Onde estão os Wallys musicais?

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Clique aqui para visualizar a fotomontagem de Tatto Araújo em tamanho maior.

Há cerca de dois meses, circulou pela Internet uma campanha publicitária da gravadora Virgin, intitulada “Exercise Your Music Muscles“, em que cada elemento da propaganda remetia a algum cantor ou grupo musical. Não foram poucos os incautas (eu incluído) que gastaram horas tentando descobrir todas as bandas escondidas na fotomontagem. Diante da tremenda repercussão entre os internautas, não tardou para que surgissem as versões brasileiras dessa brincadeira. A primeira, publicada na coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo, pode ser visualizada neste post do Brainstorm#9 (que é, diga-se de passagem, um dos finalistas do concurso internacional Battle of the Ad Blogs).

Pois bem, a revista Flashback também entrou na brincadeira, e em grande estilo. A edição 10, que está nas bancas, traz uma sensacional ilustração de Tato Araújo repleta de Wallys musicais prontos para serem decifrados; para ser mais exato, são 49 grupos e cantores brasileiros. Clique aqui para visualizar a ilustração em tamanho maior, e participe da promoção da Flashback: o primeiro leitor a encontrar todas as bandas e mandar a resposta para [email protected] ganhará uma coleção com quatro DVDs da publicação (a solução será publicada no site da revista no dia 5 de março). E prepare-se para gastar algumas horas de sua vida entretido com mais esta brincadeira…

De volta com nossa programação normal

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 25 de janeiro de 2006

A despeito das politicagens e das balas perdidas, dos juros altos e do despertador nas manhãs de segunda, das manchetes de jornais e das porradas que o mundo continuamente nos dá no estômago da alma, a cada novo ano que surge reencontro sorrisos e pequenos milagres ao meu redor que me fazem constatar, com convicção teimosamente firme, que a vida é doce e cheia de possibilidades.

Eu sei que fazer um balanço de 2005 quase no final do primeiro mês de 2006 é algo que soa tão anacrônico como se a pauta do próximo Globo Repórter fosse uma reportagem sobre ioiôs e bambolês, mas o fato é que meu timing é péssimo, a ponto de eu costumeiramente cumprimentar meus amigos por seus aniversários muito depois de as formigas terem levado a última migalha do bolo. Nos estertores de 2005, uma das resoluções bestas de fim de ano que fiz foi esta: independer do Orkut para lembrar dos aniversários de meus camaradas. Não posso me levar a sério: outra de minhas resoluções é passar a atualizar o blog com maior constância, ho ho ho! Mas enfim, que se foda a descontextualização temporal, até porque uma das melhores coisas de se manter um blog é a liberdade de escrever desvencilhado de pautas.

Neste primeiro post de 2006, não posso deixar de olhar para o retrovisor e saudar 2005, esse ano do caralho em que conheci novos lugares e pessoas, amei, desamei, levei muita porrada, também dei as minhas, fiz novos amigos de infância e não perdi nenhum, fiquei mais próximo de minha família, escrevi para diversas publicações bacanas, mantive minha conta bancária longe do vermelho, ganhei a maior parte das batalhas que travei e, enfim, vivi uma porção de momentos absolutamente sensacionais, que carregarei no bojo de minhas lembranças até o dia em que não estarei mais por aqui.

Cada dia é um novo parágrafo ansioso por ser escrito, cada nova manhã que testemunho me dá vontade de dizer para o sol: agora que você nasceu, não tem mais como se esconder. E que bom, que bom que seja assim.

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Embora tenha abandonado o blog, a ponto de ter sido citado por meu colega Alex Castro em um post sobre a morte da “Velha Guarda” blogosférica (estou tão velho assim?), passei as últimas semanas fazendo pequenas participações em lugares bacanas com os seguintes textos:

- “A Eterna Arapuca” no pra lá de cool Cracatoa Simplesmente Sumiu;

- “Top 5 Filmes de 2005” em minha coluna de cinema no site da Antena 1.

- “O Primeiro Texto a Gente Nunca Esquece” no Alma em Punho da minha amiga Roberta de Felippe;

- “Pombos Urbanos” na edição 2 da revista Cortante, capitaneada por meu colega de Gardenal Flávio.

Ah, também estou nas bancas de jornais, assinando uma matéria sobre Neil Gaiman na edição 10 da revista Flashback, e participo como um dos 92 votantes da lista de melhores do ano organizada pelo Scream & Yell (minha relação de prediletas de 2005 está aqui).

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2006 será o melhor ano de nossas vidas.

Quando eu era criança…

Por Alexandre Inagakisábado, 24 de dezembro de 2005

Não é fácil ser adulto. Basta dar uma passada de olhos pelas manchetes dos jornais para que o ceticismo corroa nossa alma: violência, desemprego, recessão, terrorismo. Às vezes é até uma tarefa inglória alimentar sonhos, quando estamos tão ocupados procurando maneiras de como arranjar dinheiro para pagar as contas no final do mês. Como meu amigo Mário costuma dizer, “a vida é que nem rapadura, é doce mas é dura“.

É por essas e outras que admiro as pessoas que, mesmo batalhando pela sobrevivência no dia-a-dia, conseguem manter viva a criança dentro delas. Não é tão difícil identificar alguém assim em meio à multidão acinzentada: procure por alguém com sorriso fácil, capacidade de rir de si mesmo, mousepad com estampa do Snoopy ou que possua a mania de fazer origamis no meio do serviço ou encontrar nuvens com formato de Bart Simpson pairando no céu.

Imaginação, eis o diferencial. O aspecto que mais admiro na infância está na capacidade desconcertante que as crianças possuem em enxergar cada detalhe do dia-a-dia de maneira espontânea, talvez por ainda não terem sido bitoladas pela visão acachapante dos adultos. Porque uma criança possui a mente aberta, seja para acreditar em Papai Noel ou coelhinho da Páscoa, seja por recriar as coisas do mundo de acordo com o poder de sua imaginação.

Inspirado no site I Used to Believe, que descreve crenças e recordações infantis de internautas do mundo inteiro, faço a seguir um Top 10 de reminiscências e coisas nas quais acreditava quando era criança. Algumas lembranças podem soar tolas hoje, mas ao mesmo tempo me dão saudades de uma época na qual eu era menos cético e mais inocente.

* * * * *

1) Quando eu era criança, acreditava que as estrelas eram os olhos de Deus, que piscavam de vez em quando para a gente apenas para que soubéssemos que havia um cara lá em cima de olho nas traquinagens que aprontávamos.

2) Quando eu era criança, assistia aos desenhos do Ligeirinho e me encantava ao ver aqueles feijões mexicanos que pulavam sozinhos. Uma das maiores frustrações de minha infância foi essa: nunca comi feijões que pulam.

3) Quando eu era criança, meu pai dizia que eu devia cuspir longe as sementes de melancia, porque se engolisse uma delas por acidente nasceriam outras melancias dentro do meu estômago. Pensava comigo mesmo: “ué, será que é assim que as mães ficam grávidas?“.

4) Quando eu era criança, mantinha sempre os meus olhos atentos ao chão, porque acreditava piamente que um dia encontraria uma lâmpada mágica igual à do Aladim. O único problema é que o gênio provavelmente só saberia falar árabe, e eu ficava angustiado pensando em como conseguiria me fazer entender. Aliás, eu tinha na ponta da língua o primeiro pedido que faria ao gênio: “quero que o senhor me conceda mais cinqüenta desejos!“.

5) Quando eu era criança, assisti a uma reportagem sobre um tal “morto que riu”. A matéria relatava que durante um velório um dos presentes resolveu tirar uma foto do morto dentro do caixão. No entanto quando ele foi revelar os negativos levou o maior dos sustos, porque o morto aparecera sorrindo na fotografia. Até hoje sinto calafrios toda vez que lembro da cara do finado (sim, o “Fantástico” exibiu o retrato do mesmo no final da matéria). A propósito, eu também tinha medo de qualquer reportagem apresentada pelo Hélio Costa.

6) Quando eu era criança, acreditava que sempre chovia nos dias de Finados. E que essa chuva era na verdade as lágrimas derramadas pelos mortos que ficavam emocionados ao ver suas famílias visitando (ou não) seus túmulos.

7) Quando eu era criança, minha mãe dizia que se eu imitasse um gago por mais de cinco minutos, ficaria assim para sempre. Desde então, toda vez que eu imitava um ga-ga-gago, ficava de olho no cronômetro do meu relógio digital e esperava até que dessem exatamente quatro minutos e cinqüenta e nove segundos, para cessar a brincadeira bem em cima do deadline.

8) Quando eu era criança, me apaixonei irremediavelmente pela Daphne da Turma do Scubidu. Talvez seja essa a razão da minha atração por ruivas, sejam elas pintadas ou não.

9) Quando eu era criança, morria de medo de ficar engasgado com uma bala Soft. Certo dia, batata: realmente me engasguei com uma que ficou entalada na garganta. Fiquei tão desesperado que comecei a correr estabanado pelos corredores da casa da minha avó procurando por ajuda; no susto, acabei engolindo a maldita. Nunca mais pus uma Soft na boca.

10) Quando eu era criança, não conseguia entender como funciona o tal do Amor (aliás, o adulto aqui continua sem entender patavina nenhuma). Ficava imaginando: “pôxa, mas e se a minha alma gêmea morar na Finlândia ou na Nova Zelândia? Como a gente vai fazer pra se encontrar?“.

* * * * *

P.S. 1: Esta é uma versão remixada e remasterizada de antigo texto reeditado em formato de Top 10 especialmente para o site das Garotas Que Dizem Ni.

P.S. 2: Pena que a versão brasileira do I Used to Believe, intitulada Quando eu era criança eu acreditava…, foi abandonada.

P.S. 3: Faça um japaraguaio feliz, pergunte-me como.

P.S. 4: Feliz Natal e um Próspero Ano Todo a todos!

Virunduns reloaded

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

logovirundum.jpg
Um dia ainda hei de ver a palavra “virundum” tornar-se verbete de algum dicionário. Desde que publiquei um texto em 31 de março de 2002 sobre esse neologismo criado pelo pessoal do Pasquim para definir os equívocos que cometemos ao cantarolar músicas (exemplos clássicos: “Virundum Ipiranga às margens plácidas”, “trocando de biquíni sem parar”, “Alagados, cristal, favela do Avaré”), muita água rolou por essa ponte. O artigo rendeu tanto burburinho que acabou por inspirar a criação de um blog exclusivamente sobre virunduns, que por sua vez repercutiu a ponto de rendido matérias em tudo quanto é jornal nos idos de 2003. Porém, a brincadeira acabou por cansar, e o site atualmente anda repleto de teias de aranha virtuais. Outro dia, no entanto, ao deixar comentários no excelente blog do Pedro Alexandre Sanches (diga-se de passagem, o primeiro jornalista a fazer uma matéria sobre o Virunduns, na época em que ainda escrevia para a Folha de S. Paulo), o assunto voltou à tona, provocando ainda boas gargalhadas.
Hoje, ao reler os arquivos do blog dos Virunduns e as discussões na comunidade no Orkut, não pude deixar de resistir à compulsão de compartilhar algumas das mais sensacionais pérolas auditivas e/ou cognitivas causadas por ouvidos incautamente desatentos. Divirtam-se, enquanto o site Virunduns.com não entra no ar…

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Liah:
“Em uma música do Roupa Nova que falava ‘se você sente o corpo colar, solte seu medo bem devagar‘, minha mãe cantava: ‘se você sente o corpo colar, solte seu membro bem devagar’. Safadiiiiiiinha…”
Áureo Dias de Souza:
“Minha irmã canta na música da Marisa Monte: ‘... e eu quero ver o seu corpo PELUDO junto ao meu, vem meu amor, vem pra mim…’”
Bruno (vocalista do Biquíni Cavadão):
“- Um dia a mãe do Toninho tomou conta de mim (Tédio)
- Me deixe cavalgar nos seus desatinos, fazer voadas e demoninhos (Vento Ventania)
- Eu carrego comigo a grande agonia de pensar em você no dourar do dia (Timidez)”
Marcos VP:
De: “mais fácil aprender japonês em braille
Para: “mais fácil apedrejar pôneis em Bali…” (Djavan)
Érika Christina Piol de Paula:
“Tinha uma música do Cláudio Zoli que a gente cantava: Na madrugada a vitrola rolando um blues/ RODANDO O PENIQUINHO sem parar…”
Claudia:
“Quando era pequena e assistia na TV Domingo no Parque e outros programas do Silvio Santos, a Gretchen sempre aparecia para cantar. Ela começava a rebolar o piripiripiri e cantava: ‘Jecirandá, ooo, jecirandá, ooo, jecirandá, ooo, o mon amour, ai ui‘. Anos e anos depois fui descobrir que a letra verdadeira era ‘je suis la femme, ooo, etc‘”.
Kelen:
“A minha alma tá lavada e apontada para a cara do sossego. Os spice boys, spice boys não é mais o mesmo” (Rappa)
“É como não provar o néctar do amor, depois que o coração defeca a mais fina flor” (Skank)
“Eu perguntava tu e o Holandês, e te abraçava tu e o Holandês” (Roupa Nova)
“Fui numa festa genicubra livre, e na vitrola o whisky aloprou” (Roupa Nova)
“Será que o meu cílio tem haver com o seu” (Claudio Zoli)
Marko Mello:
“Quando eu era pequeno e ouvia Lobão, na música Radio Blá, ele falava: ‘… é a onda da paixão PARANÓICA’. Eu, na minha ignorância juvenil, pensava: ‘Quem diabos é Nóica??’, porque entendia ‘onda da paixão para Nóica‘… Que coisa de retardado…”
Arnaldo:
“Cuidado com o disco voador, tira essa escada daí.
Essa escada é pra ficar aqui fora,
Eu vou chamar o síndico: SILMARA! SILMARA! SILMARA! SILMARA!”
José Roberto Rodrigues:
“Um grande amigo meu assassinava a música Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones desta forma: ‘Era um garoto que como eu amava os FLINSTONES e os Rolling Stones… Stop com Rolling Stones, Stop com PETER SON, mandado foi ao Vietnã, lutar com o KING KONG’”.
Pedro Alexandre Sanches:
“tem um outro que talvez não ganhe dos pôneis apedrejados de bali, mas é campeão em mobilizar minha gargalhada interna a cada vez que me lembro. era de ‘desculpe o auê’, da rita lee, naquele trecho que diz que ‘por você vou roubar os anéis de saturno‘. a pessoa, olha que doçura mais maldosa, entendia ‘por você vou roubar os anéis e usar tudo‘. outro dos meus virunduns prediletos, ouvido por cristina naumovs (sumiiiiida) quando era pitoca: pra ela, em vez de ‘e o nosso beijo era uma bomba atômica‘, a blitz cantava ‘e o nosso chuveiro jorrava água tônica‘, hahaha”.
Carol:
“Sabe aquela música do Raul Seixas Medo da Chuva? Pois bem, aos 5 anos eu cantava “eu perdi o meu dedo, o meu dedo, o meu dedo na chuva…”
Naila:
“Minha irmã mais nova cantava ‘QUE BOM PODER ESTAR COMIDO DE OVO‘ em vez de ‘que bom poder estar contigo de novo‘ naquela música da Elba Ramalho. Dou um desconto, ela só tinha 7 anos…”
Silvia Curiati:
“Eu cantava a música Eva, do Rádio Táxi, com a maior convicção do mundo: sabia a letra direitinho…
desenhoinagaki.gifMeu amor olha só hoje o sol não apareceu
É o xis da aventura humana na Terra
Meu planeta adeus fugiremos nós dois naca di num é
Olha meu amor, o final da unicéia terrestre
Suadão e você será…
Minha pequena égua, o nosso amor na última astronave,
Além do infinito eu vou pro ar
Sozinho e com você
Evoluando bem alto,
me abraça pelo espaço deslizante,
Me cobre com teu corpo de lua
A força pra viver…
E minha vida é um splash de controles, botões enditômicos…”
Merry:
“Trabalhei anos numa rádio popular e virundum era coisa comum entre os ouvintes. Mas o mais inesquecível foi este: meu amigo Rick, programador na época, penou muito para descobrir que raio de música era ‘MIKE LOVE - ERSO PLAY’, que o ouvinte pedia através de carta, para tocar no horário de flashbacks. Depois de umas duas horas rachando a cabeça, Rick, que era obstinadíssimo, conseguiu elucidar o mistério e literalmente chorou de rir com a descoberta… O que o ouvinte queria ouvir era a música MAKING LOVE do AIR SUPPLY!!!”

Observações ao léu

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Detesto dirigir. Pedestre convicto, também sou assíduo freqüentador dos ônibus e metrôs de Sampa City. Em vez de me estressar na posição de motorista enfrentando os ziguezagues dos motoboys, os faróis altos ou as agruras dos congestionamentos que pipocam pelas ruas saturadas da metrópole, atenho-me à condição de passageiro que aproveita os olhos livres para ler revistas, tirar breves cochilos ou simplesmente vendo as pessoas que passam por meus olhos.

É claro que nem tudo são louros. No ônibus a caminho para o trabalho invariavelmente viajo de pé, espremido feito os livros nas prateleiras abarrotadas do meu quarto. Mas é nessas horas que percebo o quanto tornou-se fundamental andar com meu iPod, que uso com fones de ouvido comprados em camelô (os fones brancos originais do iPod são tão discretos quanto um ornitorrinco fazendo cambalhotas). Nada como uma boa trilha sonora (no caso, “Everything Flows” do Teenage Fanclub) para tornar uma insípida viagem de busão algo mais palatável.

* * *

O mais poderoso slogan cunhado neste ano não foi criado por nenhum publicitário. O (dúbio) mérito deve ser creditado aos traficantes que mataram os incendiadores do ônibus no Rio, que deixaram um recado do lado de fora do carro em que jaziam os corpos dos quatro bandidos assassinados: “do lado certo da vida errada”. De quebra, arremataram tal frase com o complemento: “fé em Deus”. Não sou ateu, mas às vezes a metralhadora diária das manchetes de jornais me obriga a pensar se não estou enganado quanto às minhas convicções. Continue Lendo

A tira mais triste de todos os tempos

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Clique aqui para ler o post sobre as mais belas tiras de Calvin e Haroldo.Em 21 de março de 2005 postei em meu endereço antigo no Gardenal.org uma tira desenhada por um fã de Bill Watterson que retratava o hipotético momento em que Calvin deixava de ver Hobbes como seu amigo (imaginário ou não), e o tigre tornava-se um mero bicho de pelúcia.

Na época houve uma certa repercussão, mas nada comparado ao que aconteceu quando a tira foi descoberta pelas comunidades no Orkut dedicadas ao personagem. Em uma comunidade de fãs de Calvin & Haroldo, por exemplo, um mero tópico com um link simples para o meu blog recebeu 154 postagens, com direito a um bate-boca dos mais exaltados entre os participantes, que discutiram a validade de uma tira que não havia sido desenhada pelo criador original do personagem. Mais recentemente, o post também acabou indo parar em uma comunidade em inglês, gerando novas discussões acerca de suas possíveis leituras.

Como meus arquivos no Gardenal sumiram, desapareceram, escafederam-se, e junto com eles todos os posts que publiquei em 2005, aproveito a ocasião para republicar aqui o texto original. Em tempo: a tradução da tira que ilustra este post foi feita por Eduardo Couto e publicada em 12 de abril.

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Bill Watterson, provavelmente acometido pela Síndrome de Bartleby, teve publicada sua última tira de Calvin & Haroldo em 31 de dezembro de 1995, e nunca mais publicou um desenho sequer de sua maior criação. Desde então Watterson vive recluso com a esposa em Chagrin Falls, Ohio. Não vai a convenções de quadrinhos, não assina autógrafos, não concede entrevistas e ainda solicitou à Universal Press Syndicate, que distribui mundialmente as tiras de Calvin & Haroldo, para que ela não lhe encaminhasse mais correspondências de fãs.

É inevitável comparar suas atitudes com as tomadas por escritores como J. D. Salinger, Raduan Nassar ou Juan Rulfo, que espontaneamente abdicaram da literatura e foram cuidar de suas próprias vidas; que eles sejam felizes, porque merecem. Quanto à tira publicada ao lado, é preciso dizer que ela não foi desenhada por Bill Watterson. Encontrei-a em uma comunidade de fãs de Calvin, e infelizmente desconheço o seu autor. É, para mim, a mais triste, mas também uma das mais belas tiras que já vi na vida, por toda a riqueza de significados que ela apresenta. Poderia tergiversar horas sobre o universo de Calvin, amigos imaginários, conformismo social ou as asas que desaprendemos a usar. Mas, por ora, limito-me a citar as últimas palavras do último quadrinho desenhado por Watterson:

- “It’s a magical world. Hobbes, ol’ buddy… let’s go exploring!”

* * * * *

P.S.: Eis um blog brasileiro exclusivamente dedicado à publicação de tiras do personagem: Depósito do Calvin.

Rápidas rasteiras

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Ótima a coluna mais recente de João Pereira Coutinho para a Folha Online, sobre Woody Allen. Mas sou obrigado a discordar do texto de JP Coutinho em três pontos:

a) à santíssima trindade de filmes woodyallenianos elencada por Coutinho (“Hannah e Suas Irmãs”, “Crimes e Pecados” e “Desconstruindo Harry”), eu acrescentaria “Annie Hall”, talvez o mais belo filme de todos os tempos a descrever um amor que nasce, cresce, morre e se transforma em amizade;

b) Peter Bognadovich dirigiu, na verdade, quatro longas excepcionais. Além dos citados “A Última Sessão de Cinema” e “Lua de Papel”, também foi o responsável por “Esta Pequena é uma Parada” (comédia com Barbra Streisand no melhor estilo das screwball comedies produzidas nos anos 30 e estreladas por atores como Cary Grant e Katharine Hepburn) e “Na Mira da Morte” (ótimo filme sobre um franco-atirador, com Boris Karloff no papel de um velho ator de filmes de terror que resolve se despedir do cinema por ojeriza à violência do cinema contemporâneo);

c) dizer que Truffaut só realizou três grandes filmes é uma enorme injustiça cometida por JP Coutinho. Tendo a imaginar que meu colega português não assistiu a “O Homem que Amava as Mulheres”, “A Sereia do Mississipi” ou “Fahrenheit 451″, por exemplo. Também não deve ter visto “Beijos Proibidos“, segundo longa-metragem protagonizado por Antoine Doinel, alter ego de Truffaut. É desse filme uma das minhas seqüências prediletas de todos os tempos. Nela, Antoine (Jean-Pierre Léaud) está sentado em um banco ao lado da mulher por quem está apaixonado, Christine (Claude Jade). Ela está sendo seguida semanas a fio por um misterioso homem, que, ao ver o casal sentado na praça, resolve finalmente lhe dirigir a palavra. Diz o estranho:

- Nunca havia provado o gosto do amor, até que conheci você. A vida é repleta de experiências provisórias, de pessoas provisórias. Mas eu sei que, para você, serei definitivo. Não estou pedindo para que você me diga “sim” neste momento. Eu lhe darei um tempo para pensar. Quero apenas que você saiba que eu a amo, muito. E que estarei aqui, para você, sempre.

O homem vai embora sem olhar para trás. Christine e Antoine se entreolham, ainda atordoados, em silêncio. Até que Christine desabafa:

- Esse homem é completamente louco!

Amor é como jazz ou zen-budismo: não é para ser explicado, vivencia-se.

* * * * *

Ainda sobre cinema, saibam que continuo com minha coluna no site da Antena 1.

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Abram a porta, pelo amor de Deus! Minha filha é uma criança!“. O Rio de Janeiro continua lindo, mas saber de notícias como a do atentado contra o ônibus da linha 350 me obriga a ficar com os três pés atrás com relação ao meu projeto de um dia morar na Cidade Maravilhosa. Em meio à guerra urbana que assola o Rio, a governadora Garotinho permanece afastada por stress, enquanto seu marido ainda fomenta o plano de se candidatar à Presidência. Este país definitivamente não é para principiantes.

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Blog Tour. O post que a Viva publicou no dia 29 de novembro, na nova URL do Nós por Nós, é uma das mais belas declarações de amor que li nos últimos tempos. Luciana, mulher movida a paixões, acabou de passar no vestibular para Jornalismo (muita sorte pra você, mon ami!). Recomendação entusiástica da casa: conferir a poesia de Bruna Beber em sua Cutelaria & Chapelaria. Dois dos meus gurus na blogosfera: Mario AV e Zel. Manobra, 1979 é, com sobras, o melhor dos novos blogs surgidos nos últimos tempos. Por fim, a indefectível nota ególatra: segundo o Yahoo! Search, existem 33.103 links apontando para o domínio pensarenlouquece.com (servimos bem para servir sempre).

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Deus está na fé que ainda insistimos em ter no outro“. (Gabriela Franco)

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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