A palestra de Neil Gaiman na Digital Minds Conference
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 30 de abril de 2013
Soube, através do Trabalho Sujo do Matias (e do Vitralizado do Ramon Vitral), que o Neil Gaiman deu recentemente uma palestra na London Book Fair, sobre o futuro dos livros e da indústria cultural em geral. Sua fala está disponível no vídeo abaixo.
Ano passado, Gaiman já havia feito um discurso simplesmente magnífico aos formandos de uma turma na University of the Arts da Filadélfia, conhecido com o nome de “Make Good Art” (e que já virou livro). Pelo visto, o criador de Sandman está se especializando em dar ótimas palestras também. E assim, graças ao trabalho de Cíntia Citton, que a meu pedido transcreveu e traduziu a fala de 30 minutos de Neil na Digital Minds Conference da London Book Fair, publico a seguir o relato de Gaiman sobre o futuro dos livros impressos, suas experiências com internet e suas reflexões sobre os rumos da indústria cultural.
Em 1976 eu era um roqueiro punk e tinha uma banda, porque é isso que se costumava fazer. Fomos convencidos pelo homem que nos vendeu os instrumentos de que seria uma boa nos sindicalizarmos. E tudo que lembro sobre pertencer ao sindicato dos músicos é que eles nos davam adesivos amarelos, para serem colados nos instrumentos, com esta frase: “Gravações caseiras estão matando a música.” O que esses adesivos queriam dizer é que a possibilidade do público reproduzir em cassetes a mesma música que estava sendo vendida na forma de vinis tiraria os músicos do negócio e faria com que parassem de ganhar dinheiro. E, é claro, gravações caseiras realmente mataram a música. Ou algum tipo de música. E foi uma morte incrivelmente demorada e saudável.
Pessoas que usavam gravações caseiras e fitas K7 para fazer mixtapes, espalhando música por aí, e que descobriram novas canções através dessas fitas, ficaram comoventemente surpresas ao descobrir que eram as responsáveis pela morte da música. Especialmente quando os CDs surgiram, obrigando a gente a sair e comprar de novo toda a música que já tínhamos antes, fazendo muita gente ficar rica. Muito, muito dinheiro estava sendo gerado. Mas tudo isso não passou de um grão de areia.
Mudando de assunto. Sou completamente fascinado por calendários. Há uma história sobre um homem que gastou uma quantidade absurda de dinheiro fazendo calendários velhos e depois não tinha onde colocá-los. Ele lotou sua própria casa com os calendários, pilhas e pilhas na cozinha. Sua mulher disse que ele era um idiota por gastar tanto com aquelas coisas que ninguém queria. Ele respondeu: “Isso é o que você acha, mas se o ano de 1993 algum dia voltar eu venderei tudo!”.
Antes de Douglas Adams morrer, lembro de um papo que tive com ele sobre e-books, muito antes deles começarem a ser conhecidos com esse nome. Mas Douglas havia previsto e descrito os e-books em O Guia do Mochileiro das Galáxias, e era óbvio que eles seriam criados algum dia. Perguntei se ele acreditava que e-books significariam o fim dos livros impressos.
Douglas respondeu: “Neil, lembre-se de que tubarões já existiam na época dos dinossauros. E que alguns até mesmo antecederam os dinossauros. Mas os tubarões ainda estão por aí, porque nunca, jamais surgiu algo tão bom em ser um tubarão quanto eles próprios. Por isso eles permanecem.” E continuou: “Livros são muito bons como livros. Funcionam até com energia solar, é genial! Eles não estragam se caem na banheira. Podem inchar, mas permanecem legíveis. E são incrivelmente portáteis!”. E, é claro, até certo ponto ele tinha razão.
Mas o mundo digital representou o fim de alguns dinossauros: enciclopédias. Eu lembro de ter visto vendedores de enciclopédias batendo na porta de casa. Apenas um, na verdade. Mas ele era, sim, um vendedor, e eu ainda tenho enciclopédias em casa. A clássica Enciclopédia Britânica, um conjunto de livros antigos comprados pelo meu pai nos anos 60. Eram pesados, enormes, ocupavam espaço, raramente eram consultados e já estavam desatualizados quando você os recebia. O Guia do Mochileiro das Galáxias, conforme previsto por Douglas, era uma enciclopédia que poderia ser atualizada em tempo real. E as enciclopédias desapareceram.
Livros podem ser tubarões, ao menos alguns, mas bibliotecas particulares definitivamente não. Quando eu estava escrevendo Deuses Americanos, tive que comprar um carro só pra poder transportar as obras que precisava para fazer pesquisas sobre a Flórida, que é onde estava escrevendo o livro. Bibliotecas particulares são pesadas e nem um pouco portáteis.
Ganhei um Kindle antes dos Kindles estarem disponíveis pra vendas, só para testá-lo. Dei uma olhada nele e pensei: “Você é feio, um pouco desengonçado e parece estúpido.” E então, alguns dias mais tarde, entrei num avião rumo à Hungria, onde iria passar duas semanas com minha filha de 12 anos, quando nos demos conta de que ela não tinha nada para ler, e de que em Budapeste dificilmente haveria algum livro que pudéssemos comprar para ela. Entre nos darmos conta disso, sentarmos no avião, as portas se fecharem e o voo decolar, fiz o download de uma dúzia de livros, suficientes para distraí-la por duas semanas. Ao ver como ela pegou o Kindle, me dei conta de que o conteúdo já estava sendo consumido de outras formas. A era digital estava definitivamente chegando.
Não estava completamente certo disso, porém. E ainda tinha dúvidas se esse era o caminho do futuro, até que notei que podia aumentar o tamanho das letras, tornando-as mais legíveis, e reduzindo o brilho da tela. Pensei: “Taí um aplicativo matador.” Porque normalmente a tecnologia é voltada para os jovens, mas no caso do Kindle ela é dirigida justamente para os luditas. Porque, conforme vamos envelhecendo, nossos olhos já não são os mesmos, e a ideia de um livro no qual você pode tornar a letra mais legível mudaria tudo.
A certeza veio quando estive em Manila, pouco depois do lançamento comercial do Kindle, e comecei a conversar com o pessoal de uma livraria que me disse que, se dependesse deles, parariam de vender livros impressos. Porque lá nas Filipinas todos compravam livros se baseando pelos preços, e os livros digitais seriam muito mais baratos. Percebi aí que o futuro seria mais estranho e diferente do que qualquer coisa que eu tivesse imaginado.
Em 1997, estive num jantar organizado pelo jornal Cleveland Plain Dealer. Estávamos eu e um dois autores da lista de best-sellers do New York Times. Naquela época eu não tinha escrito best-sellers ainda. Eu era o esquisito, o cara estranho que serviria de distração. Um deles foi autor de best-sellers, não muito famoso, mas os livros dele o tinham sido no passado. Já o outro era um dos grandes, um poderoso e importante autor de policiais, com lugar cativo no topo das listas.
Quando os autógrafos começaram, após o evento, na minha fila havia gente que parecia deslocada, que nunca tinha estado num jantar do Cleveland Plain Dealer na vida deles: crianças mal comportadas, geeks, colecionadores de quadrinhos. Mas eles estavam lá, e bem animados. Quanto aos outros autores, suas filas tinham belas e elegantes senhoras, daquelas que usam casaco e blusa combinando e colar de pérolas. Eram pessoas de aparência respeitável, e eu pensei: “Isso é tão interessante, eu nunca vou ter uma dessas senhoras que usam twin-set e pérolas na minha fila, elas não são o meu público.” Mas então aquele autor incrivelmente famoso olhou para um livro que foi entregue a ele por uma senhora muito distinta (usando twin-set e pérolas), e ele ficou de pé e disse: “Me recuso a autografá-lo, olhem para isso!”. Ele segurou o exemplar de modo que todos pudessem vê-lo, e disse: “Isto veio de uma biblioteca! Por que eu o autografaria? Não ganhei nada com isso.” E ele se sentou, recusou o autógrafo e chamou o próximo da fila, que segurava um livro novinho em folha nas mãos.
E então vi muitas das senhoras que estavam no fim daquela fila - senhoras distintas, trajando twin-sets e pérolas - indo até a livraria, comprando cópias de Stardust e passando para a minha fila. Porque eu autografo tudo. E autografo qualquer coisa com prazer, porque me dou conta de que gostam do que eu faço, de que gostam de mim. Se agora mesmo não podem pagar por um livro novo, talvez algum dia possam fazê-lo. Enquanto isso, eu lhes dou algo para amar, e espero que eles saiam por aí dizendo aos conhecidos deles que têm um livro que eles adoram e digam: “Dê uma olhada.” Não me importo que sejam cópias de Belas Maldições que rodaram o mundo com eles, que em algum momento foram derrubados na sopa e permaneceram inteiros, graças a fita crepe e amor. Não ligo. O importante é que eles tenham os livros, que gostem deles e que falem disso aos seus amigos.
Quando as pessoas me perguntam, ao longo dos anos, sobre acabar com a pirataria, sobre impedir que elas leiam coisas e baixem coisas de graça, costumo pedir, nessas salas lotadas, para que as pessoas que tenham um autor favorito levantem a mão. Muitas mãos se erguem, e então eu pergunto: “Ok, quem descobriu seu escritor predileto…” - e vocês sabem, um autor favorito é o tipo de pessoa que quando escreve e lança algo novo você vai lá e compra, porque você precisa ter aquele livro ou qualquer outra coisa que ele faça - e as mãos permaneciam no alto - “… indo a uma livraria e comprando um livro?”. Algumas poucas mãos continuaram levantadas. “E quem encontrou esse autor por indicação de alguém, ou porque alguém lhe deu o livro, ou porque você simplesmente o achou em uma livraria, o abriu em alguma parte e gostou da capa?”. Na maior parte das vezes alguém simplesmente lhe entregou um livro e disse: “Dê uma olhada nisso, você vai gostar.” É aí que as mãos se levantam. Não encontramos as pessoas que amamos comprando-as. Primeiro nós as encontramos e só depois é que descobrimos que as amamos. Por isso decidi desde cedo que não iria entrar em uma guerra. Prefiro incentivar, apostar no boca a boca.
“Gravações caseiras estão matando a música. Gravações caseiras estão matando os livros.” Bem, agora a música é cada vez mais e mais fácil de ser copiada, basta fazer isso com um clique. E assim, pouco a pouco, o que passa a ser valioso na música é o que é considerado único, o que não pode ser reproduzido com um clique: ir a um concerto, comprar uma camiseta que só é vendida naquele show. Pessoas pagam o triplo por uma camiseta dessas. E você faz isso em um show porque é a prova de que você esteve ali, participando de uma experiência única.
A indústria editorial existe para criar um monte de coisas que são exatamente as mesmas. Copyright é como, o porquê e quem tem o direito de copiar. O desafio que estamos encarando agora é o da mudança. Na maior parte da história da humanidade, a questão que surgia com os livros era a de como obtê-los, eles eram objetos escassos. A informação era escassa, os objetos físicos eram escassos, tudo era escasso.
De novo, 1976. O Neil roqueiro punk, com aqueles adesivos amarelos: “Gravações caseiras estão matando a música.” O único meio que eu tinha de encontrar obras dos escritores que eu adorava era encarando longas horas em viagens de ônibus a lugares tão remotos quanto West Croydon, talvez tão longínquos quanto Stratton, onde era possível comprar livros cujos carimbos estampados em suas capas diziam que se você os trouxesse de volta poderia trocá-los pela metade do preço. Era difícil encontrar coisas na solidão das livrarias.
De repente, o mundo mudou. Agora a questão é: tudo está lá fora, como encontrar as coisas boas, como nos fazer ouvir num mundo de excesso de informações? Passamos dos problemas de escassez a problemas tão reais quanto, mas agora de abundância. O segredo agora é encontrar o sinal em meio ao ruído, é conseguir ser ouvido. Um mundo no qual qualquer um pode publicar qualquer coisa, de excesso de informações, é um mundo no qual já não confiamos em guardiões de portas tanto quanto no passado, acreditando mais em guias e recomendações que nos apontem o que é bom. Nós confiamos no boca a boca, e na sorte, e em nos transformarmos em dentes-de-leão.
Todos nós somos mamíferos - assim espero -, e nos esforçamos tremendamente para educar nossos filhos: 15, 16, 17, 18 anos - com educação superior, até uns 22 ou 23 anos -, e você ainda os está criando, depositando esforços e vida nisso. Dentes-de-leão não se importam, eles simplesmente têm milhares de sementes e as jogam ao vento. E, até certo ponto, conforme passa o tempo, estou apreciando muito essa coisa de ficar atirando coisas ao vento.
Há dois dias eu estava em Nova York, entediado em um almoço, e comecei fazer desenhos na toalha de papel da mesa. Quando acabei a refeição, estava levantando da mesa quando minha mulher olhou para baixo e perguntou: “Você vai fazer algo com isso?”. E eu respondi: “Não, vou deixá-lo aqui pra que joguem fora.” E ela disse: “A gente deveria fazer algo com isso, é um belo desenho.” Então ela o pegou, o dobrou, saiu, colocou o desenho debaixo de uma pedra próxima ao restaurante, tuitou uma foto dela mesma fazendo isso e informando a localização. E ela disse: “Retuite isso, algum de seus fãs vai encontrar esse desenho e ficará feliz.” E eu disse: “Ok!”.
Então caminhamos uns setenta segundos até nosso hotel, subimos até o quarto e ela disse: “Ei, você já não precisa dar RT, alguém já o achou.” E eu disse: “Muito bem!”. Então ela disse: “Ah, as pessoas que encontraram o desenho trabalham na edição americana do The Guardian.” E eu pensei: “É, isso é legal.” Ela disse: “Fica ali do outro lado da rua.” E assim, no dia seguinte, assumi a conta do Twitter do @GuardianUS. Tinha ido lá só para dar um alô ao pessoal que encontrou o meu desenho e eles disseram: “Você quer tuitar em nosso perfil?” Respondi: “Claro!”.
Hullo @guardianus followers. This is @neilhimself. I am in the offices, drunk with power! Resisting the temptation to MAKE UP NEWS! So far.
— GuardianUS (@GuardianUS) April 12, 2013
E fiquei pensando: “Será que é cedo demais? Eu posso inventar notícias, eu estou com o @GuardianUS, eu tenho o poder! Devo postar que a Margareth Thatcher se levantou dentre os mortos? É cedo demais! Será cedo demais? É, acho que é cedo demais.” Tive uma experiência maravilhosa assumindo aquele perfil de Twitter. No fim do dia, um dos lugares que estão vendendo meu novo romance, The Ocean at the End of the Lane, postou no Twitter que houve um enorme aumento nas vendas de exemplares, algo que eles atribuíram ao fato de eu ter assumido a conta do Guardian. Pensei: “Taí um estranho, inesperado resultado.”
No dia seguinte, estávamos almoçando com Art Spiegelman, que fez Maus, e contamos a ele o que tinha acontecido. Ele disse: “Que ideia genial!”. E desenhou em um guardanapo inteiro. Era um guardanapo Art Spiegelman! Um guardanapo de cardápio. Um cardápio do Art Spiegelman, que fantástico! Coberto de desenhos! E, de novo, nós o escondemos, e Amanda tuitou, e as pessoas saíram em busca daquilo. Mas alguém o achou e o jogou fora. Algumas vezes isso funciona, outras não. Não tenho certeza de porque algumas coisas vingam, outras não. Divulgo no Twitter um novo projeto de crowdfunding, as pessoas olham, ficam absoluta e totalmente indiferentes, e aquilo fica ali parado sem que nada aconteça. Mas, ainda assim, eu abraço esse tipo de iniciativa. Nós temos que nos tornar dentes-de-leão.
Recentemente fui contatado pelo pessoal do Humble Bundle - um sistema de “pague o quanto quiser” por um pacote de conteúdos digitais -, e eles disseram: “Vamos subir alguns livros e disponibilizar alguns romances e graphic novels que adoramos, você tem alguma coisa pra gente?”. E eu olhei e vi que ainda tinha os direitos de um livro chamado Signal to Noise, publicado há alguns anos na The Face. Era antigo, os direitos digitais estavam totalmente livres e liberados, e eu disse: “Claro, vocês podem usá-lo”. Nós o disponibilizamos online e eu chamei mais algumas pessoas para essa iniciativa, como John Scalzi, que colocou Cory Doctorow no circuito. Um livro aqui, um outro acolá, e o Humble Bundle juntou todas as nossas obras. Resultado: arrecadação de cerca de 1 milhão de dólares, e quase tudo foi para a caridade. Eu e Dave McKean, o ilustrador de Signal to Noise, ficamos com cerca de 78 mil dólares, graças a uma obra que estava parada e que a gente mal lembrava que tinha feito. Isso foi incrivelmente educativo.
Quando eu conto essa história, as pessoas perguntam: “Isso quer dizer que vou ganhar uns 80 mil dólares se eu subir algo numa plataforma do tipo pague-quanto-quiser?”. E eu digo: “Não, quase certo que não. Sequer significa que da próxima vez que eu decidir fazer isso conseguirei esse tanto de dinheiro. Isso só quer dizer que aconteceu desta vez.” É como um dente-de-leão: as sementes partem, flutuam e somente algumas delas pousam em lugares nas quais podem crescer.
Mencionei anteriormente que adoro calendários. A Blackberry entrou em contato comigo recentemente, me perguntando se eu tinha alguma coisa que desejava fazer usando mídias sociais. Colocaram todos os recursos deles à minha disposição, e eu disse: “Posso testar seu novo aparelho antes?”. Fiz isso, gostei e propus: “Ok, vou fazer algo, quero experimentar algo que ainda não foi feito reunindo pessoas em mídias sociais.” E então tuitei doze posts com perguntas simples.
Why is January so dangerous? #keepmoving #JanTale
— Neil Gaiman (@neilhimself) February 4, 2013
What is the most unusual thing you have ever seen in July? Use the #JulTale hashtag. (No need for #keepmoving or #BlackBerry10)
— Neil Gaiman (@neilhimself) February 4, 2013
Who would you like to see again in December? Don’t forget #DecTale in your replies, learn more: blck.by/WJXMUs #BlackBerry10
— Neil Gaiman (@neilhimself) February 5, 2013
Não esperava o tipo de resultados que surgiram. Todas essas coisas tornaram-se trending hashtags. E senti, naquele primeiro momento, que coisas grandes e belas estavam acontecendo. Havia uma espécie de movimento artístico inédito acontecendo no Twitter, enquanto pessoas mandavam replies e eu retuitava suas respostas para o mundo. E então selecionei doze respostas, quase que aleatoriamente, entre as centenas de milhares que recebi, e eu as peguei e escrevi um conto para cada mês, durante três loucos dias. O quão rápido consigo escrever doze contos? A resposta foi: três dias, alguns deles terrivelmente longos. E, depois, eu os joguei de volta para o mundo.
Eles foram publicados em uma página, a BlackBerry Keep Moving, e eu disse: “Ok, agora façam arte. Vocês podem fazer qualquer tipo de arte que queiram: fotografar, pintar, desenhar, fazer teatro, vídeos.” Gravei áudios e disse: “Se vocês quiserem usar isso, como trilha sonora para os vídeos, vão em frente, façam arte.” E eu vi milhares e milhares de pessoas se envolvendo, e fiquei ali enquanto criavam, e dei uma olhada em mais de cinco mil peças únicas de arte, tentando selecionar algumas para serem apresentadas no site. E senti que o melhor de tudo isso tinha sido usar a internet, o Twitter, para fazer arte de uma forma literalmente inimaginável há uma década.
Comecei a trabalhar recentemente em um projeto intitulado Estas Páginas Caem como Cinzas, que será uma história contada por dois livros. Um deles será um belo livro artesanal de madeira, com informações dentro, no qual você poderá escrever coisas suas. O outro será um texto digital, escondido em hard drives espalhados pela cidade de Bristol, para ser lido em algum dispositivo móvel. A ideia é fazer dois livros juntos, criando uma experiência singular de leitura, que se tornará uma história sobre um momento em que duas cidades se sobrepõem, existindo no mesmo espaço e tempo, mas inconscientes uma da outra até agora, e as pessoas que encontrarem essas coisas em seus dispositivos móveis se tornarão parte dessa história. De novo: é aquela coisa de criar algo que seria literalmente inimaginável, porque não tínhamos as ferramentas ou a tecnologia para imaginar.
Me preocupa saber que muitos de nós, assim como o homem da minha historinha do calendário no início, estejam convictos ao pensar: “Ah, se a gente pudesse ter 1993 de volta para vender tudo.” Se prendermos nossas respirações e fecharmos nossos olhos, vigiando nossos portões com armas maiores e mais potentes, então o tempo voltaria para trás, e o ontem voltaria a acontecer, e todos nós conhecemos as regras do passado. Os passos para publicação eram simples: autores, agentes, livros, almoços incrivelmente demorados… Aquilo era o mercado editorial. Não mais.
Nos dias atuais, os portões vigiados estão em lugares onde há cada vez menos muros reais. Na música, os muros já caíram há tempos, junto com a venda de objetos físicos. As gravações caseiras não mataram a música. Ela está por aí, passando muito bem, sendo feita cada vez mais. O pulo do gato é descobrir como encontrar as coisas boas. Ou, para as pessoas que criam músicas, descobrir uma maneira de monetizar o que estão fazendo. As coisas mudam. Monges costumavam levar de 5 e 20 anos - de acordo com um link que me mandaram pelo Twitter quando eu perguntei - para produzir uma Bíblia completa. Uma porção de “horas-monge” e de scriptoriums integralmente utilizados. Aquele tipo de trabalho, aquele mundo, tudo desapareceu com a invenção da imprensa. E nada, jamais, vai trazer isso de volta.
As pessoas me perguntam quais são as minhas previsões para o mercado editorial, e de que modo a era digital está mudando as coisas, e eu digo para elas minha única previsão real, que é: “Tudo ainda está mudando.” Eu não sei como será publicar dentro de cinco anos. Qualquer um que diga que sabe provavelmente estará mentindo. Eu não sei, e ninguém mais sabe.
Amazon, Google, todas essas coisas provavelmente não são os inimigos. Eles publicam, não devem ser o inimigo. Os inimigos são aqueles que recusam entender que o mundo está mudando. As pessoas me perguntam se eu acho que elas deveriam estar vigiando melhor seus portões, com mais cuidado. E eu digo: “Sim, claro, por que não? Faz tanto sentido quanto qualquer outra coisa.” Não procuro soluções a longo prazo para os problemas e desafios encontrados pelos editores. Estou perfeitamente disposto a reconhecer a possibilidade de que nós, escritores, somos apenas um grão de areia em uma pequena fração de tempo na qual pessoas boas em inventar histórias podem negociar suas habilidades por um pouco mais que um jantar e algum reconhecimento.
Espero que uma de nossas tarefas nesta era da publicação digital seja fazer livros, livros físicos, que sejam melhores, mais bonitos, mais refinados. Deveríamos estar fetichizando objetos, dando motivos para que pessoas os comprem, e não só conteúdo, se o objetivo é vender objetos a elas. Mas poderíamos apenas voltar à ideia de que não se julga um livro pela capa.
Em Fahrenheit 451, Bradbury escreveu um livro sobre queimar livros. No final, ele nos fala que, se pessoas são livros, se livros são lembrados por pessoas, então o conteúdo é tudo. Não se julga um livro por sua capa, e algumas vezes essa capa pode ser uma pessoa. Ter lido isso quando era muito jovem foi provavelmente o que me fez pensar que capas e cópias não são tão importantes. Talvez possamos ir completamente além dos livros físicos, podemos decidir que aquilo que imaginávamos que eram tubarões na verdade não passavam de pombas passageiras.
Podemos imaginar um mundo no qual um autor não ganhe dinheiro vendendo livros, mas sendo remunerado por leituras. Um mundo em que você compra um exemplar impresso e automaticamente ganha também suas versões para e-book e audiobook. A verdade é que qualquer coisa que inventarmos provavelmente estará certa. Esta é a hora dos dentes-de-leão. Abrace o novo do mesmo modo que abraçamos o velho. Estamos na fronteira e não há regras aqui. Nos limites, podemos quebrar leis que nem existem ainda. Podemos entrar por portas que ainda dizem “saída” e escalar janelas.
O modelo para amanhã é o mesmo modelo que venho usando com entusiasmo desde que comecei a blogar, em 2001, e talvez o mesmo que uso desde que comecei a acessar a internet através da Compuserve, em 1988. O modelo é: tente de tudo. Erre. Surpreenda-se. Tente outra coisa. Fracasse. Fracasse melhor. Tenha sucesso de modos que jamais teríamos imaginado há um ano, ou há uma semana. Este é o momento de sermos como dentes-de-leão, lançando milhares de sementes e perdendo 900 delas. Se uma centena, ou mesmo uma dúzia delas sobreviverem, crescerem e gerarem um novo mundo, creio que isso será bem mais sábio do que esperar que 1993 volte outra vez.
Obrigado.
A seguir, confira a transcrição em inglês que Cíntia Citton fez da palestra de Neil Gaiman.
Hello,
So, in 1976 I was a punk rocker, and I had a band, ‘cause that’s what you did. And we were talked by the man we bought our instruments from into joining the musician’s union. And all I really remember about joining the musician’s union was they gave you these yellow stickers to put on your instrument cases. And they said: “Home taping is killing music”. What they meant was, that the ability of the public to reproduce on cassettes the same music that have been previously only sold as objects, as vinyl, was going to put musicians out of business and stop them from making money. And, of course, home taping did kill music, or a kind of music. And it was an incredibly long and healthy death.
People who used home taping and cassettes to make mixtapes to spread music around, people who found new music through mixtapes were endearingly surprised to know they were killing music. Specially with the arrival of the compact disc, that we all had to go out and buy the music we already owned all over again, making everybody pretty rich. Money was being made, lots and lots of money. But it was a blip.
Changing the subject. I’m completely fascinated by calendars. There’s a story about a man who spent a ridiculous amount of money on a job lot of old calendars and had nowhere to put them. Filled his house with them, calendars in the kitchen, stacks of them, and his wife told him he was an idiot to spend all that on old calendars that nobody wants. And he said, “you may think that if you like, but if 1993 ever comes back, I’m gonna cleanup”. (laughs)
So, long before he died, I remember talking to Douglas Adams about e-books, long before they were e-books. But Douglas had predicted, and warned, and described e-books at “The Hitchhikers Guide to the Galaxy” and it was obvious that they would be along one day. And I asked him if he thought that the inevitable e-books would mean the end of the book, the end of the physical object. And Douglas said: “Neil, remember that sharks were around at the same time as the dinosaurs. Some sharks predate the dinosaurs. But they’re still around, and that’s because there’s never, nothing has ever come along that is quite as good at being a shark as a shark is. So they last”.
He said: “A book is really good at being a book. It’s solar operated, it’s brilliant. They don’t die if they drop at the bathtub, they may swell. They’re still readable, they keep going, they’re incredibly portable”. And, of course he was right, up to a point, but digital meant the end of several dinosaurs: encyclopedias.
I actually remember an encyclopedia’s salesman knocking on my door, much as one, but he was an encyclopedia’s salesman, and I still have encyclopedias at home. Ancient Encyclopedia Britannica: a set of old books that was bought for me by my dad in the 60′s. They were heavy, they were huge, they took up room, they were rarely consulted, they were out of date when you got them. “Hitchhiker’s Guide to the Galaxy”, as predicted by Douglas, was an encyclopedia that could be updated on the fly. And encyclopedias ended. Books may be sharks, some books, but home libraries definitely weren’t.
When I was writing “American Gods” I actually wandered buying a car just in order to transport the books that I needed to research the Florida where I was going to be writing the book. Home libraries are heavy, they’re not portable.
I was given a Kindle before Kindles were commercially available just to try out. An I looked at it and thought: “You’re ugly, you’re a kind of clunky, you look stupid…” And then, a couple of days later, I got into a plane to Hungary, where I was going to be for two weeks with my 12 year-old daughter, and we realized that she had nothing to read and probably in Budapest there wouldn’t be anything that we could buy for her to read. And between realizing this, sitting down on the plane, and the plane door being closed, and taking off, I downloaded a dozen books, enough to entertain her for the two weeks. Watching how she took to the Kindle I realized content was gonna try on further packaging, and that digital was definitely happening.
But I wasn’t completely certain, I was uncertain if this was the way at the future, until I noticed that I could make fonts larger and more readable in dim light. And I thought “that’s the killer app”, ‘cause normally technology gets driven by the young, but here it’s gonna be driven by the luddites, because, as we get older, our eyes are not what they were, and the idea of the book where you can actually make the font readable is gonna change everything.
But it wasn’t until I went to Manila very, very shortly after the Kindle had come out, and started talking to a bookstore where they were, as far as they were concerned, the physical book that they were selling was done. Because in the Philippines everybody was buying books based on price and digital books were gonna be cheaper, that I realized the future was stranger and more different from anything that I had imagined.
In 1997, I was at a dinner held by the Cleveland Plain Dealer, a newspaper, and there was me and a couple of New York Times’ bestselling authors and I wasn’t any New York Times’ bestselling author at that point, I was the weird one, I was the entertaining one that they got in to be weird. One guy was a New York Times bestselling author, not particularly famous, but his books were at old times, the other guy was a huge, powerful, important crime writer, with a reserved parking place at the top of the bestselling list.
And the signing started, after the Cleveland Plain Dealer dinner, and I had a line of awkward-looking people who had never been to a Cleveland Plain Dealer dinner in their lives… Doth kids and geeky people, and just people collecting comics and, they were there, they were excited, and then for the other authors, there were nice looking ladies with twin-sets and pearls, and they were respectful looking people, and I thought: “That’s so interesting, I will never get any of those twin-set and pearls ladies, they are not my people.”
And then the incredibly famous author looked down to the book that was put in front of him by a very nice lady (twin-set and pearls), and he stood up, and he said “I’m not signing this, look at this”, and he held it up so that everybody could see it and he said: “This book was a former library book, why would I sign this, I get nothing for this”. And he sat down, refused to sign it and started on the person behind him, with a nice brand new book.
And I watched as several of the ladies, the nice twin-set and pearl ladies, from further back in his line, went over to the bookstore, bought copies of “Stardust” and came in join my line. Because I signed anything. (laughs) I will happily sign anything, I figure that they like my stuff, they like me. If they can’t afford a new book, maybe one day they will. And in the meantime, I’ll give them something to love, and in the meantime I want them to go out, and tell their friends that there’s a book they love and “here you go”, and look, it doesn’t matter to me, that they’ll give me copies of “Good Omens” that have been around the world with them, and at some point dropped in soup, and then held together, with sellotape and love. Doesn’t matter. What matters to me is that they have the books and they love them, and they’ll tell people about them.
When people ask me about, as obviously they have over the years, about stopping piracy, about stopping people reading things, about stopping people finding things for free, what I’ve normally done in the past, is ask (room full of people) just to give me a show of hands on who has a favorite author. Lot of hands will go up. And then I’ll ask, “ok, who found that favorite author by going…”(you know, a favorite author, the kind of person where if they write something, if they bring something out you will go and buy it, you will get that book, anything they do) and hands stay up and I say “ok, who found that author by going into a bookshop and buying a book?”
I’ll maybe have a couple of hands still up. And I say “who found that author because somebody said “here you go”?, somebody gave it to you for free, you’ve found it on a library, you picked it up somewhere, you liked the look of the cover… More often just someone handed it and said “take a look at this, you’ll like this” - and that’s where the hands go up. We don’t normally find the people we love most by buying them. We encounter them, we discover we love them. So I decided early on, I was never gonna go to war, I was just gonna encourage, I was gonna go for word-of-mouth.
“Home taping is killing music. Home taping is killing books”. Or at least, in music it became easier to copy music, and easier and easier to copy music, and you could do it with a click. And slowly, in music, what started to become valuable was what was unique, what couldn’t be reproduced with a click: attending a concert, buying a t-shirt that was only available at the concert… People would pay this, nowhere else, people would pay 30 quid for a 10 pound T-shirt. “I’ll do it on a concert”, because it shows they were there. It’s an experience, it’s something unique.
Publishing is an industry that exists to create a lot of things that are exactly the same. Copyright is who has the right to copy. It’s why, and it’s how. And the challenge we are facing is one of change. For most of human history the question that came with books was a question of how do we obtain it, these things are scarce. Information is scarce, a physical object was scarce, it’s all scarce. Again, 1976, punk rock Neil, with this yellow “home taping is killing music” stickers, the authors I loved, the only way that I could find those authors was spending long bus trips going into the wilds of West Croydon, possibly even as far as Stratton, to places you could buy books from, for the stamp in their covers that said if you brought them back you could exchange them for half price. It was hard to find things. Into library loneliness.
And suddenly the world has changed. Now the question is: everything is out there, how do we find it, how do find the good stuff, how do we make ourselves heard in a world of too much information. We’ve moved from problems of scarcity to problems equally as real, of abundance. The trick becomes finding the signal in the noise and the trick becomes making yourself heard. A world in which anyone can publish anything, in which there’s too much information is one in which we no longer rely on gatekeepers as we once did, but we rely on guides and on recommenders to point us to what’s good. We rely on word at mouth, and we rely on luck, we rely on becoming dandelions.
Mammals, which all of us are (I hope), put a tremendous amount of effort at raising our children. And what we do… A child - it’s, you know, a solid 15, 16, 17, 18 years, and go on to higher education it can be 22, 23 years and you’re still raising these things and you put effort and you put life into it. Dandelions don’t care, they just have thousands of seeds and they throw them to the wind… And there’s a level on which, as time goes on, I’m enjoying throwing things to the wind.
Two days ago, I was in New York, bored of a lunch, and I started drawing on the paper tablecloth, and I just did a drawing on the paper tablecloth and, at the end of the meal I was getting up and my wife looked down, she said “Are you doing anything with that?”. And I said: “No, just leaving it behind for them to throw away”. And she said: “We should do something with it, it’s a pretty drawing”.
So she “stole” it, folded it up, walked outside, put it under a rock by the restaurant, and twitted a photograph of herself putting it under a rock and the location. She said “You can retweet that, some of your fans, someone will find it and we’ll make them happy”. And I said “ok”, and we walked the seventy seconds to our hotel, went up to our room and she said: “Oh, no point you retweeting it, somebody has already found it”. (laughs)
I said: “Fair enough”. And she said: “Oh, people who found it work for The Guardian US”. And I thought: “Yeah, that’s nice”. She said: “They’re just over the road”. And which is why the following morning I’ve found myself taking over The Guardian US twitter account. (laughs) ‘Cause I went in to say hello to the people who found the drawing and they said “Would you like our twitter account?” I said “Sure”.
Thought it “Is it too soon? I can make up news, I have the Guardian US, I have the power!! Shall I tell them that Margareth Thatcher has risen from the dead? It is too soon! Is it too soon? It’s too soon”. I had a wonderful time, taking over The Guardian US twitter account. I noticed by the end of that day that the place that is selling, one of the places that is selling my upcoming novel, “The Ocean at the End of the Lane” was actually twittering about the huge day’s uptake in people buying copies of the book, which they attributed to me taking over the US Guardian, in fate. I thought: “That’s a strange, unexpected result.”
In the following day, we were at lunch. And we were at lunch with Art Spiegelman, who did “Maus”, and we told him about it, and he said: “What a great idea!”. And he drew all over a napkin, it was an Art Spiegelman napkin! A napkin menu. Art Spiegelman’s menu, and that’s fantastic! Covered in drawings! And again, we hid it, and Amanda twitted it, and people went off to find it. Somebody had already found it, thrown it away. (laughs) Sometimes it works, sometimes it doesn’t. Not even sure what it is, sometimes it happens, sometimes it doesn’t. I’ll tweet a Kickstarter, sometimes, and it will catch the attention of the world, and it’ll go huge, and everyone will go and: “Aha! Of course it went huge, Neil Gaiman twitted it”. But for every one of those I’ll tweet a Kickstarter, people will look at it, find themselves absolutely and utterly unmoved, and it will sit there and nothing will happen. But I still embrace it. We have to become dandelions.
Earlier this year, I was approached by “The Humble Bundle” people, it was a “pay what you like package of digital stuff” and they said “We’re gonna put some books up. We’ll put some novels we love, a graphic novel of some kind… Do you have anything?”. And I looked and I had the rights to a book called “Signal to Noise” which I’ve done years ago with “The Face”. It was old, digital rights were completely free and clear, and I said “Sure, you can have this”. And we put it up online and I plugged it to various other people, like John Scalzi, who had then to Cory Doctorow, that story’s in that, that book is in there, Humble Bundle plugged it. They made significantly over a million dollars, large chance they’re going to charity. Dave McKean, the artist on the graphic novel, and I took about 78.000 dollars, from something that had just been sitting there and we’ve haven’t even known that we had. It was enormously education. And I tell people this, and they go “Does that mean, that I’ll make something eighty thousand dollars if I put something up up in a pay what you want basis?”. And I say: “No, almost definitely not. It doesn’t even mean the next time I decide to do that I’ll make that kind of money. It just means it happened this time.” It’s the dandelion thing: the seeds go off and float and some of them land on places where they grow.
I’ve mentioned that I love calendars. Blackberry approached me recently and just asked if I would like to, if there was anything I would like to do using social media, they said I could have all of their resources, and “Let me try your new phone first” and I did, and I liked it, and I like them and I said “Ok, I will do something, I wanna try something that hasn’t been done before, just getting people together on social media”. So I twitted. And I twitted 12 prompts with ordinary questions like “Why is January dangerous?”, “What’s the weirdest thing you have seen in July?” or “Who would you like to meet again in December?” and I didn’t expect the kind of results that we’ve got, all of these things became trending hashtags.
It almost felt, even just in that first thing, like huge, beautiful things were happening. There was a kind of art movement happening just on twitter, that it never happened before, ‘cause people replied, I retweeted their replies into the world. And now I took 12 replies (almost at random) from the hundreds of thousands that came in, and I took them and I wrote a short story for each month. In a mad set of three days, (“How fast can I write 12 short stories?”) and the answer was 3 days. Some of them were terribly long. And I threw them back out into the world.
We’ve put them up on the “Blackberry Keep Moving website and I said: “Ok, now make art. You’ll make any kind of art that you want, photograph things, paint things, draw things, costume play, make videos…”. And I recorded audio recordings of all of them and I said “If you want these as a soundtrack for videos, go use them, make art.” And I watched thousands and thousands of people getting involved, and I sat there when it was done and looked at over five thousand individual pieces of art, trying to pick ones who’d just go up on the website and be presented. And I felt like the best thing about this was using the internet, using twitter, making art in a way that was literally unimaginable a decade earlier.
I’ve just started working recently on a project called “These Pages Fall Like Ash” which hasn’t happened yet, which is gonna be a story that is told across two books, one of which is gonna be a beautiful, handmade, wooden book with information in, where you can also write stuff yourself, and the other is gonna be a digital text, hidden on hard drives all across the city, in this case Bristol, and read on a mobile device. The idea being to create two books together and a singular reading experience, created a story about a moment in which two cities overlap, existing in the same space and time, but unaware of each other until now, and people finding that stuff on their mobile devices are going to become part of the story. Again, it’s that thing when you’re creating something that would literally have been unimaginable, we didn’t have the tools or the technology to imagine.
I worry that too many of us, like the man in my calendar anecdote of the beginning, are certain: “but if only we can get 1993 to come back again for cleanup”. If we hold our breath and close our eyes and guard the gates with bigger and more dangerous weapons, then time would turn backwards, and will be yesterday once again, and we all knew what the rules were: yesterday. The rules of publishing were simple: authors, agents, books… incredibly long lunches. That was publishing. Not anymore.
These days the gates being guarded, the gates where there are fewer and fewer actual walls. In music the walls have long since fallen, along with the sale of physical objects. Home taping didn’t really kill music, music’s out there, doing just fine more of it is actually being made than ever. But the trick is becoming to find the good stuff, or for the people that make their music to figure out how to monetize what they’re doing. Things change. It used to take monks between 5 than 20 years (according to a link sent to me on tweeter when I asked) to produce a complete illuminated Bible. Whole lot of monk hours and fully employed scriptorium. And that work and that world vanished with the arrival of the printing press. And nothing is ever going to bring it back.
People ask me what my predictions are for publishing, and how digital is changing things, and I tell them my only real prediction, which is: “Still changing”. I don’t know what publishing is going to look like 5 years from now. Anyone who says they do is probably lying to you. I don’t know, neither does anyone else.
Amazon, Google, all of those things, probably aren’t the enemy. They’re publishing, probably isn’t the enemy. The enemy right now is simply refusing to understand that the world is changing. People ask me if I think that they should be guarding their gates more carefully. And I say “Sure, why not? Makes as much sense as anything else.” I don’t need so long-term solution to the problems and challenges that face publishers. I’m perfectly willing to acknowledge the possibility that novelists, we may have been a blip, it may have been a small amount of time in which people who were good at making up stories could actually trade their abilities for more than perhaps an evening’s meal and some admiration.
I expect that one of the things we should definitely be doing in digital world of publishing is making books, physical books, that are prettier, finer and better. We should be fetichising objects, we should be giving people a reason to buy objects, not just content (if we want to sell them objects). But we could just as easily return to the idea that one does not judge a book by its cover.
In Fahrenheit 451, Bradbury wrote a book about burning books. And at the end he tells us that if people are books, if books are remembered by people then content is all, you do not judge a book by its cover, and sometimes that cover can be a person. That, reading that when I was very young was probably where I’ve got the idea originally that covers and printing do not ultimately matter. We can walk away from physical books entirely perhaps, we can decide that what we thought were sharks were actually passenger pigeons.
We can imagine a world in which novelists aren’t actually making money for selling books, but we cleanup by charging for readings. A world in which buying a physical book, automatically gives you e-books and audiobooks. The trick is: whatever we make up is likely to be right. It’s time for dandelions. Embrace the old as we embrace the new. The bunkers were on the frontier and there were no rules. On the frontier, we can actually brake rules that nobody stood there to make. And we can enter through doors who still say “exit only”, we can climb in through windows. The model for tomorrow, this is the model I’ve been using with enormous enthusiasm since I started blogging, back into 2001, probably since I started using Compuserve in 1988.
The model is: try everything. Make mistakes. Surprise ourselves. Try anything else. Fail. Fail better. Succeed in ways we would never have imagined a year ago, or a week ago. And it’s time for us to be dandelions, willing to launch a thousand seeds and lose 900 of them. If a hundred or even a dozen survive, and grow, then make a new world, and I think that’s a lot wiser than waiting for 1993 to come back around again.
Thank you.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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