Cyborgs, IoT e Futuro das Profissões na CPBR9

Por Cíntia Cittonquinta-feira, 04 de fevereiro de 2016

A 9ª edição da Campus Party finalizou neste fim de semana, e o Pensar Enlouquece esteve por lá para selecionar os destaques entre as 700 horas de conteúdos para mostrar aqui. O maior evento de tecnologia, criatividade e cultura digital do mundo se transformou em um grande hub que conecta os avanços e discussões de diferentes áreas de conhecimento e diferentes tribos: entusiastas e profissionais de tecnologia, empreendedores, investidores e influenciadores de mídias sociais.

Palco Feel The Future

O evento contou com uma área de livre acesso, onde se podia testar diversos simuladores e ver as apresentações de projetos universitários, um espaço Startup & Makers onde 300 startups puderam apresentar seus produtos e serviços, a área de camping e a Arena, onde se encontravam stands de patrocinadores, mesas de trabalho com exposição de casemods, palcos para palestras e espaços para workshops.

Com tantas horas de conteúdo e tanta gente boa reunida, é inevitável a sensação de que mesmo participando ainda estamos perdendo algo, e acabei decidindo não concentrar apenas em Startups, mas aproveitar esse enorme Crossspace para conhecer um pouco mais de diversas áreas que me interessam e reencontrar amigos e colegas que só conseguimos ver nessas ocasiões. Principalmente por saber que a maioria dos vídeos logo vai estar no YouTube da Campus Party.

Os Workshops

Nem só de palestra vive o campuseiro, e neste ano resolvi participar mais ativamente me inscrevendo em dois workshops: o de Desafio de Design Thinking do stand da Ford e o de Como Desenvolver Wearables. Ambos tinham um tempo médio definido de 90 minutos e, na minha opinião, poderiam durar pelo menos o dobro do tempo para podermos concluir os processos iniciados sem atropelos.

O desafio da Ford consistia em buscar formas de melhorar a mobilidade urbana com carros, os interessados se inscreviam em algum dos dois horários disponíveis diariamente e a partir daí se dividiam em duas equipes que tinham 90 minutos para passar por todas as fases do processo de Design Thinking e propor uma solução para o problema. Uma série de materiais para construir protótipos rápidos (inclusive conjuntos Little Bit) podiam ser usados na solução.

Desafio de Mobilidade aplicando Design Thinking

Já no workshop de Wearables, o desafio era instalar uma placa Flora em uma peça de roupa e explorar um pouco as alternativas da biblioteca para Arduino. Apesar do pouco tempo gostei do resultado e fiquei bastante animada para continuar explorando essa área. Instalamos com leds, mas é possível usar com GPS, acelerômetro e outros tipos de sensores.

Workshop de Arduino com a placa Flora

As Palestras

26 de janeiro

“Feel the Future”

Logo na palestra de abertura Paco Ragageles apresentou um cenário que há alguns anos pareceria mero enredo de filme de ficção científica: avanços tecnológicos que provavelmente eliminarão TODOS os empregos que conhecemos dentro de 50 anos.

Essa mensagem reforçou a nova missão que a Campus Party resolveu adotar: criar um think tank dedicado a realizar estudos empíricos e pensar em como e quando as novas tecnologias impactarão na vida das pessoas, em como será o novo modelo de sociedade que deveremos construir, além de propor ideias para nos prepararmos para as mudanças. Os resultados do primeiro ano desse think tank estarão disponíveis em um website e também farão parte de um livro e de um documentário.

Muitas das palestras do evento buscam dar sua resposta para este desafio, ou pelo menos apontar caminhos que podemos seguir na busca de solução, como veremos a seguir.

27 de janeiro

Eugene Chereshnev (Che), o cyborg profissional

Eugene é o primeiro organismo cibernético russo apoiado por uma grande organização com um interesse imediato nos resultados deste estudo. Ele falou sobre como sua vida e sua percepção sobre segurança de dados e privacidade mudou depois que ele implantou um microchip em sua mão para realizar testes na Kaspersky.

Afinal, para que serve um chip injetado na mão?
Afinal, para que serve um chip injetado na mão?

Segundo ele, estes chips poderão ser utilizados para abrir escritórios, casas, carros, controlar carteiras virtuais e desbloquear dispositivos sem a necessidade de contar com uma senha. De fato, se a tecnologia evolui substancialmente, em breve as senhas serão extintas.

Ele comparou o início da Internet com a liberdade que os homens tinham na Idade da Pedra, onde não existia nenhuma regulação, e definiu o momento atual como uma espécie de “Game Of Thrones” no qual os reis (grandes corporações) possuem e decidem o que farão com nossos dados. Se queremos entrar em seus reinos e usufruir das comodidades (gadgets, softwares, aplicativos, jogos) devemos abrir mão da propriedade sobre nossos dados.

Chereshnev afirma que para que essa situação evolua é preciso que sejamos conscientes das informações que estamos entregando e do pouco controle que temos sobre o uso que é feito delas. Segundo ele, é preciso criar uma comunidade mundial consciente e disposta a pressionar para que essa troca privacidade-conveniência seja mais equilibrada. Para acompanhar a evolução dessa experiência, basta buscar por #BionicManDiary no Twitter ou Facebook, ou ir direto ao blog.

Painel sobre Snapchat, o conteúdo fantasma

Se seu mercado inclui um público jovem, você provavelmente já está trabalhando ou tentando entender como trabalhar com Snapchat. Bia Granja, uma das fundadoras do youPIX, conduziu uma conversa bastante esclarecedora sobre a rede do momento com alguns dos influenciadores que mais a usam: Bruna Santina, Pyong Lee, Fabi Santina e Becca Pires.

Os ídolos teens falaram sobre as vantagens do aplicativo na hora de produzir vídeos mais espontâneos, as diferenças entre o conteúdo dessa e outras plataformas e algumas das maneiras usadas pelas marcas para trabalhar nessa rede atualmente, com comentários sobre as ações que esses influenciadores consideraram mais adequadas para seus públicos.
A plateia participou bastante, falando sobre seus formatos preferidos de conteúdo (fotos com legendas vs. vídeos curtos) e comentando seus próprios cases de trabalho com marcas no Snapchat.

“Sua startup vai falhar. Nós falhamos! Aprenda com nossos erros”

Para combater a glamurização do empreendedorismo, nada melhor que casos práticos e troca de experiências sem esconder erros. Nesse painel sincero e interessante os palestrantes abriram o coração com suas histórias de falhas e contaram as lições aprendidas com fechamento de empresas, comentando sobre a necessidade de desenvolvermos uma cultura que esteja mais disposta a falar sobre os erros para que as Startups possam ter a atitude experimental e enxuta necessária.

Edson Mackeenzy, Monique Fernandes e Allan Campos, falando sobre falhas e lições aprendidas

Moderado por Monique Fernandes, da Tagarela Comunicações, o painel contou com depoimentos de Edson Mackeenzy, antigo sócio da Videolog, e com Allan Campos, atual líder da Moldurapop, e responsável por mais de 5 outros projetos que, apesar de não terem vingado, lhe deixaram lições bastante valiosas.

Grant Imahara, Engenheiro de Entretenimento

O engenheiro Grant Imahara trabalhou na produção de efeitos especiais para diversos filmes de sucesso da Lucasfilm, e foi responsável pela atualização e gerenciamento do famoso robô R2-D2, na segunda trilogia de Star Wars. Ainda participou de outros sucessos do cinema como O Mundo Perdido: Jurassic Park, O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas, A.I.: Inteligência Artificial, Van Helsing, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions.

Sua palestra começou com uma declaração de amor para a plateia da Campus Party. Ele está trabalhando em uma nova série para a televisão e só conseguiu vir ao Brasil sob a condição de estar de volta em 3 dias, o que exigiu que ele encarasse 24 horas de voo (ida/volta) para poder passar 12 horas no Brasil. Ele considera muito importante este espaço para que campuseros possam trocar ideias e ficarem ainda mais interessados por ciências. Além de comentar alguns casos emblemáticos de sua história, Grant deu dicas para quem quiser fazer coisas realmente muito interessantes em suas profissões.

28 de janeiro

Mark Jamison: Desenvolvimento de produtos usando human centered design

O Chefe Global de Pesquisa e Desenvolvimento da Visa, Mark Jamison, usou dados do ranking das 500 maiores empresas da revista Fortune para ilustrar a rapidez com que a inovação pode varrer do mercado até as empresas que consideramos inabaláveis, e mostrou como o design centrado no ser humano tem feito a diferença para as empresas que estão vencendo atualmente no mercado.


Tecnologia aliada a empatia, desenvolvimento rápido de produtos para teste e escalabilidade apenas para as versões que o mercado confirma são aspectos encontrados na maioria das empresas que desbancam líderes e até mudam indústrias inteiras.

Painel ABStartups - Go to market na prática

Guilherme Junqueira da ABStartups, Gabriel Senra da Linte, Fabiany Lima da Timokids e Marcelo Furtado da Convenia apresentaram as histórias sobre como iniciaram suas empresas e sobre as etapas que fizeram parte do crescimento, algumas vezes criando produtos e mercados novos, outras competindo com gigantes.

Nesse painel realista e sem receitas prontas, podemos destacar algumas dicas:

- Sonho vs. Realidade: se você está há 20 anos no mercado de bancos, provavelmente você sabe muito mais sobre esse mercado do que sobre educação, por exemplo, que pode ser sua paixão. Você tem muito mais chances de ser bem sucedido em um mercado que você conhece bem. Ajuda a traçar metas, saber por onde começar e saber qual valor desproporcional que você aporta para esse mercado. Primeiro, use o seu conhecimento, a partir disso, meça tudo o que for possível (custos, geração de leads, retorno sobre investimento). Isso é o que vai provar se sua receita atual é escalável na hora de conseguir investimento.

- Validação: pilotos enxutos que geram economia ou criam novo valor para seu cliente são a verdadeira validação. A validação de um modelo de negócios tem diversas etapas, e só está concluída depois que você tem receitas e sabe como conseguir mais, seja com receitas recorrentes de clientes existentes seja com capacidade de aquisição de novos clientes. Design centrado no ser humano também é isso: testar de verdade seu modelo de negócio para saber o que está funcionando e o que deve ser melhorado. Quanto antes você valida, menos você gasta com o que não vale a pena.

- Comprometimento: ou você se entrega e se compromete com a empresa, ou é melhor você rever a ideia de ser empreendedor. Isso é bastante valorizado pelas empresas de Venture Capital na hora de decidir se vão investir numa Startup, simplesmente porque indica que você tem mais chances de sucesso. Isso não significa pedir demissão no primeiro dia de existência da sua Startup, mas comprometer-se de verdade em entregar sua proposta de valor e saber usar os obstáculos para crescer.

29 de janeiro

Daniel Susskind: o futuro das profissões

Encaixando muito bem com o tema central desta edição, o professor e pesquisador Daniel Susskind falou sobre o assunto de seu livro O Futuro das Profissões, no qual apresenta o seguinte panorama sobre o estado de algumas profissões na atualidade:


Em sua palestra ele comentou esses avanços e possíveis cenários de evolução, apostando por um futuro em que as especialidades sejam divididas em conjuntos de tarefas mais simples automatizáveis, e chama a atenção para a necessidade de pensarmos se queremos reservar alguns assuntos mais sensíveis para serem decididos com intervenção humana.

“Se a Crise Nos Muda, A Palestra Muda”

Dado Schneider trouxe a edição 3.0 de sua famosa palestra muda, onde fala sobre mudança, atitude e crise, chamando a atenção para o fato de que, muito antes do que imaginamos, nos tornaremos velhos digitais. Este assunto se transformou no tema principal de seu novo canal no Youtube, o Digiriatria, onde simplifica a comunicação entre gerações que ainda viveram num mundo analógico e as gerações que já nasceram num mundo onde internet de banda larga é pré-requisito. Com música e muita experiência para dividir, Dado consegue passar sua mensagem de um jeito leve e divertido, hipnotizando uma plateia de campuseiros.

30 de janeiro

Neil Harbisson e Moon Rivas

Neil Harbisson nasceu com uma condição rara que lhe impede de enxergar cores. Sua vida mudou desde que assistiu uma palestra sobre a possibilidade de usar a tecnologia para aprimorar os sentidos, e decidiu ser voluntário para o desenvolvimento de um mecanismo que o permitisse reconhecer diferentes cores. Isso é possível hoje em dia graças a uma antena e uma placa instalada em seu crânio, que convertem as frequências emitidas pelas cores em ondas sonoras. Como artista plástico, isso lhe interessa por permitir que ele use diferentes cores e possa inclusive transformar músicas em pinturas, da mesma forma que consegue ouvir cores e retratos.

Sua amiga e colega Moon Ribas é coreógrafa e também decidiu fazer implantes para aprimorar sentidos. Considerando sua profissão, decidiu que deveria implantar algo que melhorasse sua percepção de movimento, provou com brincos que conseguiam medir a velocidade das pessoas por quem passava e terminou por instalar uma placa que, segundo ela, lhe permite sentir os movimentos da Terra.

Juntos eles criaram a Fundação Cyborg, onde lutam para que aqueles que decidem aproveitar a tecnologia para melhorar seus sentidos ou mesmo para criar novos sentidos possam ter informações e amparo legal para transformar esse sonho em realidade. Segundo Neil, ao invés de usar tecnologia nossa tendência natural é de nos transformarmos em tecnologia, criando novos sentidos e percebendo o mundo de maneira mais completa.

Depois de todos esses dias cheios de inspiração, a volta para casa já traz assunto para um ano inteiro de aprendizado, pelo menos.

Pense Nisso!
Cíntia Citton

Cíntia Citton é consultora de Inovação e facilitadora de cursos de Design Thinking e Modelagem de Negócios. Já trabalhou em Gestão Estratégica, Comércio Internacional e Organização de Eventos no Brasil, França, Alemanha e Espanha. Foi moderadora em eventos como o Iguassu Social Media, palestrante no Curitiba Social Media 2014 e foi voluntária na organização e mentorias de eventos Startup Weekend. É colaboradora do Pensar Enlouquece nas áreas de Inovação e Empreendedorismo.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
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