Artigos doo ano de: 2006

2006

Por Alexandre Inagakisábado, 30 de dezembro de 2006

Sorria, você está no YouTube. Cafu deu tudo por um recorde. El Gordito também. O PIB brasileiro parou para arrumar a meia. Enforcaram o Saddam. Pimenta Neves se livrou da prisão. Pinochet se safou. Plutão foi rebaixado para a série B do sistema solar. Schumacher parou. Os Mutantes voltaram. Paulo Betti não acredita em política sem mão na merda. Second Life, a Nerdlândia. O transponder estava desligado? Valeu, Telê. As árveres somos nozes. Terremoto na Indonésia. Sem-terra depredaram a Câmara. Sem-calcinha invadiram os noticiários. Picolé de chuchu perdeu para o Lula. A mídia também foi derrotada. A Varig foi e voltou. Suzane Richthofen fingiu lágrimas pro Fantástico. Fidel está mal. Ariel Sharon sofreu um derrame. Nair Belo ainda está em coma. Nem Freud explica os sanguessugas e aloprados. Internacional campeão mundial. Natascha Kampusch, do cativeiro para a fama. Vedoin e o dossiê. Os controladores de vôo pararam. Maluf e Collor voltaram. O Ubiratan do Carandiru se foi. A confusão com as charges de Maomé. Kim Jong-Il soltou a bomba. Valeu, Bussunda. E o bambu, Silvio? 100 anos do 14 Bis. Mais 6 anos de Hugo Chávez. Ana Carolina Reston parou de comer. Americanas e Submarino se uniram. Marília e Gianecchini se separaram. Vôlei masculino campeão do mundo. Assaltaram a presidente do STF. Slobodan Milosevic morreu, antes ele do que eu. 90,7% de aumento?! Um bebê num saco de lixo na lagoa da Pampulha. Os gêmeos ingleses nasceram com cores diferentes. Rolling Stones muvucaram Copacabana. Ok Go nas esteiras rolantes. As Cataratas do Iguaçu secaram. André Agassi pendurou as raquetes. Palocci e o caseiro. Dona Lu Alckmin ganhou 400 vestidos. Evo Morales sacaneou a Petrobras. Viva o Museu da Língua Portuguesa! Um brasileiro literalmente foi para o espaço. A greve de fome do Garotinho. “Você”, a palavra do ano da Time. Valeu, Braguinha. 12 horas na fila do ingresso do show do U2. Enésimas horas de espera nos aeroportos. Os cowboys gays não ganharam o Oscar. Google & Orkut x Polícia Federal. PCC, dia 15 de maio. Segundo Cláudio Lembo, estava tudo sob controle. Hamas no poder. Incendiaram o ônibus da Itapemirim. Incendiaram a família em Bragança Paulista. Parreira desaprovou a leitura labial. O Brasil desaprovou o Parreira. A mãe de Leonardo zelou pelo corpo do filho. Superman retornou. O caçador de crocodilos se foi. Xô Sarney! Maria Alice deu um tapa na pantera. Angela fez a dança da pizza. A babá perdeu o emprego depois do depoimento em Páginas da Vida. Guerapa, James Brown, guerapã. Israel bombardeou o Líbano. A Vale comprou a Inco. Sequestraram o repórter da Globo. Kadu Moliterno bateu na mulher. Obina é melhor que Eto’o? Rumsfeld pediu demissão. Multitasking generation. Valeu, Rogério Duprat. Envenenaram o espião russo. Um Legacy, um Boeing, 154 mortos. Dunga fashion na Seleção. Vanucci grogue no ar. Bento XVI falou mais do que deveria. Eduardo Azeredo quis burrocratizar a Internet. Zidane, seu cabeça-dura! Cicarelli divertiu-se na praia. Ah, o piecing da Karina Bacchi.
2006, vá na paz. 2007 promete! E a vida, como sempre digo, é boa e cheia de possibilidades.
Feliz Ano Todo!

Minhas covers prediletas

Por Alexandre Inagakisábado, 23 de dezembro de 2006


Inspirado em duas listas das melhores covers de todos os tempos (o The Torontoist Cover Song Catalogue e o The Top 100 Cover Songs do site Retrocrush), reuni aquelas que considero ser as 17 melhores regravações musicais em uma fita K7 virtual, graças a um recurso multimídia oferecido pelo site MyFlashFetish. Espero que vocês apreciem minha seleção pessoal de covers, que recriam (e, em muitos casos, subvertem completamente) sucessos originais de George Michael, Tears For Fears, Nine Inch Nails, The Smiths, Screamin’ Jay Hawkins, Pulp, Beatles, New Order, Britney Spears, Depeche Mode, Robert Knight, Leonard Cohen, Cyndi Lauper, Echo & the Bunnymen, Rolling Stones, The Korgis e Rodgers & Hart. É óbvio que, por ser uma lista subjetiva, muita coisa boa ficou de fora. Portanto, não fique parado: dê suas sugestões, faça sua própria lista, divulgue-a nos comentários deste blog.
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P.S. 1: Este é o melhor banco de dados sobre covers na Internet: Second Hand Songs.
P.S. 2: Duas edições especiais da época em que eu ainda editava mailzines: Música (Lado A) e Música (Lado B).
P.S. 3: Em breve publicarei a versão tupiniquim deste post, exclusivamente com covers feitas por artistas nacionais. Sugestões serão bem-vindas.
P.S. 4: Sobrou alguma reserva do seu décimo-terceiro salário? Ah, então não se esqueça de presentear este blogueiro que vos escreve… ;)
P.S. 5:O silêncio do Deus grande falava. Era de um agudo suave, constante, sem arestas, todo atravessado por sons horizontes e oblíquos. Milhares de ressonâncias tinham a mesma altura e a mesma intensidade, a mesma ausência de pressa, noite feliz, noite sagrada. E o destino dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A doçura dos brutos compreendia a inocência dos meninos. E antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são. Este menino, que renasce em cada criança nascida, iria querer que fôssemos fraternos diante da nossa condição e diante do Deus. O menino iria se tornar homem e falaria. Hoje em muitas casas do mundo nasce um Menino“. (Clarice Lispector, em uma crônica de 24 de dezembro de 1971, publicada no livro A Descoberta do Mundo).

O jingle do Seu Jorge

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Nunca fui grande fã de Seu Jorge. E minha avaliação pessoal só fez piorar depois da escabrosa versão que ele e Ana Carolina cometeram de “Blower’s Daughter” de Damien Rice. Mas, quando ouvi pela primeira vez sua música nova (na Eldorado FM), não tive como não passar imune à sua audição. Pudera: a letra de “Eterna Busca”, canção de seu novo álbum (a ser lançado no ano que vem), é uma propaganda de sutileza paquidérmica da marca de cachaça Sagatiba. É um caso que abre precedentes nestas bandas: o carro-chefe do novo disco de um dos mais conhecidos músicos brasileiros é uma canção feita por encomenda. Mais: antes mesmo de ser comercializada em CD, já está disponível para download de forma legal e gratuita no site da Sagatiba (bobviamente).

Anteontem, durante um papo em uma roda de jornalistas, um dos assuntos recorrentes foi exatamente essa música nova. Uns criticaram a atitude de Seu Jorge em vender sua “arte”, outros o defenderam dizendo que ele tem todo o direito de fazer o que quiser com sua música, afinal de contas ninguém paga suas contas. Polêmica que se repete nos blogs, seja em posts ou comentários. Cris Dias, por exemplo, chamou Seu Jorge de “mestre supremo do jabá” e desceu a lenha na campanha da Sagatiba, complementada por ações como a produção de um documentário sobre o Brasil recentemente exibido no Festival de Cannes. Continue Lendo

80 clipes brasileiros dos anos 80 (parte 2 de 8)

Por Alexandre Inagakidomingo, 10 de dezembro de 2006

A MTV Brasil anunciou que em 2007 deixará de exibir videoclipes no horário nobre. É difícil não resistir ao trocadilho com aquela música dos Buggles e dizer que “YouTube killed the MTV star“. Mas o fato é que há tempos a Music Television perdeu a relevância que teve nos anos 80 e 90, quando era o principal meio de se conhecer bandas novas. E sua filial brasileira, depois que dispensou VJs que realmente entendiam do métier, como Fábio Massari, e passou a infestar sua grade com mediocridades como “Beija Sapo”, definitivamente não me motivava mais a acompanhá-la. Saudemos, pois, a era na qual nós montamos a nossa programação. A propósito, esta é a segunda parte de uma série iniciada neste post.

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Gang 90 & Absurdettes - Telefone - Criada pelo jornalista Júlio Barroso, a Gang 90 (nome inspirado em uma gíria do balacobaco, “pedra 90″, correspondente ao que hoje é conhecido como “sangue bom”) ganhou destaque quando se classificou para as eliminatórias do festival MPB Shell, promovido pela Globo em 1981, com a música Perdidos na Selva. Após várias mudanças de formação (Guilherme Arantes, Lobão e Wander Taffo chegaram a fazer parte do grupo), a Gang 90 finalmente gravou seu primeiro disco em 1983, puxado pelo sucesso “Nosso Louco Amor”, tema de abertura da novela “Louco Amor”. O clipe de Telefone é estrelado por Júlio e duas absurdettes, May East (nome artístico de Maria Elisa Capparelli Pinheiro, atualmente uma ativista ecológica residente na Escócia) e Taciana Barros (na época esposa de Júlio e tecladista da banda). Júlio Barroso morreu ao cair da janela do seu apartamento, no 11o. andar, em 6 de junho de 1984. Em seu livro Dias de Luta, o jornalista e atual editor da revista Bizz Ricardo Alexandre descreve um diálogo entre Lobão e Cazuza, travado durante a aspiração de uma fileira de cocaína esticada sobre o caixão de Júlio (como se compartilhassem a droga com o amigo pela última vez): “Perdemos nosso maior agitador cultural, um cara com drive, um guerrilheiro que sabia de tudo. Me desculpe, Cazuza, mas agora só sobrou bundão“. Continue Lendo

Luto

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 05 de dezembro de 2006

Qualquer um que acompanha atentamente a blogosfera tupinambá já leu algum site hospedado no Insanus.org, coletivo que reúne alguns dos melhores blogs brasileiros. Pois bem, na madrugada de segunda-feira o mentor e coordenador do Insanus, Gabriel Pillar, morreu em um acidente de carro, aos 22 anos de idade.

Não cheguei a trocar e-mails com o Gabriel, mas admirava de longe o seu trabalho, uma das principais fontes de inspiração de um projeto no qual estou trabalhando. Ao saber da notícia, há alguns minutos, fiquei chocado e estarrecido. Como bem escreveu Daniel Galera, é difícil não tomar conhecimento de um fato como este sem recorrer a palavras como “tragédia” ou “estupidez”. Só posso lamentar, profundamente, a morte precoce deste cara, e recomendar a todos que leiam as entrevistas que ele concedeu ao blog de um grupo de estudantes da Fabico e ao Tiago Dória.

Alex Primo, orientador de Gabriel Pillar em sua monografia de graduação em Jornalismo que seria apresentada justamente hoje, disponibilizou-a em formato PDF no seu blog. Cisco Costa esclarece os motivos pelos quais os membros do Insanus deixaram de atualizar seus blogs. Mariza Lacerda Gomes, historiadora e mãe de Gabriel, desabafou: “Acho que aconteceu isso porque o Gabriel, de alguma forma, cruzou o sinal. Independentemente disso, ele deixa um significado para a vida da gente, pela iluminação e criatividade que sempre teve. É muito difícil ter certeza de como será a partir de agora, mas o impacto dessa violência não só contém sonhos. Contém esperanças. Tira o sorriso do rosto“.

Agenda literária

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 04 de dezembro de 2006

Em um ensaio sobre a literatura noir de autores como Cain, Hammett e Chandler, Julio Cortázar observa que uma característica comum a todos é o repúdio das palavras utilizadas como eufemismo de pensamentos e floreio de sentimentos – eles faziam com o idioma o mesmo que seus heróis faziam com as mulheres: ambos nutriam a suspeita de traição. Edward Bunker, autor de romances policiais como o excelente Cão Come Cão, jamais nutriu essa relação conturbada com as palavras como seu meio de expressão. Muito pelo contrário, foi graças às letras que ele escapou da marginalidade. Dos 71 anos que viveu, Bunker passou 18 deles encarcerado.
Em sua autobiografia Educação de um Bandido, Bunker escreve: “perseverei porque tinha consciência de que a escrita era minha única chance de criar algo, de escalar as paredes do poço escuro, alcançar o sonho e repousar ao sol”. O resultado é único: um escritor de refinado estilo literário, capaz de descrever fatos vivenciados em seus anos marginais com autenticidade e talento. A Editora Barracuda, que publicou anteriormente três livros de Bunker, acaba de lançar no Brasil O Menino, terceiro romance do autor, lançado originalmente em 1980. Não é difícil de associar as desventuras de Alex Hamilton, garoto de 11 anos inteligente e apaixonado por literatura, mas com diversas passagens em diversos reformatórios e hospitais psiquiátricos, com a biografia de Bunker. É um retrato impressionante, que só um escritor que desenvolveu sua escrita quase que à base de fórceps, após ter tido seis romances rejeitados para publicação, poderia ter escrito.

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Não é qualquer escritora que, aos 21 anos de idade, tem a sua estréia nas letras publicada pela mítica Editora Brasiliense. Ainda mais em um gênero sem muita tradição no Brasil: romance policial. Quem já conhecia o blog da autora, porém, sabia que grandes expectativas poderiam ser alimentadas a partir do que Olivia Maia deixava vislumbrar a partir de seus posts.
Uma mulher está estirada no chão sobre uma poça de sangue e o filho, ao lado, paralisado; olhando-a como se fosse pela primeira vez. Sua roupa está encharcada com o sangue da mãe e o ferimento na cabeça diz que ele também havia sido atingido pelo assassino. Tem nojo de tudo. Do sangue, do cheiro, da mãe com o pescoço cortado e o maxilar estraçalhado. Não se lembra de nada e por isso mesmo é um dos suspeitos. ‘Mas que motivos eu teria para matar a minha mãe?’, justifica-se“. Quem, assim como eu, ficou intrigado com o começo de Desumano, está desde já convocado para comparecer ao lançamento: dia 5 de dezembro, a partir das 18:30, na Livraria da Vila.
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Um guia de cinema com produção gráfica impecável, os melhores índices remissivos que já encontrei em uma obra do tipo, organizado por Alexandre Maron com textos de feras como Alexandre Matias, Fred Leal e Vladimir Cunha. Assim é 300 Filmes Para Ver Antes de Morrer, primeiro livro da coleção “Mente Aberta” lançada pela revista Época.
Devo dizer, no entanto, que apesar da qualidade dos textos, que incluem resenhas, biografias e textos sobre os principais gêneros cinematográficos, 300 Filmes se ressente de uma revisão no que diz respeito, principalmente, aos prêmios recebidos pelos longas destacados no guia. Que erra ao afirmar, por exemplo, que “Antes do Pôr-do-Sol” ganhou o Oscar de melhor roteiro (foi apenas indicado), esquece de informar que “A Conversação” recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1974, e comete um equívoco ao dizer que foi “Waking Life”, e não “Um Casamento à Indiana”, de Mira Nair, considerado o melhor filme do festival de Veneza em 2001.
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Marcela Cálamo ficou paraplégica aos 6 anos de idade, devido a uma doença. Em vez de se deixar esmorecer, seguiu sua vida adiante, apesar das dificuldades trazidas por um país no qual falta uma infra-estrutura adequada para pessoas que precisam usar cadeiras de rodas. Marcela superou todas as dificuldades, casou-se, teve dois filhos e criou um blog, batizado com o seu apelido (Tchela), no qual passou a narrar suas experiências de vida.
Na companhia de Ângela Carneiro, Marcela escreveu o livro Rodas Pra Que Te Quero!, transpondo para o campo da literatura infantil suas lembranças de uma época na qual tudo o que ela queria era ser uma criança igual a todo mundo, em uma obra que descreve situações vivenciadas em seu cotidiano. Leitura recomendada a crianças de todas as idades.

Masoquista ludopédico

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 27 de novembro de 2006

Amor não se escolhe; simplesmente acontece. Tudo seria muito mais simples se pudéssemos escolher a pessoa por quem nos apaixonamos. Não correríamos o risco de amarmos sem sermos correspondidos, não cairíamos na cilada de oferecer nosso coração a quem não fizesse por merecê-lo… Enfim, esses riscos que todos que já amaram alguma vez sabem muito bem quais são. Mas, como diria Riobaldo, viver é muito perigoso.

Neste final de semana meu time foi rebaixado para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Mais uma dentre tantas decepções que eu, na condição de torcedor do Guarani Futebol Clube, tenho amargado nos últimos anos. Situação desgraçadamente corriqueira a torcedores que amam incondicionalmente o seu clube e que, feito eu, vivem em constante sofrimento: somos um bando de masoquistas ludopédicos. Por vezes me sinto como um marido cuja esposa me chifra inúmeras vezes, com meus melhores amigos, na minha própria cama. Ao chegar em casa, vejo seus amantes refestelados em meu sofá, com os pés na mesa e tomando da minha cerveja. E eu, na condição desgracenta de corno apaixonado, sou incapaz de ensaiar alguma represália, porque continuo amando essa ingrata desgraçada acima de tudo.

É duro acessar diariamente sites e rádios online e tomar conhecimento do amontoado de notícias deprimentes relacionadas ao meu Bugrão. Salários atrasados, jogadores despejados de flats por falta de pagamento, atletas que recorrem à Justiça para abandonar o time, total falta de recursos financeiros fazendo com que falte comida para os jogadores das divisões de base, torcida depredando a sede revoltada com os recentes resultados, etc etc. Faltam perspectivas, faltam alentos, faltam razões cartesianas para que eu possa vislumbrar dias melhores para o Guarani.

Mas o amor fomenta esperanças nos terrenos mais estéreis. Diante disso, abstraio as perspectivas sombrias, as piadas de outros torcedores, as decepções dos últimos campeonatos. É como diz o nosso hino: “Avante, avante meu Bugre/ Que nós vibramos por ti/ Na vitória ou na derrota/ Hoje e sempre Guarani“. Tenho a plena consciência de que meu time de coração não possui a mesma estrutura, muito menos o orçamento ou a quantidade de títulos arrematados por outras “grandes” agremiações. Ainda assim, sou capaz de vislumbrar na escassez de títulos um lado positivo: ao contrário de outros torcedores mal-acostumados, vibro intensamente com cada vitória conquistada, cada gol feito, cada avanço na tabela do campeonato.

Meu Bugrão permanece sendo o único clube do interior que foi campeão brasileiro (1978), além de ter conquistado a Taça de Prata (1981), a Taça dos Invictos (1970), a Taça São Paulo de Júniores (1994) e o bicampeonato da Copa Toyota de Futebol Juvenil no Japão (2001/2002). Também bateu recordes que perduram até hoje, como a de melhor ataque em campeonatos brasileiros (em 1982 o ataque formado por Lúcio, Jorge Mendonça, Ernani Banana e Careca fez 63 gols em 20 jogos - média de 3,15 gols por partida) e vitórias consecutivas (doze, em 1978). Pena que toda essa tradição de nada adianta no momento presente. A vida é assim mesmo: promessas de amor não valem nada, e se dissipam, voláteis, no etéreo território das ilusões.

Neste momento difícil, solidarizo-me com o sofrimento vivido por outros irmãos de sangue alviverde, como Bruno Ribeiro e Delfin, e busco forças em todos os bons momentos proporcionados pelo meu Bugrão, desde o primeiro jogo que assisti em um estádio (Guarani 3 x 2 América-RJ, em jogo válido pelo Brasileiro de 1980).

Afirmou Sergio Fonseca: “amor que não dói não é amor“. Viver é assimilar os socos desferidos na alma e prosseguir combatendo nas batalhas do dia-a-dia. E o amor é como uma lente de aumento que amplifica cada mínimo detalhe do cotidiano. Assim é a minha paixão pelo Guarani: uma profissão de sangue, coisa para poucos e privilegiados iluminados, cujos corações foram tocados por algo maior e inexplicável. Porque o amor desnorteia, e faz com que a lógica cartesiana dance rumba e saia de fininho.

Haja o que houver, eu sempre afirmarei que sou feliz, e muito, por possuir o privilégio de torcer para o Bugrão. Com muito orgulho. Com muito amor.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.