Às vésperas das eleições
Por Alexandre Inagaki ≈ sábado, 02 de outubro de 2010
Cada um de nós possui suas convicções e suas verdades pessoais, e não vejo o menor problema nisso. Um exemplo: tenho amigos que são ateus, católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas. Eles sabem o que penso a respeito de Deus e de religiões, e às vezes conversamos sobre nossas crenças. Quase nunca as opiniões combinam; porém, as discordâncias são bem recebidas. Porque, oras, amigo é aquele cara de quem posso divergir à vontade, chamá-lo de imbecil e cabeça de melão e, ainda assim, ser capaz de compartilhar uma mesa de bar com ele e rir em altos brados após uma discussão animada. Afinal de contas, se eu ficasse restrito a trocar ideias exclusivamente com pessoas que pensam exatamente igual a mim, de que modo eu conseguiria ampliar o horizonte dos meus conhecimentos?
“Inteligentes são as pessoas que pensam como a gente”. Por causa dessa visão limitada, há aqueles que, de alguma maneira, se acham mais esclarecidos e mais bem informados do que os outros, desmerecendo os que discordam deles. Desconsideram pontos de vista diferentes, passando a enxergar o mundo sob um único viés. Tornam-se cada vez mais intolerantes e bitolam suas leituras, restringindo-se, por exemplo, a acompanhar blogs e seguir perfis no Twitter apenas das pessoas que dizem “amém” a suas certezas absolutas. Tenho medo e piedade dessa gente inflexível que se cerca de iguais bajulando uns aos outros. E que se enreda, cada vez mais, dentro de um novelo de convicções sem abertura para novas possibilidades. Como em um condomínio fechado de ideias, que se refestela e se acomoda em uma ilusória zona de conforto.
Nesta semana, enquanto procurava pelo meu título de eleitor (não o achei: fui a um cartório eleitoral e acabei tirando uma segunda via que, devido a mais uma daquelas típicas reviravoltas tupiniquins de última hora, acabou sendo inútil), encontrei a cola que usei nas eleições de 2006. Naquele ano, votei em Cristovam Buarque (PDT), José Serra (PSDB), Eduardo Suplicy (PT), Soninha Francine (na época, ainda filiada ao PT) e Ricardo Montoro (PSDB). Se me arrependi de alguma escolha, normal: faz parte da vida fazer opções que nem sempre nos satisfazem. Mas, se há alguma convicção que me acompanha desde a primeira vez em que votei, nas eleições presidenciais de 1989 (quando fui de Covas no primeiro turno e Lula no segundo), é de que muito pior é se eximir de todo o processo, anular votos e fingir que não tenho nada a ver com política.
Nestas eleições de 2010, como costumeiramente faço na hora de decidir os meus votos, não atrelei minhas escolhas a uma só legenda. Dentre outros motivos, porque acredito que divergências são saudáveis, debates construtivos necessitam de representantes de diversas correntes e nenhum partido tem credenciais suficientes para poder afirmar que é representante incontestável da ética. Irei, pois, de Dilma Rousseff, Fabio Feldmann, Aloysio Nunes, Ricardo Young, Ivan Valente e Carlos Giannazi. E assim, com essa mistura partidária, tenho certeza de que obterei a façanha de desagradar simpatizantes de todas as ideologias. Bem, paciência.
Não pretendo, ao declarar publicamente os meus votos, convencer ninguém das minhas escolhas. Do mesmo modo, não tenho intenção de ficar justificando cada voto. Como diz a canção, cada um sabe da dor e da delícia de ser o que é.
P.S. 1: Citando apenas a eleição presidencial, há boas leituras argumentando em prol de cada um dos candidatos principais. Amiano Marcelino e Ronaldo Lemos votarão em Marina Silva, Ethevaldo Siqueira e André Caramuru Aubert irão de José Serra, Celso Rocha de Barros e Carlos Hotta apoiam Dilma Rousseff, Raphael Tsavkko Garcia e Fabiana Cardoso são eleitores de Plínio de Arruda Sampaio. Por mais que seu voto já tenha sido decidido, creio que vale a pena conhecer a opinião de cada um deles.
P.S. 2: Cito as mesmas palavras que escrevi em 27 de outubro de 2002, quando Lula foi eleito Presidente pela primeira vez: “Agora é Brasil. Esqueçamos rixas e rivalidades: agora a torcida é por todos nós.”
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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