Artigos da categoria: Esportes

Ayrton Senna, 1° de maio de 1994

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 01 de maio de 2014

O Brasil vivia uma crise de autoestima. Naqueles primeiros meses de 1994, a economia ainda não andava lá essas coisas, a moeda ainda era o cruzeiro real e a gente precisava fazer cálculo dos preços em URVs, a fim de descobrir o valor verdadeiro das coisas. Depois do tricampeonato em 1970, a seleção brasileira de futebol acumulava decepções em cima de decepções. Duas das três músicas que foram indicadas ao Troféu Imprensa daquele ano foram “Me Leva” (Latino) e “Lá Vem o Negão” (Cravo e Canela). Ou seja, a coisa estava realmente ruim. Mas havia ao menos um alento em meio a tudo aquilo.

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Ayrton Senna havia deixado os torcedores brasileiros bem acostumados com suas vitórias nas manhãs de domingo. Eu colocava o despertador pra tocar mais cedo, a fim de ver as corridas desde a largada, mas meus pais preferiam aproveitar os domingos para colocar o sono em dia. Várias foram as vezes em que minha mãe acordava e, ao me ver na sala, perguntava: “E o Senna, ganhou?”. E eu respondia: “Sim, mãe. De novo!”. Continue Lendo

Um dia difícil para o Spider

Por Alexandre Inagakidomingo, 07 de julho de 2013

A frustração com o nocaute que o Anderson Silva sofreu no UFC 162 anda dando margens para teorias conspiratórias e sentimentos generalizados de raiva, decepção ou inconformidade, vem um pouco do excesso de expectativas que a torcida brasileira teve com ele. Coisa de quem se animou achando que comprou picolé com palito premiado e depois viu que era só palito com mensagem de madeira de reflorestamento. Mas enfim, todo mundo já levou porrada um dia. Uns permanecem estatelados no chão, outros conseguem se reerguer e retornam mais calejados e espertos. Continue Lendo

César Cielo, um ouro solitário para este país de chorões

Por Alexandre Inagakisábado, 16 de agosto de 2008

Eu me lembro dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, quando o corredor braziliense Joaquim Cruz ganhou a medalha de ouro na prova dos 800 metros rasos. O país todo celebrou a conquista inédita, esquecendo do fato de que Joaquim, tal qual diversos outros atletas brasileiros, havia se tornado medalhista olímpico por sua própria conta e risco. A vitória de Cruz foi um triunfo pessoal, construído à base de muitos sacrifícios e treinamentos em Utah, EUA, custeados graças a uma bolsa oferecida por uma universidade local. Não me esqueço de que, um dia após a vitória de Joaquim Cruz, a Globo quis lhe presentear com uma casa própria, devidamente recusada pelo atleta, que prontamente questionou: “Por que não me deram uma casa no começo da minha carreira, quando eu realmente precisava de uma?”.

Os anos se passaram, mas há certas coisas que não mudam neste país. Quando um brasileiro vence, torna-se orgulho nacional e a conquista é compartilhada por toda uma nação. Porém, quando esse mesmo atleta sai de mãos abanando da disputa de um pódio, é tachado de “amarelão” e vira motivo de comentários genericamente depreciativos, bem ao estilo das piadas que há anos são feitas com Rubens Barrichello, duas vezes vice-campeão de Fórmula 1. Quando um brasileiro torna-se campeão, pouco importa que sua carreira tenha sido construída no exterior, como nos casos de Joaquim Cruz e César Cielo Filho, vencedor da prova dos 50 metros rasos nas piscinas de Pequim 2008 e que treina há anos na Universidade de Auburn, no Alabama. Afinal de contas, estes medalhistas representam “todo o nosso país”, certo?

Errado. O Brasil é um país de torcedores chorões que adoram reclamar do desempenho de nossos atletas, quando deveriam focar suas críticas em dirigentes incompetentes, ausência de políticas de planejamento a longo prazo e políticos que só aparecem quando surge um medalhista olímpico na tela da TV. Esse bando de reclamões consegue me deixar quase tão irritado quanto certas transmissões televisivas que botam câmeras nas casas de parentes de atletas e só conseguem flagrar declarações pífias de tias e avós lacrimejantes, um recurso tacanho que virou clichê insuportável.

Sim, eu fico emocionado quando revejo no YouTube o vídeo com o Hino Nacional Brasileiro sendo executado durante a cerimônia de premiação, embora eu não consiga me acostumar com a versão que é tocada atualmente, apenas com a primeira estrofe e os últimos versos, cortando-se todo o restante. E fiquei mais do que feliz com a conquista admirável de César Cielo, a primeira medalha de ouro de toda a história da natação brasileira. Mas que fique bem claro: como bem ressaltou Flávio Gomes, esse ouro “caiu do Cielo”. Não foi mérito do COB, da CBDA ou do Ministério dos Esportes, muito pelo contrário. Como bem destacou o pai do nadador na entrevista que concedeu à ESPN Brasil, essa vitória é um mérito muito maior da família de um atleta abnegado, que aos 21 anos abdicou de baladas e namoros a fim de se concentrar em treinamentos espartanos nos Estados Unidos, longe do país que hoje celebra uma vitória essencialmente pessoal.

Vale a pena lembrar que a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, que certamente custeou a ida de muitos dirigentes para Pequim, não pagou os ingressos para que a família de César Cielo Filho pudesse assistir à sua vitória. E que, como informa o blog de Mauro Cezar Pereira, o campeão dos 50 metros rasos perdeu o patrocínio dos Correios porque optou por treinar fora do Brasil. Agora que Cielo Filho é campeão olímpico, certamente choverão ofertas generosas de patrocínios. Contudo, é preciso recordar o tapa que Joaquim Cruz deu na cara de todos os pachecos patriotas em 1984: na hora em que os atletas mais precisam de apoio, dinheiro e condições para treinar, quem aparece para ajudá-los a pagar as contas?

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P.S. 1: Lágrimas olímpicas foram o tema da primeira coluna que escrevi para o Yahoo Posts, intitulada “Pedras Preciosas da Ilusão”. Toda segunda-feira assinarei um texto inédito por .

P.S. 2: Já está no ar uma das melhores iniciativas surgidas na blogosfera brasileira nos últimos tempos: Lablogatórios, primeiro condomínio de blogs de ciência do país. Boa sorte a todos os envolvidos, em especial aos meus camaradas Carlos Hotta e Atila Iamarino!

P.S. 3: Fiz uma espécie de “crítica às críticas”, mas quando elas são engraçadas, tudo zen: bom humor é um álibi definitivo. Vide o blog Bronze Brasil 2008, que em seu post comentando o ouro de Cielo, escreveu: “O ouro não é propriamente uma vergonha, como a prata. É apenas uma forma de fechar os olhos para as dificuldades e falta de apoio ao esporte no nosso país. Prefiro pensar que Cielo nao foi bom o suficiente para mesclar a força e a lentidão necessárias para ficar com o bronze”.

Viva a cervejinha

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 30 de julho de 2007

Os Jogos Pan-Americanos acabaram, deixando muitas histórias pra contar. A maior delas, sem dúvida nenhuma, é saber como é que o Pan 2007, que estava orçado inicialmente em R$ 800 milhões, acabou por consumir nada menos que R$ 3,8 bilhões. Será que um dia a verdade sobre este singelo aumento no orçamento inicial virá à tona? Aguardemos sentados, porque de pé cansaremos mais.

Malvado, o verdadeiro Cauê.Sim, o Brasil bateu recorde de medalhas conquistadas em um Pan. Contemporizemos o fato de que algumas foram amealhadas por falta de competidores, como no caso do Concurso Completo de Equitação, no qual a equipe brasileira ganhou o bronze em uma disputa que acabou sendo limitada a… três países.

E deixemos de lado a constatação de que nosso maior medalhista, Thiago Pereira, apesar de ter faturado 8 medalhas no Pan não teria conseguido um bronze sequer no último Mundial de Natação se levarmos em consideração os tempos que marcou nas provas no Rio. Louvemos, pois, o feito de o Brasil-il-il ter ganho medalhas em 41 das 47 modalidades disputadas, apesar da falta crônica de apoio a nossos atletas, exemplificada pelos meros R$ 600 mensais que a Confederação de Taekwondo destina ao medalhista de ouro Diogo Silva (e ainda assim, pagos com 3 meses de atraso). Continue Lendo

Todo torcedor tem um quê de masoquista

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 21 de junho de 2005

Já dizia Lady Murphy: “não há nada que não esteja ruim que não possa ser piorado“. Afirmação mais certeira não poderia haver, principalmente em se tratando da situação calamitosa pela qual passa o meu Guarani. Como se não bastasse a tristeza de ver o único campeão brasileiro do interior e único time de Campinas a disputar a Taça Libertadores da América amargar as últimas colocações da série B do Brasileirão, ainda sou obrigado a ver notícias deprimentes como o fato de uma das revelações mais promissoras do Bugre nos últimos tempos, Evandro Roncatto (titular da Seleção Sub-17 no Mundial de 2003), ter sido obrigado a adiar uma operação no ombro simplesmente porque meu time não tinha verbas para custear a cirurgia.

É impressionante a (in)capacidade que um dirigente como o atual presidente José Luiz Lourencetti possui de dilapidar o patrimônio e o elenco de um clube de tradição como o Guarani. Há anos os torcedores do Bugrão aturam campanhas vexaminosas campeonato após campeonato, assim como a perda de jogadores do talento de Elano e Dinélson porque a diretoria pagava salários e encargos sociais em atraso. A situação chegou a tal ponto que somos obrigados a aturar gozações de seu arqui-rival, um clube que em mais de supostos 100 anos de existência não possui um título profissional sequer em seu currículo. É o cúmulo.

Mas o fato é que todo amor passa por provações e intempéries. Não vou negar: há momentos em que me sinto como um marido corno que flagra a esposa em sua própria cama com meu pior inimigo, e que depois é achincalhado, ridicularizado e apontado com os dedos por toda a vizinhança. Ainda assim perdoarei de antemão cada traição que vier a sofrer, porque meu amor pelo Bugre é incondicional e inabalável.

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Acompanho Fórmula 1 há tempos, e nunca havia visto uma cena tão patética quanto a largada do GP Estados Unidos do último domingo, quando apenas seis carros disputaram a corrida no mítico circuito de Indianópolis. Tão deprimente quanto o grid foi ver Rubens Barrichello chegar, como de costume ao longo destes anos, atrás do chucrute voador, e consentindo, feito um animal de estimação amestrado, mais uma vez às ordens da equipe Ferrari para que não lutasse pela vitória. Ao final da deprimente corrida, Barrichello declarou, como que se justificando: “Sou só um brasileirinho contra esse mundo todo“. Bem, ao que me consta os campeões mundiais Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna são seus compatriotas, e entraram na história da F-1 como Brasileiros Maiúsculos.

Enfim, de toda a patacoada que foi o GP de Indianópolis, a única nota positiva foi ver as brancaleônicas equipes Jordan e Minardi marcarem pontos no campeonato. Méritos adicionais para o português Tiago Monteiro, que do alto de sua Jordan chegou em uma honrosa terceira colocação e subiu ao pódio pela primeira e provavelmente última vez. Nada mal para um piloto cujo nome completo é Tiago Vagaroso da Costa Monteiro, não?

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Links correlacionados: Dossiê Grêmio (relato apócrifo e tragicamente hilariante da derrocada do tricolor gaúcho para a Série B), Jogos Perdidos (blog mantido por um grupo de malucos amantes do futebol que se especializaram em acompanhar jogos do quilate de Tanabi x Atlético Araçatuba, São José x XV de Jaú e Angra dos Reis x Macaé) e Formula One Rejects (tributo online aos piores pilotos da F-1 de todos os tempos)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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