nipônico (e muito amado) Amigo,
    quem sabe um dia eu vá ao rio,mas por enquanto nem pensar. Fiquei absolutamante escandalizada com as cenas de barbárie que vi.
    Mas eu tenho fé, eu tenho fé!
    Beijos e como sempre, saudades da
    Carol
    Carol (w)
    # 02/12/05 23:04
    A atual cena política brasileira causa uma enorme gorfada hedionda em todos nós.
    Rafael (w)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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