Artigos do mês de: julho 2006

Blogo, logo existo

Por Alexandre Inagakisábado, 29 de julho de 2006

Enquanto dicionários como o Aurélio e o Houaiss perdem terreno para a Wikipedia por não terem criado ainda um verbete para a palavra, deixo aqui minha definição: blog é um site regularmente atualizado, cujos posts (entradas compostas por textos, fotos, ilustrações, links) são armazenados em ordem cronologicamente inversa, com as atualizações mais recentes no topo da página. Criados com o auxílio de ferramentas de publicação como Blogger e Movable Type, blogs são páginas dinâmicas e democráticas – qualquer internauta razoavelmente alfabetizado é capaz de criar o seu. Podem ser espaço para observações do cotidiano, mural de recados, laboratório de experimentações literárias, depósito de links curiosos, relicário de agruras sentimentais, diário de viagem ou tudo isso ao mesmo tempo agora.

Tamanha facilidade de publicação não passa impune: segundo o Technorati, há cerca de 49,9 milhões de blogs. É de se pensar: quem lê tanta gente? Há quem diga que blogs são como escritos dentro de garrafas jogadas no mar, que bóiam pela Web em busca de poucos e raros destinatários; não é bem assim. Graças à comunicação feita por links e comentários deixados em outros blogs, estas garrafas virtuais coligam-se em comunidades, amealhando leitores de modo similar ao fenômeno boca-a-boca que transforma filmes obscuros em sucessos cult.

Quem escreve em um blog em geral o faz com uma linguagem informal, descompromissada, não raro pontuada por erros de grafia que denunciam a urgência com que o internauta escreve seu texto, como rascunhos que já nascem com caráter definitivo. Do comando do cérebro ao ato dos dedos digitando no teclado, palavras borbotam e – click! – desembocam direto para a tela.

Na Internet, prevalece a cultura do imediato: teias de aranha virtuais cobrem um site se este não é atualizado pelo enorme intervalo de… um dia. Repare: toda vez que um novo texto é publicado, os anteriores deixam de receber novos comentários. Na blogosfera, mais do que nunca prevalece a cultura do imediato: o post está morto, viva o novo post! Em nome da velocidade no carregamento do site, não mais do que dez artigos são publicados na página inicial, enquanto os anteriores são empurrados para o quartinho dos fundos. Pergunto: quantos gatos pingados possuem o hábito recorrente de vasculhar os arquivos de um blog?

Em precisa analogia, o escritor goiano Nelson Moraes compara os blogs a palimpsestos – “pergaminhos de couro utilizados por monges da Idade Média para registrar textos e gravuras, que de tempos em tempos eram lavados a fim de remover a tinta e gravar novos manuscritos que iam sendo sobrepostos aos anteriores”. Ao contrário dos textos impressos, transportáveis para qualquer local e lidos a qualquer hora, o prazo de validade de um post é o tempo de exposição na homepage. Depois, torna-se jornal virtual a embrulhar peixes cibernéticos precocemente envelhecidos, folheados por uma massa restrita de leitores.

Em meio a tanta fugacidade, há no entanto aqueles que usam os blogs como escoadouro de toda uma produção literária represada. O que antes jazia em fundos de gaveta agora é compartilhado com um clique de mouse. É óbvio que toda essa facilidade de publicação possui dois gumes – há na Web muita literatice constrangedoramente capenga, assim como é possível garimpar autores preciosos que recorrem à interface do blog da mesma maneira que outras gerações criavam fanzines xerocados a fim de divulgar seus escritos.

O blogueiro entra nessa história como um daqueles comediantes novatos que sobem em um palco tal qual na stand-up comedy notabilizada por nomes como Jerry Seinfeld. Despido de cenografia, dá a cara pra bater: ao narrar “causos” autobiográficos ou piadas de próprio punho, arrisca-se a receber apupos ou a indiferença de sua platéia, traduzida pela ausência de comentários ou pela estagnação das estatísticas de seu contador de acessos. Em contrapartida, há aqueles que graças aos blogs tornaram seus nomes conhecidos e foram acolhidos pelo mercado editorial brasileiro, como João Paulo Cuenca, Daniela Abade e Clarah Averbuck.

É preciso falar ainda da crescente influência da blogosfera como meio livre de circulação de informações, tornando-se uma espécie de ombudsman coletivo da grande imprensa em geral. É inevitável citar o caso da demissão do âncora da rede de TV CBS Dan Rather, que coordenou a produção de uma reportagem sobre o passado militar de George W. Bush baseada em documentos falsos, em denúncia feita pelo blog Power Line. Em países sob regimes ditatoriais, como Irã, China e Coréia do Norte, a blogosfera ganha mais relevância ainda, tornando-se preciosa fonte alternativa de informação – representativa a ponto de sofrer severas repressões. Sites como Civiblog e Committee to Protect Bloggers surgiram com o objetivo de denunciar os casos de blogueiros presos simplesmente por veicularem notícias e idéias incômodas a certos governos. É o caso do Irã, nação que mandou para a cadeia diversos blogueiros nos últimos anos, e que ainda mantém sob detenção Mohamad Reza Nasab Abdolahi e Motjaba Saminejad.

No entanto, apesar da severa repressão, o processo de popularidade dos blogs entre os jovens iranianos (existem mais de 60 mil blogs em farsi, o dialeto persa) parece ser irrefreável, especialmente entre as mulheres, que vêem neles uma oportunidade rara de externar suas idéias e sentimentos. Outro aspecto importante: a fim de estabelecer contato com o mundo, muitos iranianos optam por escrever em inglês (vide este diretório), oferecendo a internautas de outros países a oportunidade de conhecer aspectos do cotidiano de um país no qual jovens correm o risco de serem presos por irem a uma festa ou caminhar ao lado de um amigo do sexo oposto.

Ao final deste artigo, não posso deixar de reiterar aqueles que, a meu ver, são os aspectos mais positivos de um blog: o fomento de debates em tempo real, o estímulo à comunicação de idéias, a democratização da publicação de conteúdo na Web e, principalmente, a liberdade de expressão.

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P.S. 1: Republiquei este texto, anteriormente veiculado no Correio Braziliense e no Digestivo Cultural, como uma espécie de boas-vindas a todos que conheceram este blog graças à matéria de capa da revista Época desta semana, conduzida por Ricardo Amorim e Eduardo Vieira. A aqueles que imaginavam que blogs não passavam de diarinhos virtuais, ou sequer sabiam o significado da palavra, fica aqui o conselho para que naveguem pelos links da coluna à direita e percam-se por aí. Internet é muito mais do que um meio de veiculação de piadas velhas por e-mails.

P.S. 2: O site da Época publicou uma compilação de links de minha autoria. Inspirado em um site português que, infelizmente, parece estar fora do ar, os 25 momentos da blogosfera brasileira (que, como o navegante atento perceberá, são mais do que vinte e cinco) fazem parte de um trabalho inacabado que deveria ter sido publicado em formato wiki, com a colaboração ativa daqueles que têm feito a história da blogosfera tupiniquim (é um projeto a ser retomado junto com diversas coisas que pretendo fazer até o final deste ano). Pena que, ao menos até o momento em que entrei na página pela última vez, ela estava repleta de hyperlinks errados. Torço para que sejam brevemente consertados.

P.S. 3: Ao ver minha foto na matéria, fiz a inevitável constatação: não nasci para ser top fodel. Pretexto para uso de minha interjeição predileta: nhé!

Salve Ferris!

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 25 de julho de 2006

Ferris Bueller é o cara que todo adolescente gostaria de ser: esperto, popular, de bem com a vida e com uma namorada linda. Cameron Frye, seu melhor amigo, é o rapaz problemático que personifica um lado que todo mundo também já teve: um jovem em conflito com os pais, travado entre a angústia sobre o futuro e as dúvidas existenciais que pipocam na alma feito espinhas na cara. Já Sloane Peterson é a namorada dos sonhos, uma garota cool e comparsa de qualquer aventura que fosse proposta, cuja beleza é admirada (e invejada) por todas as amigas.

Ferris, Cameron e Sloane no Art Institute of Chicago

Não é difícil entender o porquê de uma reprise de Curtindo a Vida Adoidado na TV representar um apelo irresistível para que a gente se ajeite no sofá e curta 102 minutos de diversão descompromissada. Este filme, dirigido e roteirizado por John Hughes em 1986, é o retrato de uma geração sem utopias que simplesmente aspira por uma vida que fuja à rotina besta do dia-a-dia. Facilmente digerível, feito as melhores canções pop, Ferris Bueller’s Day Off (título original do filme que, em Portugal, ganhou o nome de O Rei dos Gazeteiros) dá voz a toda uma geração em uma seqüência na qual Matthew Broderick fala diretamente para a câmera. Continue Lendo

Escrevendo com luz

Por Alexandre Inagakidomingo, 23 de julho de 2006

Houve época em que se acreditava que a fotografia não passava de uma mera reprodução da realidade, e que, por conta disso, não teria valor criativo ou artístico. Ledo e ingênuo engano: muito mais do que simplesmente espelhar a natureza, os artistas da câmera possuem a capacidade de captar uma determinada imagem em uma específica fração de tempo e fazer com que ela transcenda os limites da moldura, preenchendo a escrita da luz com entrelinhas que não se esgotam em um mero clique.

Um bom exemplo é o da foto acima, tirada de um parque de diversões abandonado no Japão. Para além do mero registro visual, fiquei mesmerizado com a capacidade que uma “simples” foto possui de fazer com que mergulhemos em uma dimensão perdida, na qual quase podem se vislumbrar espectros circulando pelos trilhos enferrujados de uma montanha-russa mergulhada em névoas e reminiscências desencontradas.

São Paulo por Daniela Bracchi

Angulações diferentes, senso de observação, técnica no uso de filtros e lentes, manipulação digital. Um fotógrafo, mais do que fazer o mero registro da realidade, é capaz de recriar as imagens à sua frente, descolando-se das limitações do real a fim de mergulhar em um território muito mais instigante. É o que faz, por exemplo, a soteropolitana Daniela Bracchi, que na foto acima extrai da paisagem cinzenta de São Paulo cores que passam desapercebidas pelos desatentos à poesia escamoteada entre viadutos e pichações.

Ojos

E no entanto, a poesia não necessariamente reside em fotografias profissionais. Registros congelados de tempo, as imagens encontradas em álbuns de família encapsulam momentos que resistem, teimosos, ao oblívio do passado. Fotos Encontradas é um site fascinante com fotos resgatadas nas calles de Buenos Aires, seja em sacos de lixo ou calçadas. Sem quaisquer referências a respeito de seus personagens, cada fotografia veiculada no site é um ponto de reticências acerca do seu destino. Teria sido rasgada, queimada ou jogada no lixo por trazer lembranças dolorosas ou simplesmente porque estava fora de foco? Que histórias se ocultam por detrás do sorriso amarfanhado de um casal de imigrantes em preto e branco, ou na expressão melancólica de uma mulher sentada ao lado de alguém cuja cabeça foi meticulosamente recortada?

As grandes fotografias possuem uma origem em comum: a felicidade do obturador ter sido pressionado no momento fugaz em que Deus foi flagrado em um sorriso distraído.

(texto originalmente publicado em 15/06/05)

Retorno em grande estilo

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 18 de julho de 2006

Superman - O Retorno é uma obra que respeita o legado dos quadrinhos e dos dois primeiros (e excelentes) filmes da série, dirigidos por Richard Donner. Desde os créditos iniciais, ao melhor estilo dos anos 70 e com uso magistral do tema musical composto por John Williams, até as inúmeras citações (por exemplo, uma cena que reproduz a primeira aparição do Super-Homem, na capa da revista Action Comics) e a boa atuação de Brandon Routh, que é praticamente uma reencarnação de Christopher Reeve, com direito à clássica ajeitadinha nos óculos de Clark Kent. Ao mesmo tempo, é uma adaptação que surpreende pela ousadia com que apresenta uma hipótese jamais trabalhada a sério pelos quadrinhos da DC: Lois Lane noiva e com um filho.

Não posso dizer que Superman - O Retorno supera os dois filmes de Richard Donner. Mas é um belo trabalho de Bryan Singer, que honra o currículo do cineasta de Os Suspeitos, X-Men e X-Men II, confrontando o personagem criado por Joe Shuster e Jerry Siegel com novos dilemas entre seus deveres e responsabilidades de super-herói e os sentimentos que nutre por Lois Lane. Kevin Spacey cumpre as expectativas ao personificar um Lex Luthor falastrão, ao mesmo tempo ameaçador e divertido. Parker Posey, no papel de Kitty Kowalski, a namorada do vilão, rouba cenas ao ser responsável pelos momentos mais engraçados do filme. Embora considere que Kate Bosworth não possua o physique du rôle ideal para interpretar Lois Lane (a personagem pedia por uma intérprete mais velha e, hmm, carismática), sua atuação é correta. Quanto a Routh, ao longo do filme ele prova que o mesmo Bryan Singer que já havia surpreendido fãs ao escalar um outrora desconhecido Hugh Jackman para interpretar Wolverine fez outra aposta acertada.

Colegas que também assistiram ao filme, como Rafael Galvão e Luiz Biajoni, criticam a unidimensionalidade e até mesmo o “bom-mocismo” do personagem. Mas, oras, o que esperar de um super-herói que desde a sua criação representa o arquétipo da justiça e da bondade? A citação que o filme faz do deus grego Prometeu não foi inserida à toa. Porque Kal-El não é gente como a gente, e sim uma espécie de semideus “condenado” à missão de velar constantemente pela humanidade pra lá de imperfeita que habita este planeta. E se o personagem aparenta ser correto demais, resvalando nos limites da chatice, o “erro” está menos em suas atitudes do que nos padrões morais de uma sociedade que se entretém mais com heróis homicidas como Lobo e Wolverine, ama odiar vilões como Bia Falcão (que saiu impune ao final da telenovela de Sílvio de Abreu sem que ninguém visse algo de errado isso) e exercita seu voyuerismo ao acompanhar como se fosse reality show casos como o julgamento de Suzane von Richthofen.

E, embora a maior parte das resenhas tenham destacado a impactante seqüência em que o Super-Homem evita um desastre aéreo, a mais marcante do filme, ao menos para mim, é a penúltima. Nela, o sobrevivente de Krypton deixa por alguns instantes sua faceta de protetor da humanidade a fim de tratar de sua vida pessoal, dando ao Homem de Aço um desfecho que remonta ao conceito, popularizado por Joseph Campbell, de que a jornada de todo herói passa necessariamente por alguma espécie de sacrifício pessoal. Tão difícil quanto descrever esta seqüência sem cometer spoilers é não se comover com as palavras proferidas pelo personagem de Routh durante a cena.

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P.S. 1: Bianca Kleinpaul, em seu texto Memória afetiva do Superman, disponibiliza um precioso vídeo para a seqüência mais marcante do primeiro filme da série: o momento em que o kryptoniano descobre que Lois Lane morreu soterrada e, desesperado, voa diversas vezes em torno da Terra na direção inversa à sua rotação, cada vez mais rapidamente, até fazer com que o planeta gire em sentido contrário, retrocedendo no tempo. Retomando o que escrevi dois parágrafos acima, uma explicação para que justamente essa seqüência tenha marcado as lembranças de tanta gente talvez seja o fato de que nela o Homem de Aço abandona sua aura de escoteiro e age por impulso, deixando-se levar pelas emoções, em uma atitude demasiadamente “super-humana”. Para fazer o download desta cena, que inspirou Gilberto Gil a compor Super-Homem - a Canção, clique aqui com o botão direito do mouse e selecione a opção “salvar destino como”.

P.S. 2: Post relacionado: A diferença entre Super-Homem e Clark Kent.

P.S. 3: Confira os trailers dos três filmes mais aguardados (ao menos por mim) do ano: The Science of Sleep, de mestre Michel “Brilho Eterno” Gondry, The Prestige, de Christopher Nolan (além de um elenco que conta com nomes como Christian Bale, Hugh Jackman, Scarlett Johansson, Michael Caine e David Bowie, todos os textos que comentam o livro que deu origem ao filme, escrito por Christopher Priest, destacam que o final é não menos que sensacional), e Lady in the Water, de M. Night Shyamalan, diretor de dois dos mais impressionantes filmes que vi nos últimos dez anos, A Vila e O Sexto Sentido.

Breve compilação de links inúteis (parte I)

Por Alexandre Inagakidomingo, 16 de julho de 2006


Depois de “Vou te Excluir do Meu Orkut”, e não é que Ewerton Assunção ressurgiu com um novo candidato a hit, “Tardes Jogando Playstation“? Dê um desconto nos erros de concordância da letra e confira o refrão de sua nova composição: “Você se lembra/ Das tardes juntinhos jogando Playstation/ Depois dava um pause/ Começavam os beijos/ Isso era o start das nossas relações/ Você se lembra?/ O direcional é minha mão no seu corpo/ Nunca dava reset nesse amor tão louco/ E assim se criava o nosso jogo de amor“. Em tempo: Ewerton, muso inspirador da comunidade Eu Vou Te Deletar do Meu Orkut (atualmente com mais de 30.000 membros) fará um show na Trash 80′s dia 10 de agosto!

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Cinco vídeos brasileiros garimpados no YouTube:
1. Fausto Silva e Sérgio Mallandro interpretando (cof, cof) “O Rap do Ovo“, em uma seqüência extraída do cRássico filme O Inspetor Faustão e o Mallandro;
2. Um momento antológico da teledramaturgia brasileira: Paulo Autran e Fernanda Montenegro protagonizando uma seqüência digna de comédia-pastelão na novela Guerra dos Sexos, de 1983;
3. Esquete de Os Trapalhões dos bons tempos (anos 70) com Didi Mocó como um porteiro de motel, com direito a participação especial de Wanderley Cardoso;
4. Quadro extraído do programa Cocktail do SBT, também conhecido popularmente como “Cockteta”. Inspirado por um programa similar da TV italiana e apresentado por Luiz Carlos Miéle, esta atração foi exibida pelo SBT em 1991 e 1992, e ficou conhecida por apresentar a toda uma geração de garotos, por meio das Garotas Tutti-Frutti, os primeiros seios que eles viram na vida. Maiores informações nesta comunidade do Orkut.
5. Coletânea de vinhetas da finada Rede Manchete, dentre elas as aberturas de Kananga do Japão (feita em one-shot sequence), Cabaré do Barata, Programa de Domingo, Jornal da Manchete e Pantanal.
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Eis a foto mais procurada dos últimos tempos, que encontrei em um site italiano. Trata-se de ninguém menos que Lila Zidane, 36, notabilizada nas últimas semanas por ser a irmã de Zinedine Zidane, insultada pelo zagueiro Materazzi no incidente que provocou a cabeçada que marcou a final da Copa da Alemanha. Dois anos mais velha que o irmão boleiro, Lila chegou a trabalhar como modelo durante sua adolescência, e atualmente ajuda a administrar os negócios do ex-jogador do Real Madrid.
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De todos os inúmeros perfis de atores que constam no IMDB, maior banco de dados sobre cinema na Internet mundial, estou para ver algum que seja mais, hmm, singelo do que o de Anne Sellors. Uma rápida visita ao seu perfil é suficiente para entender o porquê: o único filme da carreira desta atriz é uma produção para a TV britânica intitulada Threads, sobre os efeitos de uma hipotética guerra atômica na Inglaterra. Sua personagem, que não tem nem nome no filme, é descrita pelo IMDB da seguinte forma: “woman who urinates herself“. Você não entende inglês? Ok, então clique aqui para conferir a performance de Ms. Sellors no filme, e constate com seus próprios olhos toda a pungência dramatúrgica desta atriz inglesa até então desconhecida por você.
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Pérola derradeira deste post: como seria o reencontro de Dylan, Kelly, Steve, Donna, David e os irmãos Brenda e Brandon Walsh, de Beverly Hills, 90210 (série exibida na Globo como Barrados no Baile), dez anos depois?

Demasiadamente humano

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 12 de julho de 2006

Durante 90% do tempo, costumo ser um cara zen. Por causa disso, nos raros momentos em que perco as estribeiras e parto para a ignorância, as pessoas que me conhecem se assustam com a raiva que externo nesses instantes. Durante o colegial, só parti para a porrada uma vez, e lembro da sensação maravilhosamente catártica que foi descer o braço em um cara que me enchia o saco com piadas bestas envolvendo minha família, ao externar minha fúria em vez de represá-la como geralmente costumo fazer.

O gif animado mais procurado dos últimos tempos.No banco, já saí do sério por duas vezes. Na primeira vez, por causa de um mané que me chamou de “ladrão”, acusando-me de ter ficado com o dinheiro de uma conta de água que ele supostamente teria pago no mês anterior. Retruquei: “das duas uma; ou você é burro, porque saiu da agência e nem viu que seu conta não havia sido autenticada, ou você é filho da puta, porque está me acusando de algo que não fiz. Mas na verdade creio que você é burro e filho da puta“. Não saí pro pau porque gerente e segurança logo interviram no quiproqüó, e o falastrão imbecil sumiu para nunca mais voltar a aparecer na minha frente.

A segunda ocasião foi mais, hmm, bacana, porque ninguém pôde me segurar na hora. Após ouvir a pentelhação de um cliente que se queixava da fila em um dia no qual três colegas meus haviam faltado por motivos médicos, solicitei que ele se acalmasse, explicando a situação e dizendo que não ia mais aturar ter meus tímpanos sodomizados por sua voz histérica. Ele retrucou: “você está dando uma de valentão só porque está do outro lado desse balcão“. A resposta veio num ímpeto só: “ok, não seja por isso“. Saí do guichê, corri bufando em direção ao cara, cheguei empurrando-o e dizendo: “e aí, vamos resolver essa parada lá fora?“. Como era de se esperar, ele recolheu-se ao seu canto, assustadamente surpreendido feito um franguinho sem asas de mãe galinha para se abrigar, e a turma do deixa-disso tratou de aquietar a situação.

Este não é um relato edificante, e até me surpreendo pelo fato de minhas atitudes intempestivas não terem se revertido em alguma espécie de punição administrativa que eu certamente mereceria ter sofrido. Porém, devo dizer que em todas estas situações em que reagi eu me senti maravilhosamente leve, macho pra caralho e pintudão da silva. É nesta ridícula condição de fanfarrão bissexto, portanto, que eu posso dizer que compreendo, perfeitamente, a atitude asinina de Zinedine Zidane ao cabecear aquele folgado zagueiro italiano. Porque há momentos em que o id dá olé no superego e faz com que você simplesmente precise reagir de modo destemperado a certas coisas que você é obrigado a ouvir por aí.

Quando soube que Zidane pediu desculpas por sua agressão, porém sem se arrepender da cabeçada dada em Materazzi, meu respeito ao craque francês, que indubitavelmente foi o melhor jogador de futebol dos últimos dez anos, manteve-se intacto. Porque, oras bolas, herrar é umano. É bóbvio que Zidane agiu de maneira egoísta e acabou por comprometer sua equipe. E, sim, cometeu uma solene bobagem, da mesma maneira que outros mestres da bola como Garrincha (expulso na semifinal da Copa de 62), Maradona (expulso no jogo contra o Brasil em 82 após entrada criminosa no estômago de Batista) e Pelé (na semifinal do mundial de 70 desferiu uma cotovelada em um zagueiro uruguaio que, como afirmou Tostão em uma de suas colunas, deveria ter sido punida com expulsão e subseqüente suspensão da final da Copa). No entanto, ao reagir aos insultos à sua mãe e irmã, Zidane mostrou que tinha sangue correndo em suas veias, ao contrário de certos jogadores que permitiram que o Brasil fosse eliminado de forma vexaminosamente apática deste mundial.

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P.S. 1: Leituras recomendadas: A cabeçada de Zidane, uma história de honra e racismo, de Zélia Leal Adghirni, Semideuses, de Drex Alvarez, Notas finais sobre a Copa, de Gravatai Merengue, Quem é Zinedine Zidane?, de Idelber Avelar, e Papo Cabeça, de Mr. Wagner Martins.

P.S. 2: Links relacionados: Zidane Head Butt Game (meu recorde até agora: 5.300 cartões vermelhos) e a coleção de gifs animados da cabeçada de Zizou em Materazzi compilada por Ivan Siqueira.

P.S. 3: Segundo o jornal Daily Express, eis o que aconteceu: Materazzi teria beliscado o mamilo de Zidane. Este respondeu à provocação prometendo que entregaria sua camisa ao italiano após o jogo. O zagueiro retrucou: “prefiro tirar a da sua esposa“. A seguir, vieram seguidos insultos à mãe e à irmã do francês, desembocando na cena que marcará para a posterioridade a Copa mais insípida desde 1994.

P.S. 4: Crianças, não façam isso em casa!

O Dia da Pizza

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 10 de julho de 2006

Foto de Renata Diem.Ah, a pizza. A fim de celebrar a existência deste maravilhoso quebra-galho que, via delivery, sacia diariamente a fome de milhares de pessoas como eu (um cara que na culinária segue à risca a máxima de jamais gastar mais tempo cozinhando do que comendo), instituiu-se em São Paulo o Dia da Pizza, comemorado neste dia 10 de julho. Sim, eu sei que essa efeméride é mais uma invencionice de políticos que pouco fazem além de batizar ruas e criar comemorações esdrúxulas. Porém, há certo sentido em se comemorar uma data como esta, dedicada a este singelo prato que representa salvação dos inaptos de fogão, mote de congregação das famílias nas noites de domingo, motivo de perdição dos gulosos de plantão. Continue Lendo

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
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