Morreu Pedro de Lara, e com ele mais um pedaço da minha infância. Foi ele o Salsi Fufu do programa do Bozo, o jurado rabugento do Show de Calouros de Silvio Santos, o autor de obras como o Livro da Sabedoria e de aforismos sensacionais como estes:
“A vida é cheia de fases, a pior fase é quando não fazes mais nada”.
“Quanto mais dízimos, mais igrejas. Quanto mais igrejas, menos fé”.
“Na vida tem que ter estilo, quem não tem não é isso nem aquilo”.
“É melhor doer na carne do que arder na consciência”.
“A mulher na maciota faz de um sábio um idiota”.
“No mercado da vida o homem é sempre um produto de oferta”.
“Tapar a velhice com plástica é esquecer que a natureza é drástica”.
“O filho quando não presta é espermatozóide estragado”.
“Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre, que só tem dinheiro”.
O pernambucano Pedro Ferreira dos Santos, nascido em 25 de fevereiro de 1925 na cidade de Bom Conselho, também manteve uma coluna sobre astrologia nas revistas Amiga e Sétimo Céu, foi radialista, cantor e ator. Algumas das principais produções cinematográficas das quais participou foram: Elke Maravilha Contra o Homem Atômico, Emoções Sexuais de Um Cavalo, As 1001 Posições do Amor e Padre Pedro e a Revolta das Crianças. Nesta produção de 1984, Pedro de Lara interpreta um padre missionário que, acompanhado por um carneiro e um bode, vai parar em um vilarejo dominado por um milionário maléfico, personificado por Zé do Caixão. Wilza Carla, no papel de uma carola apaixonada por Pedro, e Gugu Liberato, interpretando um colega de sacerdócio, também integram o elenco desta sensacional pérola do cinema brasileiro.
Pedro de Lara também ficou conhecido por suas opiniões um tanto quanto peculiares. Em uma a TPM sobre sexualidade, quando perguntado sobre o que fazer quando um parceiro solicita sexo anal, o eterno Salsi Fufu respondeu: “Quem come dá e quem dá come. Se ela deixar, eles vão ficar viciados. É porque são anormais”. Já em um trecho de seu Livro da Sabedoria, transcrito por Dri Spaca, o mestre tergiversa sobre fazer sexo em pé: “Esta prática é uma atividade que proporciona a elasticidade corporal, valoriza os colóquios e multiplica a energia muscular. O sexo em pé é o mais correto e excitante exercicio da carne. A verdadeira verdade é que trepar deitado não é propriamente trepar. Trata-se de uma relação preguiçosa e sedentária. Podemos observar que o sexo de todos os animais, com exceção dos rastejantes, é sempre realizado em pé. Então porque esta bobeira do homem de cair na cama toda vez que vai trepar?”
Como bem afirmou Elke Maravilha, Pedro de Lara tinha um “humor brasileiríssimo”. Sentirei sua falta.
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P.S.: Você tem um blog? Então faça como o Bender e o Rodrigo Stulzer: associe a URL http://www.senado.gov.br à expressão Vergonha Nacional. Os resultados da campanha lançada pelos dois na blogosfera já podem ser constatados no Google.
O primeiro avião foi a declaração dada por Renan Calheiros (PMDB-AL), em nota distribuída à imprensa, na qual ele afirmou, com serena hipocrisia, que o resultado da votação na sessão secreta (adjetivo aplicado incorretamente: a tal sessão esteve mais para “clandestina” do que para “secreta”) de ontem do Senado foi “uma vitória da democracia”. O segundo Boeing que acertou em cheio a moral cívica brasileira foi a frase vociferada pelo senador Almeida Lima (PMDB-SE), que disse: “a absolvição de Renan foi uma vitória do povo”. Com um dia de atraso tivemos, pois, o nosso catastrófico 11 de setembro. Apertem os cintos, porém: mais aviões metafóricos estão prontos para implodir o que resta de esperanças. Ainda hoje, dia 13, os líderes do governo na Câmara e Senado se reunirão para discutir a prorrogação da CPMF, o imposto provisório mais definitivo que a Civilização Ocidental jamais conheceu.
A pancadaria de ontem entre parlamentares e seguranças e a intimidação do discurso de defesa de Renan na tribuna do Senado são fatos que me remeteram ao aforismo cunhado por Henry Louis Mencken: “Sob a democracia, um partido devota suas principais energias à tentativa de provar que o outro partido é incompetente para governar - ambos conseguem e ambos estão certos”.
Mas o mais dolorido de tudo é constatar que, de certa maneira, a declaração serenamente hipócrita de Renan Calheiros tem lá sua razão: o senador alagoano foi eleito graças aos votos do povo, assim como todos os seus 40 colegas que votaram contra a sua destituição e mais os 6 que covardamente optaram pela abstenção. Aqueles que estão no Congresso são representantes democraticamente eleitos pela sociedade brasileira. Esta mesma sociedade repleta de cidadãos (sic) que desrespeitam sinais de trânsito, furam filas em todos os estabelecimentos possíveis, levam seus cachorros para dar uma cagadinha e deixam seus dejetos no meio da calçada pública, seguem religiosamente a Lei de Gérson sonegando impostos ou pagando propinas, dizem que estão “cansadinhos” mas anulam seus votos e lavam as mãos da tarefa de pesquisar o histórico dos candidatos e ajudar a eleger representantes mais qualificados.
É muito fácil jogar a culpa no governo e nos políticos, principalmente quando cada um esquece de fazer a sua parte. Nada mais humano, porém, do que se esquivar e responsabilizar os outros por toda a patifaria e falta de ética que grassa por aí.
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P.S. 1: Foi divulgada uma relação de como votaram os senadores na preparação da pizza de abobrinha com pepino de ontem. Mas, estranhamente, 40 parlamentares afirmaram ter votado pela condenação de Renan Calheiros, enquanto o placar do Senado mostra que foram apenas 35. Ou seja, faltou caráter até para que nossos nobilíssimos representantes assumissem publicamente suas posições. Um texto mais elucidativo sobre os bastidores da votação clandestina é este: A vitória de Renan, de Cristiana Lôbo.
O pessoal do National Lampoon não perdoou a desastrosa apresentação da ex-patroa de Kevin Federline no Vídeo Music Awards do último domingo, e produziu uma sátira da apresentação de Britney cantando seu novo candidato a hit, “Gimme More”. Fotos do, hmm, show (cof, cof) de Ms. Spears na premiação da MTV estão disponíveis neste link.
Sim, comediantes precisam ser cáusticos. Mas eu, particularmente, achei que Britney Spears está numa forma física das mais respeitáveis, levando-se também em consideração que é mãe de dois filhos. Em resumo: pegaria. No entanto, faltaram à intérprete de Oops!… I Did It Again fartas doses de bom senso, superego e, em especial, um amigo pra valer, daquelas que não pestanejam em falar verdades doloridas, que fosse capaz de chegar ao pé do ouvido e lhe dissesse: “querida, você não está pronta para isso”. O resultado foi uma tremenda vergonha alheia, digna das piores apresentações do American Idol.
Mas bizarro mesmo foi encontrar um vídeo no qual uma figura, que aparenta ser um fã emo da ex-namorada de Justin Timberlake, defende até às lágrimas o tremendo King Kong pago por sua ídola. Trata-se do loirinho da foto acima, um tal de Chris Crocker que se auto-intitula “The #1 Most-Watched Person on Myspace-TV”. O vídeo, intitulado LEAVE BRITNEY ALONE, já bombou no YouTube.
Quando vi esse vídeo pela primeira vez, pensei, assim como o Cardoso, que se tratava simplesmente de um fã abilolado da cantora. Mas confesso que, após descobrir sua página no MySpace, passei a desconfiar das reais intenções do rapaz, principalmente após ler sua auto-entrevista, que deixa clara a obsessão de Chris Crocker com a fama infame e o vácuo dos holofotes midiáticos.
Não seria a primeira, e muito menos a última vez na qual alguém utiliza o YouTube com claros fins marqueteiros. O caso mais recente foi o de Marié Digby. Uma cantora pop, de rostinho bonitinho, que colocou no ar um vídeo com sua interpretação ao violão de “Umbrella”, sucesso gravado por Rihanna, e amealhou mais de 1 milhão de visualizações de seu vídeo em pouco mais de 3 meses. Graças à repercussão no YouTube, Marié Digby apresentou-se no talk show de Carson Daly e foi contratada para fazer shows até no Japão.
História de Cinderela pós-moderna revelada graças ao poder democrático da Internet? Ledo engano, mon ami. Uma reportagem do Wall Street Journal descobriu a verdade: Marié Digby já tinha um contrato assinado com a Hollywood Records, braço fonográfico da Walt Disney Co., 18 meses antes de se tornar um “fenômeno” da Web. Ou seja: tudo não passou de uma bem-sucedida estratégia concebida por um conglomerado midiático a fim de gerar buzz na Internet para o lançamento de uma nova cantora.
Moral da história? A verdade está lá fora e cansou de tocar a campainha esperando você abrir a porta.
Há seis anos eu estava em casa, ainda digerindo o café da manhã, quando vi uma manchete na página inicial do UOL: “Avião choca-se com o World Trade Center”. Na hora sequer cogitei que aquela ocorrência fosse das mais sérias; a imagem que me veio à cabeça foi de um aeroleve ou teco-teco se chocando contra o prédio. A ficha só veio a cair, junto com as possíveis dimensões daquela manchete, quando, minutos depois, surgiu uma nova nota no portal informando que outro avião havia acabado de atingir as torres do WTC. Liguei a televisão: na Globo, Carlos Nascimento fazia ao vivo a locução das cenas que aparentavam anunciar o início da Terceira Guerra Mundial.
Ainda não pensava em criar um blog. Na época, eu era editor de um fanzine que era distribuído semanalmente por e-mail a mais de 2 mil assinantes, o SpamZine. Enquanto assistia às cenas quase inverossímeis que eram exibidas na TV, redigi uma breve nota que incluí, de última hora, na edição daquela semana. Ei-la:
O ataque a Pearl Harbor, o assassinato de Kennedy, a derrota no Vietnã geraram inúmeras produções hollywoodianas que buscaram dissecar momentos históricos em que os Estados Unidos mostraram-se frágeis, vulneráveis feito qualquer paiseco de Terceiro Mundo. Mas nada, realmente nada se compara às cenas que estou vendo agora: o Pentágono e as torres do World Trade Center (acabaram de desabar!) em chamas. Simplesmente o centro militar e o financeiro da mais poderosa nação do mundo foram atacados. Clube da Luta, Duro de Matar, Força Aérea 1, Independence Day, Nova Iorque Sitiada, toda ficção virou fichinha diante do que está acontecendo. Estou atônito, estupefato, perplexo. Quem me dera isso fosse outro trote do Orson Welles. Temo pelas retaliações que serão feitas pelo bananão do Bush Júnior depois disso tudo.
No dia seguinte começaram a pipocar e-mails com teorias mirabolantes. Dentre outras coisas, as mensagens falavam em notas de 20 dólares com dons de Mãe Dinah, uma profecia ligada à fonte Wingdings que teria antecipado tipograficamente os atentados e até o rosto de Louis Cypher que teria surgido em meio à fumaça nas torres gêmeas. Mas a “melhor” de todas as histórias foi, sem dúvida nenhuma, da fotografia de um turista que teria captado o momento em que um dos Boeings aproximava-se do World Trade Center: nascia a pitoresca lenda urbana do Tourist Guy.
Celso Viáfora compôs, junto com Vicente Barreto, A Cara do Brasil, gravada no álbum homônimo lançado em 1999. Não conheço canção mais apropriada para ser citada no dia de hoje.
Eu estava esparramado na rede
Jeca urbanóide de papo pro ar
Me bateu a pergunta, meio a esmo:
Na verdade, o Brasil o que será?
O Brasil é o homem que tem sede
ou quem vive da seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
O que vai é o que vem na contramão?
O Brasil é um caboclo sem dinheiro
Procurando o doutor n’lgum lugar
Ou será o professor Darcy Ribeiro
Que fugiu do hospital pra se tratar?
A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho
Ninguém precisa consertar
Se não der certo a gente se virar sozinho
Decerto então nunca vai dar
O Brasil é o que tem talher de prata
Ou aquele que só come com a mão?
Ou será que o Brasil é o que não come
O Brasil gordo na contradição?
O Brasil que bate tambor de lata
Ou que bate carteira na estação?
O Brasil é o lixo que consome
Ou tem nele o maná da criação?
Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho
Que é o Brasil zero a zero e campeão
Ou o Brasil que parou pelo caminho:
Zico, Sócrates, Júnior e Falcão?
O Brasil é uma foto do Betinho
Ou um vídeo da Favela Naval?
São os Trens da Alegria de Brasília
Ou os trens de subúrbio da Central?
Brasil-Globo de Roberto Marinho?
Brasil-bairro, Carlinhos-Candeal?
Quem vê, do Vidigal, o mar e as ilhas
Ou quem das ilhas vê o Vidigal?
O Brasil encharcado, palafita?
Seco açude sangrado, chapadão?
Ou será que é uma Avenida Paulista?
Qual a cara da cara da nação?
A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho
Ninguém precisa consertar
Se não der certo a gente se virar sozinho
decerto então nunca vai dar.
Há tempos estou para responder a alguns “memes”, mas antes preciso organizar minha bagunça pessoal. Não chegarei ao ponto de fazer como o Cardoso e criar um blog exclusivo para memes, mas penso em definir um dia fixo da semana para esse tipo de post, veremos. Mas tergiverso, tergiverso.
O motivo deste post é um meme que me foi repassado pela ilustradora e blogueira nas horas vagas Dani Dias, que me pediu para relacionar cinco músicas para ouvir viajando. Até imagino que a Dani, ao falar em viagens, tenha pensado no sentido turístico da palavra. Mas eu, que sou mais afeito a viagens maionésicas, optei por selecionar cinco boas trilhas sonoras para fechar os olhos e se deixar levar pelo poder hipnótico que boas composições e arranjos possuem (com a valiosa ajuda de meu amigo YouTube).
Vale a pena ressaltar que os vídeos nada mais são do que trailers das músicas relacionadas. Assim como não é possível comparar a experiência de se assistir a um filme no cinema, com as luzes apagadas, tela grande à sua frente e um ambiente especialmente voltado para a imersão na obra cinematográfica, boas músicas pedem por um bom fone de ouvido, olhos fechados e um lugar confortável para a devida fruição sonora. Continue Lendo
Nem sempre as coisas são como aparentam, vide o vídeo abaixo, que não tem absolutamente nada a ver com sexo explícito. :)
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A melhor coisa de se ter um sistema de estatísticas em um blog é descobrir quais são as buscas que os internautas fizeram para chegar em sua página. Procuras como “fotos de mulheres nuas escrevendo com a vagina”, “um inventor grego com muita história”, “meninas do recife atrás de sexo sem dinheiro”, “como se masturbar”, “massagem para aumentar o tamanho do pinto”, “o que significa tequinologia”, “macumba para ser vadia” e “biografia da gonorreia” inspiraram Rafael Galvão a criar uma série genial de posts intitulada As alegrias que o Google me dá. Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.