Certas canções possuem o poder de marcarem nossas lembranças de tal modo que um simples assobio é capaz de resgatar de nossa memória rostos, cheiros, gostos, sensações que há tempos não sentíamos. Provém daí, da força que a música possui de moldar a nossa memória afetiva, a carga emocional que faz com que certos jingles ainda sejam recordados e perdurem no inconsciente coletivo por muito mais tempo do que as próprias empresas que os encomendaram. Exemplo clássico é o tema que Edison Borges de Abrantes, o “Passarinho”, compôs para um comercial de Natal que o finado Banco Nacional encomendou em 1975. Mesmo crianças que nasceram depois da falência do Nacional já ouviram em algum lugar este jingle e sabem cantarolar os versos “Quero ver/ Você não chorar/ Não olhar pra trás/ Nem se arrepender do que faz“.
Quem acompanha as notícias quase diárias sobre a crise da Varig sabe que a empresa aérea, criada em 1927, está em iminente processo de seguir os rumos de outras empresas como Haspa, Mappin, Mesbla, Arapuã, Gurgel, Sears, Trol, Pan-Am, Vasp, Transbrasil e Panair. Eu, que viajei de avião pela primeira vez a bordo de uma aeronave da Varig, bem sei que a empresa mergulhou no caos financeiro devido a fatores como anos de gestões incompetentes, custos administrativos elevados, defasagem de tarifas aéreas desde os planos econômicos dos governos Sarney e Collor e a crise deflagrada no setor pelos atentados de setembro de 2001, e que se ela falir será um fato normalíssimo em meio às engrenagens que movem o livre mercado. Porém, ao ouvir alguns dos jingles que marcaram seus 79 anos de existência, não posso deixar o sentimentalismo de lado ao tecer um lamento pelo destino da Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense. Continue Lendo
Parreira ficou prostituto da vida. Pudera: um quadro do Fantástico revelou o que o técnico da Seleção e seus comandados dizem durante as partidas, graças à leitura labial feita por três jovens surdos. Neste sensacional vídeo (que encontrei no blog Samjaquimsatva), a matéria do Fantástico dedura as palavras vociferadas por Parreira depois do segundo gol feito por Ronalducho no jogo contra o Japão:
- Agora vamos ver, filhos da puta! E ainda pedem pro Ronaldo ir embora. “Tira ele…”. Vai se foder, vai tomar no cu, porra!
Outro destaque da matéria: o comentário que Pelé faz a um amigo depois de ver seu rosto sendo exibido no telão do estádio alemão:
- Alá, ó. Ó lá, bonito pra caralho!
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Observe a imagem acima e atente para a figura central. À primeira vista, não parece que o bloco de cima é mais escuro do que o bloco de baixo? Saiba, pois, que ambos os blocos têm o mesmo tom de cinza. Duvida? Então cubra a aresta central com um dedo estendido, constate a engenhosidade desta imagem criada por Beau Lotto, e clique aqui para ver outras ilusões de ótica (via Juegos de Ingenio).
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Encontrei, no Antena Paranóica, link para uma matéria do Independent Critics que elenca os 100 Melhores Pôsteres de Filmes de Todos os Tempos. De fato, eles fizeram uma ótima lista, com destaques mais do que merecidos para os cartazes de Um Corpo que Cai, Anatomia de um Crime, Casablanca, Manhattan e tantos outros que um dia ainda hei de emoldurar e colocar nas paredes do meu quarto.
Eu, do alto de minha condição de cinéfilo tupiniquim, não poderia deixar de destacar os trabalhos de mestre J. L. Benicio, ilustrador de centenas de cartazes de filmes brasileiros, incluindo-se aí inúmeras pornochanchadas (como A Super Fêmea e Histórias que Nossas Babás Não Contavam) e comédias dos Trapalhões. Mas o melhor de seus trabalhos, IMHO, pode ser conferido na imagem à direita (e, na íntegra, nesta excelente página): o mesmerizante retrato de Vera Fischer no pôster de Perdoa-me Por Me Traíres.
Last, but not least: confira aqui matéria de Pedro Brandt sobre a obra de Mestre Benicio.
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Discordo veementemente das convicções ideológicas de Heloísa Helena, candidata à Presidência pelo PSOL, mas tenho de reconhecer que ela é uma política carismática e muito bem articulada. Fausto Macedo, repórter que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de HH em União dos Palmares, Alagoas, para o Estado de S. Paulo, relata em sua matéria que a senadora chorou e fez muita gente chorar com seu discurso engajado e repleto de frases de impacto. Disse Heloísa: “Vamos à luta, vamos à vitória, vamos dizer para os farsantes neoliberais e para os representantes do parasitismo político que ousam pensar que são donos do Brasil, vamos dizer que podem vir quente que nós estamos fervendo (grifos meus)”. Em outro trecho de seu discurso, não mediu palavras para atacar o PT, seu ex-partido: “Sei o esforço de todos aqui, militantes que, sem o dinheiro público roubado, sem os dólares nas peças íntimas do vestuário masculino, sem AeroLula nem jatinho, sem absolutamente nada, vieram até aqui neste dia tão precioso“.
Geraldo “Picolé de Chuchu” Alckmin daria dez ministérios para ter metade da verve e carisma dessa mulher.
A profusão de vídeos disponibilizados na Web, impulsionada pelo sucesso do YouTube, inspirou o New York Times a criar um blog dedicado exclusivamente ao fenômeno: Screens, mantido pela crítica de TV Virginia Heffernan. Uma ótima sacada, que pode ser facilmente atestada por estes dois links: 100 Vídeos Incríveis selecionados pela revista online Pitchfork, e esta compilação com quase 1.400 videoclipes dos anos 80.
Enquanto a torcida brasileira conclama, desesperada, pela entrada de Cicinho, Juninho Pernambucano e Robinho na Seleção, recomendo a todos que confiram este vídeo do Monty Python e esqueçam por alguns instantes que futebol é uma caixinha de Pandora.
Em tempo: a fluidez com que Parreira efetua as substituições necessárias e muda o esquema tático da Seleção durante uma partida me fez lembrar muito da atuação dos filósofos alemães nesta peleja montypythoniana. Continue Lendo
Cláudio Besserman Vianna costumava dizer que seu apelido nada mais era do que a aglutinação das duas coisas que ele mais gostava na vida. Tal explicação é uma deslavada cascata, mas enfim, o que esperar de uma figura que afirmava que o lugar mais estranho onde fez amor na vida foi São Paulo?
Quando adolescente, Bussunda nutriu um projeto de vida bastante específico: fazer porra nenhuma. Enquanto pôde, cumpriu à risca seu plano, chegando a ser reprovado no segundo grau científico com nota zero em todas as matérias por matar aulas com requintes de ociosidade. Bastou, porém, um mínimo de esforço para que conseguisse ser aprovado no vestibular. Em 1979, ingressou no curso de Comunicação Social da UFRJ, lugar ideal para que Bussunda continuasse coçando o saco (por ser faculdade gratuita, seus pais não poderiam reclamar de mensalidades). E assim a vida seguiu, até que o futuro Casseta conheceu três alunos de Engenharia: Beto Silva, Helio de La Peña e Marcelo Madureira, que o convidaram para integrar um jornal estudantil criado com o nobre intuito de queixarem-se da falta de mulheres na faculdade. Aos quatro, uniria-se também Cláudio Manoel, fiel companheiro de vadiagem nas areias de Ipanema. O ano de 1980 testemunharia a transformação do Casseta Popular em um tablóide, vendido de bar em bar por um quinteto que buscava, com a publicação, arrecadar alguns trocados, fazer amigos, influenciar pessoas e, principalmente, tentar comer alguém. Continue Lendo
Enquanto caminhávamos pelas ruas de Botafogo, conversando sobre a vida e seus estranhos desígnios, o filósofo de boteco Fábio Costello cunhou, sem querer querendo, o seguinte aforismo: “um homem amedrontado é incapaz de amar“. Seria esta a explicação para a minha fase atual, na qual penso em comédias românticas como ficções científicas que se passam em mundos vagamente inspirados em fatos reais? Não sei, mesmo porque ando numa fase na qual minhas certezas vêm se dissipando paulatinamente, enquanto meus pés tropeçam em poças de estrelas.
Hoje de manhã recebi a notícia de que uma ex minha vai se casar. Quase que inconscientemente, meus pés começaram a bailar um tango argentino.
Afirma Joel Barish em um dos melhores filmes dos últimos anos: “O Dia dos Namorados é uma data inventada pelos fabricantes de cartões comemorativos para fazer as pessoas se sentirem como lixo“. Não concordo totalmente com essa frase. De qualquer modo, aproveito o mote do dia 12 de junho para prestar um pequeno tributo a esta obra-prima concebida pela dupla Michel Gondry e Charlie Kaufman. Como bem escreveu Bernardo Krivochein, é um filme sem o qual sua vida terá sido uma experiência incompleta.
Conversei ontem com a filha de um carcereiro, mantido como refém durante quatro horas em uma dentre tantas rebeliões ocorridas no dia 15 de maio. Disse-me ela que o pai até que teve sorte, diante das circunstâncias. Levou algumas porradas, mas nada que tenha causado maiores seqüelas. Mas o momento mais marcante do dia, segundo o seu relato, aconteceu no momento em que os presos fizeram uma pausa no quebra-quebra a fim de acompanhar o pronunciamento de alguém mais importante do que Lula ou Marcola: Carlos Alberto Parreira, no exato instante em que a TV divulgou a lista com os 23 convocados para a Copa. Na hora em que ela descreveu essa cena, não pude deixar de cantarolar mentalmente aquela marchinha: “De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão…”
Segundo Linus, neste vídeo Charlie Brown faz papel de bobo. Mas é de se perguntar: quem, na condição de apaixonado, nunca vestiu esta carapuça?
Embora eu tenha sido um dos cinqüenta autores que participaram da primeira oficina literária promovida pela Flip, em julho de 2004, e assine um conto no livro Blog de Papel, o fato é que não posso me considerar um “escritor” simplesmente porque adquiri a tempo a lucidez suficiente para me colocar em meu devido lugar: o de leitor. É nessa condição, pois, que estou acompanhando com atenção os textos do Especial Autores Novos do site Digestivo Cultural. Dentre eles, destaco um excelente artigo de Jonas Lopes: Ser escritor ou estar escritor?. Jonas colocou em palavras a mesma impressão que nutro há tempos: boa parte dos novos autores aprecia as benesses de circular no meio literário e ter seu nome badalado em sites e blogs (mea culpa: eu já caí algumas vezes nessa arapuca das vaidades), mas no entanto deixou de lado o primordial: desenvolver um projeto ficcional próprio. Em meio à enxurrada de novos títulos, questiono: quanto desses novos autores permanecerão sendo lidos daqui a dez anos? Quantos levam a literatura a sério a ponto de ambicionarem vôos mais altos que a badulação dos amigos de praxe?
Em abril de 2004 escrevi o artigo Literatura na rede: a transição dos bytes para as bibliotecas, com a intenção de traçar o panorama de uma época na qual os primeiros autores revelados pela Internet começaram a ser acolhidos pelo mercado editorial brasileiro. Mais de dois anos depois, não me admiro em constatar que boa parte dos links da matéria estão inativos. Lamento: cada site que sai do ar leva consigo um pedaço da história da cibercultura tupiniquim. Reflexo, no mais, de tempos em que cada um angaria seus 15 bytes de fama volúvel e volátil.
Nunca entendi o motivo da expressão “mão boba”. Para mim, mão que se esgueira sorrateiramente, tentando desvendar com o tato o que aos olhos ainda não se revelou, de boba não possui absolutamente nada (pílula que receitei originalmente em maio de 2003).
Desabafo de ontem de Ricardo Noblat a respeito de jornalismo e blogs: “Os critérios que orientam o trabalho de um jornalista blogueiro são os mesmos que orientam um jornalista empregado em qualquer meio tradicional de informação. Há que se apurar com rigor a notícia. Há que se correr atrás de notícia exclusiva. E há que se tentar oferecê-la de uma maneira capaz de capturar a atenção dos leitores. É bem mais arriscado ser jornalista blogueiro do que simplesmente jornalista. Porque em um jornal, por exemplo, o erro tem vários pais - o repórter, o editor, o chefe da redação… Por ter muitos pais, ele não pesa nas costas de ninguém sozinho. Aqui, não. O erro só tem um pai. E quando ocorre, o mundo desaba na cabeça do responsável. Jornalista de jornal, rádio e televisão é protegido das criticas pelo pouco espaço que os veículos abrem para a opinião do distinto público. E pela distância segura que o jornalista mantém do distinto público. Aqui, não. As criticas são imediatas, duras e por vezes injustas. E nada ou pouca coisa separa o blogueiro dos leitores. Do médico, se diz que ele pensa que é Deus. Do jornalista, que tem certeza. Ao fazer um blog, jornalista descobre que não é Deus. Se não descobrir, deixará de ser blogueiro em pouco tempo“.
Textos que publiquei por aí: Samba do mutante doido, sobre X-Men - O Confronto Final, para o site da Antena 1, e Língua, poema que transita entre, hmm, o erótico e o metalingüístico, para o Cracatoa Simplesmente Sumiu.
Das muitas boas músicas já lançadas em 2006, nenhuma me arrebatou com a força de “Chasing Cars”, belíssimo épico romântico em formato de canção pop gravado pelo grupo irlandês Snow Patrol. “If I lay here/ If I just lay here/ Would you lie with me and just forget the world?“. Ainda na área musical, repasso duas links oriundos do blog de mp3 My Old Kentucky, que conheci através do Calmantes com Champagne de cumpadi Marcelo Costa: que tal ouvir as diversas covers que já foram gravadas de There Is a Light That Never Goes Out, dos Smiths, e Love Will Tear Us Apart, do Joy Division?
Conheça a melhor cobertura da Copa: o especial do Scream & Yell feito pela dupla Juliano Costa e Martin Fernandez.
Frase que ouvi em uma peça de Felipe Hirsch: “Se todos nós alimentássemos as nossas crianças interiores, o mundo seria um lugar de obesos“.
Pense Nisso!
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.