Ema, ema, ema

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 15 de agosto de 2006

Anomia é um conceito sociológico utilizado para descrever um estado de coisas no qual o comportamento dos membros de uma sociedade deixa de ser pautado pelas normas sociais. Ou seja: as pessoas deixam de ligar para as possíveis punições decorrentes da infração das leis simplesmente porque já não crêem, ou já nem ligam, para o fato de estarem quebrando as regras do contrato social.

Que outra palavra, pois, pode ser utilizada para descrever com maior propriedade fatos como o recente incidente envolvendo Guilherme Portonova? Vejam só: o PCC ordenou o seqüestro de um jornalista da Globo com o intuito de defender seus interesses. A emissora, por sua vez, viu-se na situação de atender às exigências de um grupo criminoso a fim de tentar salvar a vida de seu funcionário. E as autoridades, onde estavam nessa história toda? Enquanto PCC e Rede Globo negociaram diretamente a exibição de um manifesto na TV produzido por um grupo composto por assaltantes, homicidas e traficantes, onde estava o Governo para garantir a lei e a punição aos responsáveis por essa ação? Caso a Globo não tivesse cedido espaço em sua programação para dar voz aos bandidos, que garantia as autoridades poderiam dar sobre a vida de Guilherme Portonova?

Ema, ema, ema, cada um com seus pobrema“. Metroviários entram em greve, grupos de sem-terra invadem o Congresso Nacional, criminosos ganham espaço na maior emissora nacional porque as autoridades legitimamente constituídas são incapazes de prover segurança à sociedade que os elegeu. Enquanto o governo federal e o governo estadual discutem para saber a quem pertence a maior parcela de culpa pelos acontecimentos recentes, vivemos dias nos quais jornalistas serão obrigados a esconder suas identidades, sob pena de correrem os mesmos riscos que policiais e agentes penitenciários amargaram durante os primeiros ataques generalizados do PCC. Até porque o perigosíssimo precedente já foi criado: quem impedirá o seqüestro de um repórter caso alguma organização criminosa deseje divulgar algum vídeo em rede nacional? Medellín é aqui.

É terrível constatar que, a grosso modo, a recente ação do PCC nada mais foi do que um ato visando a defesa dos seus, hmm, direitos. Porque o fato é que o PCC acabou por se tornar uma espécie de sindicato congregando membros marginalizados da sociedade que, unidos, ganharam mais forças para cobrar o que eles acham que merecem receber. Diante da inapetência e da debilidade do Estado, como impedir que esta união de criminosos recorra a qualquer ato que julgar eficaz para lutar por suas causas (seja ele o assassinato de inocentes, o ataque a ônibus ou bancos, o seqüestro de jornalistas ou qualquer ação que tenha impacto midiático)?

Estes são tempos de barafunda generalizada, nos quais cada segmento da sociedade briga por seus próprios interesses corporativos, deixando de ligar para as conseqüências causadas pelo restante da população. Mas enfim, o que uma sociedade repleta de cidadãos que querem levar vantagem em tudo, jogam lixo nas ruas, sonegam impostos e preferem anular seus votos e omitirem-se da tarefa de pesquisar cuidadosamente seus candidatos e elegerem candidatos decentes (escorados na generalização imbecilizante de que “nenhum político presta”) pode exigir?

Estes são tempos de “ema, ema, ema”. Não é de se admirar, pois, o fato de que estamos todos cada vez mais idos, idos, idos.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Facebook

Comentários do Blog

  • Cris

    Muito bem colocada a questão do PCC.
    A maioria esquece que o PCC só se tornou possível devido às mazelas de nossa ppia sociedade. Como vc disse, os excluídos e uniram, e, queiramos nós ou não, mesmo com métodos duvidosos, eles conseguem dar uns aos outros a proteção e garantia dos direitos mínimos do cidadão… proteção que seria responsabilidade do Estado.
    Ainda sexta, na aula da pós, o teacher (vc conhece ele, é o Roberto Tardelli, promotor de Justiça daí) disse que estatísticas não oficiais contam que o PCC possui hj algo em torno de Um Milhão de membros (isso entre simpatizantes, protegidos, terceirizados, etc) só em Sampa. Um milhão pra mais.
    Beijos, gatinho, vou dormir agora.

  • http://josealbertofarias.blogspot.com José Alberto Farias

    E tem gente que questiona a perenidade dos clássicos da teoria social.
    O velho Durkheim ainda é capaz, mais de 100 anos depois, de lançar luz sobre sobre a realidade.

  • Elder Tanaka

    O problema, Inagaki, é a crença ingênua que nós temos com relação ao próximo.
    Dar um voto (literalmente) de confiança significa gerar uma certa expectativa de que aquele no qual votamos vai cumprir o que prometeu.
    E gerar expectativas com relação ao ser humano (seja ele político ou não) é uma coisa que a vida me demonstrou não valer a pena. Quanto maior a expectativa, maior a frustração.
    Isso me faz questionar também a credibilidade da democracia como é praticada aqui no Brasil. Não só pela obrigatoriedade do voto, mas também por ela não representar, de fato, a vontade da maioria.
    Como a burguesia tem tempo e educação pra se dedicar à política, é ela quem chega no poder (Lula não tinha a educação, mas tempo ele teve de sobra em cima de palanque e carro de som para praticar sua retórica). A burguesia, naturalmente, vai defender os interesses da classe dela.
    E a maioria (o povão) se fode porque esperava (gerou uma expectativa, portanto) muito daqueles que ela colocou no poder por meio do voto.
    Como diria a Margaret Thatcher, “There is no alternative”.

  • http://garibada.blogspot.com André Mellagi

    Bagdá é aqui…as técnicas de terrorismo foram incorporadas e estamos à mercê do cabo de guerra entre políticos em época de eleição, e as facções que detém o poder nas periferias do Rio e nos presídios de São Paulo. O horror…

  • http://www.verbeat.org/blogs/lixotipoespecial/ Flavio Prada

    Inagaki, eu percebo que nós sempre discordamos no varejo mas concordamos no atacado. Quero dizer, alguns pontos do teu post eu discutiria, mas em substância, temos opiniões parecidas. A viva coloca algo que para mim é fundamental, que é a responsabilidade de todos. Porque se enxugarmos aos minimos termos o problema, veremos que é cultural (ou a falta dela) a base de toda a nossa anomia. Em 1972, quando Gérson divulgou sua lei, muitos diziam que essa mentalidade levaria a uma situação como a de hoje. Todos sabiamos que Gérson estava errado e as consequências estão aí. Mas podemos ainda mudar. Não é facil. Mas falando, como fazemos aqui, é o inicio. Parabéns pelo post.

  • http://beths.zip.net BethS

    Você falou certo.
    Essas são as duas maiores pragas: o individualismo e a indiferença.
    Somos parte da engrenagem, a gente se esquece disso.
    Beijo, amigo

  • http://www.sarcofago.blogger.com.br Mário Marinato

    Inagaki, escrevi algo no meu site falando sobre isso, citando voce, defendendo a atitude contrária. Se quiser aparecer, será bem vindo.

  • Bear

    Nobre Ina, quando duas pessoas inteligentes, conscientes e razoáveis (e nós o somos) têm visões tão contrárias neste assunto, dá para desconfiar.
    É um forte indício de que somos lados da mesma moeda: você achando que a coisa não está dando certo porque as pessoas não participam, não cobram, e eu (que vivo cobrando e vigiando a atuação dos meus candidatos - até as últimas eleições pelo menos) achando que não adiantou nada a minha cobrança e a minha consciência política.
    Isto só reforça a minha impressão geral sobre a absoluta inutilidade do voto: votar, anular voto, cobrar, não cobrar é, cada vez mais, irrelevante no quadro político brasileiro desde o fim do império até hoje.
    Vivemos uma democracia à “brasileira”, cuja principal e nefasta característica é a liberdade do eleito para fazer o que desejar com seu mandato, à revelia das promessas, do programa do partido, da moral, da lei…
    Estamos, a sociedade brasileira toda, praticando o voto inútil, sem nos dar conta disso.

  • http://everas.zip.net Enoisa

    Alexandre, gostei demais do post e concordo, principalmente, com a sua reflexão sobre a sociedade. Penso ainda que as transformações que todos “exigem” só acontecerão como resultado de uma construção social. E ciente disso, pretendo este ano acompanhar mais de perto aqueles em que irei votar. Saca eleitora chata? É o que irei ser! Vou participar de pelo menos uma reunião com os meus candidatos, cobrar atitudes e prometer que vai passar vergonha quando encontrar comigo, se não cumprir as promessas. Vou numa reunião neste domingo e quero ver se consigo formar um grupo prá acompanhar os trabalhos da figura. UFA! Sei que vai ser difícil mas também sei que ou a gente assume os possíveis rumos ou fica reclamando. Prefiro assumir os rumos…

  • http://slove999.blog.terra.com.br Tina

    Parabéns Inagaki,ótimo post, reflete bem a situação. Vamos torcer (e muito) para que mude alguma coisa com a eleição (eu particularmente, não acredito).
    Leio sempre, comento raramente, mas gosto muito!
    Grande abraço!

  • Paluço

    Exagerei e, por isso, peço desculpas.
    Minha intenção nunca, em nenhum momento, foi de provocá-lo, afinal, o espaço e seu (embora todos que tem acesso aos seus pensamentos e manifestações tem direito de comentá-los e critica-los, dentro do respeito que você e todos os seres humanos merecem). Quando me referi ao seu “espaçozinho virtual” admito que fui bastante grosseiro e, por isso, peço-lhe desculpas. Não se trata de desculpas fingidas, e espero que você entenda desse modo. O excesso, pelo qual peço desculpas, deveu-se ao fato de você, em um de seus comentários ter dito, sobre a forma de me manifestar, que “paciência tem limite”. Ora, o fato de você criticar o tamanho dos meus textos, e não seu conteúdo, me atingiu justamente naquilo em que mais me deixa triste nos dias atuais: a crítica quanto à forma, e não ao conteúdo das idéias.
    Apesar desta forma indiferente de se reportar a mim, não houve justificativa para tratá-lo com desprezo.
    Desta forma, e para não alongar, e passar adiante, peço desculpas. Mas confirmo tudo quanto disse nos outros textos que se resumam a traçar um panorama de nosso cotidiano.
    Sim: sou chato, porque os problemas precisam ser problematizados através do diálogo.

  • http://aindapodiaserpior.blogspot.com Marília Jackelyne

    Anomia. Eu odeio usar essa palavra. Odeio mais ainda odiar o seu significado…

  • Daniel

    Ah! E parabéns ao “pauluço” por usar “outrossim”.

  • Daniel

    Por que todo mundo acha que a vaca foi pro brejo depois que a violência atinge os repórteres? Não importa o tamanho das atrocidades, seja em Sampa, Bagda, Sarajevo ou Cabul, a coisa só fica “sem controle” depois que passam essa linha arbitrária, o ataque ao quarto poder (no caso da Globo, é no máximo o segundo). Não entendo isso.
    Outra coisa. Esse PCC é esperto ou o quê? Obrigou a única emissora que sempre teve o cuidado de nunca pronunciar o nome da organização (era sempre “organização criminosa paulista”) a passar um vídeo deles. Sem contar, claro, que é A Globo. Eu, de minha parte, tenho imenso medo desses caras do PCC, porque essa série de ações dos caras nos últimos meses não parece aleatória ou de improviso, e, primeiro a polícia, depois o governo, e finalmente a Globo, todos acabaram se dobrando a eles, mesmo que temporariamente. E todos, sociedade, governo e imprensa, apenas reagem às cartas dadas pelo PCC. Claro que eles se aproveitaram do vácuo de poder deixado pelo PSDB na cidade e no Estado. Se ninguém tentar se adiantar às ações dos caras, logo poder paralelo vai ser aquele que a gente vota.
    Mas, no trato com a imprensa, eles talvez ainda sejam ingênuos. Qualquer assessor de imprensa sabe que presentinhos, tipo IPods, eventos em locais exóticos e/ou agradáveis, brindes e festinhas são muito mais eficazes para garantir o seu conteúdo na mídia do que atos de violência, e têm a vantagem de não levantar indignações de que “a coisa está ficando sem controle”.

  • http://objetoabjeto.blogspot.com/ eu mesma, Rê

    calp clap clap
    ‘Era exatamente o que eu sentia mas não sabia como dizer’ [Calvin]
    Foda. É issaí, enquanto houver ‘ladeira abaixo’ é pra lá que nós iremos.
    =/
    Sabe que eu ‘entendo’ o pcc mas não agüento a greve do metrô? Acho muito mais criminosa. Mas ok.

  • http://www.aparentemente.blogspot.com Carla

    Concordo com o Demas:
    “Mas enfim, o que uma sociedade repleta de cidadãos que querem levar vantagem em tudo, jogam lixo nas ruas, sonegam impostos [..] pode exigir?” São estas pessoas que ainda não pegam os resíduos gerados por seus cães em passeios matinais, que trocam o rótulo de mercadoria ou quando não consomem na hora, ou ainda ficam extremamente felizes quando o caixa do mesmo supermercado erra e dá troco a mais. Mas assim, eu ainda tenho fé. E obrigada pela indicação de blog da semana =) o blog é uma tentativa de retomar ao mundo blogueiro depois do Mustang (lembra?). Bjs!
    Carla, só pra constar: o texto entre aspas é meu, não do Demas. :)

  • MArgot Abirato

    Caro Inagaki,
    Acompanho seu blog há algum tempo e hoje resolvi sair do silêncio. Gostei muito do seu post, sobretudo porque suscitou uma questão em mim que não consigo responder.
    Moro fora do Brasil já há alguns vários anos e a última parte do seu post fez-me realmente constatar que o senso de coletivismo social do brasileiro é quase inexistente se comparado ao europeu. Aqui, vc pode até morrer sozinho no seu apartamento, mas vc pagou todos os seus impostos, tentou como melhor pode fazer a tal coleta seletiva, respeitou as regras de zoneamento, e corrigiu o troco quando lhe deram a mais. E daí vem a questão. como pode um povo que é tão receptivo, aberto e de certa forma considerado solidário como o brasileiro ser ao mesmo tempo tão socialmente individualista? Eu não entendo. E acho que realmente, nunca vou entender.
    Abraço,
    Obrigado pela sua participação, Margot. Como você, também me sinto perplexo diante do “individualismo social” do povo brasileiro. Lembro, por exemplo, de quando o ETA assassinou um vereador na Espanha, e multidões saíram às ruas para protestar pelo atentado. É o tipo de coisa que não acontece neste país em que os prefeitos de Campinas e Santo André foram assassinados. Crimes que, inacreditavelmente, permanecem sem a apuração dos responsáveis até hoje.

  • http://www.verbeat.org/blogs/pralademarrakech Renato K.

    Pombas, mas é chato esse Cerqueira, hein?

  • http://www.opiniaopublica.com Emiliano

    Inagaki, na sua opinião, quais seriam as melhores atitudes a serem tomadas especificamente com relação ao PCC? Sabe, até hoje a tarde eu estava radicalmente a favor da punição mais pesada possível contra eles, mas ouvi um doutor em psicologia numa entrevista dizer que talvez, se as prisões realmente tentassem recuperar os presos, o PCC não faria sentido, pois se alimentou justamente dos maus-tratos recebidos pelos internos. Veja, não sou a favor de tratar bandido a pão-de-ló, apenas comecei a pensar se aumentar a punição não vai aumentar a guerra. E aí?
    Também não acho que é tratando os presos como gado para abate que a situação vai acalmar. As péssimas condições do sistema penitenciário uniram os presos em torno dessa organização. Em vez de reintegrar pessoas à sociedade, estamos aumentando o exército do PCC com homens cujo ódio é fomentado por presídios abarrotados com pessoas mantidas em situações precaríssimas. Do jeito que está, penitenciária é pós-graduação do crime para qualquer recém-iniciado na marginalidade, devido à falta de cooperativas de trabalho e atividades ocupacionais que dessem aos presos alguma perspectiva de reintegração social.

  • http://www.lauravive.blogspot.com laura

    Ina vou voltar pra ler sem sono :) bj laura
    Temos que falar nisto sempre, não dá para fica fingindo que está tudo bem.

  • Paluço

    Exatamente porque posso expressar-me como, quando e onde bem entender, sempre que quiser e sempre respeitando as pessoas e as opiniões alheias, com críticas severas, mas serenas, sempre dentro do que pouco você provavelmente ouviu falar, chamado DIÁLOGO.
    Quanto ao espaço cedido, não é minha intensão apropriar-me, mas enquanto houver, e for disponibilizado, estarei presente.
    Quanto à pré-aprovação, você não pode se utilizar de qualquer critério, que não o razoável, quando, por exemplo, se utilizam termos de baixo calão, xingamentos, etc., mas, enquanto isso não ocorrer, a pré-aprovação somente demonstra que você (no sentido de qualquer um) não está interessado em discutir problemas, democraticamente.
    De qualquer forma, e em respeito às pessoas, não irei adiante com esta discussão tola, que não leva a nada. Apenas escrevo porque você a alimenta, e não gosto de deixar qualquer pergunta no ar.
    Mas para seus futuros questionamentos, deixo uma resposta que satisfará a todos: Salve o diálogo!
    É claro que diálogos são bem-vindos. Este espaço de comentários está disponível a toda espécie de questionamentos, e quem conferi-lo desde o princípio constatará que dou todo o espaço para que discordem de minhas opiniões e façam ponderações afins. Eu só considero um um tanto quanto improvável trocar idéias produtivas com pessoas que se mostrem arrogantes ou desdenhem, para usar a sua expressão, deste “espaçozinho virtual”. Assim como eu respeito e concedo espaço em meu blog para que outros manifestem suas opiniões (inclusive as discordantes), gostaria de ser respeitado por quem adentra este recanto virtual. É o mínimo que a educação exige. Infelizmente não foi o caso, Sr. JP Cerqueira, apesar de todos os seus extensos comentários (SEIS, até o presente momento - irônico lembrar da sua afirmação de que não dispõe de tanto tempo para criar um blog) terem sido publicados em meu blog dispensando-se pré-aprovação. É lamentável constatar, mais uma vez, que pessoas abusam da liberdade de expressão sem a menor noção de limites.

  • Paluço

    O você falou exatamente - e sinteticamente - tudo que já sabia.
    Você não passa de mais um brasileiro desacostumado com democracia e liberdade de expressão. Não se preoculpe: sua paciência - autoritária - não será mais gasta comigo. Não preciso de seu espaçozinho virtual.
    É claro que não, Jp Cerqueira. Após ter tecido quatro exaustivos comentários, descobriu enfim que não precisava deste “espaçozinho virtual”? E se você “já sabia” que sou um brasileiro desacostumado com liberdade de expressão, por que dispendeu tanto do seu preciosíssimo tempo para desenvolver suas considerações por aqui?

  • Paluço

    Meu caro
    Infelizmente não tenho muito tempo para me dedicar à criação de um blog; outrossim, não tenho tanto assim a falar para a comunidade. Isso que escrevi parece muito devido à falta de criatividade, à parcimônia geral, e à preguiça generalizada das pessoas em expor de forma racional e o mais sincera e exaustivamente possível seus sentimentos. Todavia, não é muito:é que a tradição pós-moderna rdz plvrs em smpls brvções…
    De mais a mais, não estou gastando papel, mas tão-só espaço virtual, amém.
    JP Cerqueira, embora o espaço virtual pareça infinito, a paciência das pessoas não é. Sua modéstia, diga-se de passagem, é quase tão comovente quanto sua falta de tempo para envolver-se em outras atividades que não sejam tecer longos, sinceros e exaustivos comentários.

  • http://www.lexotanica.blogspot.com Lexotânica

    É sempre bom ter a sensação de que não penso sozinha quando digo que anular o voto é assinar a culpa pela situação que arrasta-se desde sempre no Brasil.
    Amanhã irei terminar meu post sobre o debate de ontem e farei algumas considerações a respeito deste assunto.
    A sensação de que chegamos ao fundo do poço é o que mais me faz acreditar na importância de se pensar ativamente na hora de escolher os candidatos.
    Os marginais do PCC e todos os que envolvem-se com o tráfico e o crime organizado são frutos do abismo social que temos neste país. O problema mais grave são os marginais que colocamos no Congresso em cada eleição. Esses, sim, são os mais perigosos. Com eles, o abismo social cresce verdadeiramente.

  • http://www.ideiasmutantes.com.br Muta

    “oda, oda, oda…”
    Acredito que pelo menos os seus leitores tem consciência de que todos somos responsáveis pela situação em que chegamos… Assim, já são alguns que pensarão (tomara que sem enlouquecer) na hora de votar.
    E a pirâmimde aumenta a cada pessoa que ouvir o que nós falamos… Com tanta coisa ruim acontecendo ao mesmo tempo (PCC, greves, Congresso desmoralizado, corrupção, etc) acho que muitos pensarão melhor nessas eleições…
    Sim, eu ainda tenho fé nesse nosso povo e vou fazer a minha parte na hora da eleição e farei o máximo para levar outros comigo.
    Alea jacta est!
    PS.: já arrumei um novo servidor, mas caso o wordpress aceite q eu use o meu domínio, por que não, não é mesmo? E logo rola a festa! :D

  • http://zyenth.blogspot.com Zyënth

    É, meus amigos. Ainda bem que vamos todos morrer em julho de 2007, graças ao LHC. (Ainda bem, nada!)

  • Paluço

    Um bom exemplo de como somos mesquinhos com os excluídos:
    A remuneração de um Promotor de Justiça, em São Paulo (órgão ACUSADOR), inicial está em torno de R$ 10.000,00 (informação obtida no site do TERRA)
    A remuneração de um Defensor Público (cuja carreira está começando a ser regulamentada este ano, sendo que, até agora, não havia defensoria pública no maior Estado da Federação, em que pese ser este órgão tão relevante quanto o MP, em termos constitucionais, na defesa do hipossuficiente, que não tem dinheiro para contratar advogado), inicial está em R$ 4.607,00. Se pensarmos em termos institucionais, a violação da razoabilidade entre carreiras igualmente relevantes nos faz pensar como a sociedade (a oficial) não tem tido qualquer interesse em participar dos problemas nacionais. Não se trata de “levar uma vida honesta… bla bla blá…”, mas de perceber que é dever do cidadão promover esclarecimentos, de participar da vida política do país, de entender que este é um dos países mais desiguais do mundo, pois, da porta de nossas residências para fora, necessariamente conviveremos com os “bandidos”, com os “pivetes”, “trombadinhas”, muitos dos quais passaram a vida toda insulados em seu meio social altamente pervertido, graças a uma sociedade altamente indiferente.
    Não se trata do que disse um respeitável comentarista que a pobreza não justifica o crime: OK, pobreza não, mas a MISÉRIA sim. Não somos um país de pobres, mas de miseráveis. Não quero acabar com a pobreza, pois o sucesso na vida depende de esforço, de mérito; mas a miséria é inaceitável; a miséria não pode existir,ela é altamente violadora da dignidade do ser humano e, queira ou não, somos todos responsáveis por este quadro terrível. Aceitar ou indignar-se por 05 minutos quando se vê uma criança numa carvoaria, ou quando se vê gente em determinados pontos do país assando gambá ou ratazana para comer não pode ser considerado normal. Participar é possível. Não justifico o que os sem-terra fizeram no Congrasso Nacional, mas se se for observar, o prejuízo é pífio ante o escalabro da máfia das ambulâncias…
    Não basta ser honesto, é necessário participar, aceitar esta sociedade obscura dos morros e favelas. Acreditem: não se entra no crime por uma questão genética, salvo alguns casos psicopáticos. Entra-se no crime porque a sociedade oficial exclui, da forma mais mesquinha possível: não se importando com os destinos do próximo.
    Finalmente, em meu comentário anterior, escrevi “sulfrágio”; leia-se, no entanto, “sufrágio”, sem o “l”.
    Obrigado e desculpem por qualquer coisa.
    Paluço ou JP Cerqueira, uma sugestão: por que você não cria um blog para publicar seus textos? Percebo, pelo tamanho de seus comentários, que você possui muitas opiniões a dar. E, já que você tem usufruído bastante deste espaço (visivelmente insuficiente para tantas colocações), por que não aproveitá-lo para convidar possíveis interessados a conhecer seu futuro blog? Um abraço.

  • http://jccbalaperdida.blogspot.com JULIO CESAR CORRÊA

    O Lula tem falado muita besteira nestes 4 anos de governo, mas acho que a maior demonstração de cinismo que ele deu foi quando disse: “O que o Brasil tem de mais valioso é o seu povo.” Quando este povo apertar a tecla CONFIRMA para relegÇe-lo no primeiro turno, o cinismo se confirmará.
    gd ab

  • Cris

    Boa tarde, Alexandre!
    Muito oportuno este post.
    Do jeito que as coisas andam daqui a pouco o PCC estará explodindo prédios… aliás, tenho certeza que eles já estão planejando algo tipo World Trade Center.
    Que virá a seguir?
    Sou advogada, e é absolutamente intolerável saber que muitos maus colegas possuem sua parcela de culpa nessa situação.
    Intolerável uma situação assim num Estado Democrático de Direito.
    Att.
    Cris

  • http://www.absurdosabstratos.blogspot.com Bic Azul

    Até quando iríamos ignorar a situação carcerária se não fossem os ataques? Eles não tem razão, é claro. Do mesmo jeito que os terroristas palestinos não tem razão.
    Mas é impossível ignorar seus motivos.
    Felizmente, a cada dia, está mais difícil esconder a lama sob o tapete.
    Isso é que me faz pensar que, talvez no futuro, tais ações sejam menos frequentes. O comportamento social está mudando.
    A devassa em Rondônia, na PF, a pressão dos meios, o Ministério Público e outras coisas me fazer crer ingenuamente que estamos, muito vagarosamente, melhorando a direção que andamos.
    Não compartilho de seu otimismo. Mas concordo com a sua colocação a respeito dos motivos que levaram a população carcerária aos recentes ataques: é o modo que eles encontraram para fazer suas reinvindicações e chamar a atenção da mídia. Vale a pena replicar as palavras finais do artigo que Guilherme Fiúza escreveu para o nomínimo.
    “A Globo não quer assumir a responsabilidade por uma decisão de entregar a vida de um funcionário seu ao crime. Uma posição louvável. Mas o jogo mudou, e a pergunta passa a ser se existe guerra contra o terror sem sangue. Criticar a ineficiência do Estado e lavar as mãos, dispondo-se a divulgar mensagens do crime porque foi o governo quem deixou a situação chegar a esse ponto, parece uma posição politicamente precária. A virgindade acabou. A liberdade está ferida, com a divulgação pela maior emissora do país do vídeo imposto pelos seqüestradores. Ninguém está mais autorizado a imaginar um cenário de preservação simultânea de vidas humanas e da liberdade. De um lado ou de outro, vai haver arranhões, e possivelmente perdas sérias. Na guerra, como na guerra”.

  • http://cartadaitalia.blogspot.com Allan

    A situação é um soco no estômago, mas acho que os políticos são apenas uma amostra da população. A educação (escola, mesmo!) é parte da solução difícil e longa. A ditadura não resolveu o problema; a esquerda também não. Às vezes fico pensando que o Brasil é grande demais.

  • http://www.pingacombambu.blogspot.com marie.

    Olha o que eu acabei de receber por e-mail: http://perfil.transparencia.org.br/

  • http://www.pingacombambu.blogspot.com marie.

    Bom, Alexandre. Acredito que o caos ao que chegamos é o espelho do caos que estamos maquiando ao longo dos anos. A hipocrisia foi instalada de tal forma na cultura nacional que fica complicado conviver pacificamente. Em questões políticas, o reflexo da falta de compromisso e interesse seleciona os governantes. Para depois, estes mesmos serem apedrejados (culpados ou não). Não importa. É mais fácil apontar e colocar a culpa em alguém. E assim continua. Sobre o seqüestro, achei que realmente se tornou ainda mais preocupante a ousadia dos bandidos. Eles estão quase tão ousados quanto os próprios policiais que aqui no Largo da Ordem roubam os toca-fitas e fazem o boletim de ocorrência de furto. Mas, devo admitir, que além de ousados eles estão cada vez mais inteligentes. Gostei muito do que eles falaram durante a exibição. O sistema carcerário tá falido e ninguém dá a mínima porque não é interessante para ninguém. Ninguém se revolta quanto às condições em que os presos se encontram atualmente. Continua aquela hipocrisia do “todos somos iguais, mas cada um com seus problemas”. E a nós, o que resta, Alexandre? Eu, como estudante de Direito realmente não sei. Descobri que a justiça tarda, falha e é ilusória na maioria dos casos, estudando e convivendo com o bando de estudante de Direito bitolado e imbecil. Ganhar dinheiro as custas dos outros todo mundo quer, não é verdade? E assim caminha a humanidade(?) …

  • http://ocabulosodestino.net/ Israel Barros

    A globo na verdade não cedeu assim de mau grado, pois ela saiu ganhando com a difusão dessa mensagem tambem.
    Ganhando com o quê? Com a insegurança de seus funcionários? Com o uso de seu espaço para a veiculação de mensagens de criminosos? Com a intimidação da classe jornalística?

  • Bear

    Ina, acho que a maioria da sociedade não percebeu ainda que o modelo de “democracia” brasileiro está falido (nunca esteve bem).
    Baseado na máxima, já suficientemente comprovada, de que “tudo que você coloca no pote de pickles vira pickles”, no quadro político atual não adianta você escolher com cuidado um candidato. Se você o escolhe pelo que ele fala, não há nada que o obrigue a cumprir, se ganhar (e nenhum desonesto vai dizer que é desonesto na propaganda eleitoral). Por outro lado, se ele é bem intencionado, qual a chance que ele tem de fazer alguma coisa em um congresso corrupto, conivente com corrupção, defensor de interesses ilegítimos como este.
    Sei que meu voto nulo não mudará nada no país. Mas eu teria nojo de mim mesmo se algum corrupto, conivente, medíocre ou incompetente fosse eleito com o meu voto.
    Voto nulo. E para todos os cargos. (por mais que me doa).
    Celso, o problema é que eleitores não fiscalizam os seus candidatos. Não os cobram pelos votos que dão no Congresso, pelos projetos de lei que apresentam ou não, sequer recordam-se em quem votaram nas últimas eleições. Depois, escolhem seus candidatos sem atentarem para suas propostas, sem pesquisar seu passado. Creio que você se equivoca: é o eleitor, ao fiscalizar as ações do seu candidato, que o obrigará a tornar-se um político mais decente. Caso contrário, se os cidadãos brasileiros simplesmente cruzarem os braços, darão carta branca para que o “congresso corrupto” faça o que desejar. Eu teria nojo de mim mesmo se me esquivasse de votar em pessoas que lutam por um país mais decente e ajudasse, graças à minha omissão, a reeleger os Paloccis, Paulos Cunhas, mensaleiros e sanguessugas da vida.

  • Reinaldo Braga

    O ponto é que, ao contrário do que você afirmou (“autoridades legitimamente constituídas”), as tais autoridades são, na verdade, LEGALMENTE constituídas, uma vez que o foram em virtude da chamada democracia formal (sistema representativo). Não se trata apenas de uma sutileza de ordem semântica (legal X legítimo), mas da constatação mesma de que muito resta ainda para que consigamos a legitimidade na representação política (democracia real). Se é que isso é possível.
    Entendo o seu ponto de vista, Reinaldo. Contudo, a partir do momento em que as autoridades estão por lá porque passaram pelo processo democrático de votação, foram, sim, legitimamente constituídas, discussões semânticas à parte. Mas, ok, concordo quando você diz que falta muito para que essa “legitimidade” surja na prática, por meio de cidadãos cumpridores de seus direitos e deveres, que sejam realmente engajados politicamente e civicamente. Quem sabe daqui a algumas gerações, quando este país deixar de ser esta multidão de analfabetos funcionais e seres individualistas.

  • Andre Nunes

    Alexandre,
    Concordei muito mais com o seu texto postado sobre os ataques de maio que este culpando a sociedade por todas as desgraças atuais.
    A proposta de que pobreza e falta de oportunidades causa violência é discurso de político querendo se perpetuar no poder, afinal em todas as sociedades existem (e sempre existirá) os pobres.
    A idéia de que brasileiro não gosta de trabalhar, é corrupto e resolve tudo no jeitinho pode muito bem ser um preconceito estrangeiro que adotamos.
    Pergunte aos seus amigos hoje bem empregados porque não entraram para a polícia quando novos?
    Por que não assumimos uma carreira política hoje?
    Por questão de higiene lavamos as mãos antes de comer e seguimos carreiras em trabalhos onde 95% (ou mais) das pessoas são brasileiras, batalhadoras de sol a sol, pagantes de imposto, honestas e felizes.
    Se existe um problema na sociedade, não importa se são só 10 ou 10.000 bandidos ou políticos fora da lei. Vamos lutar para que a justiça funcione.
    Concluído, transcrevo aqui o editorial da capa do JB de 14/08/2006.
    ” Primeiro eles vieram buscar os carcereiros e os policiais. Foi o assassinato da ordem. Depois, os promotores e os juízes. Foi o assassinato da lei. Enquanto parlamentares e governantes aguardam a hora, o PCC decidiu que chegou a vez dos jornalistas. É o assassinato da liberdade de pensamento e informação, que costuma preceder a morte do regime democrático.
    Foi assim na Itália dos anos 80, na Colômbia da década de 90 e no Iraque deste começo de século. Assim será no Brasil, sugerem os desdobramentos do seqüestro de dois profissionais da TV Globo. O jornalista Guilherme Portanova continuava desaparecido quando o técnico Alexandre Calado foi devolvido às ruas diante do prédio da emissora.
    Trazia a exigência dos criminosos: a divulgação de um manifesto que reivindica mais privilégios para os bandidos. Lastimavelmente, a Globo curvou-se à imposição. O JB não negocia com delinqüentes. Prefere exigir que as autoridades cumpram seu dever, até porque a voz do Executivo não vai demorar.”
    Caro Andre, ao contrário do JB eu não condeno a atitude da Globo. E se a emissora tivesse se recusado a exibir o vídeo e o jornalista fosse assassinado, o que estaríamos dizendo agora? Infelizmente as autoridades provaram, inúmeras vezes desde aquele fatídico maio, que não são capazes de garantir a integridade física de qualquer membro da sociedade. Quando eu ressalto a parcela de culpa da sociedade no estado atual de anomia que vivemos, é porque é ela a responsável pela eleições dos governantes que aí estão. E se candidatos que renunciaram aos seus cargos para escapar de possíveis cassações retornarem ao Congresso pelo voto popular, a constatação a ser feita é de que nossos governantes são o mero reflexo da alienação daqueles que os elegem, num ciclo vicioso de um Estado que não provém educação, cultura e um mínimo de senso de espírito público para o seu povo.

  • Paluço

    Desculpe, FICÇÃO!

  • http://plastico-bolha.blogspot.com Big Earl

    Como se sabe, o problema disso tudo é estrutural: ele vem de dentro de nós mesmos.
    Como a Teoria dos Jogos diz, cada indivíduo deve agir pensando no seu bem e no bem do grupo. Não mantendo esse equilíbrio, tá todo mundo ido, ido, ido.

  • http://qualquercalmaria.blogspot.com Simone

    Pois é, Ina, o que estão fazendo com esse país? Tanta gente pensante por aí, discutindo política na web, no metrô, nos bares. Quando faremos realmente alguma coisa contra isso tudo? A idéia da eleição presidencial definida no primeiro turno indica sim, conforme o Paulo Guedes da Época, que somos apenas milhões de destituídos, miseráveis e ignorantes, em busca de um prato de comida fornecido pelo assistencialismo de um Estado socialdemocrata, um congresso disfuncional e um presidente que dispensa quaisquer outros comentários. Preocupamo-nos com a Guerra no Iraque? Terrorismo em Londres? São Paulo tá parecendo uma zona de batalha. Direitos humanos é para humanos direitos. No Brasil prisão não é prisão, corrupção não é corrupção e falta de tudo, falta de ética é reeleição.
    Chega, né… desabafei. Beijo.
    ps. tô guardando a revista pra você assinar. rsrs
    Perfeita colocação, Simone. É curioso constatar ainda que as eleições tendem ao continuísmo não apenas no plano presidencial, como também na maioria dos estados, vide os casos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo, nos quais os líderes de pesquisas pertencem às mesmas legendas dos governadores atuais. Parece que está tudo ótimo, tão bem que queremos que nada mude!

  • Paluço

    Seu texto merece alguns reparos (e me perdoe se você entender que lhe estou intervindo inopinadamente no espaço criado, tendo em vista que o normal dos escritores e intelectuais é desconsiderar qualquer reparo nas próprias reflexões, ou considerá-lo somente quando na fase de coloração putrefativa):
    Em primeiro lugar, o contrato social é uma fixão que nunca foi comprovada pelos empiristas, e pode servir tanto para o bem quanto para o mal. Mesmo que se queira considerá-lo como elemento ontológico-racionalista de qualquer sociedade organizada, seus cultores já trataram de deturpá-lo, dilacerando a idéia original de seu maior cultor (Rousseau), em pelo menos dois aspectos: 1) a representação política deveria se basear no mandato imperativo, e não no mandato livre, como descaradamente ocorre no Brasil, em que pese sermos constitucionalmente vinculados a uma democracia semidireta; 2)a sociedade (seja ela a considerada digna de respeito pelos detentores do poder econômico e político e pela classe média, ou seja, a sociedade oficial, aquela que leva os filhinhos em carros mais ou menos novos para colégio particular, que faz cooper nos parques e freqüenta academias, etc., quanto a sociedade paralela, que vive como pode, que se esconde da polícia e que integra a própria polícia, que vive nos morros, que tenta manter alguma espécie de dignidade, num mundo em que a alienação globalizada contribui para a própria degenerecência da primeira)tem legitimidade para mudar, a qualquer tempo, as instituições e as relações de poder, haja vista a declaração de direitos de 1776 dos Estados Unidos da América, declaração esta baseada no contrato social citado por você (“toda vez que alguma forma de governo torna-se nociva à consecução dessas finalidades, é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir uma nova forma de governo…”).
    Deste modo, com grande respeito aos seus comentários, mas sem deixar de apor os meus de forma independente, não acredito que realmente o exercício de um direito estritamente formal (como é o sulfrágio de 04 em 04 anos) possa realmente alterar qualquer panorama institucional.
    Não defendo as ações de grupos armados como o PCC, mesmo porque acredito na democracia (diferentemente de muitos brasileiros, notadamente intelectuais compromissados exclusivamente com seu verbo, inclusive gente esclarecida que freqüenta blogs interessantes como o seu, gente da classe média, excessivamente preguiçosa para pensar os problemas do país - a tal da alienação globalizante de que falava)e entendo que somente um engajamento materialmente diverso poderá solucionar - a longo prazo - problemas nevralgicos como distribuição de renda e um mínimo de dignidade (três pratos de comida, lazer e inclusão intelectual)à sociedade dividida em que vivemos. Segurança pública não é problema policial, mas social. A polícia apenas seleciona os “bodes” que servirão para uma fictícia política de repressão. A polícia, mesmo com boas intenções, e sei que as tem, e sei que também sofre, mesmo porque está amarrada ao poder político das agências políticas e boa parte de seu contingente faz parte da outra banda podre da sociedade (aquela que nós chamamos de excluídos, de marginalizados, etc., etc., etc.)a polícia não dará segurança a nós da classe média hipócrita e cheirosa, a nós da classe média preguiçosa e atrasada, que acha que anomia é falta de lei, quando, na verdade, anomia é excesso de leis de polícia (leis como a que deixou em São Paulo uma empregada doméstica presa sem julgamento durante sete meses numa casa de detenção, mãe de dois filhos, oportunidade em que foi ferida e perdeu a visão de um olho, por ter furtado - não roubado, como foi noticiado - o equivalente a R$19,00 reais em material de perfumaria em uma farmácia (que, na verdade, vende material de perfumaria em vez de vender remédios, o que vem sido considerado ilegal).
    De qualquer forma, seu blog é um espaço para reflexão e agradeço a oportunidade de poder expor minhas opiniões. Outrossim, não faça como determinados imbecis que pré-aprovam a inclusão de comentários, como se donos da verdade fossem. Mas, se o fizer, não será o fim do mundo, pois você é só uma andorinha, que, sozinho, não faz verão.
    Sinta-se à vontade para expor suas opiniões, JP Cerqueira (diga-se de passagem, você fez algumas boas ponderações sobre meu post). Mas esta andorinha se dá ao direito de, se for o caso (ainda não é por enquanto), pré-aprovar comentários, sim. Porque este blog não é uma porteira aberta onde qualquer um pode sentar no sofá, pôr os pés na mesa e pegar cerveja na geladeira. O bom da blogosfera é que ela é um espaço aberto para qualquer um que queira criar o seu próprio blog e externar suas considerações pessoais à vontade.

  • http://bloggente.blogspot.com Yvonne

    Ina, imagina que esse tipo de problema acontece em SP e no RJ. Tente imaginar no dia em que os bandidos das cidades de médio e pequeno porte tiverem consciência de que vão poder fazer o que bem entender porque sabem que as autoridades não estão mais governando nada? Eu me mudei para Guarapari há menos de um ano e raro é o dia que eu vejo um PM. Outra coisa, você não tem noção do que acontece aqui na Grande Vitória. Sob determinados aspectos é pior do que RJ e SP juntos. Triste época a que vivemos. Beijocas

  • http://www.buarqueando.blogspot.com Demas

    Inagaki,
    infelizmente é isso mesmo. Nunca estive tão incrédulo com relação às mudanças quanto agora. Entra governo, sai governo, parece que as coisas vão piorando.
    Abração.

  • marcos

    “Mas enfim, o que uma sociedade repleta de cidadãos que querem levar vantagem em tudo, jogam lixo nas ruas, sonegam impostos [..] pode exigir?”
    Obrigado.

  • http://www.verbeat.org/blogs/pralademarrakech Renato K.

    Eto, eto, eto, com tudo que vc falou eu concordo (sim, EU SOU o rei da rima).

  • Rods

    Cara,
    QUALQUER um que escolha a “vida pública”, seja a de prostituta, bandido ou político, é ingênuo ou mal-intencionado. Um tão perigoso quanto o outro.
    Enquanto for SER HUMANO a eleger e ser eleito nada mudará.
    Falou !
    Ok. Então a solução é ser individualista? Não compensa ser trabalhador voluntário, engajar-se em alguma ONG ou filiar-se a algum partido, porque todos esses que visam algo além de suas respectivas existências são ingênuos, mal-intencionados e seres periculosos? Por sermos humanos, o negócio é cada um cuidar do seu e o resto que se vire? Falou!

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
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