Foi através de uma nota no Facebook que o Kid Abelha anunciou, oficialmente, o fim de suas atividades como banda. De modo discreto, quase que parafraseando aquele poema de T. S. Eliot que dizia que o mundo expira não com uma explosão, mas com um suspiro. Escrever este post foi a maneira que encontrei de reagir a essa notícia, buscando valorizar o legado de uma banda que, antes de se chamar Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, correu o risco de ser chamada de Tia Harry e Os Três Porquinhos ou de Morangotango (vide este documentário exibido no Multishow). E de agradecer, é claro, a um grupo que compôs boa parte da trilha sonora da minha juventude.
* * *
Top 10 Kid Abelha:
10.“Pintura Íntima” (Paula Toller e Leoni, 1983) - O primeiro grande hit do Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens foi um excelente cartão de visitas da banda: um imediato clássico pop que se tornou onipresente nos playlists das FMs no ano de 1983, com versos juvenis tergiversando sobre amor e sexo emoldurados por um arranjo marcado pelo onipresente saxofone de George Israel.
Muita gente desconhece o nome desta canção, que é facilmente encontrada no YouTube sob a alcunha alternativa de “Fazer Amor de Madrugada”. Seu refrão antológico, diga-se de passagem, nunca agradou muito ao autor da letra. Em declaração feita a Ricardo Alexandre para o livro Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80, Leoni declarou: “Eu pensava num tema como ‘Sexual Healing’, de Marvin Gaye, em que os problemas são resolvidos na cama, dão uma virada no relacionamento do casal“. Sem conseguir encontrar uma rima mais satisfatória para “madrugada”, o refrão acabou terminando mesmo em “amor com jeito de virada”, inspirando inúmeros virunduns como “amor com jeito de pirada” ou “amor com jeito de piada“. Mas pior mesmo foi ver a galera completando os espaços em branco da letra e cantando, em altos brados, versos mais infames ainda:
Fazer amor de madrugada
(Em cima da cama, embaixo da escada)
Amor com jeito de virada
(Primeiro a patroa, depois a empregada)”
3 de agosto de 1983. Naquele dia, Prince Rogers Nelson subiu ao palco do First Avenue, casa de espetáculos em Minneapolis, a fim de participar de um concerto beneficente para arrecadar fundos para o Teatro de Dança de Minnesota. Aquele show marcou a estreia de Wendy Melvoin como guitarrista da banda The Revolution, mas também entraria para a história por ter sido a primeira vez em que Prince apresentou pela primeira vez ao mundo a canção que se tornou o maior sucesso de sua carreira, fez parte da trilha sonora que lhe rendeu o Oscar de Melhor Trilha Original e foi considerada pelo site Pitchfork a melhor música dos anos 80. Não apenas dos anos 80, complemento: trata-se de uma das melhores de todos os tempos.
Infelizmente não sei quem foi a pessoa que editou o vídeo a seguir, uma jóia que, além de documentar a primeira performance de “Purple Rain”, ainda enriqueceu este registro histórico incluindo diversas observações sobre como ela foi gravada por engenheiros de som que, depois de algumas edições e mixagens, aproveitaram o registro do show imortalizando-a no álbum homônimo que foi lançado em 1984. Você perceberá, por exemplo, que nesta versão que dura 13 minutos há uma estrofe sobre dinheiro que acabou sendo cortada da gravação final. Mas enfim, nada melhor do que apreciar esta raridade.
O Scream & Yell publicou no final de janeiro seu tradicional especial de melhores do ano, que contou com 102 votantes escolhendo seus favoritos de 2015 em nova categorias (como melhor disco, livro e filme). Há muita coisa boa a ser descoberta (ou relembrada) nos resultados finais do Top Seven 2015 Scream & Yell. Todos os meus votos estão disponíveis neste link; aqui, destacarei as melhores músicas e videoclipes que vi e ouvi no ano passado.
Na manhã em que descobri que o homem que caiu na Terra voltou para as estrelas, é difícil colocar em palavras todo o impacto que sua obra trouxe em minha vida.
E, embora eu ainda nutre alguma esperança doida de que, assim como Lázaro, David Bowie retorne após quatro dias, o melhor que temos a fazer é aproveitar o incrível legado deixado por alguém que nos ensinou que todos nós podemos ser heróis, nem que seja por apenas um dia.
Em geral, covers de Adele são uma péssima ideia simplesmente porque é covardia compará-las com a versão original. Mas o vídeo de uma estudante coreana do ensino médio cantando Adele, cujo nome ainda não foi identificado na descrição no YouTube, me fez rever este conceito. Um dia após ter sido postada no YouTube, esta versão chegou à marca das 670 mil visualizações, e não me parece que esta estudante permanecerá anônima por muito tempo. Pudera: ouça sua performance acachapante. Se você não se convencer logo de cara, será difícil não ficar boquiaberto ao ouvi-la cantando o refrão de “Hello” pela segunda vez, a partir dos 2 minutos e 23 segundos deste vídeo.
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.