O Salão do Livro

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de agosto de 2005

O que dizer do Salão do Livro de Minas Gerais? Ah, foi bão demais da conta, sô! A começar pela organização do evento, com destaque especial para o organizador da mesa, o professor, historiador e boa-praça Afonso Andrade, com quem troquei idéias sobre quadrinhos pouco antes de sermos entrevistados para um programa sobre cinema (tudo a ver, nada a ver).

Eu, que já esperava dar vexame por conta da minha fobia de falar em público, que faz com que eu fique gago, fanho e burro em ocasiões como essas, esqueci mais da metade das coisas que ia falar na mesa de debates sobre blogs e literatura. Menos mal que estava na excelente companhia de Idelber Avelar e Fal Azevedo, que garantiram com sobras de méritos a qualidade da mesa (diga-se de passagem, a participação da Fal foi magistral, triunfal, sucesso total!). Continue Lendo

Top 5 Piores Profissões do Mundo

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 18 de julho de 2005

Em pesquisa realizada pelo Instituto DataMorf, mais de duzentas profissões diferentes foram citadas pelos entrevistados como candidatas ao posto de pior emprego do mundo, dentre as quais atendente de telemarketing (“vou estar encaminhando esta sugestão ao Macaco Chicão”, disse S.O.B., 20), lixeiro, proctologista, Presidente da República (“desde que assumi o cargo meus cabelos caem, mas antes fosse só isso, agora tenho que tomar Viagra pra dar conta da dona Marisa”, afirma L.I.L.S., 59), enfermeira de asilo, caixa de banco (“é quase como ser ginecologista, afinal de contas mexo o tempo todo com a diversão dos outros, só que sem a parte mais agradável”, compara esdruxulamente I.A., 31), vendedor de sapatos, guarda da FEBEM e coletor de esperma de animais de zoológico (“o pior de tudo é aturar as piadas de duplo sentido, que não são nada gozadas”, desabafa O.N.O., 69). Porém, dentre todas as profissões, cinco mereceram destaque especial, a saber:

5 - Greicikélio da Silva, 18, é faxineiro de uma casa de peep show em Copacabana. Em outras palavras: limpador de porra. E, pior, não é nem registrado em carteira.

4 - Carlos Poncherelo, 40, é policial rodoviário especializado em coletar restos mortais de animais atropelados na estrada. Experimente passar um dia de verão atendendo a chamados de todos os lugares do país, enquanto o processo de decomposição dos finados bichos segue à toda. Não à toa, seu prato predileto é espetinho de jiló com salada de tofu.

3 - Debbie Lloyd, 24, é limpadora de bundas de lutadores de sumô, homens que por evidentes razões adiposas possuem dificuldades para alcançar determinadas partes de sua anatomia. O trabalho é evidentemente uma merda, mas ao menos paga bem.

2 - Creedence Ramônio, 58, é técnico de som do grupo de pagode universitário Los Mauricinhos, (ir)responsáveis pelo atual hit número 1 da Gazeta FM, “Pagode na Daslu”. Antes, trabalhou com a dupla sertaneja Tristinho & Tristonho e a boy band New Kids on the Blog (conhecida pelos sucessos “Template da Paixão” e “Muito Lôko Seu Blog, Linka Eu Vai?”). Recentemente Creedence trabalhou na gravação de um DVD em tributo à obra de Arnaldo Antunes, tendo sido obrigado a ouvir por dez horas seguidas Preta Gil cantar (com arranjos de Jacques Morelembaum) os versos imortais “Macha fêmeo macha fêmeo fêmeo macha/ Cérebra caralha baga saca pescoça prepúcia ossa/ Nádego boceto têto côxo vagino cabeço boco/ Corpa moço dentra foro moça/ Orgasma coita palavro sexa goza/ Liberal gerou”.

1 - Horinando Brasilino, 27, é limpador de esgotos. Experimente mergulhar em um fosso repleto de toneladas de merda humana, a fim de liberar canos entupidos por causa de absorventes ou camisinhas usadas. Horinando até já se acostumou com essa rotina, mas não se conforma com o fato de a firma não oferecer assistência odontológica nem pagar horas extras. Assim já é demais!

* * * * *

P.S.: Texto originalmente publicado no site Morfina.

Todo torcedor tem um quê de masoquista

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 21 de junho de 2005

Já dizia Lady Murphy: “não há nada que não esteja ruim que não possa ser piorado“. Afirmação mais certeira não poderia haver, principalmente em se tratando da situação calamitosa pela qual passa o meu Guarani. Como se não bastasse a tristeza de ver o único campeão brasileiro do interior e único time de Campinas a disputar a Taça Libertadores da América amargar as últimas colocações da série B do Brasileirão, ainda sou obrigado a ver notícias deprimentes como o fato de uma das revelações mais promissoras do Bugre nos últimos tempos, Evandro Roncatto (titular da Seleção Sub-17 no Mundial de 2003), ter sido obrigado a adiar uma operação no ombro simplesmente porque meu time não tinha verbas para custear a cirurgia.

É impressionante a (in)capacidade que um dirigente como o atual presidente José Luiz Lourencetti possui de dilapidar o patrimônio e o elenco de um clube de tradição como o Guarani. Há anos os torcedores do Bugrão aturam campanhas vexaminosas campeonato após campeonato, assim como a perda de jogadores do talento de Elano e Dinélson porque a diretoria pagava salários e encargos sociais em atraso. A situação chegou a tal ponto que somos obrigados a aturar gozações de seu arqui-rival, um clube que em mais de supostos 100 anos de existência não possui um título profissional sequer em seu currículo. É o cúmulo.

Mas o fato é que todo amor passa por provações e intempéries. Não vou negar: há momentos em que me sinto como um marido corno que flagra a esposa em sua própria cama com meu pior inimigo, e que depois é achincalhado, ridicularizado e apontado com os dedos por toda a vizinhança. Ainda assim perdoarei de antemão cada traição que vier a sofrer, porque meu amor pelo Bugre é incondicional e inabalável.

* * * * *
Acompanho Fórmula 1 há tempos, e nunca havia visto uma cena tão patética quanto a largada do GP Estados Unidos do último domingo, quando apenas seis carros disputaram a corrida no mítico circuito de Indianópolis. Tão deprimente quanto o grid foi ver Rubens Barrichello chegar, como de costume ao longo destes anos, atrás do chucrute voador, e consentindo, feito um animal de estimação amestrado, mais uma vez às ordens da equipe Ferrari para que não lutasse pela vitória. Ao final da deprimente corrida, Barrichello declarou, como que se justificando: “Sou só um brasileirinho contra esse mundo todo“. Bem, ao que me consta os campeões mundiais Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna são seus compatriotas, e entraram na história da F-1 como Brasileiros Maiúsculos.

Enfim, de toda a patacoada que foi o GP de Indianópolis, a única nota positiva foi ver as brancaleônicas equipes Jordan e Minardi marcarem pontos no campeonato. Méritos adicionais para o português Tiago Monteiro, que do alto de sua Jordan chegou em uma honrosa terceira colocação e subiu ao pódio pela primeira e provavelmente última vez. Nada mal para um piloto cujo nome completo é Tiago Vagaroso da Costa Monteiro, não?

* * * * *
Links correlacionados: Dossiê Grêmio (relato apócrifo e tragicamente hilariante da derrocada do tricolor gaúcho para a Série B), Jogos Perdidos (blog mantido por um grupo de malucos amantes do futebol que se especializaram em acompanhar jogos do quilate de Tanabi x Atlético Araçatuba, São José x XV de Jaú e Angra dos Reis x Macaé) e Formula One Rejects (tributo online aos piores pilotos da F-1 de todos os tempos)

Fahrenheit 451, o indefectível questionário

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 09 de maio de 2005

Meg Guimarães, Maira Parula, Rafael Galvão e Marcos VP me convocaram para a roda. E eu, que relutei para responder a este questionário que se espalhou feito meme pela blogosfera lusófona, finalmente sucumbo e posto minhas respostas:

1- Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Antes de mais nada, vale a pena recordar que Fahrenheit 451 é um dos melhores livros do meu escritor predileto de ficção científica, Ray Bradbury. O romance (adaptado para o cinema por François Truffaut) narra a história de um futuro no qual livros são considerados nocivos à sociedade, uma vez que propagam idéias que deixam as pessoas tristes, ansiosas e raivosas. Além disso, instigam pensamentos e reflexões, tornando-se “fontes de infelicidade”. Por essas razões, ficou decretado que todos os livros deveriam ser sumariamente queimados. No entanto, alguns malucos desta distopia de Bradbury rebelam-se contra as ordens governamentais, e dedicam-se a decorar, parágrafo por parágrafo, algum de seus livros prediletos, a fim de protegê-lo do esquecimento.

O livro que eu gostaria de ser é “O Jogo da Amarelinha” de Julio Cortázar, por uma razão simples: é o melhor de todos os tempos. Continue Lendo

As mortes de Terri Schiavo

Por Alexandre Inagakidomingo, 27 de março de 2005

Theresa Marie Schiavo, nascida em 3 de dezembro de 1963, está para morrer pela segunda vez a qualquer momento. Sua primeira morte ocorreu em fevereiro de 1990, quando, aos 26 anos, sofreu uma parada cardíaca dentro de sua casa. Levada ao hospital pelo seu marido, Michael, Terri teve interrompido o fluxo de oxigênio ao seu cérebro durante o tratamento recebido (sua família recebeu cerca de US$ 2 milhões de indenização pelo erro médico). Desde então, Terri está em “estado vegetativo persistente”, e ela só se mantém viva graças à inserção de um tubo de alimentação em seu corpo.

Ao longo destes quinze anos, o marido e os pais de Terri se digladiaram em batalhas judiciais. Enquanto Michael ingressou na Justiça solicitando o desligamento do tubo, afirmando desejar que sua esposa tivesse uma morte digna, Bob e Mary Schindler, pais da americana, lutaram anos a fio para que o aparelho permanecesse ligado. Não os culpo: o “estado vegetativo persistente” é um dos males mais cruéis que pode afligir os parentes de uma vítima. Basicamente, quem mergulha neste estado está com o cérebro morto; no entanto, apesar da inexistência de qualquer função cerebral, o paciente parece reagir a estímulos externos, chorando, sorrindo e até mesmo balbuciando sons. Neste site mantido pela família de Schiavo, encontram-se arquivos de áudio e vídeo que parecem comprovar, quase que irrefutavelmente, que Terri mantém ainda algum vínculo com o mundo externo. No entanto, dezoito especialistas que a examinaram foram unânimes em concluir: ela já não possui qualquer sinal de consciência.

Sexta-feira, dia 18, por intermédio de uma ordem judicial, o tubo de alimentação de Terri foi desligado. Desde então o caso Schiavo saiu da esfera familiar para tornar-se uma imensa barafunda política e religiosa. Jeb Bush, governador da Flórida e irmão de George W. Bush, motivado principalmente pela pressão oriunda dos fortes lobbies “pró-vida” mantidos por grupos conservadores (os mesmos que têm se intrometido em outros assuntos como o direito ao aborto ou o ensino do darwinismo nas escolas públicas), interveio na esfera do Judiciário a fim de tentar aprovar uma lei visando o religamento de aparelhos em casos similares, por enquanto sem sucesso.

Em meio a tudo isso, o corpo de Theresa Marie Schiavo definha. A imagem de seus olhos ainda abertos e o desconforto de saber que ela morrerá de fome e de sede chocam a opinião pública, embora os médicos afirmem categoricamente que ela não padecerá de qualquer nível de sofrimento porque seu córtex cerebral está destruído. Ok, mas vá explicar isso aos pais de Terri. Em meio ao desespero vale tudo, inclusive tentar interpretar os sons desarticulados que saem da boca de Schiavo. Uma matéria do New York Times descreve a demagógica tentativa que Barbara Weller, advogada da família Schindler, fez de conversar com a paciente. Weller dirigiu-se diretamente a Terri e perguntou: você gostaria de viver? Segundo relatos dos presentes à cena, Schiavo teria dito “Ahhhhh” e “Waaaaaaa“, e é até natural que seus parentes tenham concluído que ela tentou responder “I want to live“.

Quis o destino, esse irônico filho da puta, que os capítulos finais dessa tragédia coincidissem com a Semana Santa, que relembra justamente o calvário de Cristo, sua morte e ressurreição. E, em meio a infindáveis discussões sobre o direito à eutanásia (assunto sobre o qual recomendo fortemente uma visita a esta excelente página), só posso lamentar o fato de que o destino de Terri Schiavo não possa ser decidido pela própria paciente. Não sei, sinceramente, o que faria se estivesse no lugar do marido ou dos pais desta mulher. Em um mundo ideal todos nós deveríamos explicitar, tal como podemos fazer com relação à doação de órgãos em nossos RGs, se aparelhos médicos devem ou não ser desligados em casos extremos.

Não posso deixar de recordar três citações. A primeira, “memento mori“, expressão em latim que ressalta o óbvio nem sempre relembrado: todos nós vamos morrer. A segunda, uma frase de Sêneca: “Morremos mil vezes do medo de morrer“. Por fim, a terceira: o epitáfio da lápide de Nancy Beth Cruzan, que faleceu em circunstâncias semelhantes ao caso de Terri: “Nasceu em 20 de julho de 1957/ Partiu em 11 de janeiro de 1983/ Em paz em 26 de dezembro de 1990“.

Requiescant in pace.

Escrever é fácil?

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 23 de março de 2005

O leitor mais atento já deve ter percebido que este blog anda imerso numa fase reflexiva. Para usar uma imagem de Fernando Pessoa, estou como um novelo embrulhado para dentro. É por essas e outras, por exemplo, que me mantive alheio à interessantíssima discussão sobre o voto nulo desencadeada por Idelber Avelar. Ando tão enredado com meus questionamentos pessoais que mal consigo pôr a cabeça pra fora e pensar decentemente no caso Terri Schiavo, a contenda China x Taiwan, a reforma ministerial que não houve e outros assuntos que acabam desembocando no nosso dia-a-dia. Vivo, pois, numa daquelas fases de introspecção que me fizeram chegar à conclusão de que não sirvo para a literatura.

Explico melhor. Quando ainda fomentava planos de ser escritor, ficava cá encasquetado com o seguinte dilema: meus textos mais, hmm, densos, eram concebidos nos momentos em que estava mais fodido sentimentalmente. Nessas horas eu queria mais que o mundo lá fora se lascasse, porque eu só conseguia pensar na merda dos desencontros dessa vida que faziam com que meus relacionamentos fossem pras cucuias. Por outro lado, quando eu me sentia bem comigo mesmo, a inspiração ia prum bar tomar chope com os camaradas e eu não escrevia uma linha decente sequer.

Foi aí que me apercebi do fato de que jamais conseguiria ser o romancista que almejava ser. Porque o bom prosador é aquele que transcende os fatos de sua própria vida para escrever sobre dinamites pangalácticas, bibliotecas em Babel, desertos tártaros e o que mais sua imaginação conceber, independendo das contas a pagar, das mulheres esquivas, dos filhos na escola, dos parentes serpentes, das crises de hemorróida, etc etc.

Outra coisa: escrever nunca foi uma atividade fácil para mim. Recordo a frase lapidar de Douglas Adams: “Escrever é fácil. Tudo o que você tem a fazer é ficar olhando fixamente para uma folha em branco até a sua testa começar a sangrar“. Quando lembro que Hemingway arrebentou a cabeça com uma espingarda por achar que seu talento havia esgotado, Pessoa renunciou ao amor de uma mulher em nome de sua compulsão literária, Gogol finalizou a segunda parte de “Almas Mortas” para em seguida ateá-la ao fogo e Poe afogou suas angústias até estourar o fígado, penso ainda em autores como Virginia Woolf, Yukio Mishima, Pedro Nava, Anne Sexton, Horacio Quiroga e tantos outros que abreviaram suas passagens por esta vida. E aí, sou tentado a concluir que sábio mesmo foi Rimbaud, que escreveu o que tinha de escrever e depois foi viver sua vida fora dos livros.

Porém, é preciso fazer a devida ressalva: como bem comentou José Roberto Torero em uma entrevista que fiz com ele, também há pedreiros que cortam os pulsos, dentistas que tomam veneno, contadores que pulam das janelas. Mesmo assim, não posso deixar de pensar na definição de Adams e no questionamento que fiz a um cineasta amigo meu: se fossem opções rigorosamente excludentes entre si e você pudesse escolher uma delas, desejaria ser um grande artista ou um cara anonimamente feliz?

(Mas tergiverso, tergiverso. Preciso laçar os pensamentos que se debatem em torno do tema feito cavalos chucros, a fim de concluir este post.)

Felicidade, fora do plano estritamente pessoal, é uma coisa chata e tediosa. Percebam: jornais precisam anunciar mortes, desastres e divórcios a fim de venderem suas edições. Filmes complicam a vida de seus protagonistas com brigas, discussões e mal-entendidos, porque no momento em que o casal se entender, saberemos que a história não deve mais ser contada e chegará ao happy end. Os grandes livros falam de homens transformados em baratas, assassinos de velhinhas ou árabes, esposas adúlteras que se suicidam, tuberculosos em crise existencial, filhos que matam o tio que comeu sua mãe… Enfim, uma desgraceira só. A arte se alimenta dos dramas da vida.

E eu, que tantas vezes tenho sido vil e errôneo, hoje me limito a um dia tentar conseguir apreender a tal arte de viver bem e encontrar uma cúmplice que me acompanhe por aí.

* * * * *
P.S.: Quero aproveitar o feriado que vem por aí para colocar minha correspondência pessoal em dia (ou quase). Quem quiser me escrever, pois, será muito bem-vindo. =)

Ruth Lemos, Gary Brolsma e Adolar Gangorra

Por Alexandre Inagakidomingo, 13 de março de 2005

Caroline Bittencourt foi expulsa do casamento de Ronaldo com Daniela Cicarelli, teve triplicado o seu cachê como modelo e recebeu diversos convites para apresentar programas de TV e posar nua. Ricardo Duna tornou-se o corno mais famoso do Brasil ao ver sua esposa flagrada na praia do Leblon aos beijos com Chico Buarque, mas teve uma resenha elogiosa do seu CD publicada na Veja desta semana. Hoje famosos, amanhã esquecidos: a cada semana novas personalidades são criadas pela necessidade famélica que a mídia possui de criar novos personagens, por mais irrelevantes que sejam os motivos que levam um anônimo a ser catapultado para as manchetes de revistas e jornais. Em contrapartida, há aqueles que tornam-se famosos a contragosto. Dois “fenômenos” recentes da Web ilustram essa afirmação: Gary Brolsma e Ruth Lemos.

garynumanuma.jpgGary Brolsma, 19 anos, ficou conhecido entre seus colegas da Saddle Brook Middle School por dois motivos: um peculiar senso de humor e seu gosto por novas tecnologias. Em entrevista ao New York Times, Susan Sommer, professora de Gary, recorda que era a ele que recorria sempre que os computadores da escola necessitavam de algum conserto. Já os amigos de Brolsma destacam seu lado criativo: ele costumava, por exemplo, distribuir aos colegas fitas-cassete em que gravava comerciais satíricos de produtos como Prozac.

Pois bem: numa certa tarde ociosa de dezembro de 2004 este jovem de New Jersey resolveu usar sua webcam para filmar a si mesmo dublando a canção pop “Dragostea Din Tei”, gravada pelo grupo romeno O-Zone e popularizada no Brasil graças à nefasta versão “Festa no Apê” cometida por Latino. O vídeo, inegavelmente hilariante, foi originalmente distribuído a alguns parentes e colegas, que não resistiram à tentação de repassá-lo a outros “muy amigos”, e assim foi até que a performance de Gary fosse parar no Newgrounds, site especializado em disponibilizar a seus visitantes animações em Flash e vídeos extraídos da tevê ou criados por internautas. Foi o que faltava para Brolsma tornar-se o novo superstar da Web: em poucas semanas sua performance angariou mais de 1 milhão de page views, após a exibição de seu desconcertante vídeo por canais como VH1 e CNN.

No entanto, ao contrário do que era de se esperar nestes tempos de celebridades instantâneas, Gary recolheu-se: recusou uma solicitação de entrevista do New York Times, assim como os pedidos feitos por canais de TV como a NBC para que aparecesse em seus programas. Refugiado da fama, não atende mais telefonemas e deixou de ir à escola, simplesmente porque, segundo relatos de parentes, Gary estaria mortalmente envergonhado com a superexposição de sua imagem.

Fenômeno semelhante aconteceu no Brasil com a nutricionista Ruth Lemos. Em entrevista concedida ao vivo ao telejornal “Bom Dia Pernambuco”, da TV Globo, dona Ruth atrapalhou-se toda com a situação, gaguejando de modo deveras aflitivo, devido ao nervosismo e ao fato de ouvir a própria voz no fone de ouvido com um delay de alguns segundos. As pessoas que assistiram ao vídeo dividem-se entre as que se regozijaram de tanto rir e as se angustiaram com tamanha vergonha alheia. Eu, por exemplo, sou um cara cronicamente tímido. Toda vez que sou obrigado a falar em público me atrapalho: fico burro, gago e fanho. Confesso que ri na primeira vez em que vi o vídeo, mas depois fiquei pensando no estado em que esta mulher deve ter ficado após tamanha exposição na Web.

ruthlemos.jpgAlém das inúmeras comunidades criadas no Orkut em seu “louvor”, o fenômeno “sanduíche-iche” criado pela dicção ímpar de Lemos inspirou a criação de ícones para MSN, uma sátira com atores, animações e diversos arquivos mp3 com samplers de sua voz. Apesar de toda a gozação, a fama virtual não foi de toda ruim para a nutricionista, que viria posteriormente a estrelar um comercial para a Intelig.

Para não dizer que fama na Internet é sinônimo de desastre, vale a pena citar o que ocorreu com Adolar Gangorra, pseudônimo de um autor que há tempos publica textos na rede. Ao navegar pela rede, a atriz Fernanda Torres encontrou uma crônica que lhe chamou a atenção, intitulada “Como me Fudi por Completo no Show dos Los Hermanos“. Interessada em encenar o texto, Fernanda, por intermédio de uma matéria no jornal O Globo, pediu que o autor da crônica entrasse em contato com ela. Dias depois, o escriba que se esconde por detrás do pseudônimo Adolar Gangorra contatou a atriz. Diga-se de passagem, não é o primeiro texto de Adolar que foi parar no palco: é dele também a autoria de “Análise Comportamental e Crítica da Música Eduardo e Mônica“, adaptado para o teatro pelo grupo Cemitério de Automóveis.

Quem será o próximo a ter seus 15 bytes de fama?

  1. « Página anterior
  2. Próxima página »
  3. 1
  4. (...)
  5. 70
  6. 71
  7. 72
  8. 73
  9. 74
  10. 75
  11. 76
  12. 77
Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Jé plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantêm este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

Parceiros

Mantra

A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.