Participei, na edição mais recente do youPIX Rio, de um debate sobre a influência que redes sociais, mídias alternativas e a chamada mídia tradicional tiveram na construção da opinião e na disseminação de informações sobre os protestos que tomam conta das ruas do Brasil desde junho. A conversa, moderada por David Butter, acabou se tornando um embate acalorado, protagonizado por Rafucko (videomaker e ativista que chegou a ser preso durante manifestação de rua em julho), Pedro Dória (editor executivo do jornal O Globo) e Filipe Peçanha (repórter da Mídia Ninja).
Conjecturo o futuro dessa molecada que cresce tendo a tevê e a internet como babás, enquanto seus pais labutam em busca do maldito pão nosso de cada dia. Fico imaginando como é que essas crianças que assistem à necrofilia dos programas vespertinos que bombardeiam telespectadores diariamente com notícias sobre pessoas sendo assassinadas, violentadas, seqüestradas e vilipendiadas assimilam tantas informações, e qual será seu peso na visão que elas terão a respeito da humanidade.
Meu maior temor é de que esteja sendo fomentado o surgimento de uma geração ainda mais niilista, cética e cínica do que a nossa. Pudera: o que pensar diante de notícias como a da jovem que ficou quase um mês presa em uma delegacia no Pará cercada por vinte criminosos? Mas o fato é que, se depender da miríade de desgraças que assolam o mundo lá fora, não teremos um momento sequer de trégua, diante dos novos atentados, assassinatos torpes e crimes de colarinho branco que batem à porta de nossos browsers e aparelhos de TV.
Um único pensamento me martela a cabeça: se fé pode ser definida como crença cega em alguma coisa, então nunca tivemos tantos motivos para acreditar piamente na tal da humanidade, ao menos se nos pautarmos exclusivamente nas manchetes do dia-a-dia. Afinal, como nutrir esperanças nestes estranhos tempos nos quais deixar de enxovalhar a vida alheia é um ato quase que subversivo, e o cinismo, a intolerância e a apatia proliferam-se feito vírus no mundo em que vivemos? Continue Lendo
Pense Nisso!
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.