Oscar 2012: indicações, observações e a disputa Carlinhos Brown vs Muppets

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 24 de janeiro de 2012

O cinema está com saudades dos tempos áureos nos quais salas lotavam sem disputar o público com canais de TV e downloads de arquivos? Já houve época na qual assistir a um filme na tela grande era programa para ser apreciado usando roupas de gala e vestidos de luxo. E, a julgar pelos filmes com maior número de indicações no Oscar 2012, a Academia de Hollywood está padecendo de nostalgia.

Afinal, o longa-metragem com maior número de indicações (11, incluindo as categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado) é “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, que se passa no começo do século XX e é repleto a citações de cineastas como Charles Chaplin e Georges Méliès (um dos personagens do filme, aliás, na interpretação de Ben Kingsley). E o segundo maior indicado é “O Artista”, do diretor francês Michel Hazanavicius, que concorrerá a 10 estatuetas (dentre elas, os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante). Uma comédia muda e em preto & branco, e que chega à disputa dividindo o favoritismo com o drama “Os Descendentes”, dirigido por Alexander Payne (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2005 por “Sideways - Entre Umas e Outras”).

Em um ano curioso no qual nove produções disputarão o prêmio principal de Melhor Filme (os outros seis candidatos são “Cavalo de Guerra”, “O Homem que Mudou o Jogo”, “A Árvore da Vida”, “Meia-Noite em Paris”, “Tão Forte e Tão Perto” e “Histórias Cruzadas”), eis os fatos que mais me chamaram atenção na lista de indicações:

  • Desde que a categoria de Melhor Longa de Animação foi criada, em 2001, toda vez que a Pixar lançou algum filme, ele foi indicado. Foi assim com “Monstros S/A” (2001), “Procurando Nemo” (2003), “Os Incríveis” (2004), “Carros” (2006), “Ratatouille” (2007), “Wall-E” (2008), “Up” (2009) e “Toy Story 3″ (2010): oito indicações e seis Oscars recebidos. Este ano, porém, a Pixar lançou “Carros 2″, o primeiro longa deles que não me despertou vontade de ir ao cinema. E que, pelo jeito, também não animou a Academia, que preferiu indicar as animações “Rango”, “Gato de Botas”, “Kung Fu Panda 2″, “Chico & Rita” e “Um Gato em Paris”.
  • A impressionante Meryl Streep recebeu sua 17a. indicação ao Oscar ao interpretar Margaret Thatcher no filme “A Dama de Ferro”. No total, já são 14 indicações para Melhor Atriz e 3 indicações para Melhor Atriz Coadjuvante, desde 1978, quando foi lembrada pela primeira vez por sua atuação em “O Franco-Atirador”. Porém, vale recordar que ela só ganhou duas vezes o Oscar, pelos filmes “Kramer vs Kramer” (atriz coadjuvante, em 1979) e “A Escolha de Sofia” (atriz, em 1982). Será que desta vez Meryl levará seu terceiro peso de papel dourado?
  • Quem diria que Jonah Hill, que lembro como o cara obcecado por desenhar pênis em “Superbad”, um dia seria indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (por sua atuação em “O Homem que Mudou o Jogo”) na companhia de pesos-pesados como Christopher Plummer, Kenneth Branagh, Max von Sydow e Nick Nolte?
  • Estrelas de sitcoms estão em alta: Melissa McCarthy, protagonista da comédia “Mike & Molly”, e Kristen Wiig, a ótima comediante do “Saturday Night Live”, foram respectivamente indicadas aos prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Original pelo filme “Missão Madrinha de Casamento”.
  • Somando-se as duas indicações que recebeu por “Meia-Noite em Paris” (Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original), Woody Allen chegou à marca de 23 disputas pelo Oscar, seis anos após “Match Point” ter concorrido ao prêmio de roteiro original. Até agora, Allen ganhou três vezes: dois Oscars por “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1978) e um por “Hannah e Suas Irmãs” (1987).

Por fim, teremos a disputa mais aguardada pelos patriotas de plantão. E numa categoria na qual a Academia, curiosamente, decidiu indicar apenas dois filmes para o prêmio. Ou seja, neste Oscar 2012 o Brasil tem teoricamente 50% de chances de ganhar finalmente o seu primeiro Troféu Imprensa do cinema mundial. Concorrendo ao Oscar de Melhor Canção Original estão na peleja as músicas “Man or Muppet”, do filme “Os Muppets”, e “Real in Rio”, da animação “Rio” , dirigida por Carlos Saldanha.

“Real in Rio” foi composta por uma dupla de brasileiros bem-sucedida no exterior: Sergio Mendes e Carlinhos Brown. E que, assim, repetem o feito de Ary Barroso. Que, em 1944, concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original pela música “Rio de Janeiro”, da trilha sonora do filme “Brazil”, composta junto com Ned Washington. Naquele ano, Ary perdeu o Oscar para “Swinging on a Star”, música do filme “O Bom Pastor”. E agora, será que o país de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Anselmo Duarte, Nelson Pereira dos Santos, Eduardo Coutinho, Walter Salles Jr. e Fernando Meirelles ganhará enfim seu primeiro Oscar por meio do cantor de “A Namorada” e “Água Mineral”? Confiram sua música.

A disputa direta ao Kikito hollywoodiano será com “Man or Muppet”, que foi composta por Bret McKenzie (vencedor de um Grammy por seu trabalho na trilha sonora da série “Flight of the Conchords”). Eu, como não curti muito nenhuma das duas canções, não tenho a menor ideia de quem ganhará essa parada. Ouça o tema dos Muppets e tire suas conclusões.

Numa categoria que já premiou nomes tão diferentes como Isaac Hayes, Elton John, Stevie Wonder, Carly Simon, Bruce Springsteen, Lionel Richie, Henry Mancini, Barbra Streisand, Michel Legrand, Phil Collins, Bob Dylan e Eminem, tudo pode acontecer. Vamos ver o que os envelopes revelarão quando forem abertos, na cerimônia do dia 26 de fevereiro, em Los Angeles.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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  • Giseli Rodrigues

    Poxa, acompanho cinema há muito tempo, assim com música, política…
    Em relação aos filmes, concordo com muitas coisas que vc escreveu e ODIEI o seu comentário sobre a música de Carlinhos Brown, reduzindo-o ao cantor de Água Mineral e A Namorada!
    Acho que vc deveria conhecer um pouco mais dos artistas antes de escrever coisas que reduzem bons artistas a músicas que foram feitas para momentos onde só a percussão e o ritmo são o centro das atenções! 
    E sinceramente, A MÚSICA REAL IN  RIO é muito melhor do que aquela chatice, sem surpresa típica da música estadiunidense (a música  REAL.. é um fenômeno para os ouvidos!!).
    E só para constar: A MÚSICA NÃO É SÓ DE CARLINHOS, TB É DE SÉRGIO MENDES e outros colaboradores. E só para deixar mais claro ainda - eles são bem respeitados lá fora!!!
    Vou torcer sim!!!! E vc deveria ouvir os discos de Brown e Sérgio antes de qq coisa!
    P.S. Aposto que vc não vai publicar este comentário!!!!

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Giseli, se você fosse menos passional em seu comentário e tivesse prestado atenção no post, teria reparado neste trecho do meu texto: ” ‘Real in Rio’ foi composta por uma dupla de brasileiros bem-sucedida no exterior: Sergio Mendes e Carlinhos Brown.” Só pra constar. :) Ah, e não tenho nada contra comentários que discordam das minhas opiniões. Perdeu a aposta. =)

  • Tommy Beresford

    Peço imensas desculpas ao mestre Alexandre Inagaki por ter tomado a liberdade de citá-lo em minha humilde resenha, feita muito rapidamente e sem muito capricho, de “A Dama de Ferro”. Mas foi inevitável.

    http://cinemagia.wordpress.com/2012/02/23/resenhas-a-dama-de-ferro/

    Um abraço,
    Tommy
    http://cinemagia.wordpress.com/

  • Tommy Beresford

    Há um revival inclusive no “tom francês” que une Hugo com Dujardin com Meia Noite… Incrivelmente, achei Hugo mais tocante que O Artista no que se refere à homenagem que ambos fazem ao cinema. Allen nos emocionou e nos trouxe a tempos ainda anteriores. Um bom ano, onde merecem menção um filme do qual gostei muito, “Histórias Cruzadas”, e um que me emocionou, “Os Descendentes”. Pena Harry Potter 8 ter sido deixado de lado.

    Um abraço
    Tommy
    http://cinemagia.wordpress.com/

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Tommy, bem observado: a França marca presença nas indicações deste ano de maneira inédita, com boas chances de levar inclusive o prêmio principal. De resto, concordo com suas observações, inclusive no lamento ao esquecimento da última parte de Harry Potter nas indicações principais.

  • marcos pitombo

    Da lista de melhor filme, “O artista” é o melhor,
    tem trilha sonora legal, simpatia entre protagonistas, e um cãozinho que dá
    show e um belo roteiro. Os descendentes, é 
    muito chato, arrastado, trilha havaiana, que dói os ouvidos. Meia noite
    em Paris é uma graça, gostei bastante, já A árvore da vida, só consegui
    assistir 1 hora, olha que amo filmes, mas esse é sem pé e sem cabeça,
    chatoooooooooo demais, uma mistureba de imagens, que de profundo nada tem, e
    nosso querido Hugo Cabret, arrastado no começo e final ligeiro, fica a
    sensação, cadê o restante da história…

  • Joao Ratao

    Também sou dos que viu o gato das botas e adorei, espero ser esse o filme de animação a vencer!

    http://www.bigformat.com.br/

  • http://servidaomental.blogpost.com/ Tanay_ra

    Vou torcer pelo Gato de Botas na categoria animação, muito bom o filme e arte.

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Não vi esse filme ainda. Mas te confesso que nessa categoria eu fiquei surpreso ao não ver “As Aventuras do Tintin”, do Spielberg, na lista dos indicados.

      • Maymid

        A explicação foi de que “As Aventuras de Tintin” não poderia concorrer como animação por ser filmado por “motion capture” de atores reais. Agora, o por quê de o filme ter aparecido na lista de pré-selecionados, só os membros da academia sabem.

  • http://luluonthesky.blogspot.com/ Lulu

    Todo mundo esculachou com o Carlinhos Brown porque foi indicado ao Oscar de melhor canção. Torço muito pela Meryl Streep faturar a terceira estatueta,mas em se tratando de academia, não vou me surpreender se resolverem dar pra Michele Williams como Marilyn, já que levou Globo de Ouro na categoria melhor atriz musical. Qto ator, acredito que vá para o George Clooney. Não entendo porque não deram em 2009 para o Brad Pitt que arrasou em Benjamin Button. Nem ele, nem Tom Cruise e nem Johnny Depp conseguiram estatueta. Só pq são bonitos?
    Big Beijos

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Antes esculachar do que tascar garrafa de água mineral nele. :) Michele tem boas chances, e a Viola também está no páreo com a Meryl Streep. Vai ser uma boa disputa neste ano. Quanto a ator, Brad Pitt fez por merecer o Oscar quando foi indicado a coadjuvante por “Os 12 Macacos”. E Tom Cruise, por “Magnólia”. Mas eles têm tempo. Basta lembrar que o Gary Oldman só agora foi indicado pela primeira vez ao Oscar… Beijo!

  • http://twitter.com/claudiorubio Cláudio Rúbio

    desde que “Real in Rio” não ganhe nenhuma versão com Cláudia Leitte e seus bailarinos “típicos”, não me incomodaria torcer por essa canção, apesar de 
    “Man or Muppet” ser mais palatável para ouvidos gringos, seguir uma velha (oops! clássica) linha de canções dos Muppets (daí ser mesmo clássica), e ser bem mais curtinha - dizendo ao que veio com menos da metade do tempo da concorrente.
    por tudo isso, creio que 
    “Real in Rio” não seja, nem de longe, favorita, além de não ser, também, a rigor, muito “brasileira”, apesar e a propósito dos compositores. esta não tem o sotaque nem a sonoridade do que os brasileiros vivos ouvem, cantam, assoviam, batucam, dançam, procuram. 
    “Real in Rio” é muito “Carlinhos Brown”, muito “Sergio Mendes”, e, por isso mesmo, “estrangeira” demais para brasileiros; se soa brasilidade falsa até para nós, imagino que não doa menos em ouvidos gringos também. (fique claro: não tenho nada contra os dois brasileiros, contra sua música, suas opções musicais. nada.)”Some may like a soft brazilian singer, but I’ve given up all attempts at perfection.” (Bob Dylan, “Highway 61 Revisited”, de 1965) (Caetano Veloso, “O Estrangeiro”, de 1989)

    abraços!

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Mas Oscar de Canção Original tem surpreendido nos últimos anos. Em outros tempos, seria inimaginável ver o Eminem ganhando, ou uma canção chamada “It’s Hard out Here for a Pimp”. Do mesmo modo que fui positivamente surpreendido quando o Jorge Drexler recebeu o Oscar por sua música em “Diários de Motocicleta”. []’s!

      • http://twitter.com/claudiorubio Cláudio Rúbio

        ah, sei não… torço por uma, voto na outra. se der a surpresa, digo “oh! viu só?!”, mas se não der, digo “ah! vou só…”, e tá tudo resolvido. não sei se é trauma de eleitor brasileiro, mas não gasto mais meus neurônios tentando entender o resultado de votações secretas, muito menos ainda quando são feitas por um colégio eleitoral tão restrito quanto questionável, como o do Oscar. dando o que der, a gente dança. ehehehe… abraços, moço!

        • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

          Entendo o seu ponto, Cláudio. Mas olhe, eu bem que gostaria de ver os talentos brasileiros ganhando um reconhecimento como esse. Queria ter visto João Cabral de Melo Neto, que para mim é o melhor poeta de língua portuguesa, ganhando um Nobel de Literatura, por exemplo. Pena que ele morreu em 1999, sem que houvesse tempo da Academia Sueca reconhecê-lo como fez com o Saramago em 98.  

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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