Lasier Martins e a memória audiovisual do YouTube
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
Quem cresceu tendo a televisão como babá eletrônica possui como principais referenciais de memória afetiva lembranças audiovisuais. Não é de se admirar, pois, que o YouTube tenha se tornado, em tão pouco tempo, um site tão imprescindível a ponto de ter causado comoção nacional quando foi bloqueado devido a certa ação na Justiça. Imagens que pensávamos que jamais teríamos a oportunidade de rever foram parar na rede graças ao ovo de Colombo que é o YouTube, primeiro site a efetivamente democratizar tanto a publicação quanto a visualização de vídeos raros como o momento em que Roberto Carlos apresentou a canção “Amigo” pela primeira vez para um emocionado Erasmo Carlos, a cena de um filme mostrando João Gilberto, Tom Jobim (sem camisa) e Luiz Bonfá cantando em uma praia para três embevecidas fãs, ou a abertura do programa Globo Cor Especial, cujo tema era a sensacional “Cinto de Inutilidades“, composta por Nelson Motta, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (sim, o YouTube ainda renderá muitos posts aqui).
Ao se referir ao YouTube, não é possível deixar de citar o poder que o site possui de ser um veículo de denúncia de arbitrariedades que ocorrem mundo afora, sejam elas um ato de brutalidade policial em Oaxaca, México, ou um ataque aéreo em meio aos embates envolvendo Israel e o Hizballah (recomendo, aliás, a leitura de “The Beast With a Billion Eyes“, excelente artigo de James Poniewozik para a revista Time). Mas é incontestável afirmar que um dos maiores apelos do YouTube é o fato de o site representar uma fonte inesgotável de puro entretenimento.
Tudo, simplesmente tudo parece que um dia vai parar lá, em especial as coisas que a gente nem sabia que existiam, como no caso do vídeo do Silvio Santos e a menina da piada do bambu. Outro ótimo exemplo do que digo é esta pérola que começou a circular há cerca de um mês no YouTube: Lasier Martins tomando choque.
Uma busca ao oráculo Google revelou as circunstâncias dessa cena sensacional, descritas por Leo Prestes, do excelente blog Fiambres:
Primeiro momento mais ridículo da televisão gaúcha (1997) – Todos sabem do que eu estou falando, né? Verão de 1997. Festa da Uva. Lasier Martins. Uva Itália. ‘Aqui do lado, Pederneiras’. Fio desencapado. 220 volts. Aaaiaiaiai. Cristina Ranzolin fazendo pouco caso. Comentário de Falcão após os comerciais. Não há semana em que eu não escreva ‘Lasier’ na barra de search do YouTube, esperando que alguma alma caridosa divida isso com a sociedade. Aos amigos que têm essa VHS em casa (sim, eles existem), um recado: vocês, mantendo esse tesouro em uma gaveta, estão prestando um desserviço à comunidade. Guardar isso para vocês é a mesma coisa que descobrir a cura da AIDS e ficar esfarelando os comprimidos na frente de um grupo de crianças nigerianas. É o que eu acho. Nunca falei tão sério na minha vida.
Felizmente alguma alma caridosa atendeu ao pedido do blogueiro que redigiu o texto acima. E outra, tão generosa quanto, tratou de brindar todos nós com o Funk do Choque do Lasier Martins.
Antes que alguém me pergunte: Lasier Martins sobreviveu firme e forte ao choque e à indiferença da apresentadora do telejornal, e trabalha atualmente como comentarista político da RBS. ttp://www.pucrs.br/famecos/vozesrad/lasier/lasier.html”>vários links para quem quiser saber mais a respeito da biografia do protagonista sui generis deste vídeo.
P.S.: Uma pequena hecatombe (contradição em termos) assolou meu computador neste final de semana. Em conseqüência, por pouco não perdi anos de e-mails. Não seria a primeira vez: em 2004 eu, que era usuário de Outlook Express (hoje uso Thunderbird), vi evaporarem 6 anos de correspondências. Defeito colateral da necessidade que possuímos de terceirizar o espaço de nossa memória, cada vez mais dependente das muletas de agendas eletrônicas, memory chips de celulares, backups em CDs ou pen drives. Sim, as lembranças mais importantes de minha vida estão guardadas em meu cérebro e coração. Mas, por outro lado, que falta que fez um caderno de anotações daqueles movidos a caneta e papel na hora em que constatei que meu antigo celular não estava mais em meu bolso…
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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