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Os nomes de ruas mais bizarros no Google Street View

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 06 de fevereiro de 2012

Em 1986, quando o Cometa Halley passou próximo do planeta Terra, foram grandes as expectativas de que sua passagem renderia um espetáculo visual inesquecível. Lembro bem da decepção daquele verão, quando meu pai levou a mim e a meus irmãos para uma chácara em Ibiúna, onde teoricamente conseguiríamos ver o Halley com mais nitidez, já que o céu era menos poluído que em São Paulo. No fim, o cometa passou em brancas nuvens. Mas, pelo visto, não para quem foi o responsável por batizar uma rua com o nome de Verão do Cometa, extraído de uma canção de Sá & Guarabyra. Deve ser interessante morar nessa região de Itaquera, já que outras ruas próximas são homônimas de músicas como Sempre Brilhará (Celso Blues Boy), Eternas Ondas (Zé Ramalho), Cores Vivas (Gilberto Gil) e Cavaleiro da Lua (Almir Sater).

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Razões (e emoções) para amar São Paulo

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 09 de maio de 2008

São Paulo é uma cidade que me desperta sentimentos ambivalentes. Anos após ter afirmado que Sampa é uma cidade poluída, estressante e instigante que amodeio e odeiamo de coração, permaneço assinando embaixo, em cima e dos lados da afirmação de Carlito Maia: “Amo São Paulo com todo o ódio”. Mas um fato é inequívoco: não há como não admirar uma cidade que me deu a oportunidade de assistir a um show histórico como o que Luiz Melodia deu no Teatro Municipal, cantando todo o repertório de sua obra-prima Pérola Negra durante a Virada Cultural recentemente promovida pela Prefeitura.

Ter caminhado pelas ruas do Centro velho de Sampa às duas da manhã, me deparando com exibições de dança do coco no Viaduto do Chá, shows de rock no Pátio do Colégio ou discotecagens eletrônicas na XV de Novembro é o tipo de coisa que quase me fez conseguir abstrair as ruas sujas e cheirando a mijo tão características desta metrópole amarfanhada e maltratada. Não posso, ademais, me queixar de viver em um lugar tão multifacetado e pluricultural. Desajeitadamente comparo São Paulo a uma mulher feia e charmosa que, por algum motivo que não saberia explicar, me agrada aos olhos e à libido de tal maneira que seria incapaz de trocá-la pela mais bela das top models.

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Desde Fogo e Paixão, filme dirigido em 1988 pela dupla de arquitetos Isay Weinfeld e Marcio Kogan, não via uma obra cinematográfica que retratasse a cidade de São Paulo de modo tão fascinante como faz o desconcertante Otávio e as Letras. A direção é de Marcelo Masagão, idealizador e coordenador do Festival do Minuto.

Otávio e as Letras é uma obra abstrata como um poema repleto de espaços em branco e entrelinhas em cada estrofe. Filme sobre o dilúvio de informações que inunda nossos sentidos na poluição de imagens, palavras, sites e slogans cotidianamente, narra (ou melhor, sugere) as histórias de três personagens: Otávio, um sujeito que ronda sebos e consultórios de dentistas e coleciona livros, revistas e folhetos publicitários repletos de palavras que ele, metodicamente, risca uma a uma com sua caneta Bic; Arthur, um taxista que estampa mapas das ruas de São Paulo no teto de seu Fusca e fotografa a cidade em imagens nas quais nenhuma presença humana possa ser vislumbrada; e Clara, mulher de solidão refratária que coleciona rostos pintados por artistas como Munch e Matisse e fotos que tira de pessoas que voyeuriza da janela de seu apartamento.

Não é filme para as massas. Pois, como bem desexplicou Jean-Claude Bernadet em seu blog, Otávio e as Letras é “extremamente inquietante, verbalmente irrecuperável”, uma obra que “ao desestruturar a narrativa, ao eliminar propostas explicativas, coloca um desafio psicanalítico, social e poético”. E, provavelmente, não perdurará muito tempo em cartaz (quando o assisti, na Reserva Cultural, estive na companhia de outros 7 espectadores). Em um circuito cinematográfico invadido por dezenas de cópias de Homem de Ferro e outros blockbusters, deixo aqui, pois, o convite para os paulistanos que desejarem variar sua dieta cinéfila com um biscoito fino de difícil deglutição. Aos que moram em outras cidades, recomendo que fiquem de olho no site do Masagão.

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Let’s Lomo é uma exposição coletiva de imagens fotográficas capturadas por câmeras lomo (máquinas analógicas de origem russa), cujas fotos exibem cores saturadas, obtidas sem quaisquer correções digitais. Nas palavras de Larissa Ribeiro, autora da fascinante imagem que ilustra este post, “fotografar com câmeras precárias significa a busca de um olhar mais aberto ao mistério, negando a ilusão de que o homem pode dominar a natureza e apreender o real de forma objetiva e clara”.

Mais de 1.000 lomografias tiradas por 40 fotográfos de todo o Brasil foram reunidas em uma exposição aberta para visitação até o dia 24 de maio no Coletivo Galeria, na Rua dos Pinheiros, 493, em Sampa City. E neste sábado, dia 10, será promovido um Congresso Lomográfico, que incluirá atividades como um sensacional “Workshop de Gambiarra” e uma Lomowalk. Despertei sua curiosidade? Então visite o site do projeto Let’s Lomo. ;)

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O título deste post meio que parafraseia “50 razões para amar São Paulo em 2008″, matéria de capa da recém-lançada revista Época São Paulo. Mais do que bem-vinda novidade editorial, trata-se de uma publicação de periocidade mensal editada por Alexandre Maron, cuja proposta é a de fazer uma revista que seja capaz de refletir a complexidade paulistana por meio de reportagens de fôlego entremeados por extenso roteiros culturais e gastronômicos. A julgar por matérias como “Vá com Deus, Rafa”, reportagem de Lira Neto que narra os desdobramentos do crime que Fábio Nanni cometeu ao assassinar Rafael Fortes, colega do curso de Jornalismo, no estúdio da Rádio USP, em 14 de outubro de 2005, creio que os objetivos foram plenamente atingidos nesta primeira edição, ainda nas bancas.
Também gostei de constatar, ao visitar o site da Época SP, que há diversos blogs mantidos pela redação, complementando e amplificando o conteúdo publicado na revista. E não posso deixar de destacar que um dos colaboradores da Época SP é Cristiano Mascaro, um dos meus fotógrafos prediletos ao lado de nomes como Henri Cartier-Bresson.

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P.S. 1: O suíço Markus A. Hediger, um dos criadores do Litblogs, que reúne alguns dos principais blogs literários em língua alemã, depois de ter passado a infância no Nordeste do Brasil decidiu voltar a morar no Brasil após ter casado com uma carioca. E criou, ao lado do escritor Luiz Alberti, o site e_spaços, revista literária online que objetiva revelar novos escritores em língua portuguesa. Recomendada para autores que ainda não conquistaram visibilidade e internautas interessados em literatura de ficção.

P.S. 2: Enquanto isso, Mario Amaya publicou em seu Flickr uma ilustração mostrando seis razões convincentes para odiar São Paulo.

P.S. 3: Confiram no site do Itaú Cultural “Forma, função e beleza na internet”, matéria que escrevi para a versão online da Continuum, revista editada pelo instituto, cujo tema desta edição de maio é design. Em tempo: você não gostaria de criar uma capa para ser publicada na edição de junho?

P.S. 4: Toda vez que termino um post fico com a sensação de que esqueci de escrever algo que gostaria de compartilhar. Imagino que seja o equivalente virtual à mesmíssima sensação de quando termino de fazer as malas para uma viagem, sabendo que certamente esqueci de botar alguma coisa na bagagem…

Domingo no Parque

Por Alexandre Inagakidomingo, 22 de agosto de 2004

Sábado, dia 21 de agosto, o Parque do Ibirapuera completou 50 anos de existência. Só quem mora em São Paulo é que sabe da importância que esse oásis possui para os seus habitantes deveras saturados de cimento e fumaça. Um dado ilustrativo: a ONU recomenda que cada cidade possua pelo menos 12 m² de área verde por cada habitante. Pois bem: São Paulo possui apenas quatro desses metros quadrados, sendo que seus parques municipais representam apenas 1% da área total desta metrópole cinzenta.

Com seus quase 1,5 milhão de metros quadrados, não é difícil entender a paixão dos paulistanos por aquela que é a maior área de lazer da cidade de São Paulo. De fato, quase todo morador desta cidade tem uma história vivida no Ibirapuera. É o caso do casal Pedro, publicitário, 25, e Júlia Shimomura, agente de viagens, 26, que enquanto passeia por entre os ipês, tipuanas e sibipirunas do viveiro Manequinho Lopes recorda um domingo semelhante ao de hoje, quente e ensolarado. “Nós nos conhecemos em uma Bienal do Livro“, confidencia Júlia. “Eu trabalhava como recepcionista do stand da editora Record, e ele me abordou perguntando onde é que estavam as edições atrasadas da Mad“, comenta sorrindo. “Até hoje me pergunto como é que fui me apaixonar por alguém que vai até uma Bienal, com tantos livros interessantes, procurando por aquelas revistas idiotas“. Responde Pedro: “ainda bem que o amor, além de cego, é burro“.

Poucos sabem que Ibirapuera, em tupi-guarani Ypy-ra-puêra, significa “pau podre”. A origem desse nome vem do seu solo, que era bastante úmido e alagadiço até meados do século XIX, quando aquela área pantanosa começou a ser transformada pela crescente urbanização paulistana. No começo do século XX, a região do Ibirapuera era uma planície coberta de pastagens destinadas aos animais que puxavam os carros do Corpo de Bombeiros e aos bois que seguiam caminho até o Matadouro Municipal localizado no bairro da Vila Mariana. Suas feições atuais foram idealizadas na década de 20, quando o prefeito José Pires do Rio decidiu transformar aquelas pastagens em um parque. Porém, como o terreno era alagadiço, eis que entrou em cena o funcionário da prefeitura Manuel Lopes de Oliveira. Entomologista formado na Alemanha, Manuel (melhor conhecido pelo seu apelido, Manequinho Lopes) organizou em 1927 o plantio de centenas de eucaliptos australianos capazes de eliminar o excesso de umidade do solo, além de um grande número de plantas ornamentais. Esse viveiro, que posteriormente ganhou o nome de seu criador (morto em 1938 aos 68 anos por intoxicação com pesticidas), possui atualmente 300 espécies plantadas e produz 850 mil mudas por ano, e foi o embrião do futuro parque freqüentado por casais como Pedro e Júlia.

Projetado para ser o grande presente à metrópole paulistana no dia de seus 400 anos de fundação (25 de janeiro de 1954), o Parque do Ibirapuera acabou sendo inaugurado alguns meses mais tarde, devido a atrasos nas obras que duraram quase dois anos. Projetado por uma equipe capitaneada por Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx, o parque foi finalmente aberto ao público em 21 de agosto, ostentando diversas atrações como um ginásio poliesportivo (capaz de receber 20.000 espectadores), um planetário (previsto para ser reaberto à visitação pública ainda neste ano), dois lagos artificiais, o pavilhão da Bienal (que teve a honra de abrigar, por ocasião das comemorações do IV centenário de São Paulo, “Guernica”, a obra-prima de Pablo Picasso), a abóbada da Oca, o Monumento às Bandeiras (escultura de Victor Brecheret popularmente conhecida como “Deixa Que Eu Empurro”), o Pavilhão Japonês e o Museu de Arte Moderna.

Em meio a tantos atrativos, pesquisa recentemente feita pela Secretaria Municipal do Meio-Ambiente revelou que o principal motivo de visitação do parque, apontado por 33% dos freqüentadores, é “práticas esportivas”. Pudera: o Ibirapuera também abriga quatro quadras poliesportivas e uma pista de cooper com 1.500 metros de distância. O escrevente judiciário Gérson Guerrero, 30, palmeirense fanático e assíduo freqüentador das quadras de futebol, visita o parque todos os domingos a fim de jogar na quadra de terra, menos concorrida do que as três de salão. Gérson explica sua preferência: “na terra, os jogos duram meia hora ou dois gols, enquanto nas quadras de salão, que são de futebol society, o máximo que dá para jogar é vinte minutos“.

Atualmente o parque do Ibirapuera encontra-se aberto à visitação pública das 5h às 24h, recebendo em média 20 mil usuários de segunda a sexta e 200 mil aos finais de semana. Basta uma breve conversa com freqüentadores como a publicitária Joana Martins, 21, que sai para passear com seu golden retriever todas as manhãs pelo parque e já perdeu a conta de quantas vezes perguntaram o telefone de seu cachorro (“inclusive por algumas mulheres“), ou o farmacêutico Humberto Luz, 52, que afirma que o melhor show que viu na vida foi um de João Gilberto na Praça da Paz (“fiquei de pé das seis da manhã até às duas da tarde, mas valeu a pena“), para constatar: todo paulistano possui ao menos uma boa história para contar sobre o “Ibira”, este recanto tão amado por aqueles que moram nesta máquina de fazer malucos chamada São Paulo.

450 anos e 2 dias

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 27 de janeiro de 2004

Só mesmo um fotógrafo como Cristiano Mascaro é capaz de extrair beleza de uma cidade tão embotada, vilipendiada e soturna como São Paulo. Eu, que moro nesta barafunda urbanisticamente desarticulada há mais de 20 anos, já estou mais do que saturado com esta metrópole de estressados que correm pra lá e pra cá feito coelhinhos movidos a inércia, pilhas Duracell e contas a vencer no bojo de seus cheques especiais.

Carlito Maia escreveu aquela que é a melhor definição de meus sentimentos com relação a esta cidade: “Amo São Paulo com todo o ódio”. Não foi difícil passar ao largo de todo esse clima artificial de oba-oba em torno dos 450 anos de Sumpaulo, cuja maior atração foi a inauguração de uma certa “fonte multimídia flutuante” instalada dentro do poluído lago do Parque do Ibirapuera, como se águas que dançam coloridas fossem capazes de amainar esta verdadeira fábrica de ansiosos, taquicardíacos e insones, cuja poluição constipa minhas narinas e faz com que as quatro estações do ano se manifestem num dia só (em um típico dia paulistano, chove, venta, faz sol, depois garoa, esquenta e esfria novamente: minha bronquite agradece embevecida).

Minha ranhetice com relação à efeméride só fez aumentar depois que li a matéria publicada pela Veja São Paulo, que elenca 450 supostos bons motivos para amar esta metrópole. Pudera: segundo a reportagem, a razão 25 é saber que “temos a prefeita mais chique do Brasil, com um interminável guarda-roupa atualizado com o que o mundo da moda oferece de melhor - sapatos Salvatore Ferragamo, tênis Chanel, vestidos Kenzo…”. Que bom: da próxima vez que eu for pagar as próximas prestações das taxas de lixo e IPTU generosamente reajustadas pela gestão de dona Marta Suplicy, certamente me refestelarei consolado em saber o quão elegante é a nossa prefeita… Em tempo: ainda segundo a Veja SP, o motivo 245 para amarmos Sampa City é o fato de que nossas filiais da Tiffany & Co. são as únicas no mundo que possibilitam a aquisição de um colar de 650 mil reais em até três vezes sem juros no cartão de crédito. Ô lôco, meu!

E como é difícil amar a São Paulo do Minhocão, do Largo 13 de Maio, das fiações expostas, dos outdoors onipresentes, da estátua do Borba Gato, dos muros pichados, das Marginais congestionadas, da Praça do Patriarca ou dos anúncios de fachadas que empesteiam minhas retinas diariamente sem dó nem KY, fomentando uma inveja danada daqueles que vislumbram o Corcovado em vez dos anúncios da Valentina Caran Imóveis (e eu espero que nenhum leitor utilize minhas considerações para tergiversar sobre a acéfala rivalidade entre paulistas e cariocas, assunto mais modorrento na face da Terra depois da vida sexual do papa).

Mas, por incrível que pareça, quem mora em São Paulo tem orgulho do lugar onde vive. Porque, a despeito de nossas 2.018 favelas e dois milhões de desempregados, esta é a cidade das esfihas do Jáber, da pizza do Castelões, da Fnac de Pinheiros, do chope do Pirajá, do espeto misto do Sujinho, dos barzinhos da Vila Madalena, do X-salada do Burdog, do yakissoba do chinês da Paulista, do filé com alho do Moraes, do Extra 24 horas do Itaim, do Masp, dos cinemas do Shopping Jardim Sul, do fim de noite em um Fran’s Café, das luzes amareladas do centro velho, das caminhadas pelo campus da USP, do churrasco no Fogo de Chão, da banca de cachorro-quente em frente ao Teatro Oficina, do pastel da feira em frente ao Pacaembu, dos papos em uma mesa no Café Piu-Piu, Rascal ou na prainha da Paulista, das prateleiras de discos na Galeria do Rock, das noites de solteiro que findavam no Love Story às nove da manhã, das horas pensativo em um banco na Rodoviária do Tietê, do filme visto no bar do Cinesesc, do pôr-de-sol no campus da Faap, da elegância indiscreta das nossas meninas, do jornal de domingo que chega às bancas na tarde de sábado, das pessoas que conheço e que amo e que vivem em meio a esta balbúrdia de prosódias e etnias que compõem a São Paulo que amodeio, odeioamo com todo o meu masoquismo, perplexidade e esperança.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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