Agenda literária

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 04 de dezembro de 2006

Em um ensaio sobre a literatura noir de autores como Cain, Hammett e Chandler, Julio Cortázar observa que uma característica comum a todos é o repúdio das palavras utilizadas como eufemismo de pensamentos e floreio de sentimentos – eles faziam com o idioma o mesmo que seus heróis faziam com as mulheres: ambos nutriam a suspeita de traição. Edward Bunker, autor de romances policiais como o excelente Cão Come Cão, jamais nutriu essa relação conturbada com as palavras como seu meio de expressão. Muito pelo contrário, foi graças às letras que ele escapou da marginalidade. Dos 71 anos que viveu, Bunker passou 18 deles encarcerado.
Em sua autobiografia Educação de um Bandido, Bunker escreve: “perseverei porque tinha consciência de que a escrita era minha única chance de criar algo, de escalar as paredes do poço escuro, alcançar o sonho e repousar ao sol”. O resultado é único: um escritor de refinado estilo literário, capaz de descrever fatos vivenciados em seus anos marginais com autenticidade e talento. A Editora Barracuda, que publicou anteriormente três livros de Bunker, acaba de lançar no Brasil O Menino, terceiro romance do autor, lançado originalmente em 1980. Não é difícil de associar as desventuras de Alex Hamilton, garoto de 11 anos inteligente e apaixonado por literatura, mas com diversas passagens em diversos reformatórios e hospitais psiquiátricos, com a biografia de Bunker. É um retrato impressionante, que só um escritor que desenvolveu sua escrita quase que à base de fórceps, após ter tido seis romances rejeitados para publicação, poderia ter escrito.

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Não é qualquer escritora que, aos 21 anos de idade, tem a sua estréia nas letras publicada pela mítica Editora Brasiliense. Ainda mais em um gênero sem muita tradição no Brasil: romance policial. Quem já conhecia o blog da autora, porém, sabia que grandes expectativas poderiam ser alimentadas a partir do que Olivia Maia deixava vislumbrar a partir de seus posts.
Uma mulher está estirada no chão sobre uma poça de sangue e o filho, ao lado, paralisado; olhando-a como se fosse pela primeira vez. Sua roupa está encharcada com o sangue da mãe e o ferimento na cabeça diz que ele também havia sido atingido pelo assassino. Tem nojo de tudo. Do sangue, do cheiro, da mãe com o pescoço cortado e o maxilar estraçalhado. Não se lembra de nada e por isso mesmo é um dos suspeitos. ‘Mas que motivos eu teria para matar a minha mãe?’, justifica-se“. Quem, assim como eu, ficou intrigado com o começo de Desumano, está desde já convocado para comparecer ao lançamento: dia 5 de dezembro, a partir das 18:30, na Livraria da Vila.
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Um guia de cinema com produção gráfica impecável, os melhores índices remissivos que já encontrei em uma obra do tipo, organizado por Alexandre Maron com textos de feras como Alexandre Matias, Fred Leal e Vladimir Cunha. Assim é 300 Filmes Para Ver Antes de Morrer, primeiro livro da coleção “Mente Aberta” lançada pela revista Época.
Devo dizer, no entanto, que apesar da qualidade dos textos, que incluem resenhas, biografias e textos sobre os principais gêneros cinematográficos, 300 Filmes se ressente de uma revisão no que diz respeito, principalmente, aos prêmios recebidos pelos longas destacados no guia. Que erra ao afirmar, por exemplo, que “Antes do Pôr-do-Sol” ganhou o Oscar de melhor roteiro (foi apenas indicado), esquece de informar que “A Conversação” recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1974, e comete um equívoco ao dizer que foi “Waking Life”, e não “Um Casamento à Indiana”, de Mira Nair, considerado o melhor filme do festival de Veneza em 2001.
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Marcela Cálamo ficou paraplégica aos 6 anos de idade, devido a uma doença. Em vez de se deixar esmorecer, seguiu sua vida adiante, apesar das dificuldades trazidas por um país no qual falta uma infra-estrutura adequada para pessoas que precisam usar cadeiras de rodas. Marcela superou todas as dificuldades, casou-se, teve dois filhos e criou um blog, batizado com o seu apelido (Tchela), no qual passou a narrar suas experiências de vida.
Na companhia de Ângela Carneiro, Marcela escreveu o livro Rodas Pra Que Te Quero!, transpondo para o campo da literatura infantil suas lembranças de uma época na qual tudo o que ela queria era ser uma criança igual a todo mundo, em uma obra que descreve situações vivenciadas em seu cotidiano. Leitura recomendada a crianças de todas as idades.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • cbbsgvsbfsdnbg

    esse livro e uma b… nao gostei achei criança

  • Ricardo Mattos

    Muito bom seu texto no site da rock press. Pra quem trabalha com música, vive-se em uma era de incerteza, chega a ser abstrato o futuro. Ao mesmo tempo que se torna totalmente democrático, o mundo musical perde um pouco do romântismo e da idolatria que existia até então. tudo está ruindo com esta revolução que é a internet. Mas não sejamos velhacos, se está mudando é porque a nova geração assim quis, vamos para o futuro então e seja o que Deus quizer.

  • http://nosexandthecity.zip.net desiree

    Fico feliz quando vejo um(a) blogueiro(a) publicando livro e só esta semana a Olívia é a terceira que vejo! parabéns para ela.

  • http://jccbalaperdida.blogspot.com JULIO CESAR CORRÊA

    Dar uma força para a Olívia é dar força para a comunidade blogueira. Principalmente para os que escrevem policial, como eu. Infelizmente uma questão geográfica me impedirá de estar aí.
    gd ab

  • http://www.circulando.com Cláudio Rúbio

    Detalhe sobre o livro da Tchela e da Ângela é que foi concebido através da internet e por causa do blog da Tchela, o Maré.
    A Ângela, que cresceu auxiliando sua avó, deficiente visual, e depois emprestou sua voz para áudio-livros do Clube da Boa Leitura, para outros deficientes visuais, conta que teve um sonho, escrever um livro a respeito de uma pessoa portadora de deficiência física e o tema da inclusão, e, a partir do sonho, passou a procurar na internet pessoas que a inspirassem.
    Assim encontrou o blog da Tchela, escreveu para ela, trocaram emails, e o livro foi nascendo. É, portanto, mais um bom fruto do blog.
    Bem, a narrativa da Àngela a esse respeito está no Blog Casos e Cismas, nesse post aqui.
    Obrigado pelo complemento valioso ao post, Cláudio!

  • http://www.ignoranciaefogo.blogspot.com Felipe

    Ah, que bom ver o livro da Marcela aqui!
    Já conhecia o blog, e é muito satisfatório ver a iniciativa dela de escrever um livro narrando o ponto de vista de uma pessoa em cadeira de rodas.Quem sabe ajude a criar uma geração mais consciente das dificuldades vividas pelos cadeirantes.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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