Artigos do mês de: julho 2009

O blog está morto mas juro que não fui eu

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 27 de julho de 2009

Steve Rubel, diretor da Edelman Digital, anunciou em junho que abandonaria o seu blog, trocando-o pelo Posterous, plataforma de lifestreaming de uso simples e desburocratizado: basta enviar seus posts para o e-mail [email protected] para que eles sejam publicados, dispensando o preenchimento de cadastros e a memorização de mais um login e senha.
No texto em que justificou sua decisão de trocar o blog pelo Posterous, Rubel escreveu: “O formato atual dos blogs precisa de um ‘reboot’. Creio que pessoas não têm tempo para ler tanto quanto costumavam ter. Além disso, blogs precisam estar conectados a hubs de redes sociais. O Posterous me permite fazer isso de várias maneiras, inclusive permitindo que meus leitores enviem seus comentários através de Facebook, Twitter, Backtype e Friendfeed.” Mais adiante, Rubel destaca a busca por formatos menos formais de se blogar, ressaltando que seu lifestream serve como um ponto de partida para os conteúdos que ele publica em outras redes sociais: YouTube, Flickr, Twitter, yada yada yada.

A ascensão de ferramentas como o já citado Posterous, o excelente Tumblr e o tupiniquim Yahoo!Meme, destinados a “blogueiros casuais” que não têm muito tempo e procuram por meios mais simples e descomplicados de se produzir e compartilhar conteúdos, é o reflexo de tempos em que temos perfis em diversas redes sociais e cada vez mais somos impactados por informações que vêm de feeds, Twitter, janelas do Messenger, inúmeras abas abertas em seu navegador. Quem lê tanta notícia? Quem tem tempo e saco para atualizar tantos perfis?
E ainda nem citei o maior “vilão” dessa história: o Twitter. Charles Arthur, editor de tecnologia do The Guardian, publicou um artigo em 24 de junho com o seguinte título: “A Cauda Longa dos Blogs Está Morrendo”. Seu texto menciona uma matéria do New York Times, também de junho, relatando que 95% dos blogs monitorados pelo Technorati não haviam sido atualizados nos últimos 4 meses, e imputando esse abandono à migração dos “traidores do movimento” para mídias sociais como o Facebook e, especialmente, o Twitter. Afinal de contas, o Twitter oferece conteúdo imediato (redigir posts de blogs é uma tarefa muito mais trabalhosa do que compartilhar palpites e insights em até 140 caracteres) e reações quase instantâneas, seja na forma de RTs, replies ou novos tweets amplificando conversas e debates.

Eu, que abandonei este blog por mais de um mês, creio que já deixei mais do que subentendida minha concordância com a opinião de Steve Rubel a respeito da necessidade de se repensar o formato da ferramenta. Ultimamente, tenho produzido ou sociabilizado conteúdos quase que diariamente em outros sites como Twitter, Tumblr, Meme e minha página de itens compartilhados no Google Reader; mais simples, informais e interativas. Mas não posso imputar o abandono deste espaço só a isso. Excesso de trabalhos e procrastinação também fizeram com que eu me tornasse um ex-blogueiro. Preciso reinventar esse espaço, torná-lo mais dinâmico e integrado a minhas outras atividades online, fazendo deste blog um lifestream; contratar um programador e um designer estão em minha lista de tarefas.
Não, não creio que os blogs vão morrer, do mesmo modo que a televisão não acabou com as rádios e a internet não chacinou a mídia tradicional. O caminho por certo está na integração de mídias. Particularmente, penso que a saída está em amalgamar a simplicidade do Tumblr com a dinâmica do Twitter, sem deixar de lado as novas possibilidades de multimídia, assim como a apuração e a consistência de posts que necessitam de mais do que 140 caracteres para se contar uma boa história. Resolver essa equação é o desafio que os blogueiros que não querem nem podem se acomodar devem enfrentar.
Uma leitura inspiradora é a entrevista que Scott Rosenberg, co-criador do site Salon.com, concedeu à revista Time, em uma matéria sugestivamente intitulada “The Evolution of Blogging”. Nela, Scott comenta as mudanças que o microblogging está impondo aos blogs sob um ponto de vista positivo: “O Twitter está redefinindo os blogs como lugares nos quais você expressa coisas que não consegue dizer em 140 caracteres. Ironicamente, está tornando o ato de blogar mais substancial. No começo, blogs eram considerados triviais, mundanos e repletos de posts sobre o que você tinha comido no almoço. Essas mensagens agora estão no Twitter - junto com outras coisas, é claro - enquanto blogs podem servir como uma esfera pública para a discussão de ideias, assim como um local onde pessoas exercem sua criatividade e autoexpressão.”
Bem, que assim seja. ;)

* * * * *

P.S. 1: O título deste post é uma paráfrase de um livro que José Paulo Paes, um dos meus poetas prediletos, publicou em 1988.
P.S. 2: Concedi uma entrevista à Revista Capitu falando de livros. Nela, falo de dedicatórias e anotações, revelo como (des)organizo minha biblioteca pessoal e divago sobre A Margarida Friorenta, primeiro livro que ganhei na vida. :roll:
P.S. 3: Hoje é meu aniversário. Talvez isso ajude a explicar este momento auto-reflexivo. B)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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