Medo e delírio em São Paulo

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de maio de 2006

Foto de Fernando Donasci para a Folha Imagem.O medo nasce da ignorância, da falta de informações a respeito de algo que permanece desconhecido. Um grão de mistério transforma-se em um abismo de obscuridade. É a partir dessas bolas de neve que lendas urbanas são fomentadas, boatos proliferam-se e são amplificados, a histeria bate asas e o bom senso vai para as cucuias.

Pois eis que, depois de passar boa parte de meu expediente de trabalho ouvindo de terceiros histórias envolvendo estações do metrô destruídas por bombas caseiras, famílias inteiras de policiais assassinadas ou toque de recolher decretado pelo governo, chego ao meu lar, dulcíssimo lar, e constato que ao menos 90% das histórias contadas eram variantes anabolizadas do que efetivamente estava acontecendo nas ruas de São Paulo.

Não que os fatos em si tenham se tornado menos impactantes diante das lorotas ao fim desmentidas, muito pelo contrário. Mas o caso é que este foi um dia empesteado por informações alarmistas e desencontradas, que serviram para multiplicar a desconfortável sensação de temor, como se a realidade já não fosse péssima o suficiente para disseminar o pânico. Continue Lendo

Para anotar na agenda

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 11 de maio de 2006

a) Evento imperdível para quem estiver em Belo Horizonte nesta sexta-feira, dia 12 de maio: participar do lançamento de Um Defeito de Cor, o segundo romance de Ana Maria Gonçalves e o primeiro a ser publicado por uma editora “grande”, no caso a Record. Quem acompanha a blogosfera tupiniquim desde seus primórdios deve lembrar que Ana foi uma das primeiras escritoras brasileiras (aliás, se não me engano, a pioneira) a utilizar o potencial dos blogs como veículos de divulgação de projetos independentes.

Em 2002, ao constatar a dificuldade enfrentada por novos autores na tentativa de ingressarem no mercado editorial, Ana usou suas economias para bancar a edição de seu excelente romance Ao Lado e à Margem do que Sentes por Mim. Seus esforços, relatados nesta entrevista concedida a Cris Fernandes, não foram em vão. O livro foi mais do que bem recebido pela blogosfera, chegou às mãos certas e, quatro anos depois, é mais do que gratificante saber que seu novo romance será publicado por uma das editoras mais tradicionais do Brasil. É significativo constatar que Um Defeito de Cor chega às livrarias apenas algumas semanas depois do lançamento de Mãos de Cavalo, a estréia de outro autor revelado pela Internet, Daniel Galera, pela Companhia das Letras, após dois livros anteriores publicados pela editora independente Livros do Mal.
b) por fazer parte de uma lista de supostos “blogueiros mais atuantes do Brasil”, fui convidado para uma certa Festa do Copo Vermelho, a ser celebrada no sábado, dia 20, em São Paulo. Graças a este post do Charles Pilger, já tenho idéia do que há por trás deste copo nada inocente. É de se estranhar ainda a lista de blogs convidados. Se o evento pretende reunir aqueles que são considerados os blogueiros mais atuantes da Terra Brasilis, por que convidaram os portugueses Abrupto e Ponto Media, que provavelmente sequer imaginam que foram convidados para esta festa? Fica a impressão de que os critérios para a elaboração desta lista não foram muito rigorosos (o que explica minha presença nela). De qualquer modo, pretendo ir a esse evento a fim de reencontrar camaradas, conhecer outros pessoalmente e, é bóbvio, aproveitar a balada. :)

c) Terça-feira, dia 30, será a vez da escriba de mão cheia Maira Parula (minha colega de Blog de Papel) lançar pela editora Rocco o livro Não Feche Seus Olhos Esta Noite em um dos lugares mais bacanas do Rio: a Livraria da Travessa em Ipanema.

O primeiro passo

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 10 de maio de 2006

O primeiro passo, o mais árduo e sofrido de todos. Como começar? Esta é sempre a dúvida que me inquieta. “Entre o sim e o não, existem inúmeros talvez“, sentenciou mestre Cortázar. Mas permanece a questão: como começar uma página do nada, como desvirginar este branco na tela e em minha cabeça?

Sempre detestei redações com tema livre; perdia ao menos um terço do tempo buscando algum assunto interessante pra escrever. Pode parecer paradoxal queixar-se da liberdade total para escrever, mas é que sou um cara que precisa de limites pré-definidos para produzir melhor. Não sei, se eu tivesse disponível todo o tempo do mundo para escrever, provavelmente deixaria meus neurônios jogando papo fora na mesa de bar do meu cérebro. Como todos sabem, papos de barzinho nunca chegam a nenhuma conclusão. E, se chegam a algum lugar, está todo mundo bêbado demais para se lembrar de alguma coisa no dia seguinte.

Essa dificuldade transparece em minha vida amorosa. Como abordar uma menina por quem estou a fim, e que não conheço? Sou um cara desajeitadamente tímido, e só Deus sabe o quanto isto atrapalha minha vida. Nunca sei como dar o primeiro passo, ou seja, como passar uma cantada em uma mulher que nunca vi na vida. Afinal de contas, o que dizer? “Oi, você vem sempre aqui?” Não, necas de pitibiriba: jamais teria a cara de pau suficiente pra dizer algo tão bóbvio. Mas e aí, perguntar o quê? Qual o telefone do cachorrinho?

Só sei que foram raríssimas as cantadas que dei na minha vida. Mesmo porque só passo uma quando sei que terei 101% de chances de dar certo. OK, eu nunca levei um fora, e fui correspondido todas as vezes que pus pra fora o Don Juan que existe dentro de mim. Mas vou me gabar do quê? Pois sabe-se lá quantas boas e deliciosas oportunidades já perdi na vida por conta da inaptidão e falta de cara-de-pau pra paquerar incautas mundo afora. Um dia preciso incutir em minha mente a sabedoria adquirida através de certa letra de pagode cujo refrão nos ensina: “relaxa, senão não encaixa“. Sábias palavras. Afinal de contas, pensar demais enlouquece.

E assim, de elucubração em elucubração, tergiversando como quem não quer nada, feito aqueles cronistas que faziam da falta de assunto o assunto de suas colunas, eis que o texto se escreveu com a naturalidade de quem caminha sem pensar na distância a ser percorrida.

- Oi, você vem sempre aqui?

O Orkut será pago

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 27 de abril de 2006

Por favor, reserve alguns minutos do seu precioso tempo e leia esta mensagem IMPORTANTÍSSIMA.

Seguinte: o Orkut vai passar a ser pago. Nós, cidadãos pertencentes a um país com alta capacidade de indignação diante de causas irrelevantes, precisamos fazer algo urgentemente! Por isso mande imediatamente um e-mail com esta mensagem para 25 pessoas de sua lista, e um Orkut plus atualizado (seja lá o que quer que isso signifique) aparecerá em sua tela! Depois, envie esta baboseira para mais 25 pessoas, porque o Google, interessado em aumentar sua base de cadastrados, presenteará você com um celular da Nokia pintado de ouro e uma viagem para a Disneylândia, e fará ainda uma doação de 100 mil dólares à Fundação das Macacas Bulímicas que Dançam Macarena Compulsivamente no Zoológico de Xiririca da Serra! Continue Lendo

Cenas dos capítulos anteriores

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 26 de abril de 2006

Enquanto me ausentei deste blog, saibam que:

a) escrevi resenhas dos livros Educação de um Bandido, de Edward Bunker, e Discurso Sobre o Capim, de Luiz Schwarcz, para a edição 2 da revista Paisà, à venda nas melhores bancas (assine já!).

b) falei mal de O Albergue e Instinto Selvagem 2 em minha mais recente coluna de cinema no site da Antena 1.

c) assisti ao mais tenebroso assassinato do Hino Nacional Brasileiro de todos os tempos, neste vídeo estrelado pelos candidatos do programa Ídolos, com direito a virunduns antológicos como “conseguimos conquistar UM BRAÇO FORTE” e “o céu da liberdade em raios FRÍGIDOS”. A não perder ainda: os membros da Embromation Society, o headbanger que assassinou os Paralamas, a figura que interpretou (?) o tema de Rei Leão e, tragicamente cômica (ou comicamente trágica), a gauchada mandando bronca na audição!

d) foi publicado mais um texto meu em Cracatoa Simplesmente Sumiu: Tartamudeio.

e) corri considerável risco ao jogar os números 4, 8, 15, 16, 23 e 42 na Mega Sena.

f) ainda não fiz minha declaração de imposto de renda e estou lascado.

g) repercutindo este meme, em que Fabio Seixas fala da falta de uma maior conversação e interação entre os blogueiros brasileiros, faço aqui a minha lista de cinco pessoas com quem eu gostaria de “blogonversar”. Se você quiser fazer parte, faça um post, linkando cinco blogs com quem você gostaria de trocar idéias, e indique ao final onde você tomou conhecimento deste meme.

Quero “blogonversar” com:

- Blog de Guerrilha;

- Alessandra Alves;

- Kiss Me Hard Last Time;

- Usabilidoido;

- Serendipidade;

Blogonversei com:

- Fabio Seixas, versão txt.

Natal antecipado e meu fio de Ariadne

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 26 de abril de 2006

A vida é, definitivamente, boa e cheia de possibilidades. Pois e não é que meu Natal foi antecipado, graças à generosidade de uma leitora deste blog?
Há algum tempo, quando o Orkut criou um espaço nos perfis pessoais para a publicação de listas de presentes, eu, que não tinha mesmo nada a perder, criei uma wishlist no Submarino. Na época, comentei a lista en passant neste blog sem fomentar maiores expectativas, e fui surpreendido com presentes de dois leitores especialíssimos, que me deram, respectivamente, uma camiseta e o livro O Caçador de Pipas. Fiquei, ao mesmo tempo, feliz pra burro (por constatar que haviam leitores que achavam que eu realmente merecia ganhar alguma coisa pelos textos deste blog) e desconcertado com tamanha generosidade. Mas nada poderia me preparar para a surpresa que me aguardava no dia de hoje.
Pois a Srta. M., que mora nos Estados Unidos, mandou-me o melhor pacote-surpresa que já recebi na vida: uma caixa contendo quatro CDs, dois DVDs, um mini-pôster de cinema, diversas fotos, uma lanterna king size e um carinhoso cartão me agradecendo pelos textos que venho publicando na Internet nestes anos. E aí eu me pergunto: como fazer jus a tamanha generosidade? Porque os presentes foram escolhidos a dedo, a saber:
O único álbum e magnífico álbum que Jeff Buckley lançou em vida.a) Grace, o primoroso álbum que Jeff Buckley, a quem dediquei este artigo publicado no Burburinho, lançou em 1994. Mas não ganhei uma edição qualquer; fui agraciado com a edição especial de 10 anos do lançamento do CD, que inclui um CD extra com bonus tracks, out-takes e duas maravilhosas versões alternativas de “Dream Brother”, uma das melhores canções de Buckley. De quebra, esta “legacy edition” veio com um DVD que inclui cinco videoclipes, imagens das gravações de Grace e entrevistas com o produtor e os músicos da banda. Quem conhece a obra deste músico precocemente falecido aos 30 anos de idade certamente está babando de inveja com este presente, que inclui ainda um encarte com textos do jornalista Bill Flanagan, que faz uma precisa definição de Grace: um álbum inspirador e, mais do que isso, fomenta aspirações artísticas, uma vez que é o tipo de obra que faz com que músicos busquem superar seus limites, a fim de comporem canções tão poderosas quanto “Last Goodbye”, “Eternal Life” ou “Lover, You Should’ve Come Over”.
O melhor álbum de 2005.b) The Forgotten Arm, de Aimee Mann, considerado por mim o melhor álbum internacional de 2005. Como tudo que veio neste pacote, o CD que recebi veio em edição especial, incluindo livreto em formato americano reproduzindo o belíssimo encarte, no qual as letras são transcritas como se fossem capítulos deste verdadeiro filme sonoro que narra a história de amor protagonizada por John, um boxeador alcoólatra, e Caroline. Difícil não acompanhar esta trajetória musical esculpida com esmero por Mann sem se emocionar, principalmente diante dos capítulos 9 (“That’s How I Knew This Story Would Break My Heart”) e 12 (“Beautiful”).
c) E como se não bastasse, não é que fui presenteado também com Live at St. Ann’s Warehouse, box composto por um CD e um DVD que registram o show no qual Aimee Mann resgata as pérolas de sua carreira solo desde a saída do grupo Til Tuesday? Depois de sua audição, é fácil compreender porque o cineasta Paul Thomas Anderson buscou inspiração nas crônicas musicais de Mann a fim de criar os plots e personagens de sua obra-prima Magnólia.
A atriz mais bela que já vi em uma tela de cinema: Monica Vitti.d) diversas fotos da belíssima atriz italiana Monica Vitti (na foto ao lado, em A Noite, de Michelangelo Antonioni), que eu havia citado em um velho texto intitulado Questões de Timing, além de um mini-pôster de As Rainhas, comédia de 1966 em que Vitti simplesmente rouba a cena, e isso em um filme co-estrelado por outras musas como Claudia Cardinale e Raquel Welch .
e) uma lanterna king size, de cor azul, da marca Maglite, sobre a qual tergiversei em e-mail que mandei para a Srta. M. logo após ter aberto esta verdadeira caixinha de surpresas: “quando eu estiver imerso no abismo da noite e o rastro da minha lanterna traçar o fio em que eu, equilibrista bambo, caminhar na escuridão, pensarei na senhorita como se fosse Ariadne a me salvar do minotauro“.
Depois de receber um kit maravilhoso desses, o mínimo que poderia fazer é dedicar um post à Srta. M, a quem agradeço publicamente. E, enfim, voltar a atualizar este espaço após semanas de completo sumiço. Até porque preciso fazer jus a uma das melhores surpresas que já tive em toda a minha vida, e que me deixou mais bobo e desconcertado do que o habitual… :)

Pra viajar no cosmos não precisa gasolina

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 05 de abril de 2006

Marcos César Pontes, 46 anos, tornou-se o primeiro brasileiro a viajar literalmente para o espaço. Ao participar da tripulação que lançou a nave russa Soyuz TMA-8 ao espaço, fez do Brasil o 35º país a colocar um astronauta em órbita. Para que essa viagem ocorresse, o governo brasileiro pagou cerca de US$ 10 milhões aos russos, que gentilmente cederam um assento a Marcos na Soyuz por um precinho camarada (a título de comparação: o milionário Dennis Tito desembolsou US$ 20 milhões por sua viagem espacial, realizada em 2001), movidos por interesses comerciais que incluem a venda, ao Brasil, da tecnologia utilizada em motores de foguetes capazes de lançar satélites.

Não discuto a necessidade dessa aquisição tecnológica, uma vez que o programa espacial brasileiro é, literalmente, um desastre (vide o acidente na Base de Alcântara no Maranhão que causou 21 mortes em 2003). Defeito colateral, no mais, gestado por anos de descaso com pesquisas científicas e tecnológicas, que fizeram com que nações que começaram seus programas espaciais na mesma época que o Brasil, como a Índia e a China, sejam atualmente capazes de produzir e lançar seus próprios foguetes e satélites (e de enviar homens ao espaço por conta própria, no caso dos chineses), enquanto ainda somos obrigados a recorrer a tecnologias de terceiros e alugar um assento numa nave espacial russa a fim de disfarçar o fracasso acachapante de um delírio intitulado “programa espacial tripulado brasileiro”.

Em meio a toda essa barafunda, é até compreensível ver tanta gente ridicularizando Marcos Pontes por realizar no espaço experimentos como plantar sementes de feijão em algodão (atire o primeiro meteoro quem nunca fez isso na escola primária). No entanto, vale a pena lembrar que ele é um dos mais experientes pilotos da FAB e passou por treinamentos na NASA desde agosto de 1998. E se ficou tanto tempo assim em treinamento, impute-se a culpa ao governo brasileiro que, na condição de parceiro de realização da primeira Estação Espacial Internacional, assumiu (sem cumprir) o compromisso de construir diversas peças, sendo que em troca Pontes seria enviado ao espaço sem nenhum custo adicional. Como até agora o Brasil não desenvolveu o incremento tecnológico necessário para a construção dessas peças, Pontes ficou a ver as estrelas de periscópio até que nosso governo decidisse custear uma carona com os russos.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, observa: “a associação do envio do astronauta brasileiro com o vôo do 14 Bis vai colocar em evidência que o Brasil, em cem anos, sofreu um grande atraso. Naquela época, fomos os primeiros a controlar a dirigibilidade dos balões e a levantar vôo com um veículo mais pesado que o ar, graças à iniciativa de Santos Dumont. No presente, o governo gasta US$ 10 milhões para colocarmos um astronauta no espaço – sendo que mais de 30 países já o fizeram –, usando lançadores de outros países“.

Perguntar não ofende, respostas sim: vou me ufanar do quê?

* * * * *

P.S. 1: Peguei emprestado o título deste post de Nei Lisboa, um dos prediletos da casa.

P.S. 2: Nova firula. Agora você pode espiar, no frame direito desta página (logo abaixo dos “blogs da semana”), as músicas que ouço enquanto navego Web afora. Cortesia da Last.fm.

P.S. 3: Em minha coluna de cinema na Antena 1, escrevi sobre “O Plano Perfeito”, “A Máquina” e “Clube da Lua”. Assunto de meu próximo texto: “V de Vingança”.

P.S. 4: Mandaram-me um link sobre procrastinação. Semana que vem visitarei a página.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Jé plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantêm este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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