Desafio Rayovac (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 18 de maio de 2010

Em meio ao dilúvio de informações que nos bombardeiam diariamente, a gente acaba deixando de prestar atenção em coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia. É até natural: atos cotidianos como abrir uma porta, ligar o computador, tomar um copo d’água são realizados de forma mecânica e corriqueira. O perigo, porém, reside na hora em que deixamos de prestar mínima atenção em certas atitudes que cometemos sem atentarmos para as possíveis consequências. Nessas horas, sempre lembro daquela história da Teoria do Caos e do Efeito Borboleta (sim, aquele filme com o Ashton Kutcher foi baseado nessa tese) que diz que o bater de asas de uma borboleta no Oceano Pacífico catalisa uma série de pequenos grandes eventos que pode resultar no surgimento de um tufão do outro lado do planeta. Quem já leu o conto “Um Som de Trovão”, de Ray Bradbury, também está familiarizado com essa teoria.

Pois bem: foi preciso que eu fosse contatado por uma agência para que eu buscasse por mais informações a respeito de algo tão trivial quanto uma pilha. Dê uma olhada ao seu redor e note cada objeto que está no seu campo de visão. Eu, por exemplo, vejo neste exato momento um copo, um toy art de um bonequinho ninja, uma caneta, um estojo com CDs, um dicionário, meu smartphone. Quais foram os caminhos trilhados por cada um dos objetos que vejo à minha frente? Quantos anos de pesquisas foram gastos no desenvolvimento de cada peça que compõe o meu celular? Como será a fábrica que produziu este boneco ninja que minha namorada comprou porque o olhar sério dele fez com que ela se lembrasse de mim? Onde ficam as árvores que deram origem às páginas deste dicionário? Quantas pessoas devem tê-lo folheado na livraria antes que viesse parar na minha casa? Enfim, são as viagens maionésicas, ao melhor estilo “Ilha das Flores”, que começaram a se passar na minha cabeça quando pesquisei um pouco mais sobre as pilhas Rayovac, sobre as quais fui contratado para falar. Deverá ser a última vez em que me chamam pra fazer isso, aliás: estou tergiversando e enrolando tanto quanto nas vezes em que comecei a puxar papos antes de convidar alguma mulher bonita para sair. :)

Mas o caso é que fiquei besta ao descobrir que, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, nada menos que 1,2 bilhão de pilhas e 400 milhões de baterias de celular são vendidas anualmente no Brasil, movimentando mais de R$ 900 milhões. E, ao ler o release da campanha, outras informações interessantes me chamaram a atenção. O leigo aqui sempre comprou pilhas alcalinas levado pelo (des)conhecimento comum de que elas são melhores porque duram mais. E não sabia, por exemplo, que em equipamentos que requerem descargas leves e contínuas, como controles remotos, relógios de parede e rádios portáteis, pilhas comuns são as mais recomendadas. Pois as alcalinas são a melhor opção apenas no caso de aparelhos que exigem descargas de energia rápidas e fortes, como aparelhos de som e brinquedos. Ou seja: por causa da minha falta de curiosidade em me informar decentemente sobre o assunto, por décadas tenho gasto dinheiro com pilhas mais caras sem necessidade.

Outro dado relevante: cerca de 40% das pilhas vendidas no Brasil são falsificadas, produzidas e vendidas sem o controle das autoridades. Ou seja, ao contrário das pilhas Rayovac, que atendem às normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente e não contêm metais pesados como mercúrio e cádmio, esses produtos piratas que você encontra em qualquer barraca de camelô, além de serem contrabandeados e não gerarem impostos, contaminam a natureza com uma série de matérias-primas cujos efeitos colaterais são de tirar o sono de qualquer consumidor desavisado.

A opção ideal é, sem dúvida, o uso de pilhas recarregáveis, que podem ser reutilizadas centenas de vezes. No Brasil, elas ocupam ainda um nicho pequeno. Segundo dados do Instituto Akatu, as recarregáveis, indicadas para aparelhos de alta tecnologia como câmeras digitais e tocadores de Mp3, representam não mais do que 5% do mercado. Aproximadamente 65% das vendas são de pilhas comuns; e as demais, de alcalinas.

Por desconhecimento, acabamos por adquirir produtos inadequados. Sem um consumo devidamente consciente, gastamos dinheiro com produtos mais caros e desnecessários. E aí cito uma declaração de Thiago Melo, gerente de produtos da Rayovac, que afirmou: “Do ponto de vista do consumidor, ainda há muito que se esclarecer em relação à categoria de pilhas. Algumas indústrias costumam divulgar informações desencontradas em campanhas publicitárias. Assim, ao contrário do que se pensa, as pilhas alcalinas nem sempre são a melhor opção”. É nessa hora que meneiei a cabeça, pensando em todos esses anos gastando mais e de forma errada.

Visite o site de Rayovac para ver a tabela completa de comparação entre pilhas comuns e alcalinas

Há um mês a Rayovac lançou uma campanha ousada, intitulada Desafio Rayovac, que foi parar na Justiça (vide matéria do jornal O Globo) por reclamações feitas pelo seu concorrente direto, a Duracell. Pudera: a campanha foi baseada em testes realizados pelo laboratório sueco Intertek (e devidamente reconhecidos pelo Inmetro), que comprovam que as pilhas alcalinas Rayovac duram tanto quanto as da Duracell. Porém, com um singelo detalhe: cada pilha Rayovac, em média, custa R$ 0,50 a menos. A campanha segue à toda. Pois, segundo decisão da 6ª Vara Civil do Rio de Janeiro, “a propaganda comparativa é, na realidade, um instrumento do consumidor, pois através dela terá opções de decisão”.

Eu, que antes de aceitar fazer este publieditorial pesquisei por informações disponibilizadas em todos os links deste post, não poderia concordar mais com a decisão judicial que aprovou a continuidade da campanha Desafio Rayovac. Informação é poder. Principalmente nestes tempos em que você, que lê este texto, tem condições de fazer suas próprias apurações graças a todo um mundo de informações, podendo contestar o que lê, vê e ouve por aí baseado em dados disponíveis nestes tempos de blogs e redes sociais. Navegue pelos links deste texto, faça suas próprias pesquisas em outras fontes, conteste este post ou a Rayovac à vontade. Mas, principalmente, não faça de seus atos de consumo algo automático, movido unicamente por impulsos primários ou campanhas publicitárias. Citando uma música antiga dos Engenheiros: “Ouça o que digo, não ouça ninguém”.

* * *

P.S.: Informe-se melhor sobre a questão do lixo eletrônico neste site: http://www.lixoeletronico.org.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • Michel

    Acabei de conhecer este blog e me surpreendi pela qualidade. Vou favoritar aghora mesmo.

    R: Obrigado, Michel. Um abraço!

  • http://www.portaldasvideoaulas.com.br Alexandre

    Show!!! Ótimo post!!!!
    http://www.portaldasvideoaulas.com.br

  • http://blogfmcomunicacao.blogspot.com/ FM Comunicação - Karen

    Gostei muito desse post. E quando digo muito, é muito mesmo.

    Abriu meus olhos para tantos fatores.

    Agora tenho certeza de que não temos conhecimento de nem metade das coisas que compramos e colocamos dentro de nossos lares.

    Fiquei pasma ao saber, por exemplo, “que em equipamentos que requerem descargas leves e contínuas, como controles remotos, relógios de parede e rádios portáteis, pilhas comuns são as mais recomendadas”.

    Trabalho com marketing e estudo para cada vez mais me aprimorar no assunto. É indiscutível que esse tipo de campanha é altamente apelativa, recorrendo ao uso do nome de sua principal concorrente como base. Contudo, que campanha de sucesso não tem uma pitada de apelação? Isso é fato e me arrisco a dizer que é quase essencial
    para uma boa campanha. É preciso muito poder e, é claro, muita coragem para ingressar em uma campanha tão forte como essa.

    É claro que está é apenas a minha opinião pessoal.

    Parabéns pelo blog genial.

    Abraços e sucesso!

    R: Olá Karen, obrigado pelas suas boas observações. Um abraço e valeu pela visita!

  • http://www.suprilojavirtual.com.br/ Angela

    hahaha..
    muito massa a reportagem
    seem comentarios http://www.suprilojavirtual.com.br/
    valeeu

  • http://www.sojogosgratis.com.br Dimitri

    poooxa!
    promoção bacana!

  • http://gilvas.wordpress.com gilvas

    como dizia um conhecido meu, “o que não faz o estudo”. bom texto, que poderia ser complementado com um bom informativo sobre as tecnologias de pilhas recarregáveis disponíveis no mercado.

    R: Por falar no assunto, Gilvas, um indício significativo da ainda pouca adoção das pilhas recarregáveis no Brasil é o fato de que o verbete da Wikipedia sobre “rechargeable batteries” ainda sequer foi traduzido para o português.

  • Paula GArcia

    Sei que vc curte o Soda Stereo e achei que iria se interessar
    http://www.talcualdigital.com/Avances/Viewer.aspx?id=35317&secid=11#
    O Gustavo Cerati sofreu um derrame cerebral e esta internado aqui em Caracas. Parece grave

    R: Olá Paula, obrigado pelo link! Soube da péssima notícia através do Twitter, e estou acompanhando a evolução do estado de saúde do Cerati por meio do site oficial dele: http://www.cerati.com/. Vamos torcer para que ele se recupere plenamente e com o tempo necessário para poder retornar plenamente as suas atividades artísticas. Um abraço e valeu por ter se lembrado de mim!

  • washington

    a duracell investe mais em publicidade, é óbvio que vai ser mais cara, e óbvio que vai vender mais.

  • José Carlos

    Olá Alexandre. Vi seus comentários e discussão no Login/TV cultura e aqui estou. Achei sensorial este post fiz algumas releituras sobre as coisas que me cercam ( e acabei incluindo pessoas também). Dei muitas risadas no post sobre o editorial da pascoa pois me indentifico com o charles (até hoje)e também assassinei alguns dos meus velhos sonhos (Nascido em 74). Em 2010 não recebi ovo da pascoa, como sempre eu o comprei. Vou continuar aparecendo por aqui. Abraços e desculpe a falta de capacidade de sintese.

    R: José Carlos, não se preocupe: o espaço de comentários deste blog é como uma folha de papel sem limites. Discussões são sempre bem-vindas, e, por favor, fique à vontade para comentar sempre que desejar e com o tamanho que você julgar necessário! Obrigado pelos feedbacks sobre os posts, e seja bem-vindo ao clube daqueles que se identificam com Charlie Brown. :)

  • http://cartassideradas.blogspot.com/ Marcelo Saldanha

    Bacana seu trabalho Alexandre, engenhoso enriquecer um assunto tão prosaico. Olha só, a primeira parte do seu texto: “… É até natural: atos cotidianos como abrir uma porta, ligar o computador, tomar um copo d’água são realizados de forma mecânica e corriqueira.” me lembrou um aforismo de T. Adorno o qual eu carrego sempre comigo, vou transcrever o começo: “A tecnificação torna precisos e rudes os gestos, e com isso os homens. Ela expulsa das maneiras toda a hesitação, toda ponderação, toda civilidade, subordinando-as às exigências intransigentes e como que a-histórica das coisas. Desse modo, desaprende-se a fechar uma porta de maneira silenciosa, cuidadosa, (…) as portas dos carros e geladeiras são para serem batidas, outras tem a tendência a fechar-se por si mesmas, incentivando naqueles que entram o mau costume de não olhar para trás, de ignorar o interior da casa que os acolhe. (…) O que significa para o sujeito que não existam mais janelas que se abram como asas, mas somente vidraças de correr para serem bruscamente impelidas ?”
    Esse aforismo foi extraído do livro “Minima moralia” de Theodor Adorno (desculpa o tamanho do comentário), abraços. I

    R: Olá Marcelo, obrigado pela transcrição deste trecho de Adorno, que eu desconhecia. E, por favor, não se preocupe com o tamanho de comentários, até porque o seu ocupou o espaço necessário, e me fez querer correr atrás do livro citado por você. Mais uma vez obrigado pela participação!

  • http://www.laedevolta.com.br/blog Ricardo

    Eu gostaria que ambas as marcas informassem a quantidade de miliâmperes por hora de cada tipo de pilha sua. Só assim não seríamos mais enganados no ato da compra. Basta olhar este valor e comparar os preços, pronto! ;)

    R: Bem observado, Ricardo. Aliás, algo que notei nos últimos meses, nas placas com códigos de barras que indicam preços nos supermercados brasileiros, é o fato de recentemente elas começaram a indicar o preço pago por, por exemplo, litro de refrigerante. Com isso, tornou-se muito mais simples saber se compensa mais comprar 6 latinhas de 250 ml ou uma garrafa de 1,5 l. O mesmo princípio deveria ser adotado com pilhas, seguindo a sua sugestão.

  • http://anndixson.blogspot.com Adriana Karnal

    Inagaki,
    interessante post…várias cositas q eu não sabia tbm, e essa discussão do lixo eletrônico dá o q falar…

    R: Pois é, Adriana. Redigir esse post me fez reparar em muitas coisas que sempre passaram desapercebidas para mim. Um abraço!

  • http://escrituraviva.blogspot.com Genilda Silva

    Agora vejo como a falta de informação nos traz prejuízo!
    Ainda que seja um “pequeno e significativo” prejuízo comprar pilhas alcalinas por um valor mais caro, pensando que são melhores para o uso que as destinamos que as pilhas comuns.
    Informação também ajuda na economia! ^^

    R: Pois é, Genilda. Informação é poder, desinformação é p(h)oder; em especial, no nosso bolso…

  • Agronopolos

    Kr é educativo mesmo isso
    mas….

    Acho que seria melhor SE tivesse feito o teste:

    dois aparelhos iguais E com as duas pilhas diferentes

    Assim saberiamos a verdade

    R: Agronopolos, embora eu tenha nenhum motivo para contestar o teste que foi realizado pela Intertek (e devidamente referendado pelo Inmetro, estou fazendo isso por aqui. Por enquanto, ambas as pilhas estão funcionando. Mas, como pontuei em meu post, cada um tem a sua opinião e o seu veredito sobre cada assunto. E você saberia da minha verdade apenas. A sua, só quando você fizesse seu teste, não? Um abraço!

  • http://www.vitoriabispo.blogspot.com Vitória Bispo

    Olá, Alexandre! Em mais uma madrugada insone, zapeando os canais da TV, achei o carinha da Malhação apresentando um programa. Prestei mais atenção quando descobri qual era o assunto, tenho um blog e me surpreendo quando vejo pessoas que nunca vi na vida utilizando textos meus. O fato é que nunca fiz propaganda. Percebi que estava sendo realmente notada, quando descobri que uma garota tinha um blog idêntico ao meu. Descobri que popularidade de um blog quase nunca é medida pelo números de comentários.
    E você estava lá nesse programa e acho que a curiosidade- já incutida em nós- é melhor que qualquer propaganda. Por isso estou aqui. E fiquei extremamente maravilhada como você SABE, rapaz. Você sabe falar de forma totalmente inédita sobre algo que não passaria de uma “propaganda”. Eis que chego ao fim do post e tem um vídeo dos engenheiros do hawaii. Ah, tá de sacanagem, né? Engenheiros é a banda que mais gosto e que mais acompanho.
    Perdão pelo comentário-texto.
    E parabéns, mesmo! Sucesso, viu?
    Beijos

    R: Olá, Vitória! Pois é, eu também já passei (e ainda passo) pela situação de ver posts meus (e, ultimamente, até mesmo tweets) serem copiados por outras pessoas. Mas creio que a melhor maneira de fazer com que as pessoas reconheçam a verdadeira autoria de um texto é tornar-se conhecido por meio de comentários deixados em outros blogs e da integração que um blogueiro passa a fazer com outros, por meio de links capazes de pegar uma mensagem numa garrafa lançada no alto mar do oceano praticamente infinito de informações da internet, repassando-a de mouse em mouse para outras pessoas. E veja só: graças ao comentário que você deixou aqui visitei o seu blog pela primeira vez (“nem por isso ficaremos parados com a cabeça nas nuvens e os pés no chão”) e já o guardei em meu bookmark. :) Obrigado pela visita e pelas suas palavras, e espero que você retorne outras vezes (mi casa, su casa). Um beijabraço!

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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