Cocadaboa e o roubo das comunidades do Orkut : a verdade (ou não) sobre o caso
Por Alexandre Inagaki ≈ sábado, 10 de dezembro de 2005
As primeiras queixas surgiram no dia 29 de dezembro. Jacqueline Brandão, criadora da comunidade no Orkut “Eu Amo Chocolate” (com 147.285 membros), abriu um tópico dentro do grupo “PanElite” (de acesso restrito a moderadores de algumas das mais populares comunidades brasileiras) denunciando o fato: “roubaram a minha comunidade (…). É osso viu? Tô quase chorando, de tristeza e raiva. :( O atual moderador me disse que é provisório, pra eu não ficar triste.”.
O “atual moderador” citado por Jacqueline é Vinícius K-Max. Apelidado pelos amigos de Bozó, tem 23 anos (segundo informações de sua página no ICQ), possui um fotolog abandonado e, antes de “roubar” comunidades no Orkut, já se apossou de fotologs alheios em setembro de 2003, usando o nickname Vipzen. Na época, Vinícius usou como justificativa para o seu ato palavras de ordem contra um suposto boicote dos administradores do Fotolog contra usuários brasileiros (“FODA-SE o CAPITALISMO! FODA-SE o USA! VAMOS USAR FOTOLOGS BRASILEIROS! PAREM DE BABAR OVO PARA OS GRINGOS!!”).
Para se apoderar de algumas das maiores comunidades brasileiras no Orkut, Vinícius aproveitou-se dos inúmeros “bugs” do navegador Internet Explorer, que, aliados a falhas de segurança do site, abriram brechas para que alguém armasse a tal arapuca. Resumindo grosseiramente o funcionamento da armadilha: após criar um código de programação malicioso, “Vipzen” induziu os moderadores das comunidades “roubadas” a clicarem, inocentemente, em determinado link. Para tanto, Vinícius aproveitou-se da absurda facilidade com que internautas criam identidades falsas no Orkut, criando a persona Antonio Bitencourt. Sob a falsa alcunha, visitou as páginas pessoais dos criadores das comunidades almejadas, deixando nelas a seguinte mensagem:
Movidos pela curiosidade a respeito da tal reportagem, todos os moderadores que tentaram visitar a página falsa e que usavam Internet Explorer caíram na armadilha: ao clicarem no link, acionaram o código de programação e perderam, incautamente, suas respectivas comunidades (veja detalhes técnicos aqui e aqui).
Logo vieram à tona mais casos de moderadores que, feito Jacqueline, perderam o controle de suas comunidades para um até então desconhecido Vinícius. Mas, ao contrário do que se poderia esperar de um suposto hacker, aquele rapaz mostrou-se desde o princípio disposto a conversar com as “vítimas” a fim de explicar os motivos de suas ações. A princípio, o site Cocadaboa não estava envolvido no caso, conforme prova este histórico de uma conversa de ICQ travada entre Vinícius e um dos moderadores:
A propósito: o registro completo desta conversa está disponível neste link, ao menos até o presente momento, e foi disponibilizado publicamente pelo próprio Vinícius num dos scraps trocados no Orkut com o responsável por uma das comunidades “roubadas”.
Conforme antecipara por ICQ, Vinícius entrou em contato com Mr.Manson, (ir)responsável pelo site humorístico Cocadaboa, notabilizado, dentre outras coisas, por divulgar pela Web notícias falsas que freqüentemente acabam por iludir jornalistas apressados que as estampam em revistas, portais de Internet e jornais como se fossem verdadeiras. Em editorial publicado no dia 2 de janeiro, Mr. Manson escreveu: “Há alguns dias o Vinicius, um grande leitor do Cocadaboa, me comunicou uma estarrecedora descoberta (…)”. Depois, afirma que as comunidades tomadas “emprestadas” serão devolvidas aos verdadeiros moderadores e esclarece (ou não) os propósitos de tal empreitada:
“Não confie grande parcela de sua intimidade e vida social a nenhuma pessoa jurídica, nem a similares do Orkut que dizem ser mais seguros. Use esses sites com responsabilidade e bom senso. Desconfie de TUDO que ler, comer ou cheirar na Internet. (…) Se você usa o Internet Explorer, atualize regularmente ele e seu Windows. E se você acha que não vai ter saco para fazer isso sempre (porque uma nova falha de segurança como essa é descoberta quase que todas as semanas), mude para o Firefox, que é um browser mais bem elaborado, gratuito, seguro e de código aberto”.
Depois de divulgada publicamente a “bomba”, Vinícius transferiu o comando das comunidades para mais um usuário fictício, batizado Firefox Rules, modificando também foto e descrição dos grupos seqüestrados:
Devido ao histórico polêmico de certas histórias propagadas anteriormente pelo Cocadaboa, como as cartas da seção S.A.C. aneie ou o site Sexcut, jornalistas e usuários do Orkut mantiveram os três pés atrás com relação a mais esta história. Há quem diga que Vinícius K-Max é fictício e não passa de uma criação virtual de Mr.Manson. Há quem afirme que o Cocadaboa está recebendo dinheiro da Mozilla Foundation (que desenvolveu e mantém o Firefox, concorrente direto do Internet Explorer) para promover seu browser (boato que levou a comunidade Mozilla Brasil a desmentir oficialmente tais rumores). Há quem jure que foi tudo combinado previamente com os moderadores das comunidades seqüestradas, que estariam mancomunados com Vinícius e Mr.Manson e entregaram voluntariamente seus grupos. Há ainda aqueles que mal fazem idéia do que venha a ser esse tal de Firefox, e acham que é um vírus que poderá roubar suas senhas do Orkut a qualquer momento. Enfim, o caos.
A princípio, os autores desta empreitada devolverão amanhã, dia 5. todas as comunidades “roubadas” aos seus criadores originais, e a resposta definitiva a todos os questionamentos acerca do caso será oficialmente dada. Ou não…
(texto originalmente publicado em 4 de janeiro de 2005.)
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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