Mônica cresceu, apareceu e me fez envelhecer
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Já faz algum tempo que chegaram às livrarias e bancas de jornais as aventuras da Turma da Mônica jovem, que mostram os personagens clássicos de Maurício de Sousa em versões adolescentes e traços característicos de mangá. Eu, que quando pirralho devorava com prazer as histórias dos planos “infalíveis” do Cebolinha e do Cascão, confesso que não dei a menor pelota quando saíram os primeiros números dessa fase teen da Mônica. Mas ontem, quando caiu um aguaceiro em São Paulo e fui obrigado a ficar mais tempo do que o planejado na Fnac da Paulista, folheei pela primeira vez um desses exemplares da versão Malhação da turma da Mônica, e fiquei estarrecido ao descobrir, enfim, novidades que já haviam abalado outros blogueiros como a trupe do Melhores do Mundo.
Pois é. Tive de ficar preso em uma livraria para descobrir que os personagens da minha infância foram atacados pela sanha politicamente correta que fez com que a Magali deixasse de ser a glutona de sempre para passar a se alimentar de maneira balanceada; para saber que o Cebolinha, após tratar-se com uma fonoaudióloga, estava deixando de trocar o “r” pelo “l”; e para descobrir que o Cascão traiu o movimento, véi, foi cooptado pelo establishment e agora toma banho. Mas o choque maior não foi causado pelo mangá da Turma da Mônica jovem, e sim pela capa de outra revista, a Sax.
Esqueçam aquela Mônica baixinha, gorducha, rabugenta e que surrava os meninos da vizinhança com seu coelho de pelúcia. A edição deste mês da revista Sax estampa em sua capa o desenho de uma adolescente peituda, sensual, com correntinha no tornozelo, um sorriso e uma piscadela faceira no rosto. Mônica cresceu, apareceu e exibiu uma faceta sexy que o leitor de quadrinhos aqui jamais tinha imaginado. Para mim, foi um impacto quase similar ao do dia em que vi a Simony da Turma do Balão Mágico pelada na revista Playboy de dezembro de 1994, quando vi um ícone da minha infância despir-se, fazendo com que os primeiros fios de cabelos brancos brotassem em minha cabeça.
Eu compreendo os motivos que fizeram com que Maurício de Sousa promovesse essa versão adolescente. Muitos consumidores como eu há tempos haviam deixado de ler os gibis da turma da Mônica, e ele quis que seus personagens acompanhassem o crescimento de seus leitores. O sucesso comercial de sua nova empreitada é inegável; como reporta o site Universo HQ, a nova publicação já emplacou a lista de livros de ficção mais vendidos do jornal O Estado de S.Paulo. E eu sei que vai soar a reclamação de fã purista, mas não posso deixar de sentir um certo incômodo ao constatar que, movidos por essa necessidade atávica atual de se dar “bons” exemplos à juventude, as principais características dos personagens clássicos de Maurício de Sousa foram deixadas de lado nessa versão mangá. E, pior do que saber que o Anjinho agora se chama Céuboy, foi constatar que aqueles garotos perderam as suas peculiariedades, tornando-se normais e pasteurizados feito todo mundo. Foi como ver o Calvin deixando sua imaginação hiperativa de lado, encarando o Haroldo como um simples boneco de pelúcia na tira mais triste de todos os tempos.
Enfim, o fato é que envelheci. Essas histórias da nova fase da turma da Mônica são destinadas a um público muito diverso, eu definitivamente não pertenço ao target dessa publicação. Certamente há leitores de sobra para essas novas aventuras, da mesma maneira que deve ter gente que gostou de ver os desenhos nos quais a Pantera Cor-de-Rosa falava, Tom e Jerry também ganharam vozes e tornaram-se melhores amiguinhos e o Pica-Pau deixou de ser o psicótico insano e sacana das animações dos anos 40 e virou um pássaro domesticadamente sonso, preocupado em dar bons exemplos para seus sobrinhos Toquito e Lasquita.
P.S. 1: Pra não dizer que tudo são espinhos, foi bacana ver que as histórias da Turma da Mônica Jovem vieram com os créditos devidamente discriminados, dando aos leitores a oportunidade de saber quem foi o roteirista e o desenhista de cada HQ. Eu, que havia comentado o assunto há quase três anos no post “Bloguinho e a questão dos créditos em HQs”, parabenizo Maurício de Sousa por ter revisto sua postura anterior.
P.S. 2: A julgar pelo teaser abaixo, mais novidades retumbantes vem por aí nessa fase Malhação da turma da Mônica…
Confiram: o beijo de Mônica e Cebolinha na revista “Turma da Mônica Jovem”.
P.S. 3: O leitor Akira deixou nos comentários deste post uma imagem do gibi da Turma da Mônica Jovem na qual Anjinho e Franjinha, agora rebatizados como Céuboy (ou… Crêuboy?) e Franja, trocam diálogos de uma sapiência irada:
- Aqui a parada é frenética. O bate-saco rola à vera. 100% prostituto!!!
- Muleke piranha!!!
P.S. 4: Os leitores Daniel F. Silva e Ana Margarites me alertaram para o fato de que a imagem que publiquei no P.S. anterior é apenas uma montagem. :)
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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