O medo nasce da ignorância, da falta de informações a respeito de algo que permanece desconhecido. Um grão de mistério transforma-se em um abismo de obscuridade. É a partir dessas bolas de neve que lendas urbanas são fomentadas, boatos proliferam-se e são amplificados, a histeria bate asas e o bom senso vai para as cucuias.
Pois eis que, depois de passar boa parte de meu expediente de trabalho ouvindo de terceiros histórias envolvendo estações do metrô destruídas por bombas caseiras, famílias inteiras de policiais assassinadas ou toque de recolher decretado pelo governo, chego ao meu lar, dulcíssimo lar, e constato que ao menos 90% das histórias contadas eram variantes anabolizadas do que efetivamente estava acontecendo nas ruas de São Paulo.
Não que os fatos em si tenham se tornado menos impactantes diante das lorotas ao fim desmentidas, muito pelo contrário. Mas o caso é que este foi um dia empesteado por informações alarmistas e desencontradas, que serviram para multiplicar a desconfortável sensação de temor, como se a realidade já não fosse péssima o suficiente para disseminar o pânico. Continue Lendo
a) Evento imperdível para quem estiver em Belo Horizonte nesta sexta-feira, dia 12 de maio: participar do lançamento de Um Defeito de Cor, o segundo romance de Ana Maria Gonçalves e o primeiro a ser publicado por uma editora “grande”, no caso a Record. Quem acompanha a blogosfera tupiniquim desde seus primórdios deve lembrar que Ana foi uma das primeiras escritoras brasileiras (aliás, se não me engano, a pioneira) a utilizar o potencial dos blogs como veículos de divulgação de projetos independentes.
Em 2002, ao constatar a dificuldade enfrentada por novos autores na tentativa de ingressarem no mercado editorial, Ana usou suas economias para bancar a edição de seu excelente romance Ao Lado e à Margem do que Sentes por Mim. Seus esforços, relatados nesta entrevista concedida a Cris Fernandes, não foram em vão. O livro foi mais do que bem recebido pela blogosfera, chegou às mãos certas e, quatro anos depois, é mais do que gratificante saber que seu novo romance será publicado por uma das editoras mais tradicionais do Brasil. É significativo constatar que Um Defeito de Cor chega às livrarias apenas algumas semanas depois do lançamento de Mãos de Cavalo, a estréia de outro autor revelado pela Internet, Daniel Galera, pela Companhia das Letras, após dois livros anteriores publicados pela editora independente Livros do Mal.
b) por fazer parte de uma lista de supostos “blogueiros mais atuantes do Brasil”, fui convidado para uma certa Festa do Copo Vermelho, a ser celebrada no sábado, dia 20, em São Paulo. Graças a este post do Charles Pilger, já tenho idéia do que há por trás deste copo nada inocente. É de se estranhar ainda a lista de blogs convidados. Se o evento pretende reunir aqueles que são considerados os blogueiros mais atuantes da Terra Brasilis, por que convidaram os portugueses Abrupto e Ponto Media, que provavelmente sequer imaginam que foram convidados para esta festa? Fica a impressão de que os critérios para a elaboração desta lista não foram muito rigorosos (o que explica minha presença nela). De qualquer modo, pretendo ir a esse evento a fim de reencontrar camaradas, conhecer outros pessoalmente e, é bóbvio, aproveitar a balada. :)
c) Terça-feira, dia 30, será a vez da escriba de mão cheia Maira Parula (minha colega de Blog de Papel) lançar pela editora Rocco o livro Não Feche Seus Olhos Esta Noite em um dos lugares mais bacanas do Rio: a Livraria da Travessa em Ipanema.
O primeiro passo, o mais árduo e sofrido de todos. Como começar? Esta é sempre a dúvida que me inquieta. “Entre o sim e o não, existem inúmeros talvez“, sentenciou mestre Cortázar. Mas permanece a questão: como começar uma página do nada, como desvirginar este branco na tela e em minha cabeça?
Sempre detestei redações com tema livre; perdia ao menos um terço do tempo buscando algum assunto interessante pra escrever. Pode parecer paradoxal queixar-se da liberdade total para escrever, mas é que sou um cara que precisa de limites pré-definidos para produzir melhor. Não sei, se eu tivesse disponível todo o tempo do mundo para escrever, provavelmente deixaria meus neurônios jogando papo fora na mesa de bar do meu cérebro. Como todos sabem, papos de barzinho nunca chegam a nenhuma conclusão. E, se chegam a algum lugar, está todo mundo bêbado demais para se lembrar de alguma coisa no dia seguinte.
Essa dificuldade transparece em minha vida amorosa. Como abordar uma menina por quem estou a fim, e que não conheço? Sou um cara desajeitadamente tímido, e só Deus sabe o quanto isto atrapalha minha vida. Nunca sei como dar o primeiro passo, ou seja, como passar uma cantada em uma mulher que nunca vi na vida. Afinal de contas, o que dizer? “Oi, você vem sempre aqui?” Não, necas de pitibiriba: jamais teria a cara de pau suficiente pra dizer algo tão bóbvio. Mas e aí, perguntar o quê? Qual o telefone do cachorrinho?
Só sei que foram raríssimas as cantadas que dei na minha vida. Mesmo porque só passo uma quando sei que terei 101% de chances de dar certo. OK, eu nunca levei um fora, e fui correspondido todas as vezes que pus pra fora o Don Juan que existe dentro de mim. Mas vou me gabar do quê? Pois sabe-se lá quantas boas e deliciosas oportunidades já perdi na vida por conta da inaptidão e falta de cara-de-pau pra paquerar incautas mundo afora. Um dia preciso incutir em minha mente a sabedoria adquirida através de certa letra de pagode cujo refrão nos ensina: “relaxa, senão não encaixa“. Sábias palavras. Afinal de contas, pensar demais enlouquece.
E assim, de elucubração em elucubração, tergiversando como quem não quer nada, feito aqueles cronistas que faziam da falta de assunto o assunto de suas colunas, eis que o texto se escreveu com a naturalidade de quem caminha sem pensar na distância a ser percorrida.
- Oi, você vem sempre aqui?