Bloguinho e a questão dos créditos em HQs

Por Alexandre Inagakisábado, 10 de dezembro de 2005

Bloguinho e Cebolinha.Chegou recentemente às bancas a edição nº 221 da revista “Cebolinha”, que traz na capa o anúncio de um novo personagem da Turma da Mônica: Bloguinho, personagem que se comunica com os outros através do “internetês”, aquele dialeto da língua portuguesa recheado de expressões como blz, chat, emoticon e a indefectível risada usada por nove entre dez internautas adolescentes, KKKKKKKKKKK. Uma das intenções dos estúdios Maurício de Sousa com a criação de Bloguinho é utilizar a interface dos quadrinhos para “traduzir” aos leitores a peculiar linguagem usada em chats de Messenger, blogs e fotologs de adolescentes. Admito que necessito de ajuda, afinal de contas como é que existem pessoas capazes de IxCrEvEr kOiZaX dExXe DjEiTuM?

O press-release enviado a respeito do personagem fornece uma estatística estarrecedora: cerca de 7 milhões de usuários já são fluentes nesse tal de “internetês”, esse tal linguajar crivado de expressões como “vc quer tc?“, “sua fotinha tah d++++, mtoooo xow, me adiciona no msn!!!“, ou “lôko o seu blog, naum ker trocar links?“. Continue Lendo

Meus dois centavos sobre o referendo do desarmamento

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 10 de outubro de 2005

As únicas leis que funcionam neste país, uma vez que independem da fiscalização de nosso pantagruélico Estado, são as leis de Murphy e Gérson. Não vejo grande utilidade, pois, na convocação de um referendo que custará cerca de R$ 210 milhões aos cofres públicos, é baseado na falácia de que a proibição da venda de armas bastará para diminuir a criminalidade (como se a desigualdade social de nossa Belíndia, a corrupção na polícia e a falta de investimentos em educação não fossem os motivos principais da violência que grassa por aí) e desvia as atenções da população de assuntos mais relevantes como os processos de cassação dos deputados envolvidos no escândalo do mensalão.

Você reclamava do baixo nível da programação da TV? Ah, isso é porque você não havia sido obrigado a assistir às propagandas imbecilizantes oriundas desse referendo. De um lado, artistas bradando argumentos repletos de lugares comuns, do tipo “eu sou a favor da paz” (ué, existe algum idiota que declare ser pró-guerra?), esvaziando a discussão de um assunto sério com seus rostinhos bonitos e acéfalos. De outro, atores personificando jovens “descolados” que usam o argumento patético de que é preciso votar “não” porque a juventude é intrinsecamente contra qualquer tipo de proibição. Em comum a ambos os lados, o farto uso de números e pesquisas que supostamente corroboram seus respectivos pontos de vista. Não posso deixar de fazer a piada inevitável: 98,75% das estatísticas são totalmente manipuláveis.

* * * * *

P.S. 1: O único referendo ou plebiscito que este país necessita diz respeito ao fim da obrigatoriedade do voto.

Nós na rede.P.S. 2: Perdoe-me se soarei grosseiro, mas não estou minimamente interessado em saber se você votará “sim” ou “não”.

P.S. 3: Indeciso e à procura de mais informações? Não permita que a mediocridade das propagandas televisivas ou a parcialidade de determinadas revistas semanais joguem fora a oportunidade de se fazer um debate minimamente aprofundado. Clique aqui, visite os links do grupo Nós na Rede e conheça opiniões de ambos os lados.

Contrição

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 05 de outubro de 2005

Cansei dessa necessidade que todos parecem ter de expor suas opiniões e depois verem-se compelidos a justificá-las, argumentá-las, passionalizá-las, asseverá-las a ferro e fogo. Certas discussões me lembram aquelas intermináveis mesas-redondas de futebol, em que uma bancada repleta de palpiteiros discute ad nauseam se tal jogador estava impedido, se tal lance foi pênalti ou não, e a troco de quê? Do mais rotundo e absoluto nada.

Já briguei demais com pessoas importantes em minha vida movido por essa vaidade estúpida de querer provar as minhas verdades. Estou saturado de viver em um ambiente cercado de palpiteiros patológicos que, subitamente, tornam-se experts sobre qualquer assunto que esteja sob o imediato foco midiático. Não quero provar que o meu gosto musical é mais refinado, que a minha opinião sobre o porte de armas é melhor argumentada que a sua, que eu li um porrilhão de livros e isso me torna um sujeito mais culto, que eu sou bacana e cool e blasé e indie e antenado.

A compreensão de que minha opinião sobre qualquer assunto é tão relevante quanto saber a cor da tampa do ralo do banheiro público do metrô é algo que ainda apreendo aos poucos, e faz parte do paulatino e dolorido processo de tentar me tornar uma pessoa melhor. Um dia ainda hei de saber filtrar a arrogância, o cinismo e o ceticismo que envenenaram minhas palavras em certos bate-bocas, discussões, e-mails.

(Quem afirma algo como “se eu pudesse voltar atrás faria tudo exatamente igual” é um contumaz imbecil.)

Pretendo, pois, limitar minha participação em embates verbais exclusivamente a situações in loco, ao lado de amigos que me vejam olho no olho e saibam reconhecer meus momentos de ironia, convicção, sarcasmo e, sobretudo, fraqueza.

Versos incompreendidos da MPB: “Controlo o calendário sem utilizar as mãos”

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 21 de setembro de 2005

Capa de Só Love, disco gravado pela dupla Claudinho e Buchecha em 2002.Cláudio Rodrigues e Claucirlei Jovêncio de Souza, dois amigos desde os tempos em que eram vizinhos na comunidade do Salgueiro, talvez representem o caso de dupla mais injustiçada de toda a MPB. Melhor reconhecidos pela alcunha de Claudinho & Buchecha, gravaram seis álbuns entre 1996 e 2002, ano em que Claudinho morreu vitimado por um acidente automobilístico. Tempo suficiente, porém, para que cunhassem alguns dos melhores chicletes de ouvido dos últimos tempos, como “Nosso Sonho” (verdadeiro compêndio da geografia suburbana carioca), “Fico Assim Sem Você” (sucesso recente na voz de Adriana Calcanhoto, conhecido pelos proféticos versos “Amor sem beijinho/ Buchecha sem Claudinho/ Sou eu assim sem você”) e “Conquista” (o hit do “tchurururu”).

Além da inegável veia pop, com influências de funk e soul, é preciso destacar as letras escritas por Buchecha. Ex-auxiliar de pedreiro e office-boy, não chegou sequer a completar o primeiro grau. Em compensação, tornou-se contumaz leitor de dicionários, sendo que cada palavra que chamava sua atenção era anotada em um caderno para posterior aproveitamento em suas músicas. Provém daí a inspiração para versos como “se o destino adjudicar esse amor poderá ser capaz, gatinha” ou “nem sei se era eu próprio, mas me machuquei ao perquirir, notei o seu opróbio”. Atualmente em carreira-solo, Mc Buchecha mantém o vigor de suas composições. Vide, por exemplo, “Laços”, música com samplers de “Pocket Calculator” do Kraftwerk e uma letra de romantismo comoventemente naïf: “Os casais se encontravam na pracinha/ Se abraçavam e se beijavam em puro mel/ Hoje ninguém mais namora e o tapinha/ É o convite mais ativo pro motel”. Continue Lendo

Resenhas express

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de setembro de 2005

Ao traçar o perfil do fotógrafo David Bailey, o jornalista e escritor inglês Tony Parsons extraiu a seguinte declaração do entrevistado: “Todo mundo gosta de um pouco de bajulação, sexo e dinheiro. Se bem que para mim a bajulação não é uma força motivadora tão grande - sem dúvida, prefiro sexo e dinheiro“. Ao escrever sobre os neo-hippies, Parsons vaticinou: “Nenhuma cultura que requer a leitura de O Senhor dos Anéis, Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas e Fernão Capelo Gaivota pode ser realmente boa. Uma gaivota não deve saber porra nenhuma“.

Em um artigo sobre o amor, outro tiro certeiro: “Meu caro apaixonado, você não sabe que o romance nada mais é que o amor antes de ter a chance de ter errado? E você não sabe que, se a frágil flor não for esmagada assim que florescer, então, um, cinco, dez anos depois, você vai estar empurrando um carrinho de bebê no supermercado e se perguntando: ‘Mas onde estará meu verdadeiro amor?’. E ele estará ali, diante de você, seu amor verdadeiro, que ficou frio e distante, olhando amargamente para as datas de validade.Continue Lendo

Sem Analgésico

Por Alexandre Inagakisábado, 03 de setembro de 2005

Devia estar olhando o mar. Em vez disso, minha testa lateja infernalmente. Conseqüência do trânsito das seis, do clima esquizofrênico de São Paulo que amalgama quatro estações do ano em uma semana só, da sinusite latente, dos pressentimentos realistas, dos fatos irrevogáveis que movem os náufragos deste barco desnorteado dos nossos dias. As minhocas berram em uníssono no trapézio dos meus pensamentos, conspurcando o silêncio que não me deixa em paz. Neste exato momento, tudo que eu quero é recostar minha cabeça em um colo que cale todas as buzinas, telejornais, reprimendas imaginárias e cicatrizes que não sabem ficar caladas, e me faça esquecer de tudo que não seja Amor.

O Salão do Livro

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de agosto de 2005

O que dizer do Salão do Livro de Minas Gerais? Ah, foi bão demais da conta, sô! A começar pela organização do evento, com destaque especial para o organizador da mesa, o professor, historiador e boa-praça Afonso Andrade, com quem troquei idéias sobre quadrinhos pouco antes de sermos entrevistados para um programa sobre cinema (tudo a ver, nada a ver).

Eu, que já esperava dar vexame por conta da minha fobia de falar em público, que faz com que eu fique gago, fanho e burro em ocasiões como essas, esqueci mais da metade das coisas que ia falar na mesa de debates sobre blogs e literatura. Menos mal que estava na excelente companhia de Idelber Avelar e Fal Azevedo, que garantiram com sobras de méritos a qualidade da mesa (diga-se de passagem, a participação da Fal foi magistral, triunfal, sucesso total!). Continue Lendo

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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