Pobres Paquitas
Por Alexandre Inagaki ≈ domingo, 25 de agosto de 2002
Um dos aspectos menos comentados no rompimento da parceria entre Xuxa e Marlene Mattos foi o desemprego repentino de todas as paquitas. Chacretes pós-modernas, essas assistentes de palco de dona Maria da Graça Meneghel representaram por muito tempo o emprego dos sonhos de toda ninfeta desocupada, e a tara secreta que alimentava a porção Humbert Humbert de todo chefe de família. As paquitas surgiram em 1984, junto com o primeiro programa capitaneado pela parceria Xuxa-Marlene Mattos, o Clube da Criança, na finada TV Manchete. A origem do vernáculo “paquita” veio de um bicho de estimação da ex do Pelé, um papagaio bobviamente chamado de Paquito. Andréa Veiga, a primeira de todas, herdou o apelido e até hoje é chamada carinhosamente pelos amigos de “paca”. Trajava uma roupa semelhante à de um soldadinho de chumbo, só que com shorts minúsculos, para o deleite dos altinhos. Sua principal tarefa: ajudar a ex do Ayrton a controlar a pentelhada enquanto rolavam as brincadeiras do programa. Foi capa da Playboy em 1989.
À semelhança das chacretes, que recebiam do Velho Guerreiro Abelardo Barbosa alcunhas esdrúxulas como Sueli Pingo de Ouro, Soninha Toda Pura e Ester Bem-Me-Quer, as paquitas subseqüentes começaram a ganhar apelidos, hum, originais. A começar por Andréia Faria, vulgo “Xiquita Sorvetão”, primeira paquita da era Globo, quando a ex do Szafir passou a apresentar o Xou da Xuxa, em 1986. Esta também faturou alguns cobres posando nua: Playboy em 1995, e Sexy em 2002. “Pituxa Pastel” foi outra que se deu bem: trata-se de Letícia Spiller, intérprete da Babalu na novela Quatro por Quatro, e da vilã Maria Regina, em Suave Veneno. Bianca Ranaldi, a.k.a. Xiquita Bibi, também garantiu seu ganha-pão: fez o papel-título da novela do SBT Pícara Sonhadora, e apareceu nua na revista Sex Way em 2000. Merecem menção ainda: Ana Paula Almeida, a “Pituxita Bonequinha”, por ter namorado o Romário em 1995; Juliana Baroni, a “Catuxa Jujuba”, que atuou em obras inolvidáveis do cinema nacional como Gaúcho Negro e Sonho de Verão; e Luciana Vendramini, que nem paquita foi, a despeito da chamada de capa da Playboy em 1987 (ela fez apenas testes para o programa da Xuxa). Mesmo assim, reinou por muito tempo como musa das poluções noturnas de muito pivete nos anos 80, até se casar com o vocalista do RPM Paulo Ricardo e sumir feito Neuzinha Brizola, Lidia Brondi, Alice Pink Punk, Shigueaki Uéki e outras figuras sui generis da época. Como você pôde viver sem saber destas coisas? Ok, não tem de quê…
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.