Artigos do mês de: março 2004

De mentiras e hímens leiloados

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 23 de março de 2004

Que a mentira nunca saiu de moda, isso é fato líquido e certo. Em todos os escopos do cotidiano encontramos casos de lorotas desbragadamente contadas, desde os clássicos “vamos esperar o bolo crescer para depois reparti-lo”, e “você merece alguém melhor do que eu” até os recentes “não vou desfilar no carnaval porque estou grávida”, “estamos absolutamente convictos de que a culpa é toda da ETA” e “aceitei fazer o comercial porque não agüentava mais tomar Brahma escondido”. Perguntar não ofende: dá pra tomar uma Kaiser antes?

Mas enfim, enquanto o mundo for mundo sempre haverá incautos dispostos a cair em historinhas para adormecer bovinos, com enredos mirabolantes que falam sobre armas de destruição em massa, espetáculos do crescimento, matérias assinadas por Jayson Blair e hospedagem de blogs para não-assinantes da Globlogger. Em meio a tantas fraudes, imposturas, contos da carochinha, falácias, cascatas, carapetas e sofismas, no quê acreditar? Continue Lendo

8 ou 80

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de março de 2004

Acendo teu cigarro na estrela desta madrugada insone, enquanto pensamentos redemoinham melodias redivivas na pista de minha memória. Abra as persianas de minhas reminiscências, mocinha.

A verborragia nervosa na mesa de jantar, as citações ricocheteadas de Bergman e Woolf, a taça de vinho tremeluzendo em minhas mãos titubeantes. De repente, não mais que de repente, me vi tonto (ainda mais do que o habitual) em um mundo repentinamente grávido de possibilidades que sorriam. Como um quadro que salta pra fora da moldura. Como as reticências sugestivas no decote das nuvens ocultando a manhã. Como um big bang eclodido dentro de mim, ao toque de lábios descobrindo-se pela primeira vez.

Diante do teu sorriso sempre retrocederei ao adolescente que tropeça nas próprias palavras. Meus cadarços se transformam em serpentes que se desamarram sozinhas e sobem rebeldes, em busca de estrelas esquivas. Ah, tantas vezes quis te matar, tantas vezes ainda morrerei entre tuas pernas. Alguém já viu um teto branco se encher de cores, assim como um escritor cobre de palavras o silêncio de uma madrugada? Maybe. Mas as piadas não têm mais graça, a música neste jukebox é sempre a mesma, e os insultos doídos que vociferamos brandem dentes nervosos na algazarra da noite.

O que fazer quando não sei mais o que fazer com teus olhos? Meus neurônios jogam amarelinha oscilando entre o céu e o inferno; pendurado entre o 8 e o 80, desisto de buscar o 44. Interrogações penduram-se no alabastro do meu cérebro, como guarda-chuvas antecipando a proeminente tempestade. Na gangorra da insônia, sou a mão sem linhas na palma.

Nossa história acabará no clichê amarfanhado do “viveram felizes para sempre”? Espero que não. Porque, oras, quem deseja o tédio imortal da felicidade perene?

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
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