Artigos do mês de: setembro 2005

Versos incompreendidos da MPB: “Controlo o calendário sem utilizar as mãos”

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 21 de setembro de 2005

Cláudio Rodrigues e Claucirlei Jovêncio de Souza, dois amigos desde os tempos em que eram vizinhos na comunidade do Salgueiro, talvez representem o caso de dupla mais injustiçada de toda a MPB. Melhor reconhecidos pela alcunha de Claudinho & Buchecha, gravaram seis álbuns entre 1996 e 2002, ano em que Claudinho morreu vitimado por um acidente automobilístico. Tempo suficiente, porém, para que cunhassem alguns dos melhores chicletes de ouvido dos últimos tempos, como “Nosso Sonho” (verdadeiro compêndio da geografia suburbana carioca), “Fico Assim Sem Você” (sucesso recente na voz de Adriana Calcanhoto, conhecido pelos proféticos versos “Amor sem beijinho/ Buchecha sem Claudinho/ Sou eu assim sem você”) e “Conquista” (o hit do “tchurururu”).

Além da inegável veia pop, com influências de funk e soul, é preciso destacar as letras escritas por Buchecha. Ex-auxiliar de pedreiro e office-boy, não chegou sequer a completar o primeiro grau. Em compensação, tornou-se contumaz leitor de dicionários, sendo que cada palavra que chamava sua atenção era anotada em um caderno para posterior aproveitamento em suas músicas. Provém daí a inspiração para versos como “se o destino adjudicar esse amor poderá ser capaz, gatinha” ou “nem sei se era eu próprio, mas me machuquei ao perquirir, notei o seu opróbio”. Atualmente em carreira-solo, Mc Buchecha mantém o vigor de suas composições. Vide, por exemplo, “Laços”, música com samplers de “Pocket Calculator” do Kraftwerk e uma letra de romantismo comoventemente naïf: “Os casais se encontravam na pracinha/ Se abraçavam e se beijavam em puro mel/ Hoje ninguém mais namora e o tapinha/ É o convite mais ativo pro motel”. Continue Lendo

Resenhas express

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de setembro de 2005

Ao traçar o perfil do fotógrafo David Bailey, o jornalista e escritor inglês Tony Parsons extraiu a seguinte declaração do entrevistado: “Todo mundo gosta de um pouco de bajulação, sexo e dinheiro. Se bem que para mim a bajulação não é uma força motivadora tão grande - sem dúvida, prefiro sexo e dinheiro“. Ao escrever sobre os neo-hippies, Parsons vaticinou: “Nenhuma cultura que requer a leitura de O Senhor dos Anéis, Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas e Fernão Capelo Gaivota pode ser realmente boa. Uma gaivota não deve saber porra nenhuma“.

Em um artigo sobre o amor, outro tiro certeiro: “Meu caro apaixonado, você não sabe que o romance nada mais é que o amor antes de ter a chance de ter errado? E você não sabe que, se a frágil flor não for esmagada assim que florescer, então, um, cinco, dez anos depois, você vai estar empurrando um carrinho de bebê no supermercado e se perguntando: ‘Mas onde estará meu verdadeiro amor?’. E ele estará ali, diante de você, seu amor verdadeiro, que ficou frio e distante, olhando amargamente para as datas de validade.Continue Lendo

Sem Analgésico

Por Alexandre Inagakisábado, 03 de setembro de 2005

Devia estar olhando o mar. Em vez disso, minha testa lateja infernalmente. Conseqüência do trânsito das seis, do clima esquizofrênico de São Paulo que amalgama quatro estações do ano em uma semana só, da sinusite latente, dos pressentimentos realistas, dos fatos irrevogáveis que movem os náufragos deste barco desnorteado dos nossos dias. As minhocas berram em uníssono no trapézio dos meus pensamentos, conspurcando o silêncio que não me deixa em paz. Neste exato momento, tudo que eu quero é recostar minha cabeça em um colo que cale todas as buzinas, telejornais, reprimendas imaginárias e cicatrizes que não sabem ficar caladas, e me faça esquecer de tudo que não seja Amor.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
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