Dieta do impostão (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 14 de outubro de 2010

Toda vez que penso no assunto, lembro do aforismo clássico de Benjamin Franklin: “Há duas coisas inevitáveis na vida: a morte e os impostos.” No Brasil, essa frase ganha ainda mais sentido, levando-se em consideração os mais de 70 tributos existentes. E que, embutidos no preço de cada produto ou serviço que consumimos, fizeram com que em 2010 os brasileiros tenham sido obrigados a trabalhar 148 dias para pagar impostos. Pudera: em média, cada brasileiro é obrigado a destinar 40,54% da sua renda para a carga tributária deste país.

Uma das informações mais estarrecedoras, no site da Dieta do Impostão, diz respeito à carga tributária incidente nos produtos que consumimos diariamente. Você sabia, por exemplo, que impostos filam nada menos que 17% do pão, 36% da manteiga, 20% do café, 19% do leite e 17% do queijo que você consome a cada café da manhã? Vale a pena baixar a tabela completa do impostão no dia a dia, a fim de ter plena consciência das cargas tributárias surreais que incidentes nos itens presentes em seu cotidiano.

É inacreditável constatar que, desde 1996, a reforma tributária está na pauta das discussões políticas, mas nunca é levada adiante. De lá para cá, a carga de impostos aumenta paulatinamente; se em 1996 cada brasileiro precisava trabalhar “apenas” 3 meses e 10 dias para quitar todas as suas obrigações tributárias, em 2010 tivemos que labutar até o dia 28 de maio para pagá-las. Ok, impostos são realmente necessários para financiar o Estado. Mas, em troca, não deveríamos receber serviços decentes de educação, saúde, transporte público, segurança e infraestrutura? Em meio a uma campanha lamentavelmente polarizada por embates de cunho religioso, o que os candidatos à Presidência têm a dizer sobre uma mais do que necessária reforma tributária, tão aguardada quanto Godot?

É óbvio que não devemos depender só do Estado para que as coisas mudem. Cada cidadão necessita cobrar de seus candidatos uma posição sobre a reforma tributária, tendo ciência do que é feito com os impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições previdenciárias e/ou contribuições compulsórias que são pagos diariamente. Além de participar do abaixo-assinado a favor de “menos impostos e mais dos impostos”, é preciso disseminar informações sobre o assunto e cobrar das empresas que elas sigam o exemplo da Apple Store, que explicita os impostos e taxas incidentes nos preços de seus produtos. Ou você acha que basta xingar muito no Twitter para que esta reforma, que vem sendo protelada anos a fio, finalmente saia do papel?

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • http://tudovaleapenard.blogspot.com/ Radson
  • http://garotomarciano.blogspot.com/ Flavio Marciano

    É verdade Alexandre como pagamos impostos nesse país. Grande matéria. Parabéns.
    E quem quiser conhecer mais uma lista de impostos só dar uma conferida nesse post:http://garotomarciano.blogspot.com/2008/07/brasil-pas-dos-impostos.html?showComment=1282024145638.
    Abraços!!!

  • Dany Lederman

    É um absurdo o que os brasileiros pagam de impostos…

  • http://www.blogosfericocultural.com Blogosférico Cultural

    Meus parabéns pelo post. É bastante esclarecedor, pois grande parcela da sociedade brasileira ainda não acordou verdadeiramente para os impostos. Geralmente as pessoas reclamam muito no início de cada ano, quando recebem taxas anuais como IPTU, IPVA, dentre outros, mas se esquecem dos impostos que pagam a todo momento embutidos de forma sorrateira em tudo o que compram. Se uma pessoa soubesse que em determinado produto, 70% do valor é composto por impostos, ela certamente começaria a se questionar e pressionar o governo para mudar isso.

  • http://www.suturasoturna.blogspot.com Gini

    Ina, desculpa o C + V, mas a Carta Capital teve uma materia de capa sobre isso, e a grosso modo, nossos impostos são bem proximos aos da UE e dos EUA, mas quando comparados com o MercoSul realmente são elevados, o grande vilão segundo eles, é a “baixa” tributação de fortunas, ou seja, quem mais paga imposto é o pobre que não consegue sonegar pois é “assaltado” na fonte. Outro ponto é a burocracia que nos faz perder 10% de nosso ano fiscal preenchendo tabelas. e por ultimo um dado pra se pensar. Quem ganha até 2 salarios minimos paga 48,9% de impostos, já quem ganha mais de 30, paga 26,3%. Assim sendo, se os mais ricos pagassem todos seus impostos, poderiamos chegar aos 30% propostos pelo Iedi, sem um rombo no orçamento.
    http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1580

  • http://www.oluapmot.com.br radios motorola

    Ótimo post. Inacreditável mesmo!

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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