Dinheiro na mão é vendaval (publieditorial)

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dizer que educação é a base de tudo virou lugar comum. Mas, mais do que a grade curricular ultrapassada que faz com que alunos passem anos estudando matérias que não terão uso prático, em vez de aprenderem noções de cidadania e educação financeira, creio que o maior calcanhar de Aquiles está na falta de estímulo à pró-atividade. Afinal de contas, em tempos nos quais a internet disponibiliza todo um dilúvio de informações muito mais amplo do que a minha coleção completa de enciclopédias Barsa e Mirador era capaz de oferecer, quem souber procurar conseguirá encontrar os conhecimentos que mais lhe interessam.

Contudo, parafraseando aquele provérbio chinês, quantas pessoas estão preparadas para pescar em vez de mendigar peixes? E, mais do que isso, quantos terão a capacidade de articular os diversos conhecimentos adquiridos para, a partir das faíscas causadas por esses atritos de pensamentos, serem capazes de construir alicerces sob os castelos de ideias, transformando abstrações em realizações concretas?

Crescemos em um ambiente no qual fomos educados a estudar muito (sendo orientados a não contestar professores e autoridades) para conseguirmos bons empregos. E, com isso, atingir um certo status econômico e social, realizar o tal “sonho da casa própria” e, enfim, obter a tal da estabilidade. Mergulhamos na sociedade do consumo e, agindo de forma quase automática, compramos coisas que não precisamos. Afinal, somos estimulados a ter a versão recém-lançada de iPhone, o carro cool que se conecta às redes sociais, o antitranspirante que deixa as axilas mais bonitas ou o desodorante que oferece 48 horas de proteção (perguntar não ofende, algumas respostas sim: quem usa um desodorante desses pretende passar dois dias sem tomar banho?).

O tempo vai passando e você vai levando a vida naquela zona de conforto clássica, até que a empresa em que você trabalha passa por uma reengenharia de processos e você perde o emprego. Nenhum chefe repensará uma decisão nem desejará saber dos longos financiamentos que foram assumidos até a quitação da casa própria. E você, que passou anos acomodado no ciclo vicioso de trabalhar em uma atividade nem sempre gratificante em troca de um salário mensal, talvez com carteira assinada, vale-refeição e assistência médica, de repente sente que o mundo desabou em meio a gastos supérfluos, gratificações consumistas imediatas e uma assustadora falta de perspectivas, diante do fato de que você não foi capaz de construir um patrimônio sólido o suficiente para enfrentar esse novo cenário.

E tudo isso porque você estava preso na Matrix da Classe Média. Mas do que se trata isso exatamente? Seiiti Arata, um cara que gosta de ajudar pessoas e de fazer amigos (e recebe dinheiro pra isso), fez um vídeo para explicar essa situação.

Você se reconheceu em algum desses comportamentos? Ou, no mínimo, crê que precisa refletir melhor sobre sua vida financeira e aprender a gerenciar melhor seus gastos e investimentos? Então chegou a hora de descobrir quais são os Quatro Cavaleiros da Pobreza e repensar alguns dos seus hábitos antes que a vida se encarregue de lhe ministrar lições que você temia ter que aprender. Nessas horas, os versos clássicos de Paulinho da Viola caem feito luva:

Mas é preciso viver
E viver não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão”

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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  • Wesley Caiapó

    “…matérias que não terão uso prático…”. Será que não têm mesmo ou não nos são apresentadas? Sou graduando do curso de Administração Pública EaD da Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Recentemente vivenciei uma dessas situações de não entender onde a teoria encontraria a prática.

    Na primeira oferta de Matemática nos assuntos de Limites e Derivadas, fomos apresentados à teoria pura. Foi um fracasso pra mim e para boa parte dos alunos, pois não vimos a realidade explicitada naquelas equações. Na reoferta o foco mudou. Vimos as suas aplicações à administração e economia. Neste momento vi o quão distante era a minha percepção da realidade e o quanto estes conhecimentos são uteis aos administradores.

    Então, talvez nem seja o caso de retirar matérias da grade curricular, mas de adaptá-las às especificidades de cada curso, tirando o melhor proveito da teoria aplicada à prática.

    E concordo que deveríamos ser apresentados tão cedo possível ao conhecimento de como administrar nosso dinheiro, nossa carreira, o tempo e a aprender a empreender. E no rol dos conhecimentos muito necessários, recomendaria também o ensino do Direito desde a mais tenra idade: poucas coisas nos igualam tanto quanto o exercício da Justiça.

  • João Guedes

    Dinheiro é dívida, a grande desgraça da humanidade. Mas me limitarei aqui apenas a comentar que seu post descreve praticamente todas as pessoas que me cercam. E eu? Anticapitalista e anarquista, sofro.
    Mas todos estão felizes, trabalhando em empregos que odeiam para comprar porcarias que não precisam, como diria Tyler Durden.  Continuam a vagar pelo mundo sem propósito, pelo menos não um que tenham escolhido como sendo fruto de suas próprias reflexões, pensamentos e princípios.  Mas o louco é quem não adere, louco é quem não se encaixa, nessa tal matrix.

    “Você está no mundo só tem uma opção, o caminho é longo homem ser feliz ou não..
    Enquanto os transeuntes na avenida comercial, muito preocupados sem saber o que pensar”

    - Raul Seixas

    Muito obrigado pelo post!

  • Cintiacitton

    Acabo de me identificar profundamente com a matrix da classe média… Ainda me salva um pouco não participar dos episódios de compras-zumbi, mas eealmente marquei mais alternativas das que achei que marcaria. E o pior é que ele tem razão. Em algum momento terei que deixar esse lado procrastinador, deixar de preguiça e medo e tratar deste assunto. Mas é quase tão difícil quanto iniciar dietas ou deixar de ser sedentária…

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Cíntia, nada como um bom desafio pra fazer a gente sair da inércia natural. :) O primeiro passo, fundamental, você já deu: o reconhecimento de que é preciso sair desse estado.

  • Pingback: Inagaki

  • Ale Hanks

    Muito boa e oportuna a reflexão. Tenho pensado bastante nisso ultimamente, pois sou uma dessas criaturas que não têm reserva financeira pras horas difíceis, e isso traz uma insegurança danada. O sujeito tem que parar mesmo pra pensar…

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Pois é, Ale. Educação financeira seria matéria obrigatória nas escolas, se dependesse de mim. É um conhecimento fundamental, e tenho certeza de que uma boa parcela da população brasileira estaria em melhores condições se aprendesse algumas noções básicas de economia em vez de ficar decorando tabela periódica só pra ganhar pontos no vestibular.

      • http://arataacademy.com/port Seiiti Arata Jr.

        Fala @inagaki:disqus ! Fiquei super contente com a publicação - valeu! 

        Sobre a questão da matéria de educação financeira obrigatória nas escolas, tem novidades boas. Se eu, você e @657378a9661400d4eb53d1d3541c0898:disqus estivéssemos começando nossa alfabetização agora, já poderíamos contar com avanços de pedagogia: o amigo Adenias Gonçalves dá mais explicações sobre a situação atual (2011/2012) aqui:http://www.arataacademy.com/port/entrevista-com-adenias-goncalves-analfabetismo-financeiro-e-instituto-dsop/

        • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

          Excelente notícia, Seiiti! Não por coincidência, justamente hoje vários programas como Encontro com Fátima Bernardes e o jornal Hoje exibiram matérias e entrevistas sobre controle de gastos e planejamento financeiro. Ou seja, o assunto está em voga, ressaltando a importância de uma boa orientação financeira.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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